Waking Up - Aprendendo a Viver escrita por Soll, GrasiT


Capítulo 42
Capítulo 34 – Limites.


Notas iniciais do capítulo

Exatamente um mês depois eu estou aqui postando para vocês! Boa leitura desse penúltimo capítulo! Ele está um pouco grandinho mas está gostosinho de ler! Enjoy!



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Narração: Bella Swan.

            Fitei-me no espelho. Tentei achar a mim mesma em meio aquela porção enorme de pedaços de mim. Sempre carreguei uma ponta de amargura e uma pitada de alegria, era a minha constante, e agora estava diferente. Sentimentos mais maduros, preocupações talvez um pouco menos infantis, realidades mais definidas. Já nem mesmo aos olhos de meu pai continuava sendo sua menininha. Que eu havia mudado não era novidade, porém gostar do que via era bastante novo.

            Passei a mão nos cabelos os prendendo de qualquer jeito. Eram as mesmas roupas e os mesmos acessórios, mas não a mesma postura, quem dirá o mesmo olhar. Não fazia uma comparação aos meses em que Edward esteve na Guerra, comparava com tudo que era quando decidi parar de sofrer… quando dei por mim que precisava me libertar. Isso não fazia mais de um ano e ainda me lembro de todos os passos daquele dia em que quis por um fim a minha vida.

            A última aula. A breve visita ao corredor de alcoólicos no supermercado. Os comprimidos em uma farmácia não tão distante de casa, a música, todas as lágrimas, a dor, a carta… o vazio. O que era oco antes, hoje era completo por algo que me dominava, e com tantos tropeços e quedas desde lá, hoje sabia que podia me levantar. Nem por um instante me arrependi de tal atitude, foi do meu desespero que reencontrei o que há de mais valioso: o amor verdadeiro e recíproco.

            Corri para minha cama e pulei, quicando duas ou três vezes no colchão fofo. Ri de minha infantilidade e comecei a planejar… a sonhar com tudo que seria de minha vida dali em diante. Por mais improvável que seja, imaginei detalhes de meu casamento e entre inúmeras idéias e cenas de filmes que pipocavam, só me decidi que queria casar no outono. Adorava o tom das árvores e as folhas de plátanos pelo chão.

            Fiz um milhão de resoluções e queria as colocar em prática o mais breve possível. Estava ansiosa para decidir que universidade cursaria e ir para lá de uma vez. Havia umas quatro ou cinco respostas para mim de ótimas escolas, bastava escolher e rezar para aceitarem minha entrada já que tínhamos perdidos alguns prazos. Alice gritou comigo e fez um escândalo quando deu por si que deixei tudo esquecido e que suas malas já estavam quase prontas. Superamos os gritos com abraços apertados e lágrimas.

            Não via as coisas dando errado e planos sendo deixados de lado. Não imaginava que a felicidade que voltava a crescer em mim fosse me deixar tão cedo e nem cederia à dor novamente. Estava forte e algo me movia e me motivava a querer o mundo! E não era só a volta de Edward, era como uma certeza velada que agora dava as caras e dizia que não importava os desafios que se apresentasse em meu caminho eu iria superar todos, um por um. Edward chamava essa certeza de esperança.

            Sorri sem qualquer motivo. Nada era tão ruim se pudéssemos ver de um novo modo, e minhas percepções mudavam lentamente. E mesmo que tenha caído na escuridão de meus medos, tinha decidido viver e seguir em frente, e eu consegui me levantar. 

            Uma batida leve na porta cortou meus pensamentos, e apenas a cabeça de Edward apareceu na fresta da porta. Ele sorriu. Na cama estava e na cama fiquei.

            “Estou atrapalhando?”

            “Nunca! Vem! Vem aqui sonhar comigo?”

            “Pedido irrecusável esse.” Falou vindo até a cama e se deitando tão largado quanto eu. “Então, com o que você está sonhando?”

            “São tantas coisas! Faculdade, saudade, empregos… nosso casamento!”

            “Nosso casamento?” Perguntou espantado. “Você quer casar antes da universidade Monstrenga?”

            “Não! Mas quero que seja no outono! Há um lugar tão, tão, tão maravilhoso em New Orleans! Seria… perfeito!”

            “E se casássemos em Las Vegas, não seria tão perfeito igual?” Lhe olhei, seus olhos grudados no teto.

            “Você está brincando, não?” Ele riu alto. “Ediota. Eterno idiota.” Riu mais ainda. Dei um soco sem força em seu ombro. “Em algum outono em New Orleans?”

            “Combinado. Você sabe que amei a cidade.”

            “Amou? Não sabia que era tanto.” Ele me puxou para seus braços.

            “Você gostaria de voltar pra lá? Sabe… viver nossa vida na Louisiana. Não só universidade ou um tempo. Estou falando de nos casarmos, construir um lar, termos nossos filhos e ficar lá até envelhecermos. Você voltaria?”

            “Sim.” Respondi sem dúvidas e ele se calou. Sabia que ele estava remoendo algo há dias. Não fugia de mim ou de conversas, ele simplesmente pensava muito desde meu aniversário, há duas semanas. Tinha algo a me falar e eu sabia disso, quem fugia era eu e dava a ele a oportunidade de decidir o que quer que fosse.

            “Então, você queria dizer alguma coisa quando veio até o quarto da sua noiva sonhadora?”

            “Mmm…” Fez um biquinho. “Amo quando você se denomina noiva… minha noiva.”

            “Bobo! E o que eu sou se não sua noiva?”

            “Noiva é só um status provisório para não dizer que você já é minha mulher.” Me fitou sério com olhos selvagens. “Minha mulher… que eu vou fazer ser minha de todos os jeitos e formas.” Perdi o ar e me joguei para trás com a mão sobre o coração que batia acelerado.

            “MALDITO! Por que você faz isso?” Pegou-me pela cintura e me levou para perto.

            “Porque é impossível resistir.” Disse a centímetros mínimos de minha boca. Revirei os olhos quando aqueles lampejos miseráveis de nós dois juntos invadiam a minha mente.

            “Quantos dias para isso acabar?” Cochichei, referindo-me ao resguardo.

            “Quatro.” Respondeu e suspiramos em sintonia. Tirei uma pequena mecha de seu cabelo que caia na testa.

            “Até que eu gosto desse cabelo.” Um sorriso tímido e tortinho brilhou em seu rosto. Estreitei os olhos. “Você também gostou não foi?” Ele concordou envergonhado não me deixando chances de resistir, e lhe roubei um beijo nada delicado que se tornou outro e outro e mais uma porção deles cada vez mais quentes, até perdermos o fôlego.

