Waking Up - Aprendendo a Viver escrita por Soll, GrasiT


Capítulo 43
Capítulo 35 – Aprendendo a Viver.


Notas iniciais do capítulo

Milhões de desculpas a demora, como não tenho contato com a maioria quero esclarecer que não foi por desleixo, mas estava me mudando novamente, agora estou morando sozinha e fazer mudança sem ninguém para te ajudar é muito complicado... enfim, espero que esse capítulo faça juz ao que esperavam dele.
Capítulo final + Epílogo na postagem seguinte! Não deixem de comentar em nenhum.
Beijinhos!



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Saltei para fora da cama e me joguei no chão com o som estridente do despertador que me assustou no meio da noite. Minha colega de quarto, Rachel, resmungou qualquer coisa para eu fazer silêncio, e imediatamente me joguei para cima do relógio que se esgoelava e o desliguei. Suspirei cansada, eram quatro horas da madrugada.

            Estudava em período integral: manhã, tarde, noite e ia longe nas madrugadas. Eram três anos e meio disso. Andava estupidamente exausta e viciada em cafeína, porém não reclamava, tinha lá minhas razões para querer ocupar por bastante tempo minha mente, e mesmo assim ainda sobrava tempo para pensar em… um monte de coisas que não poderia mudar.

Não lembrava mais a última noite que dormira antes da meia noite e o dia que acordei depois do sol nascer. No entanto aquele não era meu horário de acordar – normalmente era uma hora depois – mas naquele dia começavam minhas férias de inverno, teria um mês de descanso. Iria pegar meu carro, viajar algumas poucas horas até New Orleans, visitaria meus pais e depois eu não sabia o que seria.

Meu destino não foi a cidade de meus pais ou qualquer outra faculdade perto de lá. Morava em Houston, Texas, assim como Jasper que estava meio ano a minha frente. Seguidamente nos víamos. Bem… sempre que o pouco tempo que tínhamos nos permitia, estávamos juntos. Ele me fazia muito bem e eu a ele. No final do ano seguinte ele e Allie se casariam, e ele se mudaria para Nova York. Era dezembro então ainda não podia reclamar da saudade que sentiria dele. Esperaria para começar a me queixar por Junho ou Julho.

            Demorei-me no chão tentado achar a vontade de me levantar e ficar acordada. Fiquei ali sentada e enrolada em meu edredom fazendo preguiça e lembrando quando tinha alguém para me puxar para cama novamente e dizer que podíamos ficar só mais cinco minutinhos juntos. Era difícil estar solteira. Sorri na escuridão para ninguém além de mim, então me levantei. Tinha que seguir com minha vida.

            Sentia saudades de Edward. Já fazia um ano e alguns meses que não estávamos mais juntos.

Não foi por nenhum motivo dos quais sempre brigávamos, nem mesmo foi porque ele estava no exército. Me mantinha o apoiando e em nenhum momento pedi que largasse do serviço Militar, não queria isso. Ele sempre estava tão feliz. Nós nos separamos porque não suportamos a idéia de que ele passaria três anos no Haiti. Três anos completos, sem férias, sem folgas, sem visitas. O rompimento partiu dele e eu aceitei (depois de muita discussão). O Ediota queria me deixar livre para viver sem culpa… como se fosse mudar o que eu sentia.

Edward dizia que não suportava a idéia de que eu ficaria tanto tempo sozinha, que tinha que ter alguém para canalizar todo o amor e mais um monte de bobagens que só me lembravam a época em que ele tinha ido à guerra e me pedido, caso o pior acontecesse, que eu encontrasse outro namorado e fosse feliz. Nem naquele tempo, nem quando ele foi para o Haiti, nem agora e muito menos daqui um milhão de anos isso faria sentido para mim, porém não podia brigar em uma guerra perdida. Antes de partir, tiramos nossas alianças e um bom tempo depois descobri que ele deixara a corrente de nosso noivado em uma de minhas bolsas.

Mesmo assim em nenhum momento deixaríamos de nos amar. Éramos lagostas*! Todas as terças e quintas-feiras recebia ligações à noite, sempre no mesmo horário. Não havia palavras do outro lado, apenas a respiração um pouco pesada e às vezes o som de um breve pranto e ao final um longo suspiro. Aquele era Edward dizendo que o que passávamos não era o fim. Vivíamos em um hiato… seriam mais dois longos anos.

Vesti uma calça de malha, um tênis quentinho e um tricô enorme que Allie tinha me mandado de presente algumas semanas antes. Peguei a bolsa com meus pertences e a mala de mão, no carro já tinha a bagagem maior. Antes de sair, dei um beijo em minha colega sonolenta e me despedi. Era quase cinco quando saí de Houston. Seriam seis horas de viagem. Seis horas pensando na falta que Edward fazia e em como minha vida andava miserável.

(***)

“Não Renée, não vou ficar me culpando sobre isso.”

“Mas e se você tivesse brigado um pouco mais? Não vê o quanto parece infeliz?” Pisquei compulsivamente tentando entender o que era aquilo que acontecia: eu e minha mãe, sentadas na varanda de casa, o vento gelado do Mississipi soprando, tomando chá e conversando sobre como eu estava sem Edward como namorado.

Um fato desses três últimos anos: eu finalmente entendi o que era perdoar alguém e dar amor sem olhar para onde ou quem, mesmo que isso não voltasse para mim. No fim, minha mãe era uma pessoa muito mais agradável e – por que não dizer? – feliz. Fazia questão de falar com ela quase todos os dias e contar como ia minha vida. A poupava de mostrar toda a tristeza por estar longe de Edward.

“Desculpe? Brigado um pouco mais? É isso mesmo? Não Renée. Eu e Edward tínhamos uma relação muito saudável para acabar em uma briga como da primeira vez. Além do mais… você acredita mesmo que nossa história tenha acabado?” Mordi o lábio para evitar chorar. Ela ficou olhando para sua xícara de chá fumegante por alguns segundos, assoprou, tomou um gole demorado e me olhou. Aqueles olhos azuis…

“Uma história como a de vocês, o que vocês tiveram, ainda tem! Isso nunca, jamais, jamais vai acabar querida.”

Fitei dentro de seus olhos, uma vez tão sem vida, tão sem alegrias e agora estavam ali transbordando verdade me fazendo acreditar que nunca existiria um final. Não soube o que lhe dizer, então fiz o meu melhor e sorri.

“Isso! Sorria… e que seja verdadeiro. Você é a melhor nisso.” Tomei um gole de meu chá de frutas, olhei para as árvores secas e algumas crianças brincando no final da rua. Me perdi nessas imagens e no vazio que eu era.

 

             “BELLA!” Pulei com o susto do grito de meu pai. “Em que mundo você está garota?” Lhe olhei e sabia que meus olhos estavam cheios de lágrimas. Charlie suspirou profundamente ao ver minha face. Tinha de me encontrar e seguir. Já fazia um bom tempo e precisava parar de sofrer. Quando chegasse ao final do terceiro ano as coisas voltariam ao seu lugar… certo?

            “Apenas… por aí.” Sorri sem um pingo de vontade.

            “Aham. Você pode parar de me enganar agora.” Pôs as mãos na cintura. “Coloque um casaco mais quente, vou te levar a um lugar.”

            “Uma câmara fria?” Tentei fazer graça.

            “Rá rá. Muito engraçadinha. Ande, não temos muito tempo.” Olhei para Renée. Ela acenou com a cabeça. Por que diabos eu tinha buscado sua aceitação? Andava estranha demais até para eu mesma. Não me prendi a isso e fiz o que meu pai mandou.

            (***)

            “Só mais um minuto! E fique quieta Isabella! Pare de perguntar um pouco e viva o mistério!” Meu pai me calou gentilmente. Ele estacionava o carro na pista de pouso da base em que trabalhava no mesmo instante em que um avião da Força Aérea quicava seus pneus no chão. Parou o Jeep e me olhou. “Você anda tão triste.”

            “Não acha que tenho meus motivos?”

            “Quais são eles? Edward estar longe de você?”

            “Não apenas isso pai, estou longe de todos que eu amo.”

            “Mesmo? Quantas horas você dirigiu para chegar aqui hoje?”

            “Ok! Talvez seja só porque estou longe dele.” Respirei fundo. “Por que você me trouxe aqui?”

            “Para te mostrar que nada é impossível.” Disse. Não estava disposta a suspenses.

            “Que seja.” Deixei de lado.

“Garota boba.” Falou e saiu do carro. Cruzei meus braços e fiquei ali de olhos fechados, tentando ignorar as lembranças. “Vai ficar aí? Vai perder toda a diversão.”

            “Pai, lembra que foi em bases como essa que vi meus dois maiores amores irem para longe de mim? Tenho minhas dúvidas quanto ao possível e impossível nesse tipo de lugar.” Se virou, apoiando-se com os cotovelos na janela.

            “E acabaria com essa sua dúvida ver um deles voltando para você?” Um único segundo para processar sua pergunta. O sorriso de meu pai era enorme, eu estava congelada. “Você realmente quer perder toda a diversão não é mocinha?”

            Minhas mãos foram sedentas à porta a escancarando e pulando para fora. O som das turbinas ainda era altíssimo, mas ignorei. Soldados desciam as rampas já abertas da aeronave. Meu coração batia fora de ritmo e acelerado, buscando achar a batida certa para se acalmar. Impossível. Olhei rosto por rosto enquanto corria em direção ao meu objetivo. Por Deus, onde ele estava?

            Corri ignorando o que os soldados diziam ao passar por mim, ignorando a leve dor e cansaço que meu sedentarismo causava. Deixando para lá que eu podia ter entendido errado o que meu pai dissera… esquecendo que estava solitária e infeliz, fazendo cair por terra todos os meus medos e tristezas. Corri junto com o vento o mais rápido que pude e era como se o mundo girasse em câmera lenta.

