Waking Up - Aprendendo a Viver escrita por Soll, GrasiT


Capítulo 39
Capítulo 31 – 5,3.




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Narração: Bella Swan.

Duas semanas já haviam se passado e eu continuava a respirar um ar rarefeito e pesado. Forçava-me a alguma simpatia quando era obrigada a dar bom dia ou boa noite, ou até mesmo quando alguém comentava algo engraçado ou contava uma piada clássica. Tentava parecer presente, mas minha mente não acompanhava nada que estivesse ao meu redor, nem sequer algo que estivesse naquele país.

            A saudade que sentia de Edward era dilacerante. 

            Todas as manhãs eu lhe desejava um bom dia e arriscava uma prece engasgada por sua vida. Na maioria das vezes me perdia entre as lágrimas que costumava esconder na frente dos demais. Nem mesmo Alice ou Amber haviam me visto chorar desde que Edward partira para a Guerra; esses momentos eram divididos apenas com meus travesseiros e, a partir do final daquela segunda semana, com Charlie.

             Meu pai, que poucos meses antes havia decidido se aposentar, tomou uma atitude que me surpreendeu em todos os aspectos, e que por diversos momentos me trouxe alento e esperança no dia de amanhã. Ele decidira continuar a servir e tinha como missão o trazer de volta, trazer Edward para casa. Vivo.

            Um fato interessante sobre Charlie é que ele sempre consegue o que quer. Não importa quem tenha de derrubar pelo caminho, nem o tempo que isso leve, ele tem o que deseja. Sempre soube de onde herdei minha teimosia… e minhas fragilidades.

            Quando ouvimos a voz um do outro naquela tarde rara e ensolarada de Forks pelo telefone, não conseguimos esconder que estava difícil demais de suportar a solidão. Ele ainda tinha a culpa em sua mente e eu o medo. Ambos não nos perdoávamos por alguma razão. Apenas choramos baixo e por mais que tentássemos parar, era uma necessidade por tudo para fora. No final da conversa, quando as lágrimas já estavam secas em minha pele, meu pai disse o que eu precisava ouvir.

            “Vou permanecer e lutar. Lutar por Edward. Brigar para que ele e todos os garotos que foram voltem vivos e inteiros. Já temos Joshuas suficientes em nossas memórias.”

            “Preciso ter fé pai.” Resmunguei.

            “Confie em mim e acredite.”

            “Acreditar no que? No que devo me apegar?” Meu pai riu baixinho, quase irônico.

            “Em Joshua. Ele está vendo tudo.”

            (***)

            Distração. Vivia procurando distrações. Não tinha me acostumado com sua ausência e isso machucava demais. Procurava seguir seus conselhos; conversava com Rosalie, pedia carinhos para Esme, combinei uma tarde de compras com Allie e uma noite de garotas na casa de Amber. Porém nenhuma delas conseguia tirar a imagem dele de minha mente.

            Eu o imaginava vestido em sua farda verde pálida, andando por aqueles desertos, prestando continências aos seus superiores com expressões severas e desgostosas. Involuntariamente, o imaginava ao lado de Joshua. Desejos inconscientes, eu sei. Imagens que nunca vira pessoalmente. Não vi meu irmão fardado assim como não vi Edward. Apenas lembranças que não existiram e que precisavam ser afastadas a todo custo para não pensar em coisas mais terríveis.

            “Bella você pode ser sincera agora!” Alice reclamou.

            “Ah!” Lhe olhei. “Bem… esse… ahm… está bom!” Não era uma boa conselheira naquele momento.

            “BOM BELLA?” Se irritou. “Tem certeza que eu não pareço um repolho roxo?” Ela experimentava um vestido púrpura com babados grandes ao redor do minúsculo quadril. “Porque se eu estiver parecendo um repolho e se você me deixar sair por ai assim, juro por tudo que é mais sagrado que vou fazer Emmet e Jasper comerem repolho por quatro dias seguidos e vou os colocar para dormir em seu quarto! Aí você vai sentir o poder do repolho!” Lhe olhei pasma, ela estava falando sério. Amber tentava se controlar para não rir. Respirei fundo.

            “Alice, me desculpe, você sabe que não tenho cabeça para isso. Eu adoraria, mas não estou pronta.” Ela deixou os ombros caírem. “Eu só… sinto a falta dele. É a única coisa que consigo pensar. Me desculpe!” Saí dali as deixando mais a vontade e sem que precisassem curtir a tristeza e dor junto comigo.

            “Bella espera!” Amber pediu e puxou-me pelo braço. “Sei que está difícil de agüentar, todos nós sentimos a falta de Edward, claro você principalmente, não precisamos ver você chorar para saber o quanto você está sofrendo, mas nós estamos aqui para te lembrar que ele está vivo e que você também!”

            “Deixe-nos entrar apenas um segundo Bella, nos deixe te fazer ver que dessa vez você tem pessoas que estão ao seu lado.” Completou Alice sorrindo sincera. Concordei movendo minha cabeça em um tímido sim. Elas me esmagaram em um abraço.

            “Acho que vestidos não são a melhor saída para nós hoje! Precisamos de distrações mais divertidas!” Disse Amber pensativa.

            “E o que você sugere?” Quis saber.

            “Estive pensando em…”

            “Meu Deus! Bella! Vamos! Vamos meninas!” Rosalie chegou correndo me pegando pela mão e chamando as outras, causando alvoroço dentro da loja. “Vocês não vão acreditar!”

            “Onde você estava platinada?”

            “Não importa Alice! O que importa é que precisamos voltar para Forks!”

            “Deus o que houve?!” Amber entrou na euforia de Rose. Minha cunhada olhou em meus olhos, totalmente feliz.

            “Bella! Uma carta!” Meu coração saltou. “Acabei de falar com Emmet! Chegou a primeira carta de Edward! Na verdade cartas! Ele escreveu uma para cada um!”

            Arranquei a chave do carro de sua mão e corri.

            (***)

Glee Cast - Smile

            Tremia quando peguei o pequeno envelope. Tremia e sorria. Ele continuava vivo. Meu coração batia tão forte quanto todas as vezes que o via pela manhã, ou quando o vi naquele leito de hospital, ou até mesmo como na primeira vez que o vi descendo pelas escadas centrais da mansão com aquele sorriso debochado e irônico que eu odiava de tanto que amava.