            “Escute…” Disse ele puxando o ar. “Eu não responderei por mim daqui quatro dias.” Ri de sua euforia contida. Estávamos colados um no outro e sentia todos aqueles desejos que nós podemos esconder e eles não.

            “Mmm… vou facilitar a sua vida.” Disse e fiquei de joelhos na cama. Ele me olhou. Arqueei uma sobrancelha.

            “Oi?!” Ele engasgou.

            “Você sabe o que o doutor falou não é?” Coloquei as mãos por baixo de sua camiseta, raspei as unhas por seu corpo um pouco mais definido e ele arrepiou. Empurrei a malha para cima e dei suaves beijos em seu abdômen e fui descendo.

            “Oh meu Deus!” Exclamou sem ar quando desafivelei o cinto. 

            “Não sou só eu que vai a loucura com um bom sexo oral por aqui.” Sussurrei em sua pele puxando os botões da calça.

            “AH MULHER EU TE AMO!”

            (***)

            “Vocês só podem estar malucas!” Gritei desejando pegá-las pelo pescoço. “Eu nunca vou fazer isso!”

            “Bella, não é por ciúmes! Você não está sendo aquelas mulheres neuróticas, descontroladas e doentes que reviram as gavetas dos maridos atrás de provas de sua traição! Não é isso…”

            “Rose, você podia ter encurtado o discurso e ter dito só que ela não estava sendo como você.” Allie debochou lixando as unhas, sentada aos pés de minha cama.

            “Haha. Muito engraçadinha você, duendezinha de jardim.”

            “Quanta vingança Rose!” Amber ria da cara dela.

            “Vou fazer sobrar para você também ruiva!” Ameaçou a platinada como se alguém acreditasse.

            “Mas então Bella…” Continuou a Docinha. “Qual vai ser? Você tem acesso livre a tudo que é do Edward! Ele está te escondendo algo há muito tempo! Você tem que saber!”

            “Realmente eu tenho acesso a tudo que é dele, inclusive à confiança! Então não, não vou procurar nada que possa me dar uma dica qualquer sobre o que ele tem pensado tanto!”

            “Você é uma mala.” Rose falou sem acreditar em minha decisão.

            “Medrosa definiria melhor a Bells.” Alice não poupou e quem não acreditou no comentário fui eu. Amber estava calada.

            “E você Amm? Qual o pejorativo que tem pra mim?”

            “Meu Deus! Você falou pejorativo? Quem usa isso hoje em dia?” Cruzei os braços, irritada. Amber bufou. “Ok! Você é uma mala medrosa que não sabe o que quer. Pronto falei.” Jogou os braços para cima.

            “Então é isso? Vocês acham que esperar para ver o que Edward tem a falar sem bisbilhotar nas coisas dele é um ato de gente chata, covarde e indecisa?”

            “É!” Responderam juntas.

            “Ótimo!” Me levantei do chão e fui direto a porta.

            “O que vai fazer?” Alice perguntou animada. “Vai no quarto de Eddie?”

            “Não. Eu vou me retirar, por que sabe…?” Segurei a maçaneta e continuei. “Penso que garotas que ficam mexendo nas coisas de seus namorados para descobrirem seus segredos são inseguras, infantis e covardes. Não sou do tipo que compactua com isso.” As fitei e todas tinham na cara a face da ofensa. Segurei-me para não rir. Estreitei os olhos.

            “Isso foi…” Rosalie começou.

            “Ofensivo.” Disse Amber.

            “Cruel.” Alice expeliu para fora com a respiração. Drama puro.

            “Desnecessário.” A platinada finalmente concluiu.

            “Viram! Agora vocês já sabem como estou me sentindo!” Saí do quarto sem esperar para ouvir qualquer lenga-lenga. Caminhei para fora de casa tentando por minhas idéias no lugar. Me encostei embaixo de um salgueiro majestoso no fundo do jardim, fechei os olhos e pesei tudo que acontecia daquela vez.

Talvez não fora uma boa decisão conversar com as meninas a respeito de minhas dúvidas quanto aos próximos passos de Edward. Na verdade, precisava desabafar para ver se o peso daquilo saia de minha cabeça, mas é impossível quando se está ao lado da pessoa e vê aquela enorme interrogação rondando sua face. E pior ainda quando nada disso é compartilhado. Elas eram minhas melhores e mais incríveis amigas, Amber e Alice iriam embora dali dois dias, e eu não sabia quando voltaria a vê-las, então a quem mais poderia contar?

            “Droga!” Disse em voz alta sozinha. Queria de uma vez por todas saber o que tanto o Ediota pensava. Se pudesse invadiria sua cabeça e ficaria lá rondando seus pensamentos só para saber tudo, porém, eu não podia invadir sua cabeça nem sua intimidade. Certos limites têm de ser respeitados.

            No entanto nada me impedia de tomar uma atitude, ir atrás das respostas e matar minha curiosidade de uma maneira mais… saudável. Podia sim ir até Edward e colocá-lo contra a parede e exigir de uma vez que me dissesse o que estava se passando, mas isso não podia ser agressivo. Não estava braba, nem ao menos com raiva dele e mesmo assim o limite de minha paciência já tinha estourado e vendo que não queria passar por nenhum de seus limites e nem estender os meus, minha decisão estava tomada.

            Voltei para dentro, contornando a casa pelos fundos e pensando como seria a melhor forma de abordar Ediota e quais seriam meus argumentos para fazê-lo cuspir de uma vez todo aquele mistério. Podia usar de persuasão, chantagem, sedução… não era difícil imaginar. E se nada adiantasse eu até imploraria. Torci também para que não chegasse a tanto, seria embaraçoso.

            Encontrei com Esme e Emmet na cozinha. Ele devorava um prato cheio de pedaços de melancia sem parar e sua mãe só o mandava ter modos e comer devagar. Passei por ele e roubei um pedaço para mim.

            “Ei! Isso é meu!” Reclamou ele de boca cheia.

            “Aposto que não vai fazer falta.” Disse dando uma grande mordida e sentando ao seu lado.

            “Quer um pedaço querida? Tem alguns cortados na geladeira.” Esme ofereceu.

            “Mmm, não obrigada Esme.” Ela sorriu em resposta e sentou-se do lado oposto da bancada.

            “Então, por que não está com as garotas? Não seria um dia só para vocês?” Emmet falou ainda mastigando. Entreguei-lhe um guardanapo. “Valeu.”

            “Era para ser.” Suspirei. “Se eu não estivesse tão preocupada com algumas coisas e se elas não fossem tão cheias de… sei lá, coisas!” O Abelhudo riu.

            “O que seriam essas coisas meu bem?” Esme quis saber.

            “Nada demais, só bobagem mesmo… vocês têm alguma idéia de onde posso encontrar Edward?”