            Meus passos se tornaram curtos e vagarosos quando os últimos soldados saíram contando piadas mesmo estando cansados. Eram poucos rostos para contar, poucos homens para começar a ceder. Poucos segundos para que eu parasse completamente frente à rampa do avião. Com um coração esperançoso e mãos juntas tentava controlar aquela euforia que me dominava e tirava minhas forças. Um último soldado passou por mim e então nada, apenas o silêncio. As turbinas se calaram. Ele não estava ali.

            Fechei meus olhos molhados e desejei que quando os abrisse estivesse em outro lugar, longe dali, longe de qualquer dor. Respirei o mais fundo que pude, juntei toda a coragem que carregava e então me permiti ver.

Amy Winehouse - Will You Still Love Me Tomorrow?

Ainda de dentro do avião Edward me olhava. Não pude me mexer sendo invadida por todas aquelas emoções infinitas e devoradoras. Os passos pesados de suas botas batiam na rampa de metal em minha direção. Em meu peito o coração parecia querer explodir em um milhão de pedacinhos quando ele se colocou a minha frente pegando meu rosto entre suas mãos. Seu toque me fazia viva e eu me sentia tão pequena diante do amor que sentia por aquele homem.

Em seus olhos me encontrei novamente, encontrei toda a minha alma e alegria. Lágrimas rolavam por sua face e não pude conter as minhas. Nada no mundo podia me fazer amá-lo menos. Pulei em seu colo, sendo envolvida por toda paixão e amor que sentíamos em um abraço quente e seguro. Edward me segurou com força em seus braços. Minhas pernas em sua cintura não queriam jamais deixá-lo ir. Nos fitamos por um breve segundo. Estávamos ali, juntos mais uma vez.

Nos beijamos sem pensar como seria o amanhã, se teríamos que seguir separados ou se nos casaríamos dali dois dias. Nos entregamos a todo o poder do que sentíamos. Não éramos fracos daquela forma. Beijei sem pudor nenhum, com força, vontade e paixão. Ficaria o beijando até poder matar aquela saudade que me consumia. Edward me tinha apenas com um toque de lábios, deixava todos os meus sentimentos expostos e prontos para pegá-los e transformá-los naquele amor incurável e devastador que nos dominava.

Fomos acalmando nossas bocas e corações até pararmos e ficarmos apenas nos olhando dentro dos olhos. Via todas as suas verdades e ele as minhas. Não desci de seu colo e ele não quis me largar. Fitei suas feições, conferi se estava tudo no lugar, em mim tudo assumia uma nova coloração. Sorríamos sem parar e pensava em um milhão de coisas que queria dizer a ele, porém nada vinha à tona. Edward retirou uma mecha de cabelo para trás de minha orelha e beijou suavemente meus lábios. Suspirou com seus olhos fechados.

Se toda partida é dolorosa, a alegria da volta recompensa todas as pedras do caminho.

“Não vou voltar para lá.” Sussurrou. Meu corpo cedeu, ele me segurou e abriu seus olhos verdes aliviados.

“Eu amo você.” Rolou baixo por minha garganta. Ele piscou. “Eu amo você.” Repeti. Edward então sorriu entre lágrimas.

“Quer namorar comigo… mais uma vez?” Pediu rindo. Segurei seu rosto em minhas mãos e o beijei demoradamente nos lábios.

“Seu Ediota, sou sua noiva e nunca deixei de ser.” Beijei a ponta de seu nariz.

“Eu amo você…” Declarou. “Minha Monstrenga.” Ri cheia de vontade.

“Senti falta disso.” Admiti e ele mordeu meu lábio inferior. “Oh! Disso também!”

QUATRO ANOS DEPOIS.

Sozinha em frente à janela sentia meu coração querer explodir no peito. Era tão estranho e perturbador a sensação de que os anos tinham passado em um piscar de olhos. Havia vivido tantas coisas, deixado de viver tantas outras, tudo foi tão intenso e nada se comparava àquele momento.

Via no vidro meu reflexo. Por fora era uma mulher, mas ainda me sentia uma garotinha tola e ingênua, tão cheia de sonhos e pronta para alguma peraltice. Eu ainda podia fazer peraltices não podia? Talvez sim, mas provavelmente não. Então olhei para o vestido deitado delicadamente em cima da cama. É, aquela era uma grande peça que o destino tinha pregado para mim.

Respirei fundo. Foram tantos anos para chegar naquele instante, tanta dor, dúvida e amor que me sentia até um pouco tonta, sem falar na euforia. Estava na hora, e sem tirar nem por Alice entrou no exato momento em que percebi que mais um segundo parada poderia resultar em muitos minutos de atraso.

“Ai está você!” Disse sorrindo.

“Você está divina.” Veio em minha direção com um sorriso de orelha a orelha com os braços abertos. A abracei forte.

“Obrigada por todos esses anos.” Lhe falei.

“Obrigada por não ter desistido.” Me apertou em seus bracinhos magros e nos olhamos. “Não podemos nos atrasar.” Alertou a nanica com olhos arregalados e expressão divertida.

“Não, não podemos, mas não falta muito.”

“Não falta muito? Bella! É o mais importante!”

“Certamente eu não vou esquecer-me disso!” Ela riu. “Venha me ajude.”

Allie foi cuidadosa e delicada. Disse lindas palavras e que eu amaria tudo que viria a seguir. Abotoou cada botão contando como cada um dos convidados estava vestido e que não imaginava que Rachel, minha colega de quarto e faculdade, era tão divertida. Nunca tinha parado para pensar como as duas eram parecidas na verdade. Ao fim ela pegou minhas mãos e olhou-me dentro dos olhos, parecia escolher as melhores palavras. Esperei paciente pelo o que ela tinha a dizer.

“Deus! Tire esses sapatos, você é muito alta neles!”

“Mas o que?” A fitei incrédula.

“Vamos! Tire! Tire logo!”

“Ok. Ok!” Tirei um e depois o outro me apoiando nela.

“Agora está melhor.” Revirei os olhos. “Bella, infelizmente tenho uma notícia para te dar antes de descermos.” Alice apertou mais minhas mãos na dela. Segurei a respiração por um momento imaginando as piores coisas. “Eu esqueci a liga!” Pisquei. Ela riu.

“Como assim esqueceu a liga?! Você não tinha mais nada para esquecer não?!”

“Calma! Calma!”

“Justo a liga Alice?!”

“ME ESCUTA?!”

“O que mais você esqueceu?”

“Eu esqueci! Mas ela não!”

“Ela quem?” A porta rangeu baixinho e aquele pequeno rosto conhecido e esperançoso apontou na porta. “AMBER!” Correu me abraçar.

“Você nunca esteve tão feliz!” Disse durante o abraço. Quando nos soltamos as duas começaram a fazer palhaçadas sabendo que em um segundo começaria a chorar.

“Vocês não prestam!” Olhei para minha amiga que fazia mais de um ano que não via. Abracei-a novamente. “Senti tanto medo de te perder.”

“Não foi só você.” Abanou a mão no ar brincando. “Por sorte meus médicos sempre foram excelentes, já fui salva de uma leucemia antes, não seria uns dias de nada em coma que me derrubariam de vez.”

“Amber!” Alice a repreendeu. “Você sabe que não foi tão pouco assim.”

“Alice! Eu estou bem e viva! A lesão já foi curada e eu nunca mais volto a praticar esportes radicais! É promessa!” Alice começou a passar um sermão em nossa amiga.

Amber tinha ido há alguns meses com Jake para a Austrália comemorar um ano de casados e ela quis participar de alguns esportes radicais. Infelizmente em um deles nada saiu como esperado. Ela fazia rapel em uma cachoeira e o equipamento não foi bem instalado. Ela caiu na água, porém o local era raso e havia algumas pedras. Resultou em uma lesão na coluna, o braço esquerdo quebrado em dois lugares, um deslocamento no joelho, muitos cortes e um mês inconsciente.

“Garotas! Não vamos ficar pensando nessas coisas. Amber está aqui conosco, como ela mesmo disse, viva! Isso que importa! Fico feliz que você tenha conseguido alta.”

“Não perderia isso por nada Bella.” Me olhou por de baixo dos olhos. “Agora…” Balançou um saquinho de seda branca no ar. “Como eu cometi esse pequeno erro, fazendo você pensar que ficaria sem uma de nós hoje, resolvi te trazer isso.” Ela depositou o pequeno pacotinho em minha mão. Eu o abri.

Era sua liga. Foi sua mãe que tinha lhe dado, a guardava desde a época que namorava o pai de Amm e sonhava um dia poder usar. Para minha amiga aquela liga era um mundo de sonhos e fé no amor.

“É linda!” Disse encantada e a abracei.

“Agora a tradição está completa.” Comemorou com olhos emocionados. “Algo emprestado e azul… meu Deus, você está radiante!”

“Não mais linda que vocês duas.” Falei sincera. Allie fez uma careta estranha.

“Estranho, achei que de todas nós você e Rose seriam as primeiras.” Alisou o queixo pensando.

“Diga isso a seus irmãos.” Falei ironizando. Nós três nos olhamos.

“É, acho que Rose se deu mal nessa!” Amber constatou. Nós rimos enquanto eu vestia a liga e até uma leve batida na porta nos parar. Esme apenas colocou a cabeça para dentro.

“Está na hora.” Meu coração saltou no peito. Sorri para ela.

“Posso pedir um minuto sozinha?” Minhas amigas concordaram e saíram. Alice estaria me esperando no final do corredor.