            Corri para seu quarto e tranquei a porta, onde podia ficar sozinha e ler, reler e chorar quantas vezes eu pudesse ou quisesse. Rasguei o envelope e me joguei na cama. Não esperava páginas e páginas escritas, se houvesse apenas uma palavra escrita naquele papel eu ficaria imensamente feliz, só porque havia sido ele a escrevê-la.

“Sorri quando a dor te torturar e a saudade atormentar; Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar. Quando nada mais restar do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz e sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos.
Sorri vai mentindo a sua dor e ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor que és feliz.

Bella, mesmo que seu coração esteja doendo agora e que a saudade esteja te torturando, sorria. Isso, seu sorriso, é o que guia a minha vida e meu mundo. Apenas sorria para que eu continue o vendo em minhas memórias e continue andando no caminho certo. Sinto sua falta a cada dia mais. Tenha fé em nós.

Com amor, seu Edward.”

            Incontáveis vezes li sua pequena carta. E a cada nova vez que lia, chorava um pouco menos e sorria um pouco mais. O sentia tão próximo de mim naqueles momentos. O sentia tão vivo e tão disposto a permanecer assim. Talvez eu devesse ter um pouco mais de fé. Fé em nós, como ele pedira.

            Adormeci agarrada a carta entre sorrisos esperançosos e pequenas lágrimas.

            Narração: Edward Cullen.

            Imagine como é a guerra em um deserto. Imagine o calor escaldante do dia e o frio cortante da madrugada. Imagine o medo nos olhos das pessoas e os gritos das crianças. Tente imaginar por apenas um segundo como é estar na pele do predador para um inocente, enquanto finge ser o cordeiro. Faça uma força e imagine o som de bombas ecoando no horizonte e o agudo dos mísseis cruzando os céus durante a noite. Imagine ver mães juntando os corpos de seus filhos e esposas morrendo por seus maridos.

            Imaginou? Não. Isso que você construiu em sua cabeça não é realidade. É conto de fadas que o cinema mostrou em um milhão de filmes campeões de bilheteria. Apenas fragmentos enfeitados. A guerra é muito, muito pior.

            Era uma maré de calmaria em um oceano de areia, e nos primeiros dias da primeira semana fui tolo o suficiente para pensar que seria apenas aquilo por um longo tempo. Treinos pela manhã. Reconhecimento de campo à tarde. Fogueira à noite e um bando de homens destemidos que no fundo tremiam sempre que ouviam uma bomba explodindo ao longe. Eu tremia.

             Ao final do sexto dia tirei um tempo e escrevi cartas – que mais pareciam bilhetes – para todos. Primeiro meus pais, então meus irmãos, Rosalie e por último Bella. E foi a dela que me tomou mais tempo. Simplesmente não sabia o que lhe dizer entre tanto que tinha a lhe dizer.

            Não tinha idéia se ela chorava ou comia; se estava assistindo televisão ou seguindo os conselhos que havia lhe dado em seu diário. Não tinha a menor idéia de como ela estava lidando com aquilo ou se ao menos ela conseguia sorrir. E lembrar-me de seu sorriso gerou um em minha face. Queria sempre ver aquele sorriso brilhante que me fazia ganhar forças. Bella era o tipo de pessoa que pode amolecer qualquer coração apenas com um sorriso.

Ela não poderia parar de sorrir, então escrevi palavras sinceras e que esperava que a tocassem fundo, e ao lacrar o envelope engoli o choro da saudade e a sirene da base soou louca junto com os berros do General Churchill pelo megafone. Corri para fora e no caminho joguei as cartas dentro do saco de correspondências.

A partir daquele momento a guerra havia começado.

(***)

Fogo e destruição. Desespero e perda. Sangue e suor. Tudo misturado ao redor em um cenário de caos épico. Nada podia ser comparado com aquilo. Dia após dia. Noite após noite. Tudo apenas piorava e já não tinha a mesma esperança de que os 5 meses passariam tão rápido como imaginava.

Muniram-nos com fuzis, granadas, armas pesadas e de efeito moral. O maldito General Churchill parecia querer que todos morressem, separou-nos em grupos onde era nitidamente visto que os menos experientes ficaram com os menos experientes e os veteranos com veteranos. Era olho por olho e dente por dente. Porém isso não funcionaria por muito tempo caso quiséssemos sobreviver àquele inferno.

Os dias se tornaram mais longos e as noites quase inexistentes e por muitas delas fui escalado para vigia da base junto de mais um garoto, tão novo naquela merda quanto eu, porém já servia antes e era o que queria para a vida. Seth, o soldado que virou meu conhecido quando fui pela primeira vez na base da Península Olimpyc. Podia dizer que nos tornamos amigos ali. As noites geladas eram movidas a conversas sobre como a guerra contra terroristas já tinha virado um atentado terrorista.

 No final da terceira semana recebemos a informação que confirmou toda nossa especulação noturna quase que diária: atacaríamos uma cidade miserável ao norte de onde estávamos. Havia suspeitas de que um dos chefões estaria refugiado ali. A ordem era para que no máximo duas semanas atacássemos.

Cidade após cidade que íamos atrás de rebeldes, só via mais tristeza e dor. As pessoas eram miseráveis e apenas de olhar para elas me revoltava do quão baixo as pessoas podem ir para conseguir o que querem. O ser humano é lixo na mão de muitos. Perguntava-me onde estaria o Deus pelo qual lutavam? Onde estaria Deus para proteger os inocentes das mentes insanas que os governavam?

Me odiava por ter que compactuar com tudo aquilo e odiava ainda mais o fato de que não existia mais tempo para que eu pudesse nem ao menos escrever uma linha para Bella e minha família para dizer que eu permanecia ali. Essa foi a primeira lição que aprendi ali: não prometa o que não vai cumprir, isso só machuca.

 Mesmo com tantas pessoas, conversas, preocupações e medos ao redor na maior parte do tempo, eu me sentia perdido e sozinho no meio do nada. Quando era momento de por minha cabeça no travesseiro para dormir e tentar me desligar daquela loucura, as bombas e mísseis começavam a voar pelos céus me fazendo lembrar que aquilo não era brincadeira e que não podia desligar. Quando eu desligasse, estaria morto.