            “Última vez que o vi foi há uma meia hora atrás, disse que iria guardar algumas coisas velhas no quarto.” Minha madrinha deu a dica.

            “Espero que ele não expanda essa limpezinha para o meu quarto! Odeio quando o Eddie faz isso! Ele é tão chato! Como você o agüenta ein Bebelildis?” Emm parecia uma criança manhosa falando. Sorri ao ver que sempre seria assim.

            “Bem, sou bastante chata também. Então sabe como é… acabamos nos suportando.” Ele ficou me olhando com cara de paisagem e com um pedaço gigante de melancia saltando por dentro de sua bochecha. “O que?”

            “Chata! Queria os detalhes picantes da relação.” Zombou ele.

            “Viu? Eu disse!” Beijei sua bochecha do lado oposto ao da fruta e disse que logo voltaria para ficar com eles.

            (***)

            Bati duas ou três vezes na porta do quarto de Edward. Não houve resposta. Provavelmente ele tinha adormecido ou estava no banho, quem sabe escutando alguma música, logo eu não vi mal algum em entrar sem bater. O quarto vazio abrigava uma porção de papéis pelo chão, roupas antigas jogadas, alguns CD’s… caixas com tampas abertas e escritas recém feitas de identificação: “COISAS DO EDIOTA”, era o que diziam.

            Olhei tudo de longe, imaginando quantas recordações ele carregava junto com tudo aquilo, o que tinha valor ou não. O que podia ser esquecido e o que jamais ficaria para trás. Quis guardar tudo em uma caixa só minha, compactar e fazer de suas memórias as minhas. Mas não, aquela era a vida de Edward e tudo que veio antes e depois de mim estava ali sendo selecionado, guardado ou descartado.

Sentei-me no chão ao lado de alguns papéis, li algumas linhas, sorri com alguns desenhos sem nexo, perdi o ar com algumas fotos. Entre imagens de nós dois, de sua família e de amigos encontrei uma que mexeu comigo mais do que deveria mexer. Entre tantas fotos havia uma de Jane, atrás dela a data e o local. Seattle, alguns meses antes de eu chegar a Forks. Edward e Jane estavam contentes de alguma maneira.

Não, não era como olhar uma foto nossa, que se via que os sentimentos eram mútuos, mas se via tanto nos olhos dela. Fiquei por minutos imaginando como teria sido se tivesse visto aquele amor enquanto ela estava viva, imaginei como poderia ser se ela encontrasse alguém a quem amar. Vendo aquele fragmento de vida soube que por pior que as coisas tivessem sido sua morte precoce não foi merecida. Ela tinha força, ela tinha vida, tinha sentimentos bons… Jane poderia ser incrível! Apenas lhe faltou a quem amar.

Desejei que ela estivesse bem, onde quer que estivesse. Sequei uma lágrima e guardei sua foto com carinho dentro da caixa. Nunca esqueceria Jane, não pelas coisas cruéis que executou, mas por tudo o que ela me trouxe de bom. Não a via antes como uma inimiga e agora tinha certeza que ela me ajudou tanto quanto os que me amavam. Jane me ajudou a crescer.

(***)

No sótão encontrei Edward. Com um pedaço de porta aberta, falava ao telefone aos cochichos. Sem prestar atenção ao que dizia, mas sim ao seu tom alterado, não entrei. Ele não era do tipo que se escondia para falar com as pessoas, mas também não era do tipo que gostava que bisbilhotassem em sua vida.

Não era bom ficar ali e nem ouvir sua conversa, minhas dúvidas ficariam para depois. Iria descer e esperar para tirar as repostas que gostaria. Dei meia volta pronta para sair dali pé por pé, para que não notasse minha presença. O tempo que tive foi de um passo até ouvir sua voz um pouco mais alta na conversa.

“Eu sei Charlie! Eu sei.” O nome de meu pai me fez parar. Dane-se, se falava com meu pai aquilo era sobre mim. Fiquei ouvindo atrás da porta.

“Estou vendo qual é a melhor forma de contar a ela!” Continuou. “Eu não posso simplesmente chegar e jogar a bomba!” Escutou a resposta de meu pai. “Sim General! Eu sei que já estou com pouco tempo! Mas é de Bella de quem estamos falando!” Ouviu mais alguma coisa. “Sim sei que é sua filha! E eu amo ela! Mas você sabe que não vai ser assim tão fácil para ela.” Edward suspirou depois de uma pausa. “Tenho medo de perdê-la.” Um silêncio absurdo se fez, não sabia se haviam desligado ou se estava ouvindo ao que meu pai dizia.

Minhas pernas ameaçavam ceder e eu sentia meu estômago começar a se revirar, tudo ao meu redor começou a parecer um grande buraco e toda a preocupação que minha mente tentava bloquear havia dias veio à tona. O que Edward guardava para si era muito maior do que eu podia esperar e agora a questão era saber o que.

“Bem…” Edward disse, me puxando em um susto para aquele momento novamente. “Então se é assim e eu não conseguir contar a ela até lá… então eu desistirei.” Respirou fundo. “Até breve Charlie.”

Empurrei a porta, Edward estava de costas e olhando pela janela. Durante diversos instantes fiquei apenas pensando o que fazer, porém não havia tantas dúvidas assim… na verdade nem sequer havia uma.

“Precisamos conversar.” Disse lhe dando um pequeno susto. A demora em sua resposta me incomodou.

“Precisamos.” Falou ainda de costas.

“Então para isso é bom que eu veja seu rosto.” Minhas palavras saiam duras, assim como todo meu corpo estava. Quando ele se virou havia lágrimas em seu rosto. Não amoleci, mas estava com um medo absurdo do que viria a seguir.

(***)

Sentei na grande poltrona de couro que era coberta por uma manta xadrez. De pé a minha frente ele estalou os dedos inúmeras vezes. Respirei fundo.

“Não é assim que nós fazemos isso Edward, sente-se e olhe para mim quando for falar.” Ele parou, não fui doce ou pacienciosa, só queria acabar com aquilo de uma vez. Arrastou uma cadeira velha e se colocou a minha frente. Pegou minhas mãos, as segurando com delicadeza entre as suas. Fitou seus pés e um segundo depois já estava entrando por entre meus olhos.

“Do que falava com meu pai?” Perguntei sem rodeios.

“Isso tem acabado comigo.”

            “Por favor, Edward, não me enrole. Já estamos nessa situação há muito tempo, sempre procurando desculpas para não falarmos sobre o que quer que isso seja. Então, me diga de uma vez, o que estava falando com Charlie?”

            “Sobre meu plano de carreira.” Disse emendando a frase junto de minha pergunta.

