A prometida do rei escrita por Vindalf


Capítulo 5
Capítulo 5




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No dia seguinte, logo depois da sessão de treinamento com Dwalin, Bena agarrou um livro e um pouco de coragem. Ela planejava ir até o terraço do rei. Como era em plena tarde, era muito improvável que Thorin estivesse lá.

Então ela subiu as escadas, ainda inquieta. Mas quando seus olhos capturaram a paisagem deslumbrante, ela se sentiu tão feliz que esqueceu todos os pensamentos sobre o rei ranzinza.

Era um dia frio, claro, límpido. Não havia sinal de brisa no ar, o que era bom. Ela viu Dale, e o lago, mais adiante, sob o céu azulado.

O sol estava fraco, e o calor fraco chegou às faces de Bena como um beijo lento e suave. Ela fechou os olhos, rosto voltado para o sol.

Uma voz surgiu em pleno ar.

— Então você veio afinal.

A voz profunda do rei de Erebor pegou Bena totalmente de surpresa, e ela soltou um grito, ameaçando perder o equilíbrio e precipitar-se do alto da montanha.

— Oh!!

Mãos fortes agarraram seus braços e a puxaram com firmeza, e Bena sentiu seu corpo conectar-se com a massa sólida que era o peito do Rei Thorin, e a voz grave ressoou perto dela:

— Peguei você.

Tudo aconteceu em apenas um momento, rápido demais, e Bena ouviu a voz que era calma e tranquilizadora, mas seu coração estava acelerado pelo medo de cair, e ela percebeu que estava totalmente nas mãos dele, sem fôlego.

— Eu sinto muito — ele se desculpou. — Não tive nenhuma intenção de assustá-la.

Bena corou:

— Desculpe, eu estava distraída.

— Isso ficou óbvio. — Ele sorria para ela, e os olhos azuis pareciam faiscar mesmo à fraca luz do sol. — Você está bem agora?

Ela evitou olhar diretamente nos olhos dele e respondeu:

— Sim, er, sim, estou bem agora. Obrigada.

O rei ainda estava segurando Bena, por mais tempo que ela esperava, e ela ergueu os olhos, vendo-se a apenas centímetros de seu rosto, os olhos mais azuis que o céu. Alguma coisa dentro dela achou aquilo meio constrangedor mas ainda assim tão certo. Mas a parte constrangedora deve ter aparecido, porque o Rei Thorin pareceu repentinamente ter se dado conta da situação e soltou Bena, um tanto envergonhado.

Ele confessou:

— Tive medo de tê-la afastado do meu terraço.

— Afastado? Por quê?

— Você não apareceu mais desde que nos encontramos, mesmo depois de eu ter lhe dado permissão. Achei que você podia estar com raiva de mim. Se for este o caso, por favor perdoe-me. Nunca tive intenção de magoá-la.

Bena admitiu estar um pouco magoada. Por isso perguntou:

— Por que não me disse que era o rei quando nos conhecemos?

— Eu ia dizer quem eu era, mas você saiu com tanta pressa que não tive chance. Mas o maior motivo era que era uma oportunidade de ouro de saber uma opinião a meu respeito, e não pude resistir.

— Não pôde resistir? Como assim? Não entendi.

— Não tenho muitas oportunidades de ouvir opiniões sinceras e honestas a meu respeito. Por ser rei, as pessoas tendem a amenizar todas as minhas falhas. O povo teme a ira dos reis, então eles preferem suavizar tais inadequações. E você usou uma palavra… temperamental, certo?

Bena ficou vermelha feito um pimentão, e chegou a gaguejar:

— Oh... P-por favor, M-Majestade, eu n-não quis…

O Rei Thorin a interrompeu:

— Você não precise se desculpar, por não fez nada de errado.

— Mas eu posso tê-lo ofendido, mesmo sem ter intenção de fazer isso.

— Diga-me sinceramente: se eu tivesse lhe dito minha verdadeira identidade, teria falado comigo da mesma maneira, ou usado essa mesma palavra?

Ela admitiu:

— Bem... Não.

— Viu? Além do mais, eu não me ofendi. Na verdade, eu… bem, você disse que se preocupava com meus sentimentos. Achei suas palavras muito gentis.

Ela ficou ainda mais corada. O rei observou:

— Seu tio criou-a bem.

— Tive sorte de ter sido criada por Tio Bilbo.

— Calculo que você fosse uma criança, porque ele me disse que você era um bebê quando seus país morreram.