(***)

“Então Cullen, você nunca quis ser um militar, ahn?” Seth perguntou enquanto preparávamos algumas armas para a partida dois dias à frente.

“Não. Não mesmo. É tudo tão sem sentido para mim, sabe?”

“Na verdade? Não. Desde sempre soube que queria isso para mim. Meu pai é um velho General e seu pai era um Tenente-General que serviu na primeira guerra, cresci admirando o amor e dedicação que eles tinham por serem oficiais. Então, para mim, tudo sempre fez sentido.”

“Gostaria que tivesse sido assim para mim também. Carlisle é médico e isso não me interessa em nada, nem um dia sequer quis ser um doutor.”

“E o que você quer ser Edward quando toda essa palhaçada de guerra acabar?”

“Pretendo ser um gastrônomo. Quero ter meu restaurante. Cozinhar! Eu gosto disso! Nem minha mãe gosta de cozinhar tanto quanto eu… Veja Bella, minha noiva. Quando estive em coma meses atrás, ela passou dias no hospital, agora quer ser médica, pois viu a dedicação de meu pai, e eu que sou seu filho simplesmente não tenho interesse.”

“Acontece cara!” Colocou o pente de balas em uma automática. Mexeu e mexeu na mira e perdeu a paciência. “Ajeita a mira? Não to conseguindo!”

“Ok” Peguei a arma e em cinco segundos estava pronta.

“Você é bom!” Exclamou. Dei de ombros. Tudo que menos queria era ser bom naquilo. “Agora… me conte sobre Bella. Eu conheci o irmão dela.”

“Joshua?” Perguntei pasmo.

“Sim. Sou um pouco mais velho que ele. Quando ele foi para Guerra fui mandado para Forks. Diferente do General Swan, meu pai não queria que eu viesse tão cedo para essa merda toda. Ele e Charlie são amigos desde sempre.”

“O General é um pouco complicado de lidar, até ele aceitar que eu estava com Bella foi difícil… acho que ainda é, mas nos toleramos por causa dela.”

“Ele é um bom homem, mas penso que deve ser complicado aceitar que a sua menininha já não é mais tão menininha assim!” Ri com sua afirmação. Era bem desta forma que Charlie via Bella até hoje. “E aposto que se o irmão dela estivesse vivo ainda, também não ia deixar você por as mãos nela!” Meu riso se perdeu um instante.

“Se o irmão de Bella estivesse vivo, eu nunca a teria conhecido… é egoísmo demais agradecer que ela tenha o perdido?” Seth me encarou por um instante e balançou a cabeça.

“Não, afinal a vida é assim. Nascemos para um dia morrermos. Ninguém é eterno… e ela? Deve ter sofrido com sua convocação.” Me entregou outra arma. Carreguei e preparei a mira.

“Sim, muito… eu gostaria de poder saber como ela está agora, antes de irmos para o norte.” Larguei a arma na mesa e respirei fundo.

“Cara você realmente é apaixonado por ela!” Disse ele impressionado.

“É por ela que eu sobrevivo. Vamos nos casar um dia, teremos filhos e uma casa com a cerca branca… não, talvez não branca, mas haverá a cerca!” Nós rimos por alguns segundos e nos calamos quando o som conhecido de torpedos cruzou o céu.

“Bella nunca me disse que te conhecia.” Disparei depois de um tempo naquele silencio mórbido.

“Oh não! E não me conhece! Charlie e meu pai são amigos de base, nossas famílias nunca tiveram contato. Talvez um jantar ou outro, mas aonde apenas as nossas mães iam. E nos que as ‘crianças’ eram permitidas, nunca os encontrei. Joshua eu conheci na base central da Louisiana, dias antes dele vir para cá.” Entendi e não comentei sobre nada, não era preciso.

“Você acha que vamos nos sair bem nessa missão, Clearwater?”

“Não posso te dar certeza Cullen, a única coisa que posso dizer é que de alguma maneira vamos ficar na cidade.”

Narração: Bella Swan.

A falta de notícias era torturante. Mesmo com Charlie monitorando e conseguindo informações privilegiadas sobre a missão, eu não me sentia confiante com o silêncio de Edward.

Quase que involuntariamente os pensamentos mais sombrios começavam vir à tona em sonhos assombrados e noites mal dormidas… sem falar nos próprios pensamentos, que invadiam e nem se importavam.

Sabia que promessas como de escrever todas as semanas poderiam não ser cumpridas já que as missões começavam a se fazer mais presentes no campo onde Edward estava. No entanto, era um tormento não saber nada a respeito de como ele estava realmente. Meu pai conseguira informações de que nenhuma baixa havia sido relatada desde que desembarcaram, e mesmo ciente de sua vida, não conseguia o sentir bem. Algo dentro dele estava errado.

Já não sabia se havia passado três semanas ou dois meses. Quando olhava ao redor me via isolada e longe da realidade que eu tentava evitar. Os dias e horas passavam desconexos e inconstantes no relógio. Não me importava a hora em que acordava ou que ia para cama. Não sentia fome, frio ou sede. Dormia e tentava não sofrer toda a ansiedade, saudade e medo. Era a isso que me resumia.

Ele estava em uma guerra e eu a meio mundo de distância. Os momentos que buscava em minhas memórias de nós dois eram os mais felizes, mas não conseguia deixar de lembrar-me das brigas e desentendimentos, desde os mais bobos aos mais importantes e de como aprendemos, crescemos e o quanto nos unimos com as diversidades. Elas me pareciam mais importantes que os bons momentos.

Gostava de relembrar aquelas briguinhas bobas na hora de acordar ou do stress que sentíamos pela convivência quando ainda não éramos habituados um ao outro, como da vez que ele tentou me ensinar a dirigir no Maserati e acabamos encharcados dentro do carro nos amando.

Incrível como conseguíamos ir do gelo ao fogo em segundos. Podia sentir o toque no fundo de meu útero ao me lembrar das noites quentes e selvagens que tivemos… ah! Ainda conseguia tremer com as recordações, porém essas partes de tirar o fôlego não eram fortes o bastante quando a sua voz invadia minha mente e sussurrava “Eu te amo” daquela forma suave e sedutora que ele costumava cantar para mim após me ter da maneira mais grosseira ou mais delicada. Som despejado desajeitado e até tímido, mas que me fazia sentir mais sua. Mais entregue ao sentimento.