Fitei o espelho uma última vez. Nunca poderia dizer adeus à menina que eu era, mas aprenderia a ser a mulher que nascia. Em meu reflexo o vestido branco de tecido fluído e rendas delicadas faziam par perfeito com a leveza que minha alma tinha. Respirei fundo e lembrei o quanto tinha lutado por aquele momento que seria o início de uma vida inteira. Fechei os olhos e lembrei-me de tudo o que me fazia ter certeza de que seria para sempre.

Andei até a porta e a abri lentamente. No final do corredor a direita estava Allie com o buque e a esquerda, meu pai. Perfeitamente composto em sua farda cheia de medalhas e pompa. Seus olhos vermelhos e úmidos. Lá estava o primeiro homem de minha vida. O primeiro que segurou minha mão e não me deixou cair.

            Oferecendo-me seu braço, deu um passo para chegar até mim, depositou um beijo amoroso em minha testa, e então cobriu meu rosto com o véu.

(***)

As cores encheram meus olhos. Seus tons terrosos pareciam brilhar com os raios de sol que aquele fim de tarde despejava sobre New Orleans. As folhas de plátanos se espalhavam pelo chão quase formando um tapete dourado, os salgueiros amarelados choravam sua beleza se misturando com as cores alegres e saudáveis das begônias que pintavam sutilmente alguns pontos da decoração.

Olhei todos de longe, os admirando por um segundo. Ouvi meu pai segurar a respiração. A música começou a tocar ao som de violinos melodiosos e doces. A minha frente, pessoas que amava infinitamente, me guiavam rumo ao sol. Parei quando cheguei ao corredor de pétalas que me levariam até ele. Dei o primeiro passo quando ele lentamente se virou. Então só podia ver Edward.

Narração: Edward Cullen.

Vê-la caminhar em minha direção era paralisante e indescritível. Mal conseguia respirar, não sabia o que fazer com as mãos, e os olhos não tinham direção certa por muito tempo, mesmo desejando que ela fosse a única em minha vista. Nunca pude imaginá-la tão maravilhosa como naquele instante, andando lentamente até mim e parecendo que havia um mundo inteiro de distância entre nós. Ela brilhava.

Tínhamos caminhado por tantos caminhos juntos, compartilhado e vivenciado milhares de grandes e pequenas experiências, mas naquele momento era como se tudo fosse invalidado e ali se tornava o marco zero. Um ciclo terminava, outro se iniciava e dessa vez me sentia tão mais pronto para amá-la. Era o que pensava quando Charlie a entregou para mim no altar, em seus olhos pequenas poças já se acumulavam.  

Havíamos atravessado períodos de solidão nos últimos anos. Ambos separados por trabalho ou estudo, uma época em que sacrifícios deveriam ser feitos, mesmo que isso significasse a distância. Confesso que por muitas vezes fui tão egoísta e masoquista como ela costumava ser. Quando fui levado em missão para o Haiti e rompi com o namoro de uma vez, foi uma delas.

Pensaram que estava louco. Minha família jogou-me na cara todas as vezes que passamos por situações piores e permanecemos juntos – e não foram poucas – porém daquela vez eu pensava que era hora de Bella viver um pouco mais, sem preocupações, medos ou culpa. Tinha consciência que voltaria três anos depois inteiro e a salvo, era uma missão de paz. Ela não precisava pagar por minhas escolhas e, diferentemente de mim, queria que ela aproveitasse a sua vida enquanto era época.

Sofri como da primeira e única vez que tínhamos acabado. Chorei por dias na calada da noite, carregava sua foto sempre comigo e diariamente escrevia cartas que nunca foram enviadas. Martirizava-me durante algumas noites da semana, religiosamente, ligando para ela, ouvindo sua voz e nada dizendo. Quando minha Monstrenga percebeu quem era do outro lado, ela passava a contar o que estava acontecendo e costumava garantir que ficaríamos bem e quando não era isso, ela apenas chorava baixinho e no final dizia que sentia minha falta.

Na verdade, bem no fundo de meu ser, sei que nunca rompemos realmente. Conhecia minha Bella, ela era leal demais ao sentimento que nos unia, leal as suas crenças e paixões e, mesmo que eu mandasse outro cara para ela que fosse minha cópia, falasse do jeito que eu falo, andasse da mesma forma que ando e se chamasse Edwin, ela jamais sequer pensaria em ficar com ele, pois, mais que eu ou qualquer outra pessoa, Bella sabia desde o princípio qual era nosso destino e talvez por isso, só por isso, a liberei de nosso compromisso. A certeza era massiva de que quando voltasse ela ainda estaria esperando por mim.

Ergui seu véu e beijei suavemente sua testa. A música cessou. O silêncio se fez. Trocamos um breve olhar e a expressão de ambos denunciava com um enorme sorriso que o que sentíamos não era apenas felicidade pelo momento, não era apenas amor ou paixão. O que nutríamos um pelo outro ia além dessas definições do senso comum, vai além do entendimento e do real. Não era tão mundano como se costuma pensar. Era um amor sublime e sólido. Podia o mundo ruir e tudo faltar, mas sabíamos que tínhamos um ao outro.

Narração: Bella Swan.

Iron and Wine - Flightless Bird, American Mouth.

“E, sobre tudo isto, revestí-vos do amor, que é o vínculo da perfeição.”

Edward sorria de uma maneira absurda que me fazia querer pegá-lo pelo braço e levá-lo para longe dali. Segurava minha mão delicadamente com a pequena argola dourada na ponta de meu dedo anelar. Olhou fundo em meus olhos e falou de forma suave e afetuosa.

“Eu, Edward Anthony Cullen, recebo-te por minha esposa Isabella Marie Swan, e prometo ser-te fiel, cuidar-te e respeitar-te, em nossa felicidade e tristeza, na saúde e na doença. Prometo amar-te mais a cada respiração durante todos os dias da nossa vida, entregando-lhe meu coração e alma até o último momento e continuando nossa comunhão além do fim.”

Foi impossível conter as lágrimas que rolavam. Poucas, doces e felizes lágrimas. A mim foi oferecida a outra aliança. Segurei sua mão esquerda da mesma forma delicada. Fitei o mar esmeralda que eram seus olhos e declarei com paixão.

“Eu, Isabella Marie Swan, recebo-te por meu esposo, Edward Anthony Cullen, e prometo ser-te fiel, respeitar-te e zelar-te, nunca lhe negando carinho, amizade ou paixão, nas alegrias que teremos e tristezas que virão. Prometo amar-te todos os dias de nossa vida e enquanto o sol continuar a brilhar.” A sua aliança já abraçava seu dedo ao final de minhas palavras.

“Pelo poder a mim investido e sob a graça de Deus, vos declaro Marido e Mulher. Pode beijar a noiva.” Ouvi ao fundo a voz rouca do padre abençoando por fim nossa união.

Fitei Edward e vi o sorriso mais tímido e alegre que conhecia, aquele que era meio tortinho e se repuxava no canto esquerdo de sua boca e dizia que ele me beijaria em segundos. De olhos abertos nossas bocas foram uma de encontro à outra e com o suave e macio toque de nossos lábios cerramos nossos olhos. Então soube. Certa como nunca estive antes, que meu Ediota sempre seria meu e que nunca me faltaria o que mais me nutria…

O amor.

Narração: Emmet Cullen.

“Blábláblá.” Jacob falava em um brinde que era pra ser breve ao casal de pombinhos recém casados. Eu até queria fazer, mas a Rosinha insistia que eu não tinha vocação para dizer palavras bonitas e nem sabia do que ia falar porque nunca tínhamos nos casado. Mulheres. Eu dava o mundo pra ela e era assim que me retribuía. Mas tudo bem, eu continuava doidinho por ela de qualquer jeito.

Ele continuava a falar e eu continuava a me entediar ainda mais. Alice tinha falado da infância de Bella. Rose de como os dois eram inseguros um com o outro até hoje. A maluquinha de Amber declarou que se não fosse pelos dois, talvez nunca tivesse dado certo com Jacob. Jasper, bem, Jazz falou muito sobre Edward e em como ele merecia uma mulher como Bella e por fim Jake dizia toda aquela melação que falam em casamentos. E eu? Bem, eu não podia falar nada, tinham me proibido.

Porém… Seria eu o único padrinho a não se pronunciar? Triste vida a minha. Olhei para Jacob que parecia estar falando há umas 5 horas. Suspirei. Nem pensar! Alguém tinha que falar das coisas que realmente importavam. Peguei um garfo e bati em minha taça com um pouco de força a mais e o cristal simplesmente estourou em minha mão espalhando champagne para os lados. Fiquei com vergonha com todos me olhando? Não, nem um pouco, o objetivo era esse.

“Desculpe Jake, você é um cara legal, um bom padrinho e todo mundo aqui já sabe que você deseja o melhor para eles, mas cara chegou minha vez de falar!” Olhei para meu maninho e sua donzela. Acho que Bella estava com o sapato apertado e Edward com vontade de mijar… só isso para explicar a cara deles para mim.

“Ah… Bebelildis e o Ediotinha, que casal! Não vou falar nada que vocês já não saibam, eles se amam. E é lindo como fazem isso e com isso, sem dúvida não conheço duas pessoas que se dão tão bem como esses dois… AÍÍÍ! ROSE!” A safada me deu um beliscão na bunda. “Viu, isso só prova o que estou falando!” Todos riram. “Qual é pessoal? Vocês já viram Edward e Bella em uma briga? É cômico e no fim… bem, melhor nem falar.” Charlie cruzou os braços, mas riu descontraído. Continuei.

 “São praticamente oito anos desde que vi a primeira conversa deles e sabe? Acho que sou vidente ou paranormal! Naquela noite, eles já estavam conectados, podia dizer com toda certeza que aconteceria, pois não há, não mesmo viu Rosinha…” Olhei pra minha mulher só pra garantir que continuaria com todas as partes de meu corpo. “Não há pessoas tão parecidas e tão diferentes como a Monstrenga e seu Ediota.” Meu irmão abraçou Bella nos ombros e ela se aconchegou em seu peito sorrindo. Prossegui.

