Waking Up - Aprendendo a Viver escrita por Soll, GrasiT


Capítulo 40
Capítulo 32 – O silêncio da glória.


Notas iniciais do capítulo

Antes de começar quero deixar claro que não trato como brincadeira os assuntos a seguir abordados. Muito pelo contrário. E peço que entendam minhas decisões quanto ao rumo da história. Para tudo existe uma razão de ser. Boa leitura (:



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Grávida.

Depois dessa palavra só havia vazio na minha cabeça. O que eu iria fazer?

            Meu prognóstico não era lá dos mais animadores: um caso profundo de anemia, um tipo raro de sangue, uma possível gravidez de risco… a minha irresponsabilidade martelando infinitamente em minha cabeça. Como eu havia esquecido as pílulas? Ok. Eu tinha a resposta: muita diversão e depois muita dor. Nada importava, afinal, naqueles dias. Se tratava apenas de eu e Edward.

            Quando ganhei alta do hospital voltei munida de alguns remédios para tomar em diversas horas do dia. Não conseguia imaginar como seria dali pra frente… Eu estava grávida e mal sabia cuidar de mim mesma, quem dirá de uma criança. Tremia de pensar que não daria conta. Estava com medo, porém havia outro lado.

            Era um bebê… um bebê de Edward dentro de mim. O carregava e começava a amar aquela criaturinha tão pequena. Enquanto Carlisle não encontrava um doador para uma transfusão de sangue, eu tinha de esperar e tomar todas as vitaminas. Ele, eu podia ver, não estava tão certo que reverteria meu quadro tão rapidamente quanto precisávamos apenas com vitaminas.

            Carlisle me deu os horários, os comprimidos e explicou todo o risco que havia naquela gravidez. Escutei e gravei minuciosamente todas as instruções. O que importava naquele momento era que existia um filho de Edward em mim, e eu lutaria por ele. Aquela criança era como uma pequena fagulha em um palheiro seco; não precisou de muito para que aquela notícia me fizesse incendiar, e renovasse em mim o que ninguém mais conseguira. Agora havia esperança.

Ainda esperávamos o resultado do exame que confirmaria a gravidez em definitivo, sairia apenas no dia seguinte. Era uma possibilidade, dizia meu padrinho, mas para mim, eu sentia que não era uma possibilidade, mas sim uma certeza. Eu não tomei meus remédios quando Edward estava aqui e continuei assim por dois meses. Nunca menstruei.

Acordei tarde naquela manhã, e Esme me aguardava com uma bandeja de café e o envelope com o resultado oficial.

“Não abrimos.” Disse ela me entregando o papel. “Queremos que você faça isso, e Bells…” Ela segurou minha mão não me deixando abrir. “Não importa o que está escrito aí e nem suas decisões… o que você decidir está dito. Nós sempre estaremos aqui com você.” Sabia o que ela queria dizer. Faltavam poucas semanas para completar 18 anos e se Edward não voltasse, bem, minha vida não seria nada fácil.

“Edward irá ficar muito feliz se for positivo mesmo…” Falei olhando para o envelope, hesitando um momento e ponderando o que poderia ser de mim, de nós. Ter um filho quando eu recém começava minha vida, isso não estava nos planos. Edward e eu decidimos não pular nenhuma etapa, recém tínhamos noivado e filhos eram planos futuros… se eu conseguisse ter filhos. E ali estava, diante de mim, mais uma prova que não podemos lutar contra a maré.

Edward fora arrancado de mim por uma guerra, porém deixara comigo a prova de que sempre estaria vivo. Por mais que sentisse as responsabilidades de uma gravidez na adolescência e mesmo que Edward não voltasse – por Deus, ele iria voltar, tinha que me convencer disso de uma vez – era por ele que em nenhum momento considerei abortar aquela vidinha que crescia em mim.

“Já posso imaginar o sorriso que ele vai dar quando souber.” Continuei. “Esme, a minha decisão é ter essa criança. Com ou sem Edward aqui.” Ela sorriu amplo, daquela forma que irradiava luz, e que às vezes podia ver que deixava todos sem ar. Bateu palmas e comemorou.

“Não esperava nada menos de você Bella! E sim, Edward estará aqui! Uma mãe sente seus filhos… mesmo que não tenham sido gerados por mim, sinto cada um deles Bella, e com nosso Eddie não é diferente!” Ela se endireitou na cama e pousou as mãos nas coxas. “Agora abra.”

Abri.

Li as linhas com todas as taxas hormonais e no final o resultado.

“Meu Deus…” Meus olhos se encheram de lágrimas. “Vou ser mãe.” Sussurrei.

(***)

No mesmo dia a batalha começou. Carlisle começou a revirar a cidade atrás de possíveis doadores para mim. Ele me fazia ver o quão importante era uma transfusão naquele momento. As vitaminas reverteriam minha anemia com uma velocidade inferior à necessária, e meu corpo rejeitava tudo o que comia.

Tudo se tornou mais nítido quando fiz o primeiro ultra-som. Ele ainda era um pequeno feto se desenvolvendo, mas já podíamos identificá-lo. Ainda não havia um coração batendo, mas o médico me garantiu que era normal e que isso devia acontecer a partir da 12ª semana de gestação, e eu estava na oitava semana. Exatamente, dois meses. Dois meses sem Edward por perto.

Ainda parecia estar vivendo entre o real e o imaginário. Me postava na frente do espelho e deslizava por horas na imaginação, criando cenas com uma barriga grande, com uma menina linda em meu colo. Às vezes era um menino com os olhos de Edward, mas ele… meu Ediota, não conseguia vê-lo junto de mim. Esperava por notícias diariamente, e quando as coisas começaram a mudar novamente, eu não sabia para onde correr, nem com quem falar.

            Meu corpo não segurava nem absorvia nada do que comia. As vitaminas me causavam mais enjôo e ao que parecia não existia ninguém em Forks ou região que era AB-. Eu fazia parte desse singelo grupo de 0,5% da população com esse tipo sanguíneo, sem contar que a gestação se tornava mais perigosa por meus precedentes no início da adolescência.

            Precisava ser forte, mas ninguém conseguia me fazer sentir segura sobre o futuro. O único que tinha esse poder, essa força, era Edward. Precisava reagir àquela anemia. Já amava aquela pequena parte de mim, porém sabia que havia aquele risco. E estar sozinha sem poder contar com o apoio dele, querer ele por perto para me abraçar dizendo que tudo ficaria bem e não o ter, acabavam comigo.