Então, eu chorava por sua ausência. Chorava porque queria o amar.

Relia diariamente suas palavras em meu diário e a única carta que recebera. Sorria… Continue a viver, ele pedia. Mas como fazer isso se tudo estava cinza, pálido e vazio sem ele? Onde estavam minhas razões? Nas lembranças que guardava? Ou nas que desejava construir?

Não havia respostas. Não sabia se eu conseguiria resistir.

Narração: Charlie Swan.

Era errado. E um erro dos grandes. Não podia permitir que algo acontecesse a Edward. Custasse o que fosse ele estaria em casa vivo o quanto antes. Já havia cometido erros demais na vida para aprender com eles. Já tinha sido injusto o bastante com as vidas que me cercavam e daquela vez ninguém sairia ferido… De nenhuma maneira.

Acredito que a vida nos oferece inúmeras oportunidades de nos redimirmos de nossos erros e pecados. Não acredito que só pagamos por eles quando morremos, pelo contrário, aqui fazemos e aqui pagamos. Via diante de mim uma oportunidade de me redimir com a dor que causei em Bella… que eu e Renée causamos com nosso anseio cego de que Joshua fosse um militar.

Sofremos com a perda de um filho e Bella com a do irmão. Por que deixaria que isso acontecesse agora com a família de Carlisle? E novamente com Bella? Era o momento de dizer que não: não aconteceria e que ele viveria. Era a minha chance de pagar e corrigir minhas falhas e me desculpar com o destino... se é que o destino não fosse aquele desde o princípio.

Todas as semanas eu conseguia extrair algumas informações do comando central, cobrando alguns favores e resgatando velhas amizades. Meu amigo Harry até pensou em me repreender por usar meu poder como general de exército para conseguir essas notícias privilegiadas, isso até o instante em que soube que Seth, seu filho, servia na mesma base que Edward. Ganhei um aliado e novos contatos. Estava certo de que conseguiria tirá-lo de lá antes do terceiro mês. Harry e eu buscávamos irregularidades nas convocações que Churchill havia feito, baseado nos absurdos que ele havia falado para Isabella, mas nenhuma brecha aparecia.

            Sabia muito bem que o General era um sádico e que não se importava em quantas vidas poderia perder naquela guerra, desde que ele tivesse sucesso e reconhecimento. Homens como ele não deveriam servir as forças armadas. Sua mente era fraca e possuída de cobiça. Podia ter família, esposa, filhos e amigos esperando por seus soldados, mas nada que dissessem a ele entraria naquela cabeça dura. Churchill sempre foi do tipo: matar ou morrer. E sempre, sempre mesmo, escolhia matar. Como disse, não importava quantos litros de sangue de seus soldados e civis inocentes ele teria que derrubar, tudo que ele sempre quis foi reconhecimento, status e dinheiro. Daquela vez, não era diferente.

Em meu QG, tentava falar com o comando principal em Washington, fazia mais de uma semana que não tinha notícias novas para passar para Bella. Em todas as vezes que ligava para ela, suas palavras eram mais escassas e desinteressadas. Desânimo e tristeza tingiam a pouca conversa que tínhamos. Conhecia aquele comportamento e não poderia deixar que ela caísse novamente.

Não pude segurá-la uma vez estando por perto. Conseguiria segurar agora? Penso que todos sabiam a resposta. O único que podia segurá-la era o filho da mãe do Edward… por que isso estava acontecendo, afinal?

Soquei a mesa pensando no sofrimento de Bells no instante em que o Capitão Hoffman atendeu a linha. Era ele quem vinha me deixando por dentro de tudo – um conhecido de longa data que subiu muito na carreira graças as minhas indicações.

“Charlie Swan! Como estamos essa semana?” Perguntou ele, dono de um senso de humor inigualável.

“Um pouco mais preocupado que na anterior. Tem novidades para mim Hoffman?”

“Tenho… e elas não são nada boas.” Disparou.

“O que é?”

“Primeiro: General Churchill preparou uma missão para invadir uma cidade ao norte de onde se encontram… você sabe que aquilo é o inferno certo?”

“Sei, como não havia de saber? Foi onde encontraram meu filho.” Disse sem pensar e Hoffman silenciou-se. “Então…” Continuei. “Há algo mais? Quando isso será?”

“Quando será? Hãm… até parece que não conhece Churchill! Aquele bastardo fez tudo pelas costas dos superiores daqui! Eles partiram há três dias. Reze por esses garotos, Swan. Já devem estar cara a cara com o demônio. E tem mais…”

“Diga homem! Diga de uma vez!” Pressionei.

“Soube de fonte segura que Churchill separou veteranos de novatos. O tal Cullen e o filho do Clearwater estão ao vento.”

Demorei não mais que um segundo para processar o que ele me dizia. Enrijeci em um frio mortal que se chocou contra mim. Não sabia o que pensar, nem como agir por um breve momento. Perdi meus olhos no nada de minha sala tentando me encontrar e tomar uma atitude. Por Deus, aqueles meninos estavam no escuro e não tinham a mínima idéia do que os esperava. Pousei meu olhar em um porta-retrato de Bella e Joshua quando crianças, lembrando de suas risadas marotas e infantis, e soube o que precisava fazer.

“Quantas horas para eu ter permissão de vôo?”

Narração: Bella Swan.

Caminhava pela praia de pés descalços sentindo os cascalhos e areia grossa esgueirando-se por entre meus dedos. O vento, leve e frio, fazia meus cabelos se rodopiarem ao redor de meu rosto, provocando cócegas em minha pele e nariz. A barra do vestido longo e branco que vestia pesava molhada me levando a passos difíceis, porém a sensação na planta de meus pés era deliciosa.

 Andava sozinha olhando para o céu.

Risadinhas e cochichos invadiam meus ouvidos junto com o som das ondas quebrando na praia escura e cinza. No céu não havia sol e nem azul. Apenas nuvens carregadas e gaivotas cantando em seus giros sincronizados. Ainda estava sozinha.

Seguindo uma linha reta que parecia infinita, me sentia um pouco menos melancólica. Ainda havia algo angustiante perfurando meu peito, uma saudade latente, mas não tão desesperadora. Minhas mãos abraçavam minha própria cintura. Meus pés sabiam o caminho que meus olhos faziam questão de ignorar. As gaivotas continuavam a rodar pelos céus, assim como as vozes e risos vindos de qualquer lugar que não queria descobrir.