            “Todo mundo já ouviu um pouco só de como foi difícil para ficarem juntos, que passaram por muitas coisas e todo um blábláblá, mas o que ninguém disse é como esse negócio todo começou! Pra começo de conversa: foi rápido. Ela chegou, e ele já odiava a Bells. Quem conhece esse cara sabe que se tem uma coisa que ele detesta é que invadam sua vida, e sabem o que Bella fez? Invadiu, não pediu licença e ainda pôs Edward em seu devido lugar.” Fitei os dois mais uma vez. “Agora tu ri né Ediota? Na primeira noite de Bella em nossa casa ele só faltou chorar… mas é como dizem por aí: quem desdenha quer comprar. Não demorou mais que uma noite para tudo se encaixar, ou sair do lugar de uma vez.” Mais uma vez riram.

            “Se quiserem diversão, escondam uma câmera em algum lugar em que esses dois estão e depois prestem atenção em quantas vezes eles brigam e quantas vezes fazem as pazes… Eles começaram tudo isso com uma grande discussão, vão acabar discutindo hoje ainda, podem acreditar!” Virei-me para os dois e ergui minha taça. “Vocês se odiaram tanto há oito anos, que vem daí todo esse sentimento que une vocês hoje. E digo pelo que vi e pelo que vivi com vocês dois que por mais que vocês se amem de uma maneira quase contagiante hoje, uma faísca daquele ódio sempre vai permanecer…”

            “EMMET! Isso é um casamento, não um divórcio!” Alice me reprimiu. Ignorei. Bella e Edward riram, e Bebelildis me defendeu.

            “O deixem falar! Quero ver onde o Abelhudo vai parar com tudo isso!” Agradeci e finalizei.

            “Porque é quando se deparam com ele – o ódio – que vêem o quão bem vocês fazem um ao outro. É nessa pequena parte de raiva que encontram o respeito e o apoio. Onde começam as brigas, onde as terminam e onde vocês mantém vivo o amor. Porque o céu não seria azul sem o mar, fazer o bem não seria tão gratificante se não existisse o mau, e porque o Sol não seria nada sem a Lua, assim como o amor não sobrevive sem o ódio e como Edward não existiria sem a Bella. Ao amor e ódio de vocês, eu faço um brinde!” 

            Narração: Bella Cullen Swan.

            Corri abraçar Emmet, que com clareza descreveu o que Edward e eu éramos. Perdia as contas de quantas vezes dizia na cara de Edward o quanto o odiava e ele o mesmo, mas mais infinitas ainda eram as vezes que declarávamos o quanto nos amávamos. Emm estava certo, enquanto houvesse aquela ponta de raiva como no dia em que nos conhecemos haveria o amor. Todos aplaudiam e eu chorava, uma música voltou a tocar. No ouvido de meu amigo e cunhado lhe falei durante o abraço.

            “Obrigado por ser o único com sabedoria para nos dizer as palavras certas meu amigo… mas é bom você armar um casamento para Rose de uma vez!” Dei-lhe um tapa na nuca, ele riu e me soltou do abraço. Quando ia me falar algo, um som latino de batidas fortes e uma mulher que gritava desafinada, ecoou estridente no salão. “Mas que diabos…” Ele tirou o celular do bolso e explicou brevemente.

            “Funk brasileiro Bells!” Atendeu e sendo totalmente monossílabo em uma chamada de no máximo 30 segundos um sorriso enorme surgiu em seu rosto. “ROSALIE?” Chamou por ela aos berros.

            “Bem atrás de você… querido.” Respondeu.

            “Mulher você não vai acreditar! Era o Phill…”

            “Emmet? Trabalho hoje? É o casamento do seu irmão! Você não tem noção não? Você me prometeu que não seria assim, é uma ocasião especial, sem falar que você…” Rose começou a falar e falar sem parar até ser interrompida por uma sonora frase mal educada em um momento de silêncio entre os demais.

            “Você pode calar a boca por um minuto e parar para me ouvir?” Esme no final da mesa espichou o pescoço com o rosto vermelho de vergonha. Rose ficou quieta com os olhos saindo faíscas de raiva. Talvez Emm tivesse uma boa razão para falar sobre ódio e amor. Ri comigo mesma quando Edward pegou em minha mão para assistir ao que ocorria. Emmet finalmente falou… calmo desta vez.

            “Entramos Rose! Estamos dentro! A Roush Fenway Racing aprovou!”

            “AH. MEU. DEUS.” Rose pulou rindo no colo de Emmet. Nem eu e nem ninguém estava entendo aquilo. “NÓS VAMOS CORRER NA NASCAR!”

            Gritamos de surpresa, corremos e pulamos em cima dos dois, comemorando a novidade. O resto da noite foi feito de pura poesia no jardim da casa de meus pais. Foi como imaginei desde o dia em que fui pedida em casamento. As luzes, as cores, as risadas e as conversas serviam como plano de fundo para a imagem surreal que minha mente guardaria como um dia perfeito.

Ray Charles & Bonnie Raitt - Do I Ever Cross Your Mind.

            Achei que não resistiria a tanto naquele dia, porém aos poucos a festa de nosso casamento foi esvaziando conforme as horas iam passando, e por último restou apenas eu e Edward dançando sozinhos no centro do tablado branco, com luzes fracas ao nosso redor, e a pequena orquestra nos embalando com aquela velha canção de Ray Charles que marcava nossa primeira vinda a New Orleans.

(***)

UM ANO APÓS O CASAMENTO.

            Até podia dizer que sentia falta da umidade de Forks, mas não era sempre, afinal Houston também sabia ser úmida quando queria, no verão principalmente. Naquele dia uma forte chuva se deitava sobre a cidade, fazendo um dia cinzento e abafado desde a manhã. Não me importava muito já que Edward estava a serviço no Forte Worth, quatro horas em média ao norte de Houston.

            Ele vinha estudando uma transferência para a base de Houston, a aeronáutica tinha força na cidade, mas nem por isso Edward desistiria fácil. Atualmente era Capitão de uma companhia no forte, estava indo bem na carreira, crescendo por mérito e não por indicações, o que acontecia muito dentro do sistema.

Charlie sempre teve muito prestígio entre os grandes e Edward não gostava do que isso podia mostrar aos demais já que eu era a filha de um dos grandes Generais do país. Sempre deixou muito claro para meu pai que não interferisse em sua carreira, e assim meu pai fez. Se tivesse feito o contrário, possivelmente teria sido mais fácil e talvez não ficássemos tão distantes, só que não era isso que queríamos, nós queríamos independência total e livre de favores. Nós a conquistávamos diariamente dessa forma, mesmo com a distância.

            Trabalhava no Methodist Hospital, o melhor hospital da cidade, no setor de neurologia. Gostava do que fazia e fazia muito bem, particularmente. Estava saindo de um plantão, fazia quase dois dias que não dormia e mal me alimentava. Rachel – que trabalhava na pediatria – me lembrava que tanto trabalho e pouca comida não me faziam muito bem, já que tinha lá meus objetivos. O dia em si não estava bom e piorou quando fui trocar de roupa para ir para casa.

            Entrando no vestiário meu celular apitou avisando de uma nova mensagem. Chequei e era de Edward que me informava que nosso plano de final de semana teria que ser adiado, ele permaneceria no Forte para uma reunião de última hora. Era sexta-feira e tinha trabalhado mais que o normal para conseguir o sábado e domingo com ele. Aquela ponta de raiva que sempre aparecia quando ele adiava nossos momentos por causa da carreira deu as caras, mas isso acontecia com uma freqüência tão pequena que foi substituída pela saudade dele imediatamente. Sentei-me no banco em frente ao meu armário e relaxei. Fechei os olhos e quis apagar ali mesmo.

            “Cansada Cullen?” Sempre me alegrava quando alguém me chamava assim. Era Rachel.

            “Um tanto.”

            “Uhm… triste?” Na falta de Alice e Amber, tenho Rach, a única amiga remanescente da faculdade.

            “Um pouco, Edward não virá este final de semana, e era MUITO importante que ele viesse.”

            “O Capitão sente sua falta também, você sabe.” Ela piscou maliciosa para mim.

            “Rachel, quantas vezes terei que implorar para não chamar ele assim? Soa um pouco… ok, só eu posso chamá-lo assim além dos subordinados dele!” Ela riu sabendo o motivo.

            “Ah sim, eu sei! Mas Bella, se não o chamar assim do que vou chamá-lo?”

            “Edward, quem sabe?”

            “Haha, sem chance. Assim não consigo te provocar!” Ri e comecei a me trocar. “Por que é tão importante que ele venha esse final de semana?”

            “O fato de ele ser meu marido e eu não o vejo há… não sei, duas semanas basta?”

            “Tem mais coisas nessa história.” Desconfiou.

            “Claro que tem e você sabe o que é.” Falei lhe olhando por cima do ombro. Ela comia uma maçã tranquilamente. “Está fazendo seu intervalo?”

            “Me dei dez minutos, a pediatria está calma hoje.” Deu mais uma mordida na fruta e eu vesti meu jeans. “Gostaria que esse vestiário não fosse tão branco!” Revirou os olhos. “O que Joseph disse dessa vez?”

            “Que tudo está perfeito, só basta… você sabe.”

            “Para uma mulher casada você é muito tímida.”