            Pedi a Esme e Carlisle para não contar a ninguém a respeito, a nenhum de seus filhos, inclusive Alice. Ela não engolia a história de eu estar apenas anêmica, Amber também não. Elas eram vítimas constantes das minhas oscilações de humor. Odiava-me por isso. Em um momento estávamos rindo como bobas, e do riso ia direto para o choro desesperado. Elas pensavam que era apenas pela falta que sentia de Edward, mas naquele momento era muito mais que aquilo. Não era só a vida de meu noivo que estava em risco, mas a vida de nosso bebê também.

(***)

Dois meses e duas semanas de gestação, não reagia nem como Carlisle esperava. Ele quis me internar em Seattle, mas não deixei. No final das contas ele disse que não teria muita diferença no meu caso.

Esme e eu achamos uma maneira de driblar – apenas um pouco – os enjôos. Só tomava líquido, porém só conseguia engolir quando a bebida era doce, ou seja, nada de sopas, caldos ou canjas para ficar forte, eram apenas frutas e água, sucos na verdade, exceto o de laranja. O de laranja me deixava enjoada por um dia inteiro. Ainda não era o suficiente para eu ficar nutrida… isso me desesperava.

Me via encurralada em uma situação em que nunca imaginei estar. Eu não precisava apenas lutar por mim, mas também por outra pessoa. Tinha que achar força, fé e coragem para continuar tentando. Não importava a saudade, a dor ou qualquer outro sentimento que me deixasse para baixo, tinha que os deixar de lado e tentar sobreviver e manter meu bebê.

Era irônico, no mínimo, quando parava para pensar em tudo que estava acontecendo. A partida de Edward me deixara sem chão ou esperança. Era como se toda a minha força de vida tivesse sido sugada. Aí então vejo que a vida mesmo estava dentro de mim, a minha e a dele.

De alguma forma aquele bebezinho tinha me trazido pensamentos mais otimistas sobre o retorno de Edward. Quando me pegava sozinha, pensava o tempo todo que precisava ser resistente e não deixar aquela vida se esvair, porque quando ele voltasse para casa, seria o melhor remédio para curar o terror de suas memórias. Seria o que lhe traria felicidade novamente. Seria a nossa felicidade e cura.

No entanto eu estava fraca.

(***)

“Bella!” Amber me abraçou quase me esmagando. “Você veio!” Sorri para ela, animada. Fazia dias que não saia de casa, por ordens de Carlisle. O tempo estava instável e minha imunidade um pouco baixa. Não queríamos nenhuma outra doença, certo?

“Vim! E então, quais os planos para essa noite? Seremos apenas garotas?” Elas riram alto. Alice e Rose estavam junto.

“Não, os meninos devem chegar daqui uns minutos.” Disse Amber. “Jake está com saudade de você.”

“Isso é verdade?” Estranhei. Ela concordou. “U-au.”

“Haha, não se espante. Você sabe que ele gosta de você tanto quanto gosta de Edward. Vocês são bons amigos, Bells!” Amm me repreendeu. “Agora ande logo! Entre e se sente! Vamos ter tequila e vinho esta noite! E você vai se divertir Bella!” Parei no centro do corredor na entrada da casa.

“Mmm… tem algo não alcoólico Amm? Sabe… não estou a fim de beber hoje. Talvez um suco!”

“Bella! Você precisa se distrair, se divertir!” Alice me empurrou para dentro.

“Edward não quer isso afinal?” Rose emendou.

“Bem, sim… mas estou em tratamento. Tenho que ficar melhor.”

“Um dia não vai te matar!” Rose insistiu.

“Eu não quero. Deu para entender?” Quase gritei. Passei por elas. Silêncio. Suspirei e parei de andar e me virei. Estavam espantadas com minha reação, como se quisessem uma resposta. Respirei fundo e me decidi por meias verdades. “Olha, há realmente algo maior, se querem saber, ok? Algo que me impede de beber, eu não posso, é para meu bem. Um dia… em breve espero, vocês vão saber. Só peço que respeitem isso até tudo ser esclarecido.”

“E por que você não nos conta de uma vez Bella?” Alice quis saber. “Somos suas amigas, estamos com você, vamos te ajudar a superar.” Limpei uma lágrima no canto de meu olho. Como queria lhes dizer a verdade, mas não, eu tinha feito uma promessa a Edward, e entre tantas que estavam sendo quebradas, aquela seria mantida.

“Porque prometi a Edward. Isso… não é algo a ser superado no momento. Eu jurei a ele. Não posso romper com algo tão forte.” Todas pediam apenas uma coisa com o olhar quando acabei de falar. “Ok, vocês podem me abraçar agora e dizer que me amam!” Elas riram e me abraçaram forte.

(***)

“Emmet! Eu não quero assistir basquete! Ninguém quer!” Rose arrancou o controle do namorado.

“Rose, anjinha, é um clássico da NBA! Todos querem assistir!” Roubou o controle dela mais uma vez.

“É isso ai mano!” Jasper ergueu uma garrafa de cerveja.

“Um clássico! Não dá para perder.” Jake ajudou. Revirei os olhos e tentei engolir um pedaço de bolo.

“Viu Rosinha! 3 contra 1! Perdeu! Rá. Rá.” Debochou ele. Ela deu um tapa estalado na testa do Abelhudo. “Ai ai.”

“Seu animal, achei que já tinha aprendido a contar! Não sei se você viu, mas existem mais 3 garotas nessa sala! Elas têm direito a voto também! Meu voto é não para a NBA! E o de vocês meninas?” Pegou o controle novamente, quase cantando a vitória.

“Não gosto de basquete.” Disse Alice. “Então, nem pensar.”

“Eu quero ver um filme que vai passar no canal 78. É um clássico também, então desculpa garotos, não posso perder.” Amber falou com olhos estreitos direcionados para Jake. Ele apontou um dedo para ela e disse sem som: depois te pego e você vai ver. Ela enrubesceu e eu tive que virar o rosto. Aquele gesto me fazia lembrar as juras que trocava com Edward apenas com o olhar.

Fitei o teto tentando dissipar a vontade de chorar, não queria instalar a tristeza em uma noite que estava seguindo tão tranqüila. Estava sendo divertida e leve. O álcool começava a fazer efeito em todos e assistir tudo de fora me fazia dar boas risadas.

“Bella? Bella?” Jacob chamou. Olhei de volta para todos. “Então, qual vai ser? NBA ou algum romance clássico?” Suspirei. Sinceramente? Não tinha paciência para nenhum dos dois. Por mim ficávamos apenas conversando e falando nossas bobagens até brigar por algum motivo bobo e começar a rir logo depois. Éramos assim sempre. Mas eles queriam ter algo para “fazer”. E dos dois só podia escolher o que não me faria mal.

“Correndo risco de perder a amizade das garotas, voto na NBA!” Os três explodiram em gritos e dancinhas abobalhadas.