Inspirei com força o ar frio do que parecia ser uma manhã sombria. Ardeu em minhas narinas, encheu meus pulmões, acelerou meu coração. O cheiro da maresia irritou minha garganta e ao fundo de minha barriga um chute forte, quase como uma pontada de cólica cortante, me fez parar. Meus olhos seguiram o caminho à frente.

“Edward?” Um homem… meu Ediota caminhava no horizonte em seu traje militar. Outra pontada. Olhei minha barriga presa em meu abraço.

Choque.

“Bella! Bella!” Algo suave apertou-me o ombro, me despertando devagar. “Acorde, criança!”

“Criança?!” Sentei na cama em um salto. Emmet deu um passo para trás com o telefone na mão. “Quem é criança? Onde?”

“Você! Dorme tipo um bebezinho…” Riu baixo. Bufei. “E outra, é sua mãe no telefone. Ela disse que precisa falar urgente com você!” Passei a mão no rosto e me estiquei para pegar o telefone. Emmet sentou-se na cama esparramado, esperando para ouvir a conversa. Quis dispensá-lo antes de começar a falar, mas ele nem se moveu. Não tinha problemas com sua presença de qualquer forma.

“Olá mãe, como você está?”

“Oi Bella, estou bem e você?” Nossas conversas sempre começavam de tal maneira. Impessoal, mas educadamente.

“Indo… então, você disse que tinha algo de urgente, aconteceu algo com você Renée?”

“Não, não comigo.” Ela hesitou, arrancando-me o silêncio. “É com seu pai.”

“O que houve com Charlie?” Emmet se endireitou rapidamente a minha frente ao ouvir minha preocupação. Já havia um milhão de coisas passando por minha cabeça.

“Eu não quero dar essa notícia Bella… não quero ser eu.”

“Renée…” Respirei fundo. “Apenas diga.”

“Ele partiu, partiu para onde Edward está. Charlie não disse nada, apenas avisou e saiu. Bella…?”

“Si-sim.” Respondi. O choro engasgando em minha garganta.

“Seja o que for, é grave. Ele está decidido a trazer Edward.” Respirei o mais forte e fundo que pude. Emmet pegou em minha mão e a segurou dando-me força. A primeira lágrima escorreu.

“Renée?” Ela murmurou do outro lado. “Venha para Forks. Somos uma família, precisamos estar juntas.” Ela desligou o telefone depois de um suspiro e sem resposta.

Olhei para Emmet. Uma enorme e imponente presença masculina no quarto de Edward. Seus olhos eram solidários e amigáveis. Só podia ver e sentir compaixão e sinceridade. Puxou-me em um abraço, me fazendo desmanchar em lágrimas.

“O que houve Bells? O que houve?!” Ele me apertou em seus braços.

“Primeiro Josh, então Edward e agora meu pai, todos estão indo para o mesmo lugar Emm… como faço para tê-los de volta?” Ele afagou meus cabelos como o irmão costumava fazer para me acalmar.

“Bells, como pode os querer de volta se eles jamais deixaram de estar com você?”

Narração: Edward Cullen.

A ordem era: tomem a cidade, destruam e retalhem. Mas como fazer isso em um lugar já destruído? Tirar a vida dos poucos que restavam e que se encolhiam pelos cantos implorando por algum amparo? Eu não podia. Não queria.

General Churchill entrou vila por vila, cidade por cidade em nosso caminho até o destino final com os tanques imponentes e aterrorizantes. Em todas as tomamos, rendemos e prendemos os resistentes. Em nenhuma levamos algum sossego. O tormento e dor continuavam e nada parecia fazer parar… pelo contrário. Porém, havia algo nos olhos dos que permaneciam livres ao verem rebeldes sendo presos… algo que não poderia descrever, não era nada parecido com alívio, era algo que, estranhamente, começou a fazer sentido… em mim.

Demoramos mais do que esperamos para chegar. Em uma tarde de sol escaldante, munidos até a alma, alcançamos nosso destino.

Havíamos caminhado por lugares terríveis desde que tudo aquilo começou, encontrado pessoas mortas sendo devoradas por animais, crianças desesperadas e famintas, pessoas mutiladas, infelicidade e desgraça. Mas nada era como aquilo.

Aquilo… Aquela cidade se resumia ao inferno na terra. Tudo eram ruínas. Tudo era pó. Tudo era morte. Podia sentir o cheiro de sangue no ar. Nojento, desprezível… revoltante. O lugar parecia morto à primeira vista: sem pessoas, sem animais, sem qualquer sinal de que alguém resistira às batalhas ali travadas. No entanto, os rastros de sangue pelo chão de areia e odor de um mundo inteiro queimando denunciavam que havia gente por ali. Escondidas e esgueirando-se enquanto entrávamos em silêncio, medindo nossos passos e nos preparando para o primeiro tiro.

Em uma coisa Churchill estava certo desde o princípio: uma guerra se trata de matar ou morrer. Se não matarmos, morremos. Não existe meio termo. Tomei minha decisão enquanto desviava por entre ruínas atrás de abrigo… O que veio depois da primeira bala ser disparada por minhas mãos são imagens que desejo apagar de minha memória, bem como o medo que senti, a adrenalina pulsando me levando adiante e os rostos dos homens que matei para não morrer.

Enquanto houvesse dentro de mim algo pelo que lutar, eu lutaria. Sabia que esse algo em mim era ela. Era em Bella que encontrava a razão, a verdade e a certeza de que os bons são a maioria… e que fé existe para todos a sua maneira. Podia sentir que ela ainda acreditava, mesmo que fosse no amor, ela acreditava…

Se todas aquelas pessoas, inocentes e desesperadas, que tentavam se proteger de uma guerra que não lhes pertencia, defendiam-se e lutavam pela vida, por que deveria parar de acreditar na minha própria?

Não, eu resistiria.

(***)

30 Seconds To Mars - Stranger In a Strange Land.

Corpos e mais corpos e o que já era apenas ruína, virou pó. Sabíamos que aquela era uma pequena parcela da cidade, um bairro, existia muito mais chão e muito mais “serviço” a ser feito. Alguns dos nossos haviam sido atingidos, mas por sorte nenhuma vida perdida. Sentia meu corpo e todo o resto destruído.