— É verdade, mas ele não me abrigou quando eu era um bebê. Fui para uma tia, irmã de meu pai. Ela era minha única parente direta; não havia ninguém mais que pudesse me acolher. Ela era uma velha solteirona que não gostava de crianças, por isso me tratava muito mal.

— É mesmo?

— Eu não tinha permissão de fazer todas as oito refeições normais de um hobbit, e também não podia dizer para ninguém. Ela dizia que eu tinha roupas e comida, então não podia reclamar por fazer tarefas. Eu não sabia que as tarefas eram na verdade trabalho pesado. Tio Bilbo teve que explicar essas coisas para mim.

Bena tentou evitar as lágrimas, mas ela sempre chorava de tanta gratidão pela bondade de Bilbo com uma pobre órfã.

— Então Bilbo a salvou da bruxa? Tirou você dela?

Agora os dois estavam sentados nas pedras, e o livro de Bena estava totalmente esquecido quando ela respondeu:

— Oh, não, ela morreu. Eu ainda era uma garotinha, sem um parente que cuidasse de mim. O pai de Bilbo era um primo distante do meu pai, assim somos primos. Ele foi o único que me aceitou. Então ele me acolheu, e me ensinou a amar livros e aventuras, mas jamais sonhei que eu iria viajar de verdade para longe do Shire e ver tantas coisas inacreditáveis!...

O sorriso do rei agora parecia permanente em seu rosto, e Bena decidiu que ela gostava disso. Ele observou:

— Fico feliz que esteja gostando de sua estada em Erebor.

— Talvez eu possa vir algum dia.

— Vir?

— Depois de seu casamento com Lobélia — esclareceu Bena. — Talvez eu possa vir com meu tio.

O sorriso dele caiu.

— Sim, é claro. Depois... do casamento.

Bena notou a hesitação no rei. Será que ele estava reconsiderando o casamento? Normalmente, ela perguntaria exatamente isso. Contudo, pela primeira vez, ela se sentia à vontade com ele, então decidiu não estragar o clima. Bena comentou:

— E Kíli e Fíli são tão simpáticos comigo que fico com medo de estar atrapalhando os deveres dos dois.

Thorin comentou:

— Dwalin diz que você começa a ter progresso de verdade com a espada.

— É mesmo? — Ela estava surpresa. — Quanta gentileza. Eu tinha esperança de que Lobélia se interessaria em treinar também, já que é tão importante em sua cultura.

— Ela não é obrigada. Contudo, nos velhos tempos, se alguém se opusesse a ela como minha noiva, ela poderia chamar e defender-se num duelo.

Os olhos de Bena ficaram arregalados:

— Um duelo? Entre um homem e uma mulher? Isso é justo?

Ele sorriu, garantindo:

— Claro que sim. Lembre-se que mulheres do meu povo são treinadas para lutar desde a infância. Não pense que eu teria facilidade em derrotar minha irmã.

— Lady Dís é fantástica! — exclamou Bena com admiração, e Rei Thorin pareceu surpreso. A garota enrubesceu. — Bom, é o que eu acho. Não só ela é elegante e feminina, mas também é feroz e valente. Todas as mulheres deveriam ser como ela.

Ele riu baixinho. — Direi isso a ela. Tenho certeza de que ela ficará encantada. Por que você não a convida para treiná-la em combate, só entre garotas?

— Sim! Quem sabe assim podemos convencer Lobélia a se juntar a nós.

Ele disse vagamente:

— Sim... Talvez.

Ambos se sentaram em silêncio confortável, olhando o Sol mover-se lentamente rumo ao oeste. Havia calma, mas Bena percebeu que o rei estava perdido em pensamentos, e a julgar por seu rosto, eles não eram prazerosos. Ela quebrou o silêncio de maneira desajeitada:

— Acho que pode nevar mais tarde.

— É... — De repente o Rei Thorin mudou de postura e voltou a ser o monarca sério de sempre. — Devo retornar aos meus deveres. Por favor, fique o quanto quiser, mas tenha cuidado: a murada é traiçoeira durante a neve.

— Terei. — Bena sorriu para o rei, e ele retribuiu. — Gostei de falar com o senhor, foi muito agradável.

Ele parecia contente, e sua voz soou mais profunda:

— O prazer foi meu.

— Muito obrigada por tudo... Majestade.

De repente, o rosto dele se fechou rapidamente, e ele assentiu de modo rígido antes de dizer:

— Bem, tenha um bom dia, senhorita.

Com um grunhido, ele se virou, girando o longo casaco de peles e saiu rapidamente. Ele pareceu tão aborrecido que Bena ficou se perguntando o que ela fizera de errado desta vez.