“Cara o Edward é o mais sortudo! A Rose nunca quer assistir um jogo mano!” Disse Emmet quando todos se calaram.

“EMMET CULLEN, VOCÊ NÃO VAI TER POR 3 SEMANAS!” A platinada gritou.

Talvez, mesmo com o jogo, poderíamos fazer o que sempre fazíamos: nos divertir a nossa maneira Forks de ser.

(***)

Durante o jogo inteiro fizemos de tudo, menos assistir ao jogo. Nossa meta era basicamente atormentar a vida dos meninos. Fazíamos com maestria. Alice não calava a boca um minuto. Rosalie ficava falando que achava que iria riscar o carro de Emmet só por ele ter dito que Edward era quem tinha mais sorte com garotas. Não sei se me sentia feliz ou triste, afinal era Edward que não estava lá. Amber cantava Madonna… isso era o pior.

Eles não se irritavam, pelo contrário, se divertiam. E a minha maneira, encontrava alguma diversão também. Por mais destruída que estivesse, era impossível não me sentir reconfortada na presença deles. Emmet sempre me olhava inquisitivo, vendo se estava bem ou fingia estar bem. Inúmeras vezes ele me encontrou com o olhar vazio imaginando como seria ter Edward ao nosso redor.

A saudade era letal para mim. Pensar nele doía em cada parte de meu corpo. Machucava fundo na alma pensar que estávamos tão longe. Queria falar com ele e dizer como tinha sido meu dia, dormir em seus braços, sentindo sua respiração em minha nuca. Mas mais que tudo desejava pegar em sua mão e caminhar até o jardim. Então sentaríamos no mesmo balanço que contei a ele que provavelmente não teríamos filhos, e colocaria sua mão sobre meu ventre e diria que 5,3% não era um número tão baixo assim. Ele entenderia, sorriria e entraria em estado eufórico, até que por fim se acalmaria e nos beijaríamos entre lágrimas e sorrisos. Ele diria: seu brinquedinho favorito sabe o que faz ahn? E seria minha vez de rir.

Rodei a cena em minha cabeça como se fosse um filme, aprimorando e modificando alguns detalhes a cada nova vez. E foram inúmeras vezes… eu precisava contar a Edward que as coisas haviam mudado e que agora havia mais esperança, que tudo era possível! Então me lembrava da distância, e isso me trazia de volta para a vida real.

“Você está bem Bella?”

“Ahm? O que?!” Olhei para meus amigos, estavam quietos me encarando.

“Você… está legal?” Emmet apontou para mim. Me olhei. Estava sentada a beira do sofá, meu corpo voltado para o outro lado da sala, com as mãos sobre minha barriga e lágrimas nos olhos. Imediatamente deixei da posição.

“Bem! Sim, estou bem, sim!” Arrumei o cabelo atrás da orelha. “São só algumas… lembranças. Me desculpem.”

“Bella… não precisa pedir desculpas.” Alice abraçou meus ombros. Tentei sorrir.

“Então” Respirei fundo, fitei a mesa no centro da sala. “Acho que precisamos de mais bolo e batatas!” Alice me soltou e fez um carinho em meu braço.

“Eu busco.” Disse Jasper.

“Não! Pode deixar, eu vou.” Me levantei e fui para a cozinha. Com cuidado e sem barulho fechei a porta. Precisava de um minuto sozinha.

Peguei o bolo e comecei a cortar os pedaços do que restava, isso não iria me distrair. Eu estava novamente naquela montanha russa sentimental, porém me sentia cada vez mais caindo. A palavra grávida estava presa em minha garganta, queria colocar para fora de uma vez, dizer “Edward você vai ser o pai das minhas crianças, o que você não sabe afinal?”.

Eu queria não só dizer a ele, mas a todos. Havia essa promessa, e enquanto eu não pudesse falar com ele, ninguém saberia. Todos começariam a notar a barriga, mas de minha boca nada sairia. Eu tinha que melhorar logo. Encontrar um jeito de poder comer e absorver tudo que precisava. Recuperar-me, fazer o feto ficar forte e sobreviver. Não queria chorar, mas era o que fazia naquele momento enquanto cortava o bolo.

O fato era: não estava agüentando ficar calada entre tantos. Não estava mais suportando a ausência e a tristeza por não ter o meu Edward, a pessoa que me guiava e me fazia ver que existe um sol para todos… ver que existe beleza na vida mesmo nos momentos mais difíceis. Não agüentava mais não ter o seu amor onipresente e devastador, me ninando nas minhas noites mais difíceis. Eu queria mais que tudo poder amá-lo, dizer e demonstrar isso. Mas principalmente e o mais assustador era a idéia de que se ele não voltasse e se nosso filho não resistisse, simplesmente não teria mais nada ao que me apegar ou lutar. Isso eu não conseguiria agüentar.

Poderia continuar a viver, mas nunca, nunca mais seria a mesma.

Já não era a mesma pessoa, a dor e perda causam uma devastação absurda, principalmente quando não temos onde nos agarrar. Perder Joshua me deixou cortes irreparáveis, porém se fecharam com o tempo. Se perdesse Edward os machucados seriam maiores e incuráveis, mas eu viveria, ficaria legal e depois de algum tempo talvez até me interessasse por alguém como Edward pedira antes de ir para a Guerra. Mas se perder meus dois maiores amores não fosse o bastante e o destino tirasse meu bebê, bem isso não teria jeito. Nunca mais existiria a Bella que um dia todos conheceram.

Escorreguei pelo balcão me sentando no chão, vendo meu futuro através das paredes da casa de Amber com olhos embaçados. Era sofrido e sozinho, tinha tanto medo e angústia. Não, eu não queria aquilo para mim e mesmo assim, estava cansada de lutar. Faria o que fosse necessário para salvar meu bebê, mas quem salvaria a mim?

Senti uma pontada em meu útero. Curta e aguda. Apenas uma e nada mais. Como se fosse uma resposta a minha pergunta. Então, Alice entrou na cozinha.

“Bells! Você está bem?”

“Feche a porta!” Pedi. Não queria que ninguém me visse naquele estado. Havia risadas na sala, quem era eu para acabar com a alegria deles?

“Meu Deus, Bells. O que há? Por que estava chorando mais uma vez? Você parece tão cansada… e por Deus, você parece um zumbi sua maluca!” Agora ela estava ao meu lado.

“Alice, me promete uma coisa?”

“O que Bella?”

“Prometa que se Edward não voltar, e tudo o que eu tiver de mais bonito na vida for tirado de mim, você não vai me deixar sozinha? Mesmo que eu seja uma velha amargurada de 18 anos? Mesmo que eu enlouqueça? Promete?”

