Mamãe, eu quero que saiba que eu te amo, e que eu sempre vou te amar. Não importa o que eu vou dizer ao juiz aquele dia, eu sei que é feio mentir, você já me disse isso, mas eu vou fazer. Acho que quando achar esse papel já vai ter passado alguns anos, ou talvez jogue o ursinho fora antes mesmo de ler.

Mamãe, eu amo Julia. Eu amo o papai. Eu amo você.

Eu não acho e nunca achei que você fazia diferença comigo e com a Julia como a vovó disse. Eu amo muito a minha irmãzinha, e fico muito chateado de pensar em falar isso, mas a juíza tem que entender que eu preciso ir pra outra casa.

Você sempre cuidou de mim, me amou, e nem a Rafaela e nem aquele homem que diz ser meu pai vai ser capaz de me amar como vocês. Vovó disse que eu não merecia ter o sobrenome Grissom, e disse que vocês iriam ficar muito tristes quando descobrissem isso, e eu não quero ver vocês triste. Ela também disse que meu lugar era com a minha mãe de verdade, e que todos seriam muito mais felizes assim, inclusive eu. Eu não sei se vou ser feliz longe de vocês.

Desculpem-me pelos balões de água, pelas brigas na escola e por ter ido embora. Mas ver você e o papai brigando por minha causa não é certo. E se meu lugar é com minha mãe de sangue, vou fazer a coisa certa.

Estranho que isso não parece certo. Dói.

Eu amo vocês, obrigado por me mostrarem o que é uma família de verdade mesmo que seja por tão pouquinho tempo. Eu viverei todos os meus dias amando vocês.

Lorenzo.

Depois de mostrar a carta para Gil, ele me olhou completamente sem reação.

— Gil, você fica com a Julia. Eu vou viajar.

— Como? – Ele me olha incrédulo.

— Eu vou matar sua mãe, somente isso...

— Sara, se acalme, por favor. Minha mãe não...

— Não me venha dizer que sua mãe não tem culpa Gil. – Falei irritada.

— Lorenzo é só uma criança, vamos recorrer ao pedido, mostrar a carta e...

— Gil. – O interrompi. – Eu não acredito nisso. Ainda está do lado da sua mãe depois de tudo? É isso mesmo? – Falei incrédula.

— Sara... É que... – Ele já gaguejava.

— Esquece Gil. De mim você pode até agir feito um submisso, mas com a sua mãe, você não passa de um capacho.

Corri para o quarto, abri uma mala e comecei a colocar roupas dentro.

— O que está fazendo Sara? Vai viajar mesmo?

— Não, quem vai viajar é você. Para um motel, um hotel, para a casa da sua mãezinha, onde for, mas você não passa mais um dia aqui. Lorenzo não merece ser um Grissom, assim como Julia e assim como eu. – Falei irritada. – Adeus Gilbert Grissom. – Falei o nome dele com asco e fechei a mala.