            “Para uma mulher casada eu digo que as paredes desse vestiário são muito finas e eu não preciso de certo residente fazendo piadinhas sobre mim.” O residente era um garoto metido a geniosinho denominado Paul. Logo que entrou no hospital deu em cima de mim e insistiu até eu pôr Edward fardado na cara dele. Depois disso adora tirar uma onda comigo. Eu o ignorava e quando as coisas passavam dos limites só dizia que meu marido militar e veterano de guerra iria adorar conversar com ele, que o assunto morria.

            “Quer que eu chute a bunda dele?” Rachel brincou. 

            “Sei que você tem uma quedinha por ele.”

            “Ele é um gato! Já viu os braços dele? WOW!”

            “Já viu o tamanho da minha aliança?” Ela riu. “Se você sente atração por ele vai atrás, você é linda, tem um corpo maravilhoso, herdou o sorriso, simpatia, educação e beleza de uma Miss! Tenho certeza que ele vai amar sair com você.” A mãe de Rach tinha sido Miss Texas quando tinha 20 anos, a conhecia e podia dizer que a filha era tão linda quanto à mãe.

            “Tem razão, quem sabe hoje eu fale com ele… agora voltando a você: já falou com Edward a respeito disso?”

            “Não, quero surpreendê-lo.” Vesti minhas sapatilhas e peguei minha bolsa. “Deseje-me um bom final de semana, sozinha.”

            “Awn coitadinha.” Fez cara de pena e veio me abraçar. “Tenha um bom final de semana e contrate o canal pornô.” Ri dela, me despedindo com um beijo no rosto e fui embora.

            No caminho para casa passei para comprar um bom vinho, em casa pediria alguma comida e tomaria um banho demorado de banheira. Queria deixar minha mente vagar longe de meus planos enquanto dirigia, no entanto era impossível. Tudo tinha sido pensado em volta daqueles dois dias por uma simples razão: estava em período fértil. Diga-se de passagem o mais fértil em que estive em toda minha vida segundo meu médico.

            Logo que casamos comecei a me tratar com um dos melhores médicos de Houston, Dr. Joseph Evans. Fizemos todos os exames, inclusive Edward. Era uma questão de tempo dizia-me Dr. Evans, que me acompanhava mês a mês. Ediota ironizava que Joseph era tão meu marido quanto ele, ficando na expectativa assim como Edward pelo resultado. Não era ciúme, eram só piadas pra distrair quando a resposta era a mesma: negativo. Nos últimos meses não falava a respeito disso, vinha fazendo um tratamento intensivo e acompanhando meus níveis hormonais semanalmente, até que me foi dada a notícia semanas atrás de que tudo estava perfeito, só precisava praticar.

            A decepção era enorme para nós, então resolvi poupar Edward de toda a ansiedade e espera por um exame ou atraso mensal. Já vinha a algum tempo trabalhando minha mente para não esperar nada além do negativo, mas o Capitão já não conseguia isso. Não era ser pessimista, nem descrente, era apenas mais fácil lidar dessa forma com a situação e pelo meu silêncio Edward vinha achando que estava me culpando por não conseguirmos ter um bebê. Sempre fui ciente de minhas limitações, já havia passado muitos anos de meu problema de adolescência e mais alguns da minha primeira e mal sucedida gestação, porém nunca houve culpa por não ter conseguido, eu continuava a lutar.

            A chuva dava uma trégua quando entrava na garagem de nosso prédio. Subi direto para nosso apartamento, não parando nem para ver se havia correspondências. No espelho do elevador vi que precisava mesmo descansar. Dois dias de trabalho e eu estava praticamente um zumbi. Deixei meus sapatos na porta, o vinho sobre a mesa da sala, a bolsa no aparador na frente da escada, pensei em colocar uma música, mas deixei de lado. Teria tempo para isso depois.

            No quarto fui direto ao banheiro e comecei a encher a banheira. Tirei a roupa, coloquei-me em um roupão, ergui os cabelos no topo da cabeça em um coque muito mau feito. Desci pegar uma taça de vinho, demorei um pouco para abrir a garrafa, odiava aqueles saca-rolhas modernos… práticos o escambáu! Quando consegui abrir o xinguei e juro que pude ouvir um risinho baixo vindo de algum lugar. Olhei ao redor, não tinha nada, era puro cansaço. Na porta de nosso quarto senti o perfume de Edward mais forte que o normal, tinha deixado uma das portas do closet aberta ao pegar o roupão, bem onde ficava seu perfume.

            “Tudo para abafar a ausência de seu marido Ediota, parabéns Isabella. Muito inteligente de sua parte.” Ironizei comigo mesma e fui para a banheira. Demorei, relaxei, revi alguns casos do hospital em minha cabeça depois desliguei sobre isso, apreciei o vinho e cheguei a cochilar. Depois de tudo isso podia dizer que estava renovada, só precisava comer.

            Vesti-me com uma camisola preta de seda e renda delicada. Fiquei de pés descalços mesmo, adorava afundar meus dedos no tapete felpudo e macio da sala. A chuva escorria calma nas vidraças do 29º andar, a noite estava quente e me colocaria de frente para os vidros da sala de estar, escutaria uma boa música, pediria comida japonesa, começaria a ler um livro e acabaria dormindo por ali mesmo. Saí do closet e a melodia romântica de uma canção ecoou pelo duplex. Parei e pensei se tinha ligado o som antes do banho. Tinha quase certeza que não.

            Desci desconfiada que talvez estivesse muito estressada e andando no automático como costumamos pensar, mas o aroma de comida era forte e me dispersou da preocupação. Parecia risoto de salmão com cream cheese, cheiro inconfundível de minha comida favorita. Edward costumava preparar quando queria uma noite perfeita. Parei ao ver a porta da cozinha fechada e a luz passando por sua fresta. A música, o aroma, o cheiro de Edward… abri a porta sem esperar.

            Meu coração disparou descontrolado. De costas para mim, usando jeans e camiseta, o pano de prato em seu ombro era acessório. Bateu levemente a colher na panela e desligou o fogo. Virou-se completamente para mim.

            “Olá minha paixão! Achei que tinha dormido no banho. Pensei em ir lá, mas não! Assim é muito mais romântico.” Suspirei, sorri abobalhada e corri até ele saltando em seu colo, envolvendo as pernas em sua cintura. Ele me abraçou, segurando-me com força. Olhamo-nos um breve segundo e nos beijamos com vontade de dias de contenção. Empurrávamos em direção ao outro tentando eliminar a distância que já nem existia. Um beijo forte, arrebatador e demorado.

            “Você me deve pelo menos 2 horas de tristeza.” Disse ao deixar seus lábios.

            “Isso me parece muito mais.” Rebateu se referindo ao beijo.

            “Isso é o tamanho de minha saudade.” Respondi.

            “Não se preocupe, pretendo pagar com horas e mais horas de muito amor.” Perdi o fôlego e me joguei para trás, excitada só de ouvir suas palavras. Ele beijou entre meus seios. “Mas primeiro vamos jantar, tenho algo a lhe contar.” Relaxei em seus braços.

            “Não é justo, Capitão.” Fiz minha melhor cara de pidona e seu olhar pesou sobre mim, cético. “É talvez seja, faz algum tempo que não como de qualquer forma.” Ele riu dizendo o quanto me conhecia. Jantamos e conversamos sentados no chão da sala, ouvindo música e contando sobre como tinham sido os últimos dias. Comíamos do mesmo prato e eu estava sentada entre as pernas de Edward o que possibilitava a ele me fazer carinhos nos cabelos, nos braços, nas pernas… Muitas vezes deixamos a comida de lado para nos beijarmos e atiçarmos um ao outro.

Semisonic - Secret Smile

Adorávamos esses joguinhos e continuamos entre eles e a comida até que eu desisti totalmente de comer. Deixei-me ser levada por suas mordidinhas em minha orelha, beijos estalados na nuca, apertões entre as coxas. Suas mãos e dentes cada vez mais precisos, acariciando minha barriga, beliscando minha pele, brincando comigo até nos entregarmos completamente ao outro.

E nos amamos ali mesmo. Com carinho, ternura e aquela paixão devoradora que crescia a cada novo encontro ou mero toque de pele. Nos unimos, esquecendo a saudade e a distância, esquecendo do que havia para fora de nossa porta, deixando de lado os medos e os porquês, as indagações e até mesmo as razões. Nos amamos entre súplicas e sussurros, foi doce e feroz como costumávamos ser. Pareciam tão infinitos e certos aqueles momentos, que poderia me doar àquela rotina por completo. Não só pelo sexo ou pela satisfação, mas por me sentir completa naquela forma que nos amávamos.

No sofá, descansei segura em seus braços, ouvindo a constante e macia batida de seu coração, enquanto a chuva corria levemente mais forte e as luzes embaçadas da cidade tornavam-se maravilhosas ao olharmos além de nossas janelas. Edward cantarolava minhas canções favoritas ao pé de meu ouvido, me mimando e sublimando a noite à perfeição.

            “Lembra-se que tinha algo a lhe contar?” Sussurrou bem baixinho para mim. Não me mexi de seu peito, apenas concordei, seu coração estava calmo, não seria nada grave. “Domingo eu não partirei para Fort Worth.” Levantei imediatamente, ficando cara a cara com ele. Seus olhos se firmaram nos meus e com ternura colocou uma mexa de cabelo atrás de minha orelha. “Ficarei aqui em Houston com você meu amor. A transferência saiu.”

            Depois de oito anos vivendo de saudade, nós ficaríamos juntos por fim e entre beijos e sorrisos as lágrimas de felicidade prevaleceram.

            Narração: Edward Cullen.

            Espreguicei-me na cama, abrindo os braços querendo encontrá-la. Foi em vão. Bella tinha sido chamada durante a noite para ajudar em uma cirurgia, e então ela emendaria com o plantão que já estava previsto para aquele dia. Não fazia mais de uma hora que ela tinha saído. Pensei em reclamar, fazer um drama, só para provocá-la, mas seria o mesmo que ela ficar fazendo dengo a respeito de eu ter que ir de madrugada até a base por causa de algum alerta do governo. Ficaria aborrecido e de nada adiantaria porque mesmo assim eu iria, e com ela era igual. Deixei de lado, ela amava aquele trabalho de uma forma absurda.