“Bella! Bella! O que há? Eu sempre vou estar ao seu lado, é para isso que a família serve! Irmãos protegem irmãos.”

“Prometa!”

“Eu prometo Bella!” Ela disse me olhando firme nos olhos. “E prometo te salvar de você mesma… meu Deus, você não aprendeu nada do que Edward te ensinou? Não tirou nenhuma lição do que viveu em quase um ano conosco? Bella há beleza e vida em tudo, mesmo que o mundo tenha ruído sob seus pés, ainda há! Edward passou por cima de tanta coisa para te mostrar isso! Ainda passa e será que você ainda não entendeu?”

“Edward é a pessoa mais incrível que entrou em minha vida, como não entenderia, se a cada dia era algo novo? A cada dia aquele filho da mãe me mostrava que eu podia ser feliz mesmo com uma vida inteira de tristeza.”

“Então por que você está no chão agora? Afundando?”

“Porque para isso que está acontecendo, Edward não conseguiu me ensinar uma maneira de me levantar.”

“E o que está acontecendo aqui Bella?” Ela colocou a mão em cima de meu coração. Suspirei.

“Me desculpe, mas Edward vai saber primeiro Allie.” Ela entendeu o recado e recuou. Levantou, estendeu a mão e me ajudou a levantar.

 “Sabe qual é a única coisa que me deixa mais tranqüila depois de hoje?”

“Qual?”

“Que você está mais certa de que ele irá voltar.”

(***)

Alice derrubou uma barreira na noite em que passamos na casa de Amber, ela tinha conseguido dar um passo a diante e conseguia me tirar de dentro do quarto durante as manhãs na semana seguinte. O verão de Forks estava um pouco mais seco do que o habitual e o sol saía diversas vezes. Era agradável.

Ela conseguiu me fazer conviver, ficar animada, mas meus problemas não estavam nem perto de serem solucionados. Fizeram testes com sangue de doadores universais, mas não adiantou, meu sangue não reagiu bem e a transfusão foi vetada. No entanto tive uma boa notícia naquela semana: meus níveis de anemia estavam um pouco melhores, porém nada que me tirava do fator risco.

Para mim, àquela altura, qualquer melhora era significativa. Fiquei feliz e mesmo sobre protestos de meu estômago, comecei a forçar uma alimentação melhor e a cada mordida rezava para meu corpo aceitar o que lhe dava de uma vez por todas.

(***)

Podia parecer loucura, mas eu estava decidida. Escreveria para Edward e contaria o que estava acontecendo. Ok, eu sabia, aquela carta talvez nunca fosse entregue, mas de qualquer forma me arrisquei ir com Emmet a base. Um soldado nos informou que as cartas que iam daqui chegariam no mínimo um mês depois lá.

Que opção tinha? Precisava ir atrás daquilo, faria me sentir um pouco melhor. Edward ficaria contente em saber que ando fazendo conjecturas… que ando sonhando.

Me coloquei em sua mesa e fixei meus olhos em nossa foto. Vamos, tenham paciência comigo, sou uma boba apaixonada sem escrúpulos ou humildade: nós éramos perfeitos juntos. Peguei o papel, caneta vermelha e escrevi.

Olá Edward, não sei como começar essa carta, só sei que estou olhando para nossa primeira foto juntos, é… aquela que estou em suas costas. Lembra-se? É a minha preferida. Ando imaginando como estão as coisas por aí. Aqui meu amor, está difícil de suportar sua ausência. Estou com saudades. E ela está me devorando por completo. É, como você pode imaginar, já estou chorando.

Não sei se essa carta será entregue a você enquanto está em batalha, talvez ela não chegue… talvez você escute as mesmas coisas de minha boca pessoalmente daqui uns dias, porque se contarmos, faltam poucos dias para 3 meses. Tem passado rápido para você? Para mim não… é tudo tão lento. Tudo que lembro é que daqui uma semana será meu aniversário e o que desejo é que você estivesse aqui para comemorar comigo.

Meu amor, tantas coisas tem acontecido comigo durante sua viagem que já não posso mais agüentar sem lhe contar, por isso escrevo essas poucas linhas para dizer o que tem se passado. Merda! Espero que esteja sentado, é você está sentado, eu sei. Edward… por favor, pare de balançar a sua perna esquerda e pare de roer sua unha do dedão. Sei que você está fazendo isso seu bobo. Te conheço tão bem quanto você me conhece. Posso até imaginar o seu sorriso agora.

            Bom, te faço um único pedido para as linhas que irá ler daqui para frente: não segure a emoção. Vamos logo com isso certo, meu bem? Vamos.

Edward, meu amor, minha vida: vamos ter um bebê. Fechamos três meses um dia antes de fechar três meses que você partiu. Choro todos os dias ao pensar que conseguimos, mesmo com aqueles 5,3%… é eu sei, você sempre soube, não é? Foi exatamente isso que passou por minha cabeça quando recebi a notícia.

Mas Ediota, eu preciso de você aqui… nosso bebê não é tão forte porque estou fraca. Preciso que você volte para me dar forças, espero que seja rápido e que meu pai o encontre como me prometeu. Lute. Brigue. Se mantenha vivo.

Espero… esperamos por você.

Te amo mais que tudo, sua Bella.

Ps.: O sol sempre brilha para quem quer. Brilha para mim?

Dobrei o papel no meio e deixei sobre a mesa. Só levaria no dia seguinte e se não fosse entregue… se não chegasse o destino, não importava, estava um pouco mais leve. Como um placebo, era como se estivesse falando e dividindo a notícia com Edward – em minha mente, fez diferença.

Resolvi que era hora de sair de dentro daquele quarto, tomar um pouco de vento no rosto e conversar, por mais que eu tentasse me segurar sozinha, tinha momentos que se tornavam insuportáveis o medo e desespero. Sentia-me insegura e presa. Algumas vezes, sufocada pelas lembranças e por desejos. Nesses momentos, eu simplesmente ligava o automático e passava a conviver com todos novamente.

Uma coisa que aprendi com Edward: não era bom me torturar. Não faria mais isso.

Não iria afligir-me dores além das que minha alma já carregava. Não me importava se Renée simplesmente não quis ficar ao meu lado quando Charlie foi buscar Edward. Não queria nem saber se meus amigos estavam vasculhando pelos cantos para saberem o que estava acontecendo. Não dava a mínima se as pessoas me recriminariam por eu estar grávida quando soubessem… Nem ao menos pensava na quantia de dor que poderia vir a ter nos próximos dias, meses, anos… Era simples: existia apenas o hoje e as dores e dúvidas que me consumiam. O que viesse depois ficaria para depois.

            Mas o depois poderia estar bem próximo.