            “O que?” Não entendi.

            “Não vai ser fácil para você, assim como não é fácil para mim.” Ele apertou mais minhas mãos nas suas. “Por mais que eu tenha ido para a guerra odiando aquilo, algo mudou e tomei uma decisão Bella.”

            “Qual… decisão?” Disse devagar, quase arrastado. As suas palavras ficavam claras.

            “Decidi que quero ser Militar. Vou voltar para o Exército.” Puxei rápido minhas mãos das suas. Ele baixou os olhos e eu fiquei estática, tentando encontrar uma maneira de respirar, fechar a boca e entender.

            Não sei por quanto tempo fiquei naquela constante. Não sabia para onde olhar, como falar, o que dizer, nem mesmo como me mexer. Não era a pior coisa que acontecera comigo, mas de longe não era a melhor. Mais uma rasteira. Mais um tombo. Quando isso iria parar?

            “Bella, por favor, diga alguma coisa?” Procurei olhar para ele, mas não consegui. Eu queria falar tantas coisas ruins a ele, porém era Edward. Levei a mão até a minha boca para tentar me controlar. Perdi as contas de quantas vezes respirei fundo. Continuei em silêncio tentando curar o choque inicial. Mordi as bochechas por dentro e me levantei.

            “Aonde você vai?” Perguntou aterrorizado.

            “Para lugar algum… só me dê algum espaço, por favor.” Cuspi as palavras em cima dele. Ainda não era hora de falar.

            Caminhei em círculos, olhei objetos antigos, puxei os cabelos, tentei imaginar que aquilo era uma pegadinha, pensei em fugir e deixar tudo para trás, voltei inúmeras vezes a sua frente ou fiquei em suas costas olhando o corte de cabelo que tinha admitido ter gostado. Quis bater em Edward e voltei a caminhar como uma barata tonta pelo sótão. 

            “Não tenho condições de lidar com isso agora.” Falei finalmente, quando a raiva já não era tanta e uma leve tristeza aparecia. Fui até a porta e tomei coragem para sair e a abri… se eu fizesse isso estaria dando as costas para a pessoa que mais amava em minha vida.

            “Bella.” Edward chamou antes que eu desse o primeiro passo. “Eu te peço, por tudo que temos, não saia sem me dar uma resposta.” Tentei sorrir e fechei a porta novamente, andei até ele e peguei suas mãos. Empurrei as lágrimas garganta abaixo.

            “Como disse, não tenho condições de te falar qualquer coisa. Você mesmo disse que não seria fácil para mim.” Minha voz era incrivelmente suave. “Além do mais, quem tem que responder qualquer coisa é você, não eu.”

            “Está certa…” Respondeu baixo. “Mas preciso saber sua opinião… sabe que não irei fazer nada sem você.” Demorei em elaborar a frase da melhor maneira possível. Não queria quebrar mais coisas do que já havíamos quebrado.

            “Edward, ouvi você falar com meu pai sobre desistir… ele te deu um prazo, foi isso?”

            “Não foi ele Bella.”

            “Então há um prazo?”

            “Até amanhã à noite.” Respondeu. Outro baque. Assim… tão perto.

            “Então até amanhã à noite você terá minha opinião, mas até lá me deixe lidar com isso a minha maneira.”           Edward consentiu com um breve movimento de cabeça. Quis correr para longe dali.

(***)

            Não sabia se havia alguma decisão a ser tomada… havia? Deixar ou deixar ir? Ou seria: deixar Edward ir e acabar tudo, ou dizer que ele não vai de jeito nenhum e conviver com a insatisfação dele para sempre? Nenhuma dessas opções se encaixava no dilema, se é que existia um.

            Fui o caminho inteiro até La Push ouvindo rock pesado e alto para evitar pensar muito em qualquer coisa. Não adiantou muito, assim como não adiantaria ficar em casa. Antes de sair deixei um bilhete para Edward avisando que tinha ido à cabana e pedindo que me deixasse engolir e raciocinar sobre sua escolha. Era tudo que queria.

            Não era lógico nem racional pensar que a decisão estava em minhas mãos, afinal ele dissera: “tomei uma decisão.” Pronto, estava feito, não havia o que discutir, mas convenhamos, era Edward ali, se fosse qualquer outro a opinião da namorada não importaria tanto assim. Ele queria saber a minha opinião, porém isso não iria mudar sua cabeça. Podia espernear como uma criança mimada por um milhão de anos que mesmo assim ele sairia pela porta com seu uniforme militar todas as manhãs, quando não fosse por dois ou três meses… às vezes até anos.

            Infelizmente sou uma das pessoas mais egoístas que conheço, óbvio que pensei muito apenas em como seriam minhas noites sem ele ou meus anos de faculdade que dois dias antes fazia planos. Pensei como me sentia a respeito e porque aquele era meu carma. Detestei-me por pensar tanto em mim, me odiei por um bom tempo, falei sozinha e até gritei. Detestei Edward de uma maneira absurda por estar fazendo aquilo comigo, vendo que não bastava tudo o que já tinha acontecido em meu passado e o que vinha acontecendo. E ai recomeçava o ciclo: eu, eu e eu.

Todos os homens que amava de uma maneira infindável se meteram com as forças armadas. Meu pai, meu irmão, meu Edward. Isso era justo? Teria que viver sofrendo aquela angústia e saudade que nunca passavam, ou pior… Deus! Esmaguei a imagem de Renée triste, amarga e solitária em minha mente da mesma forma que ela apareceu. Talvez esse fosse um de meus medos, que tudo fosse igual ao casamento de meus pais e a idéia de que isso fosse uma possibilidade me assustou mais que qualquer outra coisa.

Meus pensamentos estavam indo para um lado totalmente errado e perigoso. Não estava pensando claramente, menos ainda em Edward e suas vontades. Comecei a conjeturar que me perdi em meio a tantas hipóteses, medos, conversas que poderiam ou não acontecer que em certa altura adormeci. Há muito minha mente estava cansada de lutar para não sofrer com o irremediável, dessa vez quem sabe eu tinha aprendido a forma correta para evitar.

(***)

Despertei assustada e totalmente embriagada de sono. Limpei a baba que escorria por meu rosto e me localizei. Ok. Estava na cabana. Sozinha. Do lado de fora das janelas o céu era tão escuro quanto… quanto… ok, não tenho uma definição para a escuridão que fazia naquela noite. Um temporal caia forte e barulhento. Acendi a luminária que tinha ao lado da cama e me sentei abraçada ao travesseiro. Olhei ao redor e não vi o relógio. Onde tinha deixado meu celular?

