Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 4
Cara a cara com o passado.


Notas iniciais do capítulo

Oi, meninas. Então, estou liberando os capítulos mais rápido, pois como eu já estou de férias da faculdade aproveitei para adiantar vários capítulos nesse meu tempo livre.
Espero que gostem :)



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Lucas recebeu visitas logo depois do café da manhã naquela manhã de sábado. Seus dois grandes amigos da faculdade, Mateus e Otávio