            (***)

            No andar de baixo havia um silêncio inabitual por todos os lados. Aquela era a casa dos Cullen, sempre havia alguém tagarelando, brigando, rindo, até mesmo falando sozinho. Porém naquele dia, nada.

            Ninguém havia saído, tinha certeza. Antes de descer lembrava-me de que ouvira Rose e Emmet no jardim trabalhando nos carros que continuavam para fora da garagem. Acredito que estava distraída demais com meus pensamentos que não reparei quando todos se recolheram para algum lugar da casa.

            Caminhei pelos cômodos onde costumávamos estar juntos e minha última opção foi a sala de televisão. Nós nunca usávamos aquele lugar. Uma vez ou outra quando assistíamos algum filme ou para ter mais privacidade nas conversas, já que também tinha isolamento acústico. Foi rápido imaginar que estavam todos ali dentro. Algo tinha acontecido.

            Em um rompante de curiosidade e ansiedade invadi a sala. A televisão gigante oscilava sua imagem e todos, desde Carlisle até Rosalie estavam concentrados e sentados frente ao aparelho assistindo a reportagem que passava no tele-jornal mais conhecido do país.

            Cenas de guerra eram exibidas, onde bombas explodiam, crianças choravam… destruição atrás de destruição. A legenda que rolava pela tela anunciava sem parar: BASE MILITAR AMERICANA ATACADA POR GRUPO TERRORISTA NESTA MADRUGADA.

            Meu cérebro tentou absorver a informação que lia. Tentei me convencer que poderia ser qualquer base, mas não… eu sabia que não.

 Caminhei até a frente da televisão, escutei alguém cochichar qualquer coisa e até senti uma pequena movimentação a meu redor, mas Esme pediu que me deixassem ouvir. E eu ouvi.

“Repetimos: Nesta madrugada um pelotão das Forças Armadas Americanas em missão no Oriente Médio, com base ao norte do Afeganistão sofreu um ataque de grupos terroristas. Não existem números confirmados de mortes e há também relatos de seqüestros de militares. O superior em comando, General Churchill, foi ferido, mas passa bem. A situação é de alerta e outros grupos de forças tarefa foram enviados ao local para…”

Brad Paisley and Alison Krauss - Whiskey Lullaby

Se existia alguma reação perante aquela notícia ela não veio. Apenas fiquei ali… absorvendo as palavras, tentando juntar as peças e entender em que ponto as coisas haviam saído dos eixos. Fiquei em pé, não querendo acreditar, buscando assemelhar a vida real a um roteiro de filme de ação. Desliguei-me.

Quando acordei daquele transe, estava sentada a frente da televisão, chorando como uma criança desesperada e perdida. Era assim que me sentia quando a letargia se dissipou e realmente entendi o que significava. Meu Edward podia estar morto. Meu Deus… morto! Havia mortos, havia feridos, havia seqüestrados e havia Edward. Olhei o ambiente, a sala escura estava vazia, apenas eu e meus soluços.

Não sabia quanto tempo permaneci ali, só sei que a dor não passava e o choro não cessava. Em meu coração não havia mais nenhuma esperança e era uma questão de tempo até chegarem a nossa porta com uma carta timbrada prestando condolências e uma medalha de honra.

Edward era o que havia de melhor em mim, ele quem me salvou e juntou os meus cacos… E agora o que restava? Não tinha forças para procurar aquela vã expectativa de que ele entraria pela porta da sala, me abraçaria com força e diria que tinha voltado para casa e que tudo, tudo mesmo ficaria perfeitamente bem. Não, não encontrava nem essa esperança em mim… não conseguia acreditar.

Mais uma vez, o meu amor fora arrancado de mim. Deixei escapar por entre meus dedos sem nem poder lutar. Estava sozinha sem saber quando e como conseguiria me levantar. Choraria até secar e a dor permaneceria. Poderiam se passar anos e mais anos e as memórias de Edward ainda seriam vivas… ele não.

Não havia um lugar que fosse limpo dele. Nada que tinha ao meu redor fora intocado por suas mãos. Tudo tinha um pouco de seu cheiro e presença… queria escapar daquilo, mas até mesmo na casa de nossos amigos havia um pouco de nós dois. Não existia refúgio para fugir da tristeza. Nenhum lugar era a salvo de memórias, tudo estava grudado e tatuado em minha carne.

Peguei o resto de coragem e força que tinha e me levantei do chão. Iria afundar nas lembranças, ser sufocada por tudo. Sofrer cada lágrima e me cortar com cada parte de memória que não se repetiria. Seria engolida por aquele amor, pedaço por pedaço, até o último instante. Me afogaria naquele mundo… foi quando a dor aconteceu.

Rasgando de cima a baixo, meu ventre parecia ter sido estourado por uma faca enferrujada e sem fio. Ardia. Perdi o fôlego com as pontadas agudas que me açoitavam uma atrás da outra. Era mais forte que qualquer outra dor que já sentira. Parecia que tudo estava sendo esmagado, rasgado… arrebentado. Me apoiei no tampo de vidro da mesa quando minhas pernas cederam à dor insuportável, o vidro se estilhaçou, cortando minha mão e braço.

Meu corpo era metralhado por uma centena de sensações terríveis concentradas apenas em meu ventre. Chorava em desespero, pois não tinha mais forças físicas para me levantar do chão… eu levantaria, sabia o que estava acontecendo, conseguia sentir o sangue quente molhando minhas pernas. Eu lutaria.

 Tentei me apoiar e levantar, os cacos de vidro se fincaram mais fundo em minhas mãos.

“Carlis-le!” Soluçava forte, falava fraco. Evitei olhar meu corpo. Pelo menos naquilo eu queria acreditar. Acreditar que não estava acontecendo. Me arrastei até a porta, sem condição para me por em minhas pernas. Nem respirar conseguia. Arrastei a madeira que fechava o cômodo, escancarando-a. Encolhi-me no chão abraçando meu corpo.

“Por… por favor! Es-me!” Suplicava para alguém ouvir meus gritos quase silenciosos quando a imagem de Edward surgiu frente a mim, e como um sussurro no vento ouvi sua voz falando que me amava. Encontrei nele a força que restava. “EMMET!” Chamei, caindo no choro profundo e gritado.

Consegui distinguir seus passos pesados ecoando pelas escadas, sendo seguidos de mais alguns antes de vê-lo cobrir toda a minha visão, com um olhar torturado e chocado.

“Meu bebê.” Foi tudo o que pude dizer em um fio surrado de voz.

Então, em seus braços, ele me levou dali.

(***)

Eu estava morta. Tudo em mim havia morrido. Medos, esperanças, sorrisos, felicidades, tristezas… uma grande parte do amor. E quando o amor morre deixa um vazio dolorido no fundo do peito. Uma dor incômoda que nos tira o ar.