Eu tinha matado. Matado pessoas como se fossem baratas e agora as jogava em cantos como se fossem sacos de lixo. O que era certo e quem era aquela pessoa que habitava em mim? Eu não era aquilo e o que mais me aterrorizava era que não conseguia sentir remorso por nada. Apenas me sentia estranho. Um estranho em uma terra estranha.

“Seth, como está se sentindo?”

“Cansado.” Limitou-se a responder. Fechamos o baú do caminhão com algum armamento.

“Estou falando em relação aos homens que matamos.” Ele respirou fundo e olhou a destruição ao redor.

“Me sinto um merda, mas quando penso que pessoas inocentes acabariam morrendo pelas mãos deles, vejo que merda mesmo são eles. E você Cullen? Aterrorizado pelo estrago que fizemos aqui hoje?”

“Aterrorizado não, me sinto um pouco estranho comigo mesmo, mas não se trata de matar ou morrer? Morrer eu não posso.”

“Pelo que você luta?” Questionou.

“SOLDADOS! VAMOS VOLTAR A BASE! AMANHÃ O DIA COMEÇA CEDO. 2 MINUTOS PARA JUNTAR TODA ESSA TRALHA!” O major que nos acompanhou naquele dia gritava ordens, para nos agitarmos dali. Já caia a noite e não era seguro permanecer.

“Aqui? Nenhuma razão em particular ou brava. Não é porque gosto, não é porque sou patriota e nem muito menos porque quero ser herói, luto apenas para sobreviver e voltar para casa.” Entramos no caminhão e Seth ligou os faróis.

“De todos do batalhão, penso que você é a pessoa com mais talento militar e mais infeliz.” Disse em resposta. Esperávamos a ordem para partir definitivamente.

            “Talento? Vai se ferrar! Tudo que menos quero é continuar nessa porra de exército depois que essa besteira acabar! Não é a vida que quero, nada disso me motiva ou me engrandece de alguma maneira. É só desgraça e violência!” A voz grossa de nosso superior deu a ordem para partimos. “Porra! Eu tenho uma noiva que amo e perdeu o irmão em uma guerra, por que eu ficaria feliz de estar em uma?!”

Seth acelerou. Olhei para o caminho à frente, já escuro e iluminado apenas pelos faróis baixos. Lembrei de Bella e de como seria estar com ela essa noite. Me sentiria muito mais… eu, pelo menos.

“Cara você precisa relaxar! Eu sempre vou te cobrir!” Ele ajeitava o toca CD obsoleto do caminhão. Um olho na rua e outro no som. “Você não tem todo o treinamento que tenho, e te garanto que vou te deixar seg…”

“SETH CUIDADO!” Algo se jogou a nossa frente dando tempo apenas de Clearwater frear e derrapar no chão de areia.

“O que? O que é?!”

“Algo ali na frente! Simplesmente… apareceu!” Ele se inclinou para frente e eu fiz o mesmo.

“Cara, deve ser um cachorro! Olha o tamanho! É pequeno!”

“Pode não ser um cachorro! Vou o que é ver Clearwater!” Os outros soldados começavam a ficar inquietos na fila que se estendia atrás de nós.

            “Rápido Cullen.” Saí do carro com a automática pronta para disparar. “Estou cuidando.” Ele garantiu. Caminhei rápido e silencioso e quando vi o que era enregelei por dentro.

            “SETH! É UM BEBÊ! É UMA CRIANÇA!” Alertei a ele que logo acendeu a luz alta do veículo quase me cegando e fazendo a criança chorar. Atrás de nós, mais alguns soldados se colocaram para fora dos veículos.

“De onde você veio criança?” Sussurrei chegando perto, e com cuidado desenrolei o pano que o cobria para ver se não havia nenhum explosivo nele. Cruel, eu sei, mas ali a vida de um inocente não valia nada. A criança estava ensangüentada e ainda tinha o cordão umbilical. Um recém nascido.

Seth chegou pedindo silêncio e apontando para seu ouvido como se ouvisse algo. Fiquei atento por alguns segundos até identificar que de trás de algum daqueles muros semi destruídos e escuros vinha um choro abafado e sussurros que não compreendia nada. Sinalizamos aos outros e nos esgueiramos ao caminho dos sons, iluminando nossa vista com uma lanterna.

Atrás de uma mureta o choro pareceu mais vivo e os sussurros mais desesperados no que me parecia um pedido para que a pessoa parasse de chorar. Paramos de andar e ouvimos; junto com o choro, gemidos de dor. Algo estava errado.

Sem pensar corri para de trás do muro, seguido por Seth, para me deparar com um homem com uma arma grudada na cabeça da mulher que devia ser a mãe do bebê. O homem a levantou pelo pescoço e gritou coisas incompreensíveis apontando a arma para todos os lados, até que pousou a arma novamente na cabeça da mulher que chorava desesperada entre gritos e súplicas, ao que parecia.

Fixei meus olhos e mira na arma em sua mão. Em minhas costas Seth iluminava os dois. O homem gritou qualquer coisa e quis forçar o gatilho. Fui mais rápido, ele caiu imediatamente.

A mulher correu, se arrastando pelo chão e chorou aos meus pés. Não entendia nada do que ela falava, porém quando o Soldado Mathews apareceu com a criança, soube perfeitamente o que ela dizia: Obrigado.

Narração: Bella Swan.

Não iria me levantar naquela manhã. Não havia nada que me motivasse a isso. Já haviam se passado dois meses da partida de Edward, e desde que meu pai resolvera ir atrás dele, as únicas notícias que tinha eram vindas de noticiários nacionais. Quando vinham.

Estava solitária e infeliz. Em minha mente os pensamentos já não eram mais tão otimistas. Desejava toda noite que quando acordasse veria que tudo aquilo não passava de um pesadelo, porém isso nunca acontecia. Era sempre uma nova manhã solitária e fria. Vazia, triste e repleta de dor.

Esme insistia que eu tinha que comer, mas ultimamente tudo que comia parecia que meu corpo rejeitava. Nem fome sentia, e os cheiros que vinham da cozinha de casa não me pareciam mais tão deliciosos como eram antes. Eram nojentos agora.