No pequeno cômodo – que chamávamos de sala – o encontrei embaixo de duas almofadas que tinha jogado em um de meus surtos de inconformismo quanto a toda aquela história. No visor do aparelho apontava que tinha recebido pelo menos 5 mensagens e 8 ligações. A hora marcava 03:34 da madrugada. Merda, eu estava ferrada. Todas as ligações eram de Edward, e as mensagens também.

[Para: Monstrenga]

Ainda está na cabana? Quer alguma coisa?

[De: Ediotinha às 10:23pm.]

Essa foi a primeira. Segui para a próxima sem responder.

[Para: Monstrenga]

Você pode me responder ao menos se está tudo bem?

Não faz isso Bells, não há necessidade.

♥ Você.

[De: Ediotinha às 11:59pm.]

Amaldiçoei-me por ter dormido tanto. Li a seguinte.

[Para: Monstrenga]

Bella, eu estou começando a ficar realmente preocupado.

Não quero ficar cobrando e estou dando o tempo que pediu, mas pelo menos atende ao telefone para eu saber que está tudo certo com você?

[De: Ediotinha às 00:25am.]

A seguinte não demorou tanto tempo para vir.

[Para: Monstrenga]

Já te liguei 4 vezes, não é o bastante para entender que seu silêncio está me perturbando demais?

[De: Editotinha às 00:27am.]

Finalmente cheguei a última, não havia muito tempo que tinha recebido.

[Para Monstrenga]

Eu não quero ser grosso, mas não acha que está sendo um pouco infantil? Nós não resolvemos nossos problemas dessa forma… dando gelo no outro.  Agora preciso dormir e não consigo porque estou preocupado com você que fica me ignorando! Parei com isso.

[De: Ediotinha às 03:02am.]

Respirei fundo antes de responder. Por mais que eu não tivesse feito propositalmente ignorá-lo, pode ser que estivesse sendo um pouco imatura. Pensei no que diria e só soube que queria ir para casa e ficar com ele. Nunca estive sozinha a noite naquela casa e sim, o lugar era encantadoramente mórbido. Comecei a digitar.

“Me desculpe pelo silêncio, mas acredite ou não caí no sono…” parei. Não queria aquilo. Apaguei a mensagem e disquei para Ediotinha. Chamou por tantas vezes que cheguei a pensar que cairia na caixa de mensagens. Ao som do último toque escutei o clique.

“Alô.”

“Sou eu.” Disse tímida. A ligação não estava das melhores.

“Eu sei.” Falou suavemente. O sinal ali era péssimo, o chiado era quase mais alto que sua voz… que não era normal. “Ainda está na cabana?”

“Sim.” Respondi.

“Mmm. Desculpe pela histeria nas mensagens, apenas fiquei preocupado, aqui é Forks, mas sabe como é…” Sua voz soava baixa e tranqüila. Aliviada.

“Sei sim… acabei pegando no sono, sinto muito não responder antes.”

“Então era isso…?” Questionou imaginando que poderia ser uma afirmação. “Nos vemos amanhã, se cuide Bella. Não esquece de ligar o aquecedor.”

“Ok.” Eu disse. Era tão bom ouvir sua voz. Apenas ela bastava para me trazer um mundo de conforto.

“Ok… então durma bem e eu te amo.”

“Obrigada…”

“Tchau.” Se despediu hesitando na linha com um suspiro.

“Edward?” Não respondeu de imediato.

“Ainda estou aqui.” Falou quase uma eternidade depois.

“Vem me buscar?” Ouvi sua risada baixa e a porta da frente da casa se abriu. Deixei o celular cair. Corri e o abracei apertado. Em seus braços eu estava segura e a salvo de todo mau. Edward esteve o tempo todo ali esperando por mim. Esperando que eu ficasse bem.

“Estou sempre junto de você. Não importa quanta distância exista seremos sempre eu e você unidos nisso. Dessa forma…”

“Ah Edward! Não quero te deixar ir, amo tanto você! Eu, eu, eu… não quero que nossa vida seja como a dos meus pais! Não quero… não sei!”

“Shhh… shhh. Vai ficar tudo bem. Amanhã nós falamos sobre isso. Não agora. Não essa noite. Precisamos os dois de um tempo para processar toda essa informação, ok?”

Narração: Edward Cullen.

Conhecia o que se passava pela cabeça de Bella. Com o histórico que ela tinha de sua família, não era de se esperar nada diferente. A mãe deprimida, o pai ausente… o irmão morto no exército e por que não falar de mim? O problema era que ela enxergava apenas o que aconteceu e não o que poderia ser. Nós não éramos seus pais.

Ficamos abraçados todo resto da noite. Bella pegou no sono tão rápido quanto se podia imaginar, e quanto a mim fiquei a assistindo totalmente insone. Queria poder dizer que estava em dúvida sobre minha escolha. Desejava não ter mudado de idéia ou ter passado o que passei na Guerra. Quis voltar no tempo alguns meses e não ter salvado a vida daquela criança e mãe.

[FLASHBACK ON]

Rise Against - Hero Of War

…A mulher correu, se arrastando pelo chão e chorou aos meus pés. Não entendia nada do que ela falava, porém quando o Soldado Mathews apareceu com a criança, soube perfeitamente o que ela dizia: Obrigado.

E tudo o que eu vinha lutando contra caiu por terra. Toda a revolta e incompreensão não existiam mais. Agora eu entendia o porquê lutar. Podíamos não ser os heróis, mas também não éramos os vilões. Eu podia ter matado o homem, por Deus eu viveria com essa imagem para sempre, assim como a de uma mãe e um bebê… uma criança recém nascida. E se fosse ali um de meus filhos ainda nem nascidos? Certamente agradeceria ao homem que teve coragem de matar para salvar. Me fiz em um milhão de pedaços quando peguei aquela criança em meus braços. Uma vida salva de algo tão puro e inocente.

Voamos pelo deserto. Com Seth dirigindo como um maluco não demoramos a chegar até a base onde tínhamos estrutura suficiente para cuidar daquelas pessoas. No banco de trás a mãe chorava com o filho no colo. Eu só sabia mandar Seth ir mais rápido.

Quando paramos na frente do posto médico, gritei ordens para uma maca e cuidados urgentes aos dois. Atrás de mim General Churchill berrou ordens que não fizessem o que eu pedia. Por minhas costas ele me empurrou com violência contra um poste de metal que ajudava a firmar a tenda. Bati meu rosto, mas não esmoreci diante da afronta. Virei e fiquei de frente a ele. O filha da puta deu-me um bofetão e começou a berrar.

“SEU SOLDADINHO MIMADO DE MERDA. QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA TRAZER ESSA ESCÓRIA PARA A MINHA BASE? NÃO! NÃO RESPONDA! VOCÊ É UM MERDA. QUEM É SEU GENERAL? QUEM É SEU SUPERIOR, AHN?”