Mas eu… eu continuava a respirar.

Não havia nada a ser feito. Nenhuma possibilidade. Nem mesmo 5,3% de chance. Nada. Meu bebê não existia mais. Edward não existia mais… como tudo podia ser tirado de mim de tal forma?

Esme estava sentada a minha frente, segurando minha mão. Dando-me força. Eu já não chorava mais, ela continuava. Era indiferente chorar ou não chorar mais, nada mudaria a respeito de nada. De que adiantaria ficar por horas chorando por algo que não cresceria ou voltaria? Mesmo que aquilo queimasse em minha alma e arrebentasse meu coração – como estava acontecendo – o que mudaria? A dor, a tristeza e a infelicidade não cessariam.

“Odeio hospitais.” Murmurei.

“Como querida?” Ela limpou as lágrimas com um lenço de papel.

“Eu odeio hospitais. Quando vou poder sair daqui?”

“Temos que ver com Carlisle, meu bem. Acredito que só amanhã.” Ela apertou minha mão novamente e suspirou. “Bella…” Hesitou.

“Sim?” Balançou a cabeça, como se dissesse: deixa pra lá. Respeitei, mesmo querendo saber seus pensamentos. Os meus me atormentavam… me destruíam. “Odeio hospitais assim como me odeio.”

“O que?” Ela ficou séria. “Por que se odiaria?”

“Tudo… tudo que toco morre, murcha. Apodrece.” Uma lágrima correu sozinha. “Meus pais nunca me viram, meu irmão… a pessoa por quem daria a vida, morreu. Então Edward e agora…” Respirei fundo e fechei os olhos um momento. Quando os abri só vi fúria em seu olhar.

“Edward NÃO morreu. Quantos anos tem? Achei que era mais inteligente e madura Isabella. Você não é a única que sofre ou sofreu. Não me ache insensível, mas antes de ele partir você me disse para termos esperança, lutarmos, para ficarmos firmes. E você o que fez? Chorou. Foi isso que fez! Apenas despertou, um pouco devo dizer, quando essa criança surgiu na sua vida! Eu amo meu filho e sei o quanto ele lutou para não te deixar cair. Você deveria ter vergonha de já o dar por morto! Você o ama, não ama?” Esperei. Soltou minha mão. “Me responda quando te pergunto.”

“Amo, é claro que amo.”

“Então você deveria lutar. Dar sua vida por esse amor. Entenda, não estou falando de você ir e se entupir de remédios para acabar com a dor e honrar o que tiveram. Estou falando de você viver. Se levantar e viver. Edward está vivo, pode ser que esteja ferido, olhe onde ele está, afinal! Mas eu sei. Sinto isso! E você?”

“Estou morta.”

“NÃO! Você está viva! Seu irmão morreu? Ok. Você conseguiu superar, não? Edward está desaparecido em uma guerra? Ok. Não vamos parar até que o encontrem. Você perdeu um filho? Você não é a única e é tão jovem! Tem tanto para tentar… é brilhante e inteligente, mas DEUS, você parece cega!”

Não respondi. Não briguei. Nem mesmo pensei em discutir qualquer uma de suas palavras. Ela estava sendo dura; pela primeira vez, Esme estava sendo dura comigo e estava absolutamente e irrevogavelmente certa. Ela respirou fundo, buscando se acalmar e controlar as lágrimas.

“Quando tinha 18…” Continuou. “Me casei com seu padrinho. Ele estava na faculdade e eu apenas fazia cursos em Seattle. Foi uma escolha minha, sabe? Meus pais me odiaram por isso. Quando tinha 20, engravidei, era meu maior sonho; ter meninos com belos olhos azuis e cabelos tão amarelos quanto o sol, assim como Carlisle. Então 2 semanas depois, abortei. Bem como aconteceu com você. Com 22 tentamos novamente, também não segurei. Pela terceira vez, eu tinha 23, conseguimos levar a gestação até o final …”  Me olhou fundo nos olhos e disse. “Meu bebê nasceu morto… e isso é realmente pior.”

“Esme, eu… eu… sinto muito.” Nunca ouvira aquela história, o que sabia era que ela tinha um problema e não podia ter filhos. Só. Voltou a segurar em minha mão.

“Faz muito tempo Bella, e eu decidi que não queria mais gestar. Não passaria por tudo aquilo e no fim dar errado. Acho que foi a atitude mais nobre que tive. Seis meses depois encontramos Emmet e sabe como eu me sinto? Uma mãe de verdade, são meus filhos, criados, amados e alimentados por mim. Amar incondicionalmente alguém que não é seu nos engrandece e nos une de uma maneira inexplicável. Amo meus filhos muito mais que tudo nessa vida. O laço é tão forte quanto se tivessem saído de mim.”

“Obrigada.” Disse simplesmente. Sorri e nos abraçamos.

“Meu bem, todos temos escolhas… escolha dessa vez acreditar… E a propósito, você não destrói nada que toca apenas as enriquece.”

“Disso eu não tenho tanta certeza.” Tentei brincar.

“Pois tenha. O amor que você emana. A força desse sentimento… bem você nasceu para isso. Veja como um dom. Tudo que você ama você toca de um jeito diferente. Edward é o melhor exemplo disso. Acha que ele era tão corajoso e alegre antes de você chegar?”

“Ouvi dizer que ele era meio rabugento.”

“Rabugento?” Ela riu um pouco triste. “Não, Edward era amargo. Você o fez doce.” Se levantou e limpou as lágrimas. “Vamos ver se consigo te tirar daqui antes que termine o dia.”

(***)

Voltei para casa no mesmo dia. Quando contamos sobre o que estava acontecendo, recebi muitos abraços e lágrimas, todos muito sinceros. Não me dei ao trabalho de ligar para casa. Renée não esteve presente quando estive disposta a apoiar e ser apoiada. Por que seria diferente dessa vez?

Deveria ficar de repouso, tomar uma porção de remédios e continuar com as vitaminas para a anemia. Alice dormiu comigo naquela noite e foi bom para mim, de alguma maneira, não estar sozinha o tempo todo. Esme abrira meus olhos para o fato de que havia possibilidades, mas não queria pensar em nada. Ainda queria sumir. Não é fácil superar perda atrás de perda. Insegurança atrás de insegurança.

Minha vida girava tão rápida que por horas quis esquecer até mesmo de Edward, esquecer completamente. Queria que tudo que tivemos evaporasse de minha memória por alguns segundos só para que nesses breves instantes eu pudesse me sentir um pouco mais leve e sem angústias. Um pouco mais livre.