            “Mas não mais que você seu sortudo.” Falei comigo mesmo totalmente abobalhado. Olhei para o relógio que marcava 06h19min da manhã, era cedo, podia ficar mais um pouco. Agarrei o travesseiro dela, cheirando fundo seu perfume. Se algum de meus colegas visse o quanto eu era bobo de amor por ela, minha reputação estava arruinada no exército… ou não! Eu riria das piadas e ainda diria que minha mulher era mais feliz que a deles. Sabia que era. Sorri para o travesseiro.

            “Ah Isabella… ah!” A transferência tinha sido a melhor coisa que nos acontecera e aquele mês e meio desde que estava em Houston vinham sendo os melhores dias desde muito tempo. Fui designado para um cargo na Inteligência, o que me fazia ficar longe de combates. Eu era ok com eles, fazia parte de meu dever, mas por todo o passado, Bella não levava nem um pouco bem sequer a idéia de um possível combate. Compreendia totalmente. Deixei tudo para lá e me levantei em um pulo da cama.

            Abri as cortinas e vi a cidade nascendo para mais um dia. Tomei um banho e me questionei, mais uma vez, porque Bella se esquivava sempre que queria saber se continuava com o tratamento para engravidar. Tinha lá meus receios e palpites, mas o maior deles é que ela estivesse novamente com algum problema e não quisesse contar. O nível de teimosia só aumentava com os anos. Iria ligar para Joseph e saber o que estava acontecendo com minha mulher.

            Enrolei-me na toalha e fiz o que pude para desembaçar o espelho. Escovei os dentes e lavei o rosto com a água fresca da torneira, me sequei e joguei a toalha de lado e por um erro absurdo de força ou por distração, já que pegava o creme de barbear no momento, ela foi parar em uma caixa que tínhamos ao lado do balcão que a Monstrenga guardava alguns produtos de beleza e higiene pessoal. Os frascos se chocaram na caixa, fazendo barulho e se espalhando. Os mantínhamos ali porque as gavetas do balcão eram falsas, mas muito bonitas para serem trocadas, era o que ela e minha mãe diziam.

Monstrenga detestava que suas coisas estivessem bagunçadas naquela caixa, tinha tudo esquematizado para poupar tempo nos dias que queria ficar a mais na cama fazendo preguiça. Ri pensando em como ela continuava a mesma menina de nove anos atrás. Deixei o creme de barbear de lado e fui arrumar a bagunça que tinha feito. Olhei com carinho seus produtos e me satisfiz quando notei que ela não usava nenhum antiidade – e nem precisava. Vi também que um de seus protetores solares estava vencido e iria para o lixo. Fazendo pressão com o pé abri a tampa do lixo e vi a embalagem conhecida.

 A ponta do pequeno bastão branco, que mais parecia um termômetro, jazia jogada despretensiosamente dentro da pequena caixa rosada, meio amassada. O peguei já imaginando do que se tratava. Olhei o nome impresso na caixa, tirei o bastão para fora. Estava fechado com a tampa. Pelo visto Bella não tinha tido paciência para ver. Olhei no verso as instruções básicas, bem simples. Abri a tampa e vi.

Naquele instante o mundo ficou em total silêncio.

Com a caixa e bastão na mão, corri até o quarto e me joguei em cima de meu celular. Dane-se tudo. Dane-se o hospital, cirurgia, paciente… dane-se o exército, danem-se os civis. Podia começar a terceira, quarta e até a décima guerra mundial, não ligava para nada, aquilo era mais importante. Disquei para Bella imediatamente.

Foram uma, duas, três… sete vezes e nada de atender o celular. Mandei uma mensagem de texto em caixa alta pedindo que me atendesse, como se isso fosse operar um milagre e a fazer me atender de fato. Esperei não mais que trinta segundos e disquei novamente. No primeiro toque o clique finalmente.

“O que foi Edward? Acabei de ver sua mensagem! Algum problema?” Indagou ela preocupada.

“Onde você está? O que você está fazendo? Preciso que volte pra casa.”

“Obrigada por responder as minhas perguntas Edward, muito educado de sua parte! Não posso voltar, a cirurgia começa em dez minutos. O que está acontecendo meu amor?” Estava desesperado, não sabia como dizer nada. Não era para ser daquele jeito.

“Bella?” Comecei um pouco mais calmo.

“Sim.”

“Achei seu teste.” Silêncio. Olhei mais uma vez a caixa e bastão não acreditando.

“Edward… eu, eu… eu não sei o que estava pensando quando fiz o teste.”

“Simples: azul ou rosa. Era isso que você estava pensando. Sim ou não.” Rebati. Ela ficou mais uma vez em silêncio, segundos depois ouvi seu suspiro de choro.

“Me desculpe meu amor, só estou decepcionando a nós dois dessa maneira.” Ela disse sussurrado, forçando o choro garganta abaixo.

“Bella?” Ela murmurou um ‘uhm’ chorosa do outro lado. “Você chegou a ver o resultado?”

“Para que? É sempre o mesmo.”

“Está rosa Bella.”

“O que?” A voz dela não era mais que um murmúrio.

 “Nós vamos ter um bebê.”

Sua surpresa foi bastante sonora, seguido de mais alguns longos segundos de puro silêncio até seu choro romper alto para mim, levando-me junto às lágrimas com ela.

“Meu Deus Edward! Nós vamos ter um bebê?” Minha Monstrenga falou entre choro e risadas praticamente cochichando.

“Sim, nós vamos ter o nosso bebê.”

Bella não conseguiu desligar o telefone até que eu chegasse lá, assim como não operou ninguém naquele dia. O que ela fez foi correr até o laboratório do hospital, colher sangue para o exame e esperar sentada em uma cadeira desconfortável, comigo segurando sua mão, olhando para a porta a sua frente de onde a enfermeira Beth saiu 2 horas depois com o resultado, o entregando a nós com cara de esperança.

“Você primeiro.” Sorriu envergonhada, entregando o resultado para mim. Abri a folha que de forma simples estava dobrada ao meio. Ela me fitava com olhos transbordados de esperança. Li rápido os níveis hormonais e corri para as últimas linhas.

“Positivo.”

 Bella carregava nosso bebê.

Narração: Bella Cullen Swan.

Tive que pegar pesado. Inventei um milhão de desculpas, mas precisava que ela estivesse ali. Chorei inúmeras vezes, coloquei Edward na jogada, cheguei a mandar e-mails para ela implorando que atendesse aquele pedido meu, porém Rosalie sempre estava ocupada demais cuidando dos carros que Emmet corria.

Era apenas a segunda temporada deles na Nascar e já lideravam o campeonato. Tornava-se comum ver o rosto de Emmet e Rose estampados em algum outdoor com propaganda de pneus ou óleo lubrificante. Emmet era o esportista, Rose, a sua mulher e sua mecânica. Com a fama de Emm bastava somar 1+1 para ver que eles virariam “O casal Nascar” e dali se formariam inúmeros slogans criados a base de trocadilhos como “O verdadeiro amor pela velocidade” ou qualquer coisa parecida com essa. Enfim, eram celebridades. Foi implorando e chorando ao telefone que conseguimos trazê-los para Houston naquele final de semana. Edward teria dois dias com seus irmãos e Jake, e eu com as meninas.

Tinha esperado alguns dias até a chegada de todos. Estava ansiosa, não nos reuníamos desde nosso casamento. A saudade era visita corriqueira e as nossas contas de telefone não eram nada baratas. Alice e Jazz moravam em Nova York, Amm e Jake estavam na Califórnia, ambos eram arquitetos e Emmet e Rose, bem eles não tinham casa ou lugar fixo até o momento. Da última vez que conversamos com eles estavam em Oklahoma.

Tamborilei os dedos na mesa e depois alisei a toalha, olhei o relógio do celular, parecia que fazia horas que as esperava, mas não tinha passado mais que cinco minutos, não demorou muito para vê-las entrando pela porta. Todas deslumbrantes, vestidas como mulheres em suas saias lápis e em cima de seus saltos finíssimos. Riam como crianças, e me vi, assim como a elas, com 17 anos de novo, vestindo nossos jeans colados, rasgados e de cintura baixa, com uma sapatilha meiga ou Allstar desgastado, não nos importando se o lugar era chique demais ou se estávamos tendo um comportamento adequado, só queríamos nos divertir. Nos vi como sempre seríamos: como meninas.

Abraçamos-nos, choramos e rimos no começo. Olhávamos uma para as outras como bobas apaixonadas. A verdade era que não acreditávamos que estávamos juntas novamente. Falamos de nossas vidas e de como era estarmos longe. Alice estava quase conseguindo entrar para a semana de Moda de Nova York, Amber conseguiu destaque como arquiteta na Califórnia e Rosalie, bem, de Rose nós sabíamos tudo que acontecia em sua vida… ou quase tudo.

“Olha eu cansei de esperar por Emmet.” Disse ela abrindo a bolsa e pegando um pequeno monte de papéis preto, entregando um para cada uma de nós.

“O que é isso?” Quis saber antes de abrir. Em caligrafia elegante, meu envelope dizia: Sr. & Sra. Ediota Cullen.

            “Isso minhas queridas é o convite de meu casamento.” Palavras fugiram de nossas bocas. “O que? Qual é o espanto aqui? De todas fui a primeira a ser pedida em casamento, mas a única a não casar… e ainda estou com o mesmo homem! Vou me casar, queira Emmet ou não. Será em Forks, já que para todos os fins é lá que vivemos. Não preciso dizer que serão minhas madrinhas, certo?” Engoli o que mais parecia ser uma bola de pelos.