“O GENERAL, SENHOR!” Gritei.

“POIS NÃO PARECE! VOCÊ QUER SER UM LOBO SOLITÁRIO, AHN? FICA AGINDO PELAS COSTAS DE SEU SUPERIOR, NÃO É? FICA SALVANDO AS MULHERZINHAS E AS CRIANCINHAS! O QUE É? VIROU MOCINHA AGORA!? VAMOS ALGUÉM, RÁPIDO AQUI! TRAGAM UMA SAIA DE RENDINHA PARA A CULLEN!”

“Com a permissão General.” O médico do posto pediu.

“O QUÊ INCOMPETENTE?!”

“Senhor tenho que informar que é meu dever de médico prestar socorros a quem precisar. Essa mulher está perdendo muito sangue e a criança precisa de cuidados, senhor.”

“POIS QUE CHAMEM A MADRE TEREZA! AQUI NÃO É LUGAR PARA ESSA GENTE.”

“TODA GENTE É GENTE, E COMO SOLDADOS DEVEMOS PRESTAR SOCORRO A ESSAS PESSOAS.”

“AH SIM! FALOU A SANTA IMACULADA! E EU OUVI DIREITO, CULLEN? SE REPORTOU A MIM SEM O GENERAL? FOI ISSO MESMO SOLDADOS?” Silêncio. Nenhum deles quis se comprometer.

“General…”

“AGORA É GENERAL SENHORITA CULLEN? AGORA É GENERAL?” Ele cuspia as palavras em cima de mim. Mais um pouco próximo e ele beijaria a minha boca. “O QUE VOCÊ PENSA QUE SOU AQUI EIN NOVATO DA PORRA? ACHA QUE SOU A MERDINHA DA SUA NAMORADINHA QUE VAI SE CALAR PARA TUDO O QUE VOCÊ DIZ? ATÉ ONDE SEI NÃO É PERMITIDO LÉSBICAS NO EXÉRCITO!”

“ENGRAÇADO! FOI O SENHOR QUEM EXIGIU MINHA PRESENÇA, NÃO É? UM MODELO PERFEITO PARA REPRESENTAR A NOVA GERAÇÃO DO EXÉRCITO AMERICANO, NÃO FOI ISSO QUE FALOU PARA A MINHA NAMORADINHA? QUAIS FORAM OS FAVORES QUE MEU PAI DEIXOU DE CONCEDER A VOCÊ PARA QUE EU FOSSE CONVOCADO, AHM? POR QUANTO VOCÊ SE VENDEU E POR QUANTO TEMPO? É BOM TER CUIDADO COM O QUE DIZ GENERAL CHURCHILL, TUDO UM DIA VOLTA.”

“Está me ameaçando soldado?” Sua voz ficou branda, porém furiosamente contida.

“Nem de longe senhor. Estou apenas constatando.” Falei irônico. Me fitou por alguns segundos, firme como uma rocha. Ainda olhando dentro de seus olhos falei o que já devia ter sido dito. “Oficial Hastings? Leve já essa mulher e essa criança e dê a elas todo o cuidado necessário.”

“Agora você passou dos limites senhor Cullen. Está passando por cima de ordens de um superior.” Colocou o dedo em minha cara, falava ainda com o mesmo tom mortal. Cheguei mais perto e desafiei.

“Senhor, você ultrapassou todas as barreiras aqui negando socorro a essas duas pessoas. Imagine só o que os direitos humanos vão pensar quando souberem?” Ele encarou-me com olhos mais cerrados.

“Levem essa… essa… essas coisas daqui. Assim que estiverem atendidas mandem embora o mais rápido possível.” General falou ao Oficial Hastings que correu com os pacientes para prestar atendimento. Sem uma palavra dei meia volta rumo ao meu abrigo.

“Sargento Clearwater…” Churchill falou antes de me afastar. “Sargento Mathews. Levem o Cabo Cullen para a cela de detenção na ala norte. Ele deve ficar lá até segunda ordem.” Parei de imediato e fitei por cima do ombro. Churchill acendia um cigarro.

“Mas Senhor…”

“SEM MAS SARGENTO CLEARWATER OU QUER O SENHOR TAMBÉM IR PARA LÁ?…” Nenhum se manifestou novamente, entendia. “Foda-se os direitos humanos.” Resmungou o General. Bem… isso nós veríamos.

Passei as duas semanas seguintes preso no lugar mais quente do deserto em condições subumanas e sem direito a qualquer visita. Estava completamente sozinho naquele local. Esquecido sob a afronta e sendo vigiado como um criminoso por soldados que defendiam a mesma bandeira.

Tive tempo de sobra para pensar se valia à pena ou não estar preso. Em nenhum momento tive dúvida de minha resposta: sim valia muito a pena. Sentia-me digno e limpo por ter salvado aquela mãe e filho. Por ter lutado por eles. Por ter arriscado minha pele e até mesmo por ter matado um homem para que ficassem bem.

Estava vivo e sabia de todo meu ser o que queria para mim. Não a loucura e violência de uma guerra, mas a causa de trabalhar para salvar essas pessoas. Servir em prol do outro e estar pronto para morrer por ele, arriscar tudo para no fim fazer de uma vítima um sobrevivente e de sobreviventes, lutadores. Queria a bravura e audácia daquela profissão.

Naquela primeira noite de encarceramento descobri que ser um militar não é lutar apenas por seu país, mas por um mundo inteiro.

[FLASHBACK OFF]

E ali estava eu em uma encruzilhada. Havia tantas outras carreiras que poderia seguir… tantas outras inúmeras escolhas que poderia ter feito, porém não! Tinha que ter decidido por aquela que mais a feria e me punia por isso. Foi inevitável querer largar tudo para não ver a decepção em seus olhos. Por algum tempo, naquela noite, estive inclinado a fazer isso. Não queria deixar mais cicatrizes.

Por que diabos eu não odiei aquela guerra no final de tudo? Por que achei certo aquilo para mim? Por que aquela escolha se poderia continuar com meus planos pacíficos de fazer uma faculdade, depois ter um restaurante só meu e viver naquela calmaria para o resto da vida com ela? Bem, eu não tinha a resposta para nada, mas sabia que vestir aquela farda diariamente era o que faria de mim um homem completo e realizado… só que para isso eu precisava de Bella.

Pela primeira vez soube que não cederia a seus pedidos. Desejava seguir naquela decisão assim como a desejava ao meu lado. E pensei até o dia amanhecer e ela começar a despertar aninhada em meus braços no que iria falar que a convencesse de que nossa história não era igual à de ninguém e que seríamos nós a escrevê-la até o ponto final.