Era isso. Eu estava presa naquela melancolia e sombras que cobriam minha vida. Precisava abrir minha mente e expandir. Mirar no alvo e ver que acertaria, e se errasse… quem se importa? Estaria tudo bem. Precisava arriscar, me testar… sabia como e onde fazer isso.

Sem acordar Alice, saí de fininho de seu lado na cama em meu quarto, não me preocupando em ver que horas eram. Coloquei um vestido que ia até os pés, um casaco qualquer e abotinados. Prendi meus cabelos no alto da cabeça. Eu estava um pouco eufórica. Entrei no quarto de Edward e revirei suas coisas que lutava para deixar milimetricamente arrumadas em sua ausência. Procurei até encontrar o que procurava. Escrevi um bilhete pedindo para não me procurarem e deixei minha bagunça para trás.

O dia não tinha amanhecido quando cheguei à porta da garagem. O carro de Carlisle não estava, tinha sido noite de plantão. Olhei a chave em minha mão e ignorei o frio que rodopiou pela barriga. Me sentia uma fugitiva. Apertei o botão de alarme e os faróis piscaram. Era hora de pôr em prática um pouco do que o Ediotinha havia me ensinado.

Entrei no Volvo e girei a chave. Tomei coragem.

“Todos querem que você viva.” Falei sozinha. “Arrisque Isabella.”

(***)

            Sentei-me na pedra úmida e fitei o horizonte, um lindo amanhecer. Havia certo conforto em sua luz. Estava longe de encontrar qualquer paz ou alívio para todas as seqüelas que os últimos meses deixavam.

            Quis pesar os prós e contras onde só conseguia ver o negativo. Não existia um lado bom em Edward estar desaparecido e eu ter perdido um bebê que provava para mim que mesmo com as mais remotas das chances, tudo é possível. Ou existia? Possível tudo é… a questão é acontecer. Se essa parte boa existia não conseguia encontrá-la.

            Dar adeus a Edward doeu. Reviver toda a angústia de dias de guerra foi pior. Perder um filho, ainda tão pequeno e indefeso, me estraçalhou. Fui devastada, durante aqueles quase três meses, por emoções e sentimentos que nem sequer conseguia compreender, quem dirá lidar. Não era saudável remoer tudo aquilo, sabia disso, porém o que iria fazer se aquela pequena parcela de vida, que tinha construído em cima de alicerces que seriam eternos, estava ruindo? Não enxergava uma saída.

            O amor que tinha por Edward ainda me tirava o ar e me fazia querer chorar pela alegria de todos os momentos que tivemos. Ele quem conduzia e iluminava o caminho, como se com um olhar pudesse dizer: Olha, é por aqui… Vamos logo com isso, temos muita coisa para descobrirmos juntos ainda Monstrenga. Deus! Ainda conseguia imaginar todas as expressões de seu rosto, assim como suas reações as minhas imbecilidades.

            A verdade é que era dependente daquele amor. Puro e simples amor dentro de um mundo só nosso, onde ninguém conseguiria romper e entrar. Nosso amor era nosso universo e o sol só brilhava quando estávamos juntos. Clichê? A vida é cheia deles. Como podia ver o sol se aquelas nuvens pesadas se puseram entre nós? Como poderia?

            Sentada diante do oceano, no topo do penhasco da Cabana, vi que não tinha saída. O amaria para sempre e tudo que veio junto (amor, brigas, alegrias, guerra… um bebê) jamais deixariam de me alegrar e machucar. As feridas nunca deixariam de pulsar e as boas memórias estariam frescas sempre. Era ambíguo o único caminho que via diante de mim; sofrer por tudo que houve ou sofrer para esquecer.

De uma única coisa estava certa: um dia tudo aquilo teria um fim.

Não queria me levantar. Foi ali, pisando naquelas pedras, que ouvi pela primeira vez que era amada. Onde senti que tudo era real e que duraria para sempre… que aquele era meu conto de fadas. Queria ficar a deriva em meus pensamentos e nas mais doces memórias.

Queria que a realidade fosse diferente. Que ele estivesse com outra garota…, ainda vivo. Que estivesse fazendo sua faculdade em outro estado, vivo. Que nosso amor não passasse de um amor platônico de minha parte e ainda assim ele estaria vivo. Que nenhum daqueles dias de glória, que me silenciavam agora, tivesse existido e que ele andaria por ai, sorrindo e a salvo. Poderíamos ter brigado para nunca mais voltarmos e mesmo assim eu desejaria que ele ficasse bem… Talvez desejasse até mesmo ter morrido quando quis.

Desde que ele permanecesse.

Narração extra:

Ele conseguiu se soltar de todas aquelas amarras ao seu redor depois de muito insistir. Milhões de perguntas o rodeavam e nada estava se encaixando. Estava faltando algo, ele pôde sentir de longe.

Desculpou-se e disse que estava cansado e que tinha que ir. Na verdade ele estava extasiado com tudo aquilo. Eufórico. Era cedo e muitos ainda dormiam, seu companheiro sabia o que ele queria achar. O interesse era mútuo ali. Seu coração batia a fortes pancadas, bombeando energia e adrenalina.

A cada passo dado, era mais uma dúvida e mais uma certeza. Um misto de medo e conquista. Ele estava tão próximo do que queria e quando chegasse até lá iria segurar com tanta força que talvez nunca mais pudesse deixar para trás. Porém, o receio dele naquele momento era maior do que a alegria. Tudo tinha mudado. Como seriam as reações?

Quando chegou perto, tentou sentir a presença e a energia que sempre sentia. Tentou poder tocar em sua mente antes mesmo de ver. Tentou em vão. Não conseguira sentir nada a não ser madeira em seus dedos. Havia uma peça faltando. A mais importante, a mais vital.

Abriu a porta em um ímpeto e a confusão era imensa. Tudo que restava era o leve toque do aroma conhecido. Um resquício fraco do que ele queria. A não ser bagunça, nada mais habitava ali. Rodou perdido em seus pés, olhando para os lados e descartando a hipótese de achá-la em qualquer outro lugar ali.

Confuso e fragilizado ele encontrou suas palavras escritas em sua caneta vermelha corriqueira. Por quanto tempo mais teria que esperar? Ele se perguntava.

Primeiro o caderno. Depois o bilhete. Mudanças extremas que demorou longos minutos para assimilar. Primeiro veio a felicidade e depois a fúria devastadora, para depois ser rendido pela verdade de que nada mais importava. De uma vez por todas o que ele desejava encontrar precisava dele como nunca.

Releu mais uma vez as suas palavras.