            “Emm sabe disso Rosalie?” Falou Amber segurando a risada.

            “Não, mas irá saber, em breve. Eu sei, é estranho, mas não posso agüentar isso dessa maneira, não é a ordem natural das coisas.”

            “Agüentar? Ordem? Do que você está falando? Você e meu irmão levam uma vida de casados.” Allie explanou. Rose nos olhou e respirou fundo.

            “Ok!” Pausou dramaticamente. “Só estou fazendo isso por que… porque estou grávida e não posso suportar a idéia de um bebê vindo antes de me casar! Não posso, então é isso. Daqui um mês, em Forks, meu casamento.”

            “Rose isso é fantástico!” Amber a abraçou e fiz o mesmo. Mesmo com a revolta, Rose estava muito feliz, assim como eu estava.

            “Oh, meu Deus!” Alice parecia estar em choque.

            “O que foi Allie?” Chacoalhei seus ombros. Piscou compulsivamente.

            “Eu vou ser titia?”

            “É o que parece!” Disse Amber.

            “Tenho algo para falar para vocês nesse momento, iria esperar…” A nanica começou lentamente, um sorriso maroto apontando em seu rosto. Ela me olhou e mordeu o lábio.

            “O QUE? NÃO ACREDITO!” Levantei da cadeira de boca aberta. Rose e Amm me fizeram sentar. “Você também está grávida?” Alice só balançou a cabeça em um sim. Joguei as mãos para o céu, parecia brincadeira. Não teria mais graça quando eu contasse, afinal, quais as chances daquilo estar acontecendo? As duas explodiram em abraços semi-sufocando Allie, e ao a largarem Amber chorava copiosamente e parecia não querer parar. Pedi para um garçom um copo de água com açúcar para acalmá-la e ainda soluçando ela começou a falar.

            “Eu, eu estou tão feliz de estar aqui com vocês… fiquei imaginando a quem… quem teria que contar primeiro. Ti-tinha que escolher alguma, mas isso…” Fungou e limpou as lágrimas que não paravam. “Isso foi antes, vocês são tão incríveis, sempre me incluindo, fazendo-me sentir amada, vocês são as melhores amigas que poderia sonhar em ter!”

            “Ah Docinha!” Rose marejou os olhos. Nós três a abraçamos e esperamos ela se acalmar.

            “Está melhor agora Amm?” Perguntei. Mais calma ela com certeza estava.

            “Não totalmente.” Foi sincera.

            “Então o que há querida?” Alice pegou em sua mão. Eu estava com sede, tomei um grande gole de chá gelado.

            “É que eu não sei quem vai ser a madrinha de meu bebê agora!” 

            “BEBÊ?!” Alice gritou e começou a rir e eu cuspi tudo que tentava engolir na cara de Rose, me afoguei e não conseguia respirar. Fui acudida por fortes tapas na minha coluna que Rosalie deveria estar dando apenas para se vingar pelo banho de chá. Respirei fundo e tentei falar.

            “Parou com isso ? Piada? Pegadinha isso tudo?” Disse um pouco ríspida, causando espanto nas três.

            “O que Bella?” Amber tinha os olhos ainda marejados.

            “Qual, mas me digam QUAL a probabilidade de isso estar acontecendo ao mesmo tempo? Assim…” Estalei os dedos. “Todas grávidas! Ao mesmo tempo?”

            “Mmm… todas?” Rose murmurou e teve nossa atenção.

“Bells você…” Allie falou inquisitiva com os olhos brilhantes.

            “Sim.” Amber gargalhou alto, limpando as lágrimas que escorriam. Deslizando o dedo pela borda de meu copo, sentindo a emoção de poder dizer a elas o que vinha segurando desde que liguei marcando aquele encontro. “Finalmente Edward e eu conseguimos. Estou de dois meses e dessa vez irá até o fim.”

            Elas sorriam, choravam e olhavam para mim. Mais que qualquer outro, até mais que Ediota, elas sabiam o quanto eu desejava aquela criança, o quanto sonhei e o quanto planejei durante todos aqueles anos desde minha primeira gestação. E no ar ficou a certeza de que nossa amizade nunca acabaria, e que o laço que descobrimos, criamos e reencontramos permaneceria forte.

            “Meu deus! Vocês já se deram conta?” Rosalie parecia maravilhada. Olhamos para ela. “Nossos bebês vão ser como… amigos gêmeos!”

(***)

            O que aconteceu depois daquele final de semana foi que mensalmente nos encontrávamos, mas não em separado como o primeiro. Mês a mês íamos para a cidade de um dos amigos e ficávamos todos juntos, e o primeiro lugar foi Forks, no casamento de Rose e Emmet. Nunca imaginamos que ela levaria aquilo até o fim, mas ela levou. E foi uma cerimônia simples, porém emocionante, principalmente quando meia hora antes Emmet descobriu que era o dia de seu casamento. Foi engraçado de todos os jeitos, bem como os dois costumavam ser.

            Forks parecia uma cidadezinha parada no tempo. Andar pelas ruas nos lembrava os dias de adolescência, brincadeiras idiotas e incoerências. As nuvens pesadas e acinzentadas constantes serviam para deixar o ar saudosista, mágico e um tanto melancólico, as árvores e os tons fortes de verde me trazia certo aperto no peito por ter deixado aquele lugar para trás. Tínhamos tantas histórias, divertidas e outras nem tão felizes assim, mas ainda era o lugar em que vivemos a melhor época, onde nos conhecemos e nos juntamos, não apenas me referindo a Edward e sim todos nós. Éramos oito amigos e nossas memórias viveriam para sempre dentro dos limites de Forks.

            “Sabe o que sempre quis fazer aqui e nunca pude?” Jake falou depois de minutos de silêncio. Já era madrugada e a festa do casamento já tinha acabado, estávamos os oito no jardim de Esme, olhando o céu que dava uma trégua na chuva.

            “Diz aí Jake!” Jazz se espreguiçou e abraçou aos ombros de Alice mais uma vez.

            “Uma corrida. Não sei… pegar minha bike na noite, sentir o vento bater no rosto, largar os braços, fechar os olhos e me sentir livre. Rir de mim mesmo. Bobagem.”

            “Vamos fazer isso.” Disse. Fitaram-me sérios. “Qual é? Vamos fazer! Somos novos, temos uma vida inteira pela frente e cada uma de nós…” Me dirigi às meninas. “Carrega uma nova vidinha. Vamos nos permitir.”

            “Eu topo.” Edward disse.

            “Vamos nessa!” Levantou Allie empolgada puxando Jasper e Amber pelas mãos.

            “Eu estou vestida de noiva!” Reclamou Rose.

            “Então você será a ciclista mais linda da madrugada!” Emmet disse lhe roubando um beijo e a levantando pelo braço.

The Naked and Famous -Young Blood

            Fomos para a garagem, onde nossas bicicletas esperavam e nos lembrava que ali sempre seria um lar. Tiramos nossos sapatos, amarramos os vestidos na altura das coxas, ajudamos Rose a ficar confortável e saímos pelos caminhos irregulares de cascalhos com calma e quando chegamos ao asfalto colocamos força nos pedais.

            Corremos pelas ruas desertas da cidade que dormia, cantamos e rimos. Fizemos o caminho até a escola, passamos na antiga casa de Amber, invadimos seu quintal e lembramos-nos da noite em que fizemos uma das melhores festas de nossa vida com uma mangueira e muita tequila. Provocamos os cachorros, acordamos alguns vizinhos, ficamos andando em círculos, quietos e reflexivos por minutos. Eu desejava que aquela noite nunca acabasse, mas no geral acho que todos pensavam em apenas um lugar: La Push.

            E fomos para lá. Sem pressa, ganhando a noite, inalando o aroma frio da noite que nossa pele não absorvia devido ao exercício. No caminho passamos pela frente da casa de Jane. As luzes apagadas, algo de mórbido existia ali. Talvez fossem as lembranças de sua vida. Todos nós paramos e olhamos. Na varanda escura alguém fumava um cigarro, silenciosa como a noite, fumegando constante como uma chaminé. Uma última tragada antes de seu resto ser atirado para o jardim. O balanço de ferro rangeu quando a pessoa saiu e antes de entrar para sua casa novamente fez questão de acender a luz da varanda. Era a mãe de Jane, vestida em seu roupão, com olhos amargos. Conhecia aquela tristeza, aquele olhar. Ao fundo ouvia Edward me chamar, mas não me importava, apenas fiquei ali a esperando fazer algo. Expulsar-me, gritar, qualquer coisa! Porém o que veio foi um singelo sorriso como se ela dissesse “Nós estamos bem agora.” Sorri também.

            Havia se passado muitos anos desde sua morte, mas por ter convivido com aquele tipo de dor, de uma mãe que vê seu filho morrer depois de anos ao seu lado, sei que esse é um sentimento que nunca morre. Renée nunca pararia de sofrer por Joshua, e aquela mãe nunca pararia de sofrer por Jane.

            Voltei a minha trilha, atrás de meus amigos e na praia vimos o dia nascer. Poucos raios de sol irradiavam por entre as nuvens e o vento era menos frio. Contemplamos o momento, agradecemos por mais um dia. Entregamos-nos ao êxtase da grandeza que era o oceano e deixamos faltar o ar. Sem dizer uma palavra, cada par de nós seguiu seu caminho. Um mês depois estaríamos juntos novamente e o seguinte, e seguinte, e o seguinte…

            Edward e eu fomos parar em nossa cabana. Nosso melhor refúgio e lugar onde guardávamos todas as nossas memórias. Tudo que tínhamos: fotos, músicas, livros, diários e declarações ficavam guardados ali juntamente com um grande pedaço do que éramos. O tempo não poupou, a cabana estava anos mais velha, com marcas na madeira, lençóis empoeirados cobrindo o que ficou, o ferro na cabeceira da cama estava enferrujado da maresia e as cortinas que dividiam o quarto da sala desbotadas pela luz. Mas ali, ao lado da cama no criado mudo, algo permanecia intocado: as alianças que costumávamos usar.