Havia muitos limites sendo forçados e ultrapassados ali. Limites meus e dela. No entanto o que mais me preocupava era se conseguiríamos de fato suportá-los.

Narração: Bella Swan.

Vi em seus olhos que não tinha dormido nem mesmo dez minutos aquela noite. Vi a culpa, a tristeza e a punição assim como vi o desejo, a vontade e por Deus… a vocação. Suspirei tão fundo quanto podia, o abracei e antes de falar qualquer coisa, eu revi tudo: cada detalhe e cada palavra dita. Os dias contados de sua ausência e a alegria de sua chegada. As realizações que tive e tudo o que havia percebido desde que estávamos juntos naquela estrada.

Pesei, pensei, levantei prós e contras. Edward queria minha opinião, isso não iria mudar a dele, porém ele não faria nada sem mim. Era um pouco confuso de se entender o que ele queria na verdade. Eu estava confusa sobre o que queria. Aquilo não se tratava de amor, não se tratava de uma briga boba ou a roupa que iríamos na festa de Halloween… se tratava do que seria de nossas vidas. Juntos ou não aquilo nos afetaria.

Assim como tinha minhas barreiras, Ediota tinha as dele. Barreiras enormes que eu sabia que muitas vezes foram derrubadas para o meu bem e o imaginar passando por cima de seus limites foi perceber o quanto ele deu e não retribuí. Tudo que tinha de egoísta ele tinha de altruísta, porém um dia as coisas têm de mudar. Pessoas devem crescer e evoluir e algumas vezes até deixar o que mais amamos ir.

O abracei com força mais uma vez.

“Você deve estar com fome.” Cochichou se mexendo e querendo levantar.

“Certa vez você me disse que não dividira sua cama com nenhuma antes de mim porque era seu lugar sagrado e que todas as nossas decisões são tomadas na cama. Ou quando vamos dormir, ou quando acordamos, de uma maneira ou outra é nela que paramos e refletimos. Antes de sair desta cama quero dizer que tenho uma opinião sobre tudo e que a partir dela tomei uma decisão.”

Sentei-me encostando as costas na cabeceira. Ele fez o mesmo. Peguei sua mão e a deixei junto da minha.

“Tudo bem, estou te ouvindo.” Garantiu.

“Tenho certeza que sim.” Sorri para ele e recomecei. “Você sabe o quanto tenho sido egoísta. Tentar suicídio foi meu primeiro grande ato que demonstrava o quão egoísta sou. Não me importei com o que ficaria para trás, simplesmente queria dar um jeito naquela merda que era tudo. Então fui lá e fiz. Deu no que deu. Cheguei aqui e pensei que você não estava nem ai para o que EU passava. Ok, você foi um babaca, porém… e você o que sentia? Não dei a mínima. Logo as coisas melhoraram, e só Deus sabe como sou feliz por isso.” Limpei uma lágrima. “Você me deu tanto! Se importou tanto. Abriu mão de tantas coisas, me colocou a sua frente, prezou por minha sanidade, cuidou das minhas feridas e tratou de meus sentimentos. Me fez feliz! ME FAZ!”

“Bella você fez tanto por mim também…” Ele tentou falar.

“Shhh! Ainda não acabei. De todos os jeitos você pensou em mim primeiro. Nunca chegou a conclusão do que seria o ideal para você e só depois pensou a meu respeito. Sempre foi: “Não se preocupe, o Edward está ali pela Bella. Ele vai cuidar dela”. Me corrija se isso for mentira, mas todos sabem que é assim que funciona com nós dois. Eu sou a peça com defeito e você o que concerta tudo, mesmo que para deixar a peça em perfeito estado, você se esqueça de todo o resto. Como por exemplo o dia que você me deixou pegar o Maserati  para eu aprender a dirigir… Onde diabos você estava com a cabeça naquele instante?” Ele sorriu.

“Só queria ver você feliz no final das contas. Você queria tanto aquilo!”

“Viu? E o quanto você adora aquele carro? O quanto você fez por merecer?”

“Bella é só um carro!”

“PARE! Não é só um carro! É tudo o que fazemos. Eu sou um poço de egoísmo que nunca consegue enxergar um palmo além de minhas vontades e você é todo esse universo inteiro de bondade, generosidade… altruísmo!” Respirei fundo. “Eu tenho um ponto, já vou chegar lá.” Parei e pensei mais uma vez e só consegui uma resposta para minhas perguntas: era Edward. Não poderia perdê-lo. Apertei sua mão. “E se eu te pedisse para ficar e não voltar para as Forças? Por mim e por tudo que já passei e vi? O que você faria?” Sua mão afrouxou da minha.

“Bem… eu, eu, eu…”

“Diga o que você faria?” Forcei.

“Não sei, mas…”

“Cedo ou tarde você desistiria.” Finalizei. Ele bufou.

“Deus! Não.” Ele olhou para a porta quando gritou isso.

“Deus! Sim!” Esperei um segundo. “Olhe para mim.” Me fitou. “Acha que te pediria algo assim? Por favor, seja o mais honesto possível.”

“Sim.” Disse envergonhado.

“Não tenha vergonha por isso, você me conhece. Sabe? Pensei que iria te perder nessa guerra, chorei tanto todos os dias pensando em você e quando você voltou tive uma das mais impressionantes revelações: eu não chorava por você. Chorava por mim e era como se meu amor por você não existisse, mas ele estava ali tão vivo, tão presente. E está aí meu ponto. Eu nunca fui o que você precisava, sempre fui o que queria deixando você para lá, porque afinal  você estava ali comigo e isso bastava. Eu me senti um tremendo lixo vendo o quanto nos prejudiquei.”

White Lies - Unfinished Business

“Bella… eu não estou entendendo!

“Nós não somos uma junção de um + um, somos o um divido em dois e para as coisas ficarem justas a balança tem que estar no nível certo. Não pediria nem hoje, nem amanhã e nem depois para você abandonar sua decisão. Porém não, eu não gosto da idéia de você voltar para o exército e ainda me resta uma dúvida.” Ele esperou. “Você vai ter que voltar para a Guerra?”

“Na verdade Charlie me quer longe daqui enquanto o General Churchill ainda não foi exonerado do posto.”

“Longe é na Guerra Edward?”

“Não, longe é New Orleans.”

“Ok. Então... Edward, mesmo eu não gostando, tenho que aceitar porque não posso mais interferir nas suas escolhas. Cada um dá o passo para o lado que lhe favorece, não sou eu quem vai lhe impedir de caminhar por sua estrada de tijolos amarelos. É isso que você quer, digo voltar ao exército?”