Me perguntava se não era porque queria que fosse Edward a cozinhar. Improvável, já que sempre que lembrava de qualquer comida, mesmo feita por ele, queria enfiar minha cara em um vaso e por meu estômago pra fora se necessário. Queria por tudo para fora, inclusive meu coração, para quem sabe parar de sentir tanta saudade dele.

Meus medos apenas aumentavam. Semana após semana, esperava por suas cartas que nunca vinham e depois de algum tempo comecei a esperar a vinda de algum mensageiro das forças armadas. Assim como fora com Joshua.

Estava entorpecida, não sentia nada além de saudade e angústia. Podia lembrar-me de todos os momentos felizes que tivemos e ainda assim, mesmo com toda a força de nossas alegrias, não conseguia achar razões para sorrir. Meu mundo tinha sido arrancado de meus dedos e a cada metro que me distanciavam dele, um pouco de vida e ar eram sugados de mim.

            Não tinha mais coragem de ler as palavras de Edward, elas já não me davam esperança ou fé. Elas feriam e cortavam… zombavam com a minha cara pelo fato de que era feliz e que nada que eu fizesse de agora em diante poderia me fazer tão feliz como antes.

            Não levantaria daquela cama tão cedo. Ainda conseguia sentir um resquício do perfume dele nos lençóis. Me afundaria nas lembranças e ficaria sozinha com minha miséria de sentimentos. Tentando achar um motivo para sorrir… como Ediota queria. Rolei na cama de olhos e fechados e suspirei.

            “Bom dia, Edward!” Fiz o de costume, querendo ouvir sua resposta.

            “Olha, não sou o Edward, mas sou um bom amigo.” Saltei na cama assustada.

            “Emmet? O que você está fazendo aqui?”

            “Bom dia! Vim te fazer engolir isso.” Ele apontou para a bandeja com suco de laranja, pão integral com cereais, creme de avelã e queijo. Fiz cara de nojo e me joguei nos travesseiros.

            “Não quero comer.” Resmunguei.

            “Você continua chorando não é?” Desconversou.

            “Como se fosse novidade.”

            “Novidade é que você já matou o Edward pelo visto.” Lhe fitei querendo o matar.

            “Não diga isso.”

            “O que quer que eu diga? Você tem vegetado aqui dentro desse quarto como uma viúva amargurada. Nem Alice você deixa entrar! Amber acha que está braba com ela sabia?” Balancei a cabeça.

“Ele me pediu um noivado na Califórnia sabia? Nós íamos nos casar.”

“VOCÊS VÃO SE CASAR! Mas para isso você precisa estar viva noivinha! E para estar viva tem que comer!” Esperou qualquer resposta minha e continuou. “Bebelildis, Esme acha que você vai ficar anêmica, e eu acho que magra demais para o gosto do Eddie quando ele voltar.” Sentei-me novamente. “Você sabe que ele gosta de ter onde pegar.” Brincou me arrancando um sorriso. “Coma Bella, você precisa disso e nós estamos aqui ok? Não está sozinha nessa.” Olhei para a comida.

            “Essa combinação toda vai me dar dor de barriga, isso sim!”

            “Coma o pão e o queijo pelo menos! Carboidrato e proteína! O bastante para se manter em pé!” Incentivou. “Mas o suco está uma delícia! Se quiser te deixo sozinha para comer.”

            “Não, fique comigo. Gosto de ver um homem dentro desse quarto, não me sinto tão estranha sozinha aqui.” Disse sincera. Ele sorriu.

            “Ótimo! Agora come tudo!”

            Estava faminta! Comi todas as fatias de pão em minutos e ainda pedi mais. Ignorei o queijo na primeira mordida, ele parecia uma pasta azeda em minha boca. O suco estava ótimo, mas logo me pareceu pesado, porém o pão e o creme de avelãs… mmm! Esses estavam perfeitos!

            “Obrigada Emm. Tudo estava ótimo!”

            “Uhum, é por isso que tem um copo de suco cheio e mais da metade de um queijo bem gostoso na bandeja ainda?” Pressionou.

            “Você vai me obrigar a comer isso não é? Emm foi lindo tudo isso que você fez, mas me desculpa, não consegui engolir esse queijo e o suco está… estranho!” Ele estreitou os olhos.

            “Não vai comer mesmo?” Neguei com a cabeça. “Ok! Não conta pra mamãe, mas eu vou devorar esse queijo todo!” Ele pegou os pedaços e jogou todos para dentro, se entupindo de queijo.

Mastigava de forma hilária, pois não conseguia fechar a boca com tanta comida, porém ver aquele queijo rodando e ele saboreando me fizeram sentir o gosto pastoso em minha língua. Comecei a salivar e meu estômago protestou. Quando Emm engoliu a primeira remessa, tudo voltou. Corri para o banheiro e mal tive tempo de me apoiar.

Foi rápido para Emmet chegar e me amparar. Quando terminei de jogar tudo para fora ele ajudou a me limpar e me acalmar. Meu corpo inteiro tremia. Só queria minha cama. Se possível ficar sozinha e odiar minha existência por ter de passar por aquilo. Irritei-me com minha fraqueza e vi que não era tão forte como Edward sempre me fez acreditar. Emmet tentou me ajudar a voltar para o quarto, abraçando-me pela cintura.

“Não quero sua ajuda! Não quero ninguém ao meu redor!” O empurrei para longe, caminhando em direção a porta. Nem mais no quarto queria ficar. Queria sumir e viver minha infelicidade longe da piedade de todos.

“Você não está bem! Bella volta aqui! Edward pediu para eu cuidar de você e é isso que estou fazendo!” Parei no meio do corredor me virando para ele rápido.

“Edward o quê?!”

“Ele pediu para que estivesse com você nos seus piores momentos e que fizesse, ou pelo menos tentasse, que as coisas fossem melhores para você! Ele não quer todo esse sofrimento, imagina te encontrar doente quando voltar!”

“Que se dane! Não estou doente, estou... com saudade!”

“DANE-SE VOCÊ ISABELLA!” Ele jogou a toalha que usou para ajudar a me limpar na minha cara. “Você está tão doente quanto um paciente terminal! Além de já estar sepultando Edward, está se matando mais uma vez! Só você não vê!”

