Era o dia de eu falar com o Juiz, eu já estava acostumado com isso, fiz muitas vezes. Também com conselheiras, psicólogas, mas achei que depois de adotado não tinha que fazer isso de novo. Confesso, no entanto, que era a primeira vez que ia à sala do juiz, no tribunal de verdade, e isso me animou, ia me sentir dentro dos filmes policiais.

Também era a primeira vez que eu veria Rafaela, na realidade a segunda, vi ela pela primeira vez quando invadiu a casa da mamãe, mas daquela vez foi tudo tão rápido que nem contava. Lembrei-me de deixar a carta que eu tinha escrito bem escondida dentro do urso de pelúcia, Sara demoraria em encontrar ela.

Quando cheguei lá dentro do tribunal olhei tudo, e me senti dentro do filme do Harry Potter, não sei se eu ainda era muito pequeno, mas tudo me parecia tão grande. As paredes de pedra e os móveis de madeira me assustaram um pouco eu confesso, mas quando o juiz entrou eu me espantei.

Era uma mulher.

Eu nunca tinha visto uma juíza mulher. Analisei um pouco e logo me contive, não queria que ela ficasse braba comigo e me mandasse para a Azkaban. Sentei-me no meu lugar, onde a mamãe me orientou e logo vi Rafaela entrar.

Ela era tão parecida comigo. E Flávio, que devia ser meu pai, ele também era parecido comigo. Mas os olhos deles não eram que nem o da minha mamãe e meu papai, eles tinha, algo diferente.

Fiquei tenso eu acho.

— Está tudo bem meu amor? – Mamãe murmurou em meu ouvido.

— Sim mamãe. – Fiz com a cabeça sem tirar os olhos de Rafaela e Flávio.

— Meu filho! Meu filho. – De repente Rafaela gritou.

— Oh, meu filho, como você é lindo. – Flávio falou depois.

Aquilo parecia muito forçado até para mim, e fiquei feliz dos policiais não deixarem eles se aproximarem. Logo a juíza me chamou para falar, e eu fui até a cadeira de testemunha, me senti tão pequeno ali em baixo.

— Posso me sentar aí em cima? – Apontei para sua mesa.

A juíza sorriu, e fez sinal para o policial, ele me pegou no colo e me colocou sobre a mesa. A juíza então me olhou.

— Então Lorenzo, o que você tem a me contar sobre Sara e Gilbert?

— Muita coisa. – Disse empolgado. – E tem Julia também.

— Julia?

— Sim. – Então eu voltei atrás, não era isso que eu devia estar fazendo. – É a filha do Gil e da Sar. – Olhei para ela, e meus olhinhos ficaram cheios de lágrimas.

Eu tinha que fazer o que era certo para todo mundo.