“Muito. Tanto quanto te quero ao meu lado.” Apertou minha mão e olhou em meus olhos quando disse sem hesitar. Meu coração se apertou.

“Você está livre para ir. Se isso vai te fazer feliz, você tem que ir. Não posso viver em um mundo onde você abriu mão da sua vida pela minha.” Ele endureceu.

“Bella isso quer dizer que… você vai? OH! Espera! Você disse que tinha uma decisão. Não! Você não vai fazer isso!” Arqueei as sobrancelhas.

“Fazer o que?”

“Acabar.” Sorri para ele e me contive.

“Edward eu mudei. Não há nada que vá influenciar minha decisão e de onde você tirou essa...”

“Então é isso? Está me pedindo para escolher entre você e o Exército?”

“Nunca! Você ouviu tudo que disse? Tem noção do quanto te amo e o medo que tenho de te perder?”

“Ouvi! É claro que eu ouvi! Se tem todo esse amor e medo por que vai acabar com tudo que temos? Fala de egoísmo, parece querer mudar, mas por quem está fazendo isso? Você não quer sofrer mais, é isso? Estou empurrando muitos seus limites, estou ultrapassando suas barreiras? Não tenho culpa, mas não percebe que há outras maneiras de enfrentarmos isso sem estarmos separados? Eu não vou aceitar que você haja dessa maneira. Pensei que já tínhamos evoluído nessa área.” Ele falava sem interrupção, cada vez mais exasperado.

“Edward…”

            “O QUE?” Berrou irritado. Pulei para cima dele e segurei seu rosto entre minhas mãos.

            “Eu não estou acabando com você… estou dizendo que vamos ficar juntos e que eu não vou chorar por estar te vendo fazer o que escolheu. Não vou me importar em ter que ficar meses longe, ou de ter que me mudar a cada dois anos até você poder se fixar. O que estou dizendo é que em meu casamento você vestirá uma bela farda e que não importa quanta angústia ou saudade que sentirei em suas ausências desde que no fim do dia eu ainda tenha você… desde que tenhamos um ao outro.”

            Edward ficou fitando dentro de meus olhos tão profundamente me fazendo perder a linha de meus pensamentos e acalmar todos os alarmes internos que estavam disparados. Permaneci com as mãos fixas em seu rosto, deixando ele me invadir e ver que tudo que disse era real: estaria com ele não importando se ele fosse um chef, um pedreiro, dentista, dançarino de Hula ou um Oficial do Exército, o apoiaria e isso não mudaria.

Quando um sorriso tímido e tortinho surgiu no canto de sua boca não resisti àquela felicidade que explodiu por todas as partes de mim. Não precisava ouvir dele qualquer palavra, os beijos que trocamos se encarregavam de mostrar que tudo dali para frente estaria em seu devido lugar e o amor que fizemos dizia que tudo ficaria perfeitamente bem.

Nós estaríamos juntos, não havia limites que não pudéssemos ultrapassar unidos e isso nos tornava muito mais que um casal, fazia de nós um exército movido por dois corpos e comandado por um só coração.

Continua…

(***)

N/a: Olá! Como vocês estão lindezas? Espero que todos estejam muito bem! E então o que acharam desse capítulo? Não foi meu preferido, mas devo admitir que gostei um tantinho dele. Sofri para por essas linhas todas para vocês, não foi fácil, porém ai está o penúltimo capítulo.

            E agora, vocês devem estar se perguntando o que vem a seguir… o que eu guardo para vocês, não? Bem tenho uma ou outra coisinha que ainda vai fazer vocês se surpreenderem no próximo e último capítulo. Ainda tenho algumas coisas a dizer.  E para alegria de todos, já estou escrevendo a parte final dessa história! Está no começo e receio que será bem grandinho então peço paciência, pois durante todo este tempo escrevi essa história com muito esmero e paixão, sempre dando o meu melhor para que as coisas fossem do jeitinho que imaginei em cada detalhe que não será neste último momento que deixarei de fazer desta maneira.

            Outra coisa muitoooo importante é que eu quero agradecer MUITO aos comentários, indicações e mensagens que tenho recebido de vocês. Sentir que toquei algo dentro de cada um de meus leitores é incrivelmente recompensador.

            Agora vem aquela parte que eu choro, imploro, grito e esperneio pedindo nada mais nada menos do que COMENTÁRIOS! Gente!!!! Já repararam quantos reviewzinhos lindos faltam para 1000? Acho que seria legal os fantasminhas aparecerem das trevas, verem a luz e comentarem lindezas desse capítulo! Conto com vocês para mais uma vez arrasarem!

            Beijos a todos e até o próximo!

            Grasi.

N/b: Eu preciso dizer que nossa amada autora ainda vai me matar! Eu juro!

Já li muitas fics por aí (me achei a experiente agora, né?), algumas realmente boas, umas dá pro gasto e umas tão terríveis que não cheguei a ler além da sinopse ou do primeiro parágrafo do primeiro post do primeiro capítulo! Mas eu nunca li uma fic que mexesse tanto comigo e me passasse tanto sentimento como essa! Cada palavrinha, cada frase formada são tão carregadas de verdades e emoções que é impossível você não se envolver!

Eu particularmente sinto o amadurecimento da Bella, sinto o conflito quando o Edward conta que escolheu ser Militar... Deus! Sinto até mesmo a alegria e a leveza dela quando ela percebe que não importa o que o Edward faça, ela sempre vai o amar e o querer por perto!

Me dói muito saber que o próximo capítulo será o último! Não apenas pelas noites de post e conversa com as meninas (pra quem acompanha pelo Orkut) ou pelo medo de que o tópico fique esquecido... (eu tenho comigo que cada amizade construída nesse tópico vão pra além da vida! Cada uma com seu jeito único ocupa um lugar especial na minha vida e vai ser sempre assim... Até porque existe telefone, MSN, Facebook e assim por diante...) O que mais me dói é saber que não vou mais passar semanas e mais semanas morrendo de ansiedade pra saber o que vai acontecer com a Bella, o Edward e os demais! Eu sei, eu sei! Parece insano, e deve mesmo ser! Mas a Grasi conseguiu escrever de tal forma, que nós nos envolvemos com a história mesmo! Somos praticamente uma grande e única família! (Semo ou num semo?! Hahaha)

Enfim...vou parar por aqui! É com lágrimas nos olhos (que novidade ehnn?) que mais uma vez me despeço de vocês! É sempre um prazer incrível e imensurável fazer parte, de certa forma, da história de Waking Up!

Beijos minhas queridas, e porque não queridos que podem estar aí de BBB!

Amo vocês! ♥


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Notas finais do capítulo

AHHHHH COMENTEM! COMENTEM! COMENTEM E COMENTEM!