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Chamada pelo irmão, Lady Dís convidou Lobélia e Bena para um treinamento amistoso exclusivo para mulheres. Lobélia preferiu não lutar, mas assistiu aos esforços da prima a partir da audiência, ao lado de Kíli, Fíli e Dwalin. Todos eles pareciam estar se divertindo a valer - exceto Dwalin, como sempre.

Bena descobriu que o rei não exagerara sobre os talentos da irmã em combate. Embora não se mostrasse tão vigorosa como fora com Thorin, Lady Dís deu a Bena um exercício e tanto. A admiração da garota só cresceu, para divertimento dos príncipes.

Após o treino, a senhora anunciou um jantar formal com os cidadãos mais graduados de todo o reino. Assim que as moças voltaram aos seus aposentos para se refrescar, Lobélia parecia animada:

— Sabem, eu acho que esse jantar será importante.

Bilbo confirmou:

— Tem razão, Lobélia. Rei Thorin vai fazer o anúncio oficial da corte.

Ela deu um gritinho agudo de tanta felicidade:

— Eu serei uma rainha! Finalmente, as honras que mereço!

Bena indagou:

— Isso é verdade, tio? Mas eles só se encontraram três vezes!

Bilbo disse:

— Aparentemente, a corte na cultura dos anões tem regras diferentes. Eu ainda sou seu chaperone. O casal não tem permissão para se ver sem supervisão, mas a partir daí começa a tradicional troca de oferendas. Ou presentes.

Bena estava curiosas:

— O que são essas oferendas?

— Não estou certo — disse Bilbo. — Talvez possamos perguntar a Lady Dís sobre cortes tradicionais anãs. Devemos obedecer às tradições deles, afinal.

Bena indagou:

— Por quê? Lobélia é hobbit. Por que não pode ser uma corte hobbit?

— Bena — Bilbo explicou pacientemente —, Thorin é um descendente direto de Durin, considerado pai de toda a sua raça. Seria uma desvantagem política não seguir rigidamente a tradição. Espera-se que Lobélia seja a esposa perfeita, ou vai repercutir mal no reinado de Thorin.

Lobélia empalideceu um pouco, mas ela assentiu nervosamente. Bena tentou amenizar o clima:

— Lobélia, prima, você é a pessoa perfeita para o trabalho: política é tão complicado!

— Sim, é mesmo — ela disse baixinho. — Como uma linda gaiola dourada.

Bilbo incentivou:

— Verbena, por favor, vá ajudar sua prima. Lobélia precisa estar impecável para esta festa.

— É claro, titio.

Nesse momento, houve uma batida à porta e Bilbo atendeu. Ele voltou com um pacote grande. Ele abriu e viu um pacote menor, endereçado a Lobélia.

— É para você: presente de Thorin.

Ela deu um gritinho e leu o pequeno cartão que acompanhava o pacotinho:

— "Para Lobélia, um presente que espero ser o primeiro de muitos - Thorin Oakenshield."

Era uma flor. Na verdade, uma flor de metal, esculpida numa material que nenhum dos três hobbits soube identificar. As pétalas eram feitas de pedras vermelhas e as folhas foram formadas de pedras verdes muito escuras, tudo graças à espantosa habilidade pelas quais os anões eram conhecidos. Era uma peça hipnotizante e Bena admirou-a com espanto, até que Bilbo disse:

— Oh, eu ganhei um novo lenço, maravilhoso! Tem uma coisa aqui para você também, Bena.

— Para mim? — Ela estava surpresa. — O que é?

— Bem, abra e vai saber!

Um pequeno cartão dizia apenas "Thorin Oakenshield", e o pacote continha uma lata simples de metal. Ela abriu e se maravilhou com o aroma forte de chá e especiarias, incluindo um pouco de cardamomo. Ela reconheceu o chá: era do mesmo tipo que ela gostara tanto no mercado, mas não pudera comprar porque o vendedor tinha vendido tudo.

Como Sua Majestade poderia saber? Como ele poderia ter conseguido?

— Isso é tão atencioso — disse Bilbo, mostrando seu novo lenço. — Presentes não só para a sua prometida, mas também para a família. Não é, meninas?

Bena olhou para o cartãozinho com apenas duas palavras em suas mãos e retrucou de modo distraído:

— Sim, titio... Muito atencioso.

Lobélia a chamou, de maneira animada:

— Vamos, prima! Ajude-me a ficar pronta! Quero ficar estonteante para esta festa com a realeza!


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Notas finais do capítulo

A seguir: A festa de noivado



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