            Uma sobreposta a outra, elas ainda tinham certo brilho no dourado envelhecido. A minha repousava sob a de Edward, e seu pequeno pingente de sol naquele dia parecia fazer muito mais sentindo ao meu coração. Fitando os dois elos dourados, deixei as recordações me dominarem, todos os passos que demos que nos levaram àquele lugar, todos os segredos que as paredes guardavam… as juras, as brigas tolas, as noites infinitas de amor. Fui invadida por sentimentos que só vivi em nosso pequeno lugar. Deixei-me levar além e imaginar o futuro. Fui sugada para dentro de minha imaginação e memória.

            “Veja só o que achou.” Edward sussurrou em meu ouvido, assustando-me. Seus braços me envolveram em um abraço.

            “Elas parecem iguais.”

            “Lembra? Lembra do dia que as deixamos aqui?”

            “Sim.” Comecei a chorar. “Estava voltando para a faculdade das férias e você indo para o Haiti, foi nossa noite de despedida. Você tinha rompido comigo um dia antes.” Edward beijou meu ombro e suspirou.

            “As deixamos porque aqui seríamos eternos.”

            “Romantismo de adolescentes!” Ele riu baixinho. “A verdade é que nunca deixaríamos de ser um casal. Nunca deixaremos.” Me virei e lhe roubei um beijo. Ele tinha os olhos úmidos. “Adoro ver essas poças em seus olhos, te torna cada vez mais íntegro e digno.” Edward sorriu sentando-se na cama, pegou os anéis e fiquei em sua frente.

            “Acho que devemos usá-las novamente.” Ponderou.

            “Você acha?” Nos fitamos fundo nos olhos e em um segundo ele me abraçava, com sua cabeça repousada em minha barriga. O abracei também, brincando com seus fios curtos entre meus dedos.

            “Sim. Vamos usá-las.” Respondeu-me, sua voz estava mais embargada que o normal. Levantei seu rosto para poder olhar bem para ele.

            “Você está triste meu amor?”

            “Não.”

            “Então o que é essa ponta de melancolia em sua voz?” Mantinha sua cabeça entre minhas mãos.

            “Não, não é melancolia. É apenas o fato de que esse lugar é tão nosso que dói pensar nos anos que o deixamos e nos que ainda o deixaremos.” Sorri e o beijei.

            “Meu bem, nós nunca o deixaremos. Não vê? Foi aqui onde realmente construímos nosso amor. Essas paredes estão cheias do que temos, este lugar está abarrotado de nós.” 

            “Deus! Quando foi que você aprendeu tanto?” Disse rindo e me beijando mais uma vez.

            “Sabe como é… com os anos, vem a sabedoria.” Edward colocou a antiga aliança junto da nova e eu fiz o mesmo com a sua.

            “Não minta, você sempre dominou muito bem o assunto amor.” Ri e o empurrei para o colchão, fui levada junto com ele. Abraçados, ficamos olhando para o teto aproveitando o quanto podíamos de nossa casa.

            “Há uma recordação que quero construir aqui ainda.” Ele se virou de frente para mim e eu para ele. Peguei sua mão e a coloquei em minha barriga.

            “E o que é meu amor?”

            “Quero que nosso filho nasça aqui.”

Narração: Edward Cullen.

            Programamo-nos para que os seis meses que restavam desde aquele dia em Forks fossem perfeitos. Bella não quis parar de trabalhar, mas isso não significa que foi uma gestação fácil. Ela sempre tinha dores que denunciavam sua fraqueza, o tratamento era intensivo e o pré-natal era feito a risca e com muito mais atenção. Não havia um só dia que ela não enjoou até o oitavo mês. Enjoava com o cheiro do melão que comia de café da manhã, mas nunca com o sangue de seus pacientes em suas cirurgias.

            No entanto, não foi uma gravidez feita apenas de preocupações, teve muita risada, fizemos muitas vezes sexo (muitas mesmo), as oscilações de humor dela me rendiam muita diversão e à Bella também que acabava rindo com seus desmandos ou chorando, dependia do dia. Diariamente era uma vontade diferente. Certa vez tive que invadir seu banho para que ela não saboreasse o delicioso sabonete de amora só porque ele tinha cor de sorvete de uva e cheiro, logicamente, de amora silvestre. Ficávamos malucos quando um tentava descobrir o sexo do bebê, não importava se era menino ou menina, só importava que nosso filho crescia saudável dentro dela… e cada vez que ouvíamos seu coraçãozinho batendo acelerado no ultrassom era como atingir o paraíso.

            Inúmeras vezes choramos por aquele milagre e riscávamos semanalmente uma parede só para ver o quanto sua barriga crescia e nossa! Bella se tornava mais irresistível a cada risco. De tirar o fôlego quando ela saia do banho enrolada apenas em uma toalha alisando sua barriga, quando ela passava seus óleos corporais ou simplesmente quando me acordava no meio da noite toda animada, procurando minha mão dizendo “Amor, amor! Acorda papai, olha, veja quem está chutando a mamãe!” e então pousava minha palma onde nosso pedacinho de gente cutucava. Via Bella pegar no sono e o bebê se aquietar, nunca deixando sua barriga, sempre permanecendo acordado.

            Foram meses incríveis e duas semanas antes do previsto já estávamos em Forks. Ficamos na cabana nos preparando e aproveitando nosso pequeno universo. E em uma manhã rara de sol ela acordou antes de mim e permaneceu deitada me fitando, esperando que abrisse meus olhos e quando o fiz, falou com uma calma que não era típica.

            “Sonhei com nosso bebê essa noite, ele é lindo e perfeito. Só não consegui saber ser era menino ou menina… desculpa amor?” Ri baixinho.

            “Está completamente desculpada.”

            “Obrigada Ediotinha.” Alisou carinhosamente meu rosto e eu sua barriga. “Bom você estar de folga… amo sua barbAAAAAAAAAA.” Um grito veio do nada.

            “O que foi isso?”

            “Foi uma contração!” Não era apenas eu assustado, seus olhos me diziam que aquilo tinha a pego desprevenida também. Bella pediu minha ajuda para se levantar, queria água. Sua barriga muito baixa e enorme. Uma vez em pé conseguimos dar apenas um passo antes que ela parasse. “Ops!”

            Acompanhei seus olhos, no chão uma poça de água.

            “É a hora Edward.” Apertou forte minha mão.

            Narração: Bella Cullen Swan.

            “AAAAAAAAAAAAH” Joguei meu corpo para trás, aliviada. Tentava controlar minha respiração, porém estava exausta. Queria fechar meus olhos e dormir, dormir para sempre… até o choro estridente romper meu torpor. Alto, agudo, forte. Abri meus olhos e ali estava. Nos braços de Edward era tão pequeno e indefeso. Não conseguia definir se era sonho ou era real e sem nem pensar estendi meu braço o chamando para perto de mim.

Marcus Foster - I Was Broken

            Seu rostinho estava um pouco sujo de sangue, mas via com clareza cada detalhe de suas feições. Cílios enormes, bochechas arredondadas, um queixinho fofo, mãos gordinhas e vários fios dourados tomavam sua cabecinha. Chorava mostrando a potência de seus pulmões, para mim era o som de uma orquestra filarmônica tocando somente para nós. Edward o arrumou em meus braços e segundos depois o choro cessou fazendo meu coração se derreter como gotas, naquele instante quem chorava era eu. Eddie sentou-se ao meu lado enquanto Carlisle assistia de pé, me perdi naquele pequeno pedaço de gente que em meu colo, aninhado em meus braços, era um oceano inteiro transbordando paz.

            “Você não está nem um pouco curiosa sobre o sexo?” Edward sussurrou bem baixinho.

            “Um pouco só.” Não tirava os olhos daquela preciosidade. “E o que é?”

            “É um menino meu amor.”

            “Um menino?” Disse olhando para ele que concordou com a cabeça. “E como será o nome? Olhando para ele… nada do que pensamos se encaixa, não acha? Ele é tão perfeito e lindo. Edward Jr.? Se encaixa certinho na parte perfeito e lindo.” Ele riu baixinho e beijou-me os cabelos.

            “Uhm, tenho pensado em algo mais bonito ainda.”

            “E qual seria?”

            “O senhor de minha salvação.” Olhei seca para ele.

            “Sol, é lindo, porém não é bem um nome.”

            “Não, mas é o significado de um.” Esperei. Ele fechou os olhos e suspirou profundamente, abriu-os novamente e me fitou com aquela força de sua verdade e amor. “Joshua, como seu irmão que teve que partir para você chegar até mim.”

            As lágrimas correram sem pudor, molhando meu rosto e enchendo meu coração de uma felicidade que não conseguia conter. Sua decisão no nome foi, em toda uma vida, a maior prova de amor que Edward me deu. Amor não só por mim, mas principalmente por minha história e por minha vida.

             “Joshua… nada poderia ser mais correto.”

            Joshua me ensinou o que tinha de mais valioso em mim, ele me ensinou a amar e cada gesto que executei e cada estrada que segui foi o amor que nutria por meu irmão que me guiou até lá. Joshua era sim o senhor de nossa salvação. Meu irmão, meu filho. Josh foi o meu princípio, meu meio e seria nosso final.


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Notas finais do capítulo

Segue o epílogo, por favor, comente nos dois, é muito importante para mim.