“Perdoem-me sair sem dizer adeus. Tudo de melhor que tive foi arrancado de mim lentamente sem ao menos um até logo. Pude superar perder meu irmão. Acho que conseguiria viver sem Edward, mas vai levar muito tempo para curar a cicatriz que perder esse filho me causou. Tudo dói tão fundo. A única pessoa que poderia me ajudar a seguir adiante não está aqui.

Preciso me encontrar e seguir meu caminho, nem que para isso esse bilhete signifique o adeus permanente. Não me procurem, não tentem me achar. De alguma maneira, vou ficar bem.

Com carinho, Isabella.”

Então, ele correu.

Narração: Bella Swan.

This Mortal Coil - Song to the Siren

Tinha feito meu melhor para sorrir e ali estava eu à um passo de me decidir. Já tinha perdido tudo que havia de melhor em minha vida: Josh, Edward, nosso filho, o amor… a esperança. O que me movia e me alimentava fora levado de mim. Deixando-me a deriva. Perdida.

Será que tudo valera a pena até aquela parte de meu caminho? Cada gota de tristeza ou alegria que derramei valeram? Cada sorriso e cada abraço? Cada angústia e medo? Desde minha tentativa de suicídio até a perda recente de meu bebê que já tanto amava? Cada centímetro andado, cada tombo de que me levantei e cada demônio que expulsei de minha vida, todos eles faziam de mim o que era. Tudo tinha sido válido.

Como tudo começa, tudo tem um fim. Edward era todo o meu mundo de uma maneira insana e corrosiva. Esse mundo sempre existiria e com sua ausência era um pedaço de universo vazio, morto e frio. Sentia-me cair no sofrimento de estar sozinha novamente, mas estava ali, esperando para abraçá-lo uma vez mais.

 Levantei-me, sequei as lágrimas que caiam e apreciei o oceano que se perdia sem fim ou começo na linha do horizonte. Caminhei quatro passos e parei a beira das pedras. Tanta tristeza em mim. Olhei abaixo de meus pés. Meu estômago girou. O mar batia com fúria nas paredes de pedras, não se intimidando. Ele era forte e poderoso. Quem era aquele rochedo afinal para dizer que o mar não podia avançar por ali?

Respirei fundo. Coloquei um pé para fora, sentindo o vento gelado bater contra minha pele e inflar meu vestido. Quem eram todas aquelas pessoas afinal que me diziam que eu tinha que ser forte e seguir em frente? Quem elas pensavam ser para me dizer para não sofrer pelo que amava? Ninguém trilharia meu caminho. Ninguém tinha direitos sobre as minhas decisões. Podia sofrer uma vida inteira ou acabar com aquilo naquele instante. A escolha era minha. Havia a tomado.

            Devastada pela solidão e presa naquele inverno que era minha alma, abri meus braços e senti o vento. Seria a última vez que estaria ali, diria adeus.

            “Não faça isso.” Meu pé recuou ao som da voz que soava desesperada. Uma lágrima solitária não quis acreditar. “… por favor.” Implorou. Recuei mais um passo não querendo me virar.

            “Tenho que me libertar de tanta dor.” Sussurrei. “Eu não ia… isso é… ilusão.” Disse a mim mesma.

            “Estou aqui para te ajudar com ela.” Me virei. Meus joelhos cederam na pedra. Seus pés correram e seus braços me apertaram em um abraço. Minha cabeça se apertou em seu peito, seus dedos deslizando por meu cabelo. “Tudo vai ficar bem. Tudo. Eu estou aqui.”

            Não conseguia falar. Não conseguia respirar. Apenas o abracei, o senti em meus braços, sem me ser exigida uma única palavra. Existia somente um choro desesperado e quieto de quem encontra a sua vida novamente. Aquele era o silêncio majestoso de um momento de glória.

            Edward estava em casa novamente.

            Continua…

N/a: Estou há 15 minutos olhando essa barrinha piscar pensando no que falar para vocês. Só penso em uma coisa: A vida não é justa, porém assim quando uma porta se fecha outras 2 se abrem (isso ao meu ver). Vocês devem estar querendo meu couro… devem estar doidos para cometerem um homicídio, mas como pedi lá no começo: compreendam! Compreendam que faze-la perder esse bebê foi muito, muito, muito sofrido mesmo! Eu sou uma apaixonada por criança e choro de pensar nessas coisas, mas não, esse não era o momento para um bebê aparecer na história.

Peço que confiem em mim quanto ao rumo que tudo vai seguir… esse foi o 32º capítulo, e a previsão é de 35, ou seja, apenas mais 3. Coisas irão mudar daqui para frente e só posso lhes dizer que vou fazer o meu melhor para dar um bom final a essa história.

Desculpem-me se chatearam-se que ela perdeu o baby, mas se eu a mantivesse grávida não estaria sendo leal com tudo que imaginei para essa história.

Obrigada e desde já agradeço a todos os comentários que virão e aos que vieram! Cada vez o número tem crescido e fico MUITO feliz com todos os comentários, gostaria de poder responder todos, mas meu tempo é um pouco curto :T

Comente e indiquem, passem para frente e divulguem a fic! ^^

Beijos e até o próximo!

Ps.: Prestem atenção ao que a beta vai dizer!

N/b: Quem está chorando levanta a mão! \o/ (eu levanto as duas pra deixar bem claro que estou chorando copiosamente!) Ahhhh meu Deus! O Edward voltou! O Edward voltou! #todascomemora! Sei bem que muitas de vocês, se não a maioria, devem estar querendo matar a Grasi pq a Bella perdeu o bebê... Imagino inclusive que a “raiva” e a perplexidade sejam maiores do que a emoção e alegria do Edward finalmente estar de volta... Mas, como Beta, sei um pouco de como vai se dar o desenrolar da história... e por isso peço imensamente que vocês tenham paciência e continuem lendo pra ver oq tanto vai acontecer.

A Grasi tem tudo esquematizado... e eu garanto: é tudo muito maravilhoso! Assim como vocês, a princípio, fiquei chocada qdo fiquei sabendo que nossa querida autora teria um momento perverso e faria a Bella perder o bebê... Mas dps, qdo ela compartilhou cmg seus pensamentos e um pouco do desenrolar da história, eu vi como tudo faz sentido. Tenho pra mim que podemos tirar de todo esse sofrimento da Bella exatamente o que a Esme disse à ela: a capacidade que ela tem de amar as pessoas é um dom! E será esse dom que vai ajudá-la a superar! Alguém concorda cmg?

Enfim...hoje é isso! Deixem seus comentários e suas opiniões, com muito respeito e sem ameaças de morte, ok?! Mal posso esperar pelo próximo capítulo! Minha imaginação vai longe hahahaha

E só pra constar: Eu sou apaixonada pelo Emmet!

Beijos amores! É sempre um prazer!


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Notas finais do capítulo

COMENTEM :*