Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 7
Praticando novas atividades.




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Eu passei o final de semana inteiro mergulhada nos estudos. Mas deixei um aviso em todas as minhas redes sociais para explicar a minha ausência aos meus seguidores. Fora isso, eu não gravei vídeos, não atualizei o blog ou o canal e ignorei todas as mensagens do Kevin. Eu precisava desse tempo para mim. Ou eu estaria muito ferrada.

Lucas me ajudou na maior parte do tempo. Com ele eu me sentia confiante. Mas quando ele saia de perto para resolver suas próprias coisas e me deixava sozinha rodeada de anotações e livros, eu sabia que me ferraria de qualquer jeito. Pois na hora da prova eu não me lembraria de nada.

As provas sempre começavam no segundo período. Então eu aproveitada para chegar mais cedo na faculdade e ia direto para a biblioteca reforçar meus estudos e tirar algumas dúvidas nas matérias que tinha mais dificuldade.

A semana de provas já estava quase chegando ao fim e eu já estava muito perto de arrancar meus próprios cabelos com as minhas próprias mãos. Eu me sentia muito sobrecarregada com todo o esforço que estava fazendo. Durante as provas eu tentava relaxar e ler tudo com atenção, mas em casa eu explodia com qualquer coisinha.

− Semana difícil? – Alguém perguntou, sentando-se ao meu lado no campus da faculdade. Eu estava sentada na sombra, perto de uma arvore, longe de tudo e todos.

Era o último dia de prova. Finalmente!

Tirei meus olhos do livro que eu estava lendo e vi que quem estava ali era nada mais nada menos que o Yuri.

Mesmo sentado ele ainda era muito alto e eu precisava erguer os olhos em sua direção para vê-lo melhor.

− Você parece estressada. – Ele observou, como se isso não fosse obvio para todo mundo. Eu me sentia péssima! – Quer um conselho? Eu acho que você deveria praticar algum exercício. Descarregar essa energia em alguma coisa.

Lá vem ele com esse papo de professor de Educação Física.

Logo para mim, que sempre fui a pessoa mais sedentária do universo. Tenho preguiça só de pensar.

− Porque você não passa na academia e procura algo que lhe interessa? A academia fica na rua de trás do prédio e lá tem uma programação interessante para todos os gostos e tipos de pessoas: danças, musculação, lutas...

− Vou pensar a respeito.

− Pensa com carinho. Eu acho que vai te fazer muito bem. Mas não é como se a minha opinião fosse válida.

Ele estava sorrindo torto e pela primeira vez me dei conta do quanto ele era atraente.

− De qualquer forma, obrigada pelo conselho.

− Sério?

Eu assenti.

− Sim.

Eu realmente falava sério.

Tinha pensando muito sobre isso e estava disposta a lhe dar uma chance. Talvez ele não fosse tão chato quanto aparentava. Talvez esse só fosse o jeito dele.

− Vou te deixar em paz. – Ele levantou-se. – Bons estudos e.... Boa prova para você.

− Obrigada.

Tinha sido uma semana muito difícil e sobrecarregada, mas tinha chegado ao fim. Eu não fazia ideia de como tinha me saído nas provas. Mas esperava que todo o esforço tivesse valido a pena. Eu precisava de boas notas.

Como o Lucas tinha ido direto para o trabalho depois da prova, eu almocei sozinha aquela tarde. A TV estava ligada, mas eu não estava prestando atenção em nada. Estava distraída, pensando no que o Yuri disse mais cedo.

Ele tinha razão. Eu precisava descarregar esse peso das minhas costas em alguma coisa. E precisava também fazer algo novo na minha vida. Algo que fizesse bem a minha saúde.

Terminei de comer e resolvi dar uma passadinha rápida na academia e ver se tinha alguma coisa que me atraia.

De cara vi o pessoal malhando e mentalmente me perguntei onde é eles arrumavam tanta força de vontade.

− Oi, posso ajudar em alguma coisa? – Olhei para a frente e lá estava a minha nova vizinha e pelo jeito ela trabalhava ali. Ela usava uma camiseta vermelha com o nome da academia, calça legging preta e tênis esportivo.

− Oi. Lembra de mim? Eu sou a Manuela.

− Ah, claro que eu lembro. – Ela abriu um sorriso. – Você é a garota que trabalha aos finais de semana. Olha, eu sinto muito. Nós somos novos no prédio e não sabíamos que não podíamos dar uma festa. Não vai acontecer de novo.

− Sem problemas. – Eu sorri também, me sentindo estranhamente tímida. – Então.... Você trabalha aqui?

− Sim! De segunda a sexta. E o que te traz aqui?

− Na verdade, eu queria conhecer melhor o espaço e quem sabe me interessar por alguma atividade.

− E o que você tem em mente? Porque você não precisa emagrecer. Já é tão magrinha! Talvez queira pegar definir o corpo? Ou foi recomendação do seu médico? Você não está com algum problema de saúde ou está?