Não soube o que dizer. Era a segunda vez em poucos minutos que ele dizia que estava matando Edward. Meu coração reagia com uma negação ciente de que a minha falta de persistência e vontade o matava lentamente. Não estava sendo o que Edward precisava. Não estava sendo o que ele queria. Uma lágrima escorreu caindo direto no chão.

“Sabe o que é pior Emmet?” Ele esperou. “Eu nunca senti que ele voltaria, e talvez por isso não esteja lutando tanto quanto lutei por Joshua. Eu o amo menos por isso?”

“Bella, não é assim…”

Minha cabeça pesou para frente e tive de segurá-la. Parecia que o mundo rodava sobre meus pés, quando ergui meus olhos Emmet vinha em minha direção, o vi apenas por um segundo antes de tudo escurecer ao meu redor.

(***)

Conhecia o cheiro e reconhecia o som dos pingos que gotejavam perto de mim, só não queria abrir os olhos para mais uma realidade que rejeitava. Como queria Edward ali para apertar a minha mão e dizer que tudo ficaria bem e mais, para me fazer acreditar em suas palavras.

Respirei fundo quando lembrei que ele não estava lá. O cheiro de álcool penetrou em minhas narinas só para confirmar que não tinha a quem me apegar para facilitar os sermões que viriam sobre como cuidava de mim mesma. Rolei os olhos lutando para voltar à letargia em que me encontrava. Queria dar meia volta e ir direto para minha infância e lá ficar, tudo era muito mais fácil e nada doía. Principalmente meu coração. No entanto, como se meus olhos tivessem vida própria eles se abriram sem meu consentimento, dando de cara com Carlisle ao pé de minha cama.

Estava em um hospital, recebendo soro na veia, tendo meus batimentos mais uma vez monitorados, sentindo a piedade alheia estampada nos olhos de quem me fitava. Suspirei quando eles trocaram aquele tipo de olhar, quando as pessoas hesitam em soltar uma bomba em seu colo com 3 segundos para explodir.

Rod Stewart - Sailing

“Chegaram notícias de Edward?” Perguntei, fosse o que fosse queria saber o que era de uma vez. Esme se sentou e pegou em minha mão. Tão triste quanto eu devido à falta de novidades sobre seu filho. Eu estava sendo muito egoísta de não ter notado o quanto ela sofria antes?

“Não meu bem, ainda não. Mas em breve teremos.” Ela sorriu. “Temos que conversar querida. É muito importante. Carlisle?!” Ele deu um passo em minha direção.

“Como se sente Bella?”

“Um pouco tonta ainda, mas bem. Sobre o que temos que conversar?!” Eles se olharam novamente. “Vocês poderiam parar com isso? Ficar se olhando dessa maneira, tão cúmplices, tão um do outro, tão receosos, tão, tão… gáh! Isso me deixa mais nervosa ainda!” Se espantaram, porém Esme deixou escapar uma risadinha. O que estava acontecendo ali afinal?

“Nos desculpe Bella, não devemos protelar esse assunto mesmo. Bem, você lembra por que está aqui?” Carlisle testava-me.

“Até onde eu lembro desmaiei no corredor quando discutia com Emmet.”

“Certo… e antes?”

“Antes? Eu coloquei o café da manhã todo para fora! Quando não tenho fome não gosto de forçar! Odeio isso!” Ambos ouviam atentamente com cara de quem está pensando que tinham me avisado sobre a alimentação e o que eu fazia era errado. “Olha, sei que estou comendo pouco, mas eu não consigo! Vou tentar corrigir isso ok?!”

“Ok, e é bom que corrija mesmo Bella. Fizemos alguns exames de sangue enquanto você dormia e descobrimos que está com uma anemia profunda… talvez conseqüência da má alimentação que tiveram na Califórnia, seguido por seu psicológico que está muito fragilizado, e da decorrente falta dos nutrientes básicos que seu corpo precisa nos últimos dois meses.”

“Bom, me dêem as vitaminas e está tudo resolvido. Que horas posso sair daqui?”

“Ainda não acabou Bella.” Disse minha sogra.

“O que? Tem mais?” Eles concordaram com a cabeça. “Bom, digam logo então.”

“Como disse é uma anemia profunda, difícil ser revertida tão rapidamente como você precisaria…”

“Como eu precisaria? Como assim?” Meu coração acelerou e minhas mãos começaram a suar frio tão rápido quanto um pensamento.

“Fizemos todos os exames necessários para descobrir o motivo do desmaio e da anemia e para sabermos quais remédios você poderia receber.”

            “Carlisle…” Pedi quase implorando. Segurei o ar e fechei os olhos.

            “Bella… ainda faltam alguns exames, mas há uma grande possibilidade de você estar grávida.” Soltei o ar e abri os olhos.

5,3%. Edward sempre soube.

Continua…


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Notas finais do capítulo

N/a: Meus únicos pedidos de sempre: comentem, comentem, comentem! Amo voces e obrigada por tudo!!! Fiquem com a Beta Mari!!!


... ... ... Todas choca com a Bella grávida! Ainnn coisa mais delícia, gente! Os 5,3% maaaaais especiais de todo o mundo! Imaginem só a barriguinha crescendo semana após semana... o Edward todo bobo paparicando ela e fazendo carinhos e conversando com a barriga... os desejos mais loucos que só uma grávida pode ter... as roupinhas tão miudinhas e lindas... Ok! Parei! É só um tema que me causa muitos sentimentos e emoções! Rs Por isso mesmo não vou me estender nesse assunto... Minha singela nota hoje será dedicada ao Emmet... Existe coisa mais linda e querida que ele?! As meninas são uma graça, fazem mil e um programas e arrastam a Bella pra poder dar uma animada na bichinha... mas N A D A se compara ao Emmet! Ele sabe ser palhaço, amigo, confidente, um ombro pra você chorar e desabafar... É aquela presença masculina mesmo! e que presença meu Deus! Na falta de um Edward pode me mandar um Emmet que fica tudo certo também, ok?! Pois bem, é isso! Quero taaaanto saber o que vem pela frente! Tá que a fic está próxima ao fim e isso me machuca por dentro... drama! Mas minha curiosidade e minha torcida pra um final lindo e feliz são muito maiores! Beijos coisas lindas, amo vocês! E como sempre, é sempre um imenso prazer!