− Não, não. Não é nada disso. Eu só achei que seria bom fazer alguma coisa produtiva. Deixar a preguiça de lado.

− Isso é ótimo! – Ela me puxou pelo braço. – Então, vem comigo. Eu vou te mostrar tudo. Vamos fazer um tour!

Eu ainda não sabia o seu nome. Mas de cara já tinha gostado muito dela. Ela era muito bonita. Tinha um corpo fantástico que faz qualquer homem babar e parece muito animada e divertida. O que tipo de pessoa que qualquer um gosta de ter por perto.

− Eu acho que você poderia fazer alguma luta. Talvez boxe, o que você acha? – Ela me perguntou, quando paramos em frente a sala envidraçada. Onde o professor já estava treinando seus alunos. Sendo a maioria mulheres.

− Uma nova turma vai se iniciar segunda-feira. As aulas acontecem duas vezes por semana as duas da tarde. Você escolhe os dias de acordo com sua preferência. E cada treino tem duração de uma hora e meia. Nós temos dois professores incríveis. Tenho certeza que você iria gostar muito!

Nem pensei muito a respeito, pois pelo pouco que eu tinha visto, eu já tinha gostado muito. O professor parecia bastante profissional e as mulheres bem animadas.

Se elas podiam, porque eu não?

− A propósito, eu me chamo Helena, mas pode me chamar de Lena, assim como todo mundo. – Ela sorriu, atrás da bancada – Então, vamos fazer sua inscrição agora?

O procedimento todo não durou nem vinte minutos. O mais demorado mesmo foi a avaliação médica. Por fim, eu estava liberada para começar na segunda-feira. Helena me deu a chave do armário e o meu novo crachá que me daria o acesso de entrar na academia todos as vezes.

Em casa, fiz uma pesquisa rápida, sobre o tipo de roupa que eu teria que usar nos meus treinos. Como eu não estava familiarizada com aquilo eu não tinha muita noção. Mas logo percebi que eu tinha tudo que precisaria em casa: roupas leves, confortáveis e um bom tênis esportivo.

O qual eu não usava nunca.

Resolvi gravar um vídeo para o canal para contar a novidade aos leitores sobre a nova rotina que eu tinha acabado de adotar para a minha vida. E prometi a eles que sempre faria um vídeo contato a eles como estava sendo esse processo, o que eu estava achando, o que tinha mudado.

Quando o Lucas chegou em casa no final da tarde, eu contei tudo a ele. Lucas ficou feliz por mim. Ele tinha certeza que isso me faria muito bem, pois ele estava começando a se preocupar comigo e com toda minha sobrecarga.

Mais tarde, depois do jantar, liguei para casa para falar com o meu pai e com a minha mãe. Sim, eu considerava a Sara como uma mãe e ela me considerava uma filha. Não poderia ser diferente se nos tornamos tão próximas.

Kevin apareceu para me ver logo depois do café da manhã no sábado. Ele estava preocupado comigo, por não obter retornado suas ligações e nem respondido suas mensagens. Então expliquei para ele o que tinha acontecido.

Depois ele acabou me convencendo a passar o dia com ele. Nós fomos ao cinema, depois ficamos no seu flat jogando conversa fora e trocando caricias, e a noite eu fui no show da banda. Pois eu tinha prometido a ele que iria.

O show terminou muito tarde e o Kevin havia bebido para comemorar com o resto da banda. Decidi que iria dormir no flat dele aquela noite. Mas antes liguei para avisar o Lucas.

Tive a oportunidade de conhecer os garotos da banda aquela noite. Eles eram estranhos e esquisitos, mas muito engraçados e malucos. Eu dei muita risada com eles.

Fui cedo para casa no domingo de manhã. Kevin nem me viu sair. Estava tão exausto! Passei o resto do meu domingo jogada com o Lucas no sofá. Nós comemos pipocas e assistindo vários filmes de todos os gêneros possíveis.

Eu não esperava, mas ele acabou me perguntando como foi a minha noite. Eu não tinha tocado no assunto ainda com receio de que ele não gostasse do que iria ouvir. Mas ele foi insistente, então eu não deixei nada de fora.

A aula de segunda-feira foi bem tranquila. Para o meu alivio os professores ainda não tinha tido tempo de corrigir todas as provas. Passei em casa antes de ir para a academia, comi algo e troquei de roupas.

− Que bom que você veio! – Helena me recebeu com muito carinho. – Por um momento pensei que você não vinha mais.

− Só porque me atrasei dez minutos? Me desculpe. Eu tive dificuldades em escolher a roupa ideal.

− Tudo bem. – Ela riu. – Acontece comigo. Vem comigo. Seu treino já começou. Vou te mostrar a sala.

Todas as salas ficavam nos fundos e eram todas envidraçadas.

− Pessoal – Helena chamou a atenção de todos assim que entramos na sala. – Quero que conheçam a Manu.

Era mesmo necessário que ela fizesse aquilo?

− Ué, cadê o professor? – Perguntou ela olhando em volta, depois que todos tinham me cumprimentando.

Éramos em torno de vinte alunos.

− Ele deu uma saidinha rápida. – Disse uma garota que aparentava ser mais nova que eu. Ela tinha o cabelo roxo.

− Tudo bem então. – Helena virou-se para mim. – Boa sorte no seu primeiro dia. Infelizmente tenho que voltar para o trabalho agora. Nos vemos mais tarde.

E ela saiu, me deixando ali sozinha com todos olhando para mim.

− Vamos começar? – Quando olhei para trás pude enfim saber quem era o meu professor. E adivinhem? Yuri.

Quando ele me viu olhando para ele com espanto, ele sorriu divertido.

− Japonesa? Pelo visto você resolveu seguir o meu conselho.

Eu estava começando a me arrepender da minha decisão. Primeiro porque ele tinha acabado de me chamar de Japonesa na frente de todo mundo. Segundo porque seria muito constrangedor ter o meu vizinho como professor.

Será que ainda dava tempo de mudar de professor? Eu podia ficar com o outro. O que vi na sexta-feira. Será que a Helena poderia me fazer isso por mim? Me trocar de turma?

Eu com certeza iria falar com ela depois.

Yuri fez questão que todos nós nos apresentássemos para o resto da turma para ele conhecer um pouquinho melhor a gente. Não gostei nadinha daquilo. Tê-lo por perto já era constrangedor o bastante para mim.

Depois que ele começou falando um pouco sobre o boxe e algumas dicas básicas. Durante todo o tempo ele ficava olhando na minha direção, mesmo eu estando lá no fundo, escondida. Aquilo fez meu rosto arder de vergonha.

Será que ele poderia ser um pouquinho mais discreto?

Por fim ele deixou um pouco a parte teórica de lado e começou a fazer alguns movimentos de alongamento e pediu para a gente fazer o mesmo, igualzinho a ele.

− Isso aí, pessoal. Continuem se mexendo. Façam tudo que eu acabei de ensinar. – Dizia ele, passando entre nós para garantir que ninguém estava fazendo errado. – Suas costas têm que ficar um pouquinho mais retas. – Disse ele quando enfim chegou perto de mim no fundão. – Assim ó.

Então ele tocou em mim pela primeira vez e eu quase dei um pulo de susto.

Será que aquilo era realmente necessário ou ele estava se aproveitando de mim? Não me lembro de ele ter tocado assim em nenhuma outra pessoa aqui presente.

− Não me toque, por favor. – Eu pedi baixinho. Sem conseguir encara-lo nos olhos.

− Porque não? Eu sou seu professor e só estou tentando te ajudar. Não vou te morder, Japonesa. – Ele sorria.

− Manuela. Esse é o meu nome.

− Tudo bem... Manuela. Não precisa ficar com medo, ta? Eu só quero que você estique mais as costas e faça direito ou isso pode ser bastante prejudicial a sua saúde.

Talvez ele esteja certo. Nunca vou saber. Afinal, ele é o professor aqui. Ele é o estudante de Educação Física. E não eu. Mas mesmo assim. Ele age como se só eu tivesse fazendo errado. Tudo bem que eu seja péssima em qualquer atividade física e bastante desajeitada, mas ele poderia olhar mais para as outras também e não focar apenas em mim.

Quando a aula terminou eu enfim pude respirar aliviada. Não tínhamos feito muita coisa hoje. Era só início. Tínhamos muito o que aprender ainda. Mas não seria fácil. Não com ele pegando no meu pé daquele jeito e me deixando sem graça.

− Infelizmente não tem outro horário. – Disse Helena, logo depois que fui parar com ela. – Você não gostou do Yuri? Porque? Ele é o melhor! Eu pensei que você fosse gostar.

− E eu gostei. Ele é ótimo. É que...

Como eu diria a ela que isso não ia dar certo? Porque ele me deixava nervosa e constrangida?

− Deixa pra lá. Tudo bem. Nos vemos na quarta.

E eu fui embora, morta de cansaço.

− Ei... Manuela! Espera! – Eu estava quase chegando no prédio quando alguém gritou por mim.

Yuri vinha correndo na minha direção.

− Helena me contou que você queria trocar de horário e de professor. Isso não é por minha causa. Ou é?

− Não! Claro que não. E só que...

Mais uma vez eu não sabia bem o que dizer.

− Olha, me desculpe se eu fiz algo que você não gostou. Não foi intencional. Mas não desista ou desanime por minha causa. Você é ótima e tenho certeza que vai muito longe ainda.

− Obrigada.... Eu acho.

Ele estava sorrindo para mim de um jeito carinhoso.

− Nos vemos na quarta-feira então, no mesmo horário?

− Com certeza.


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Notas finais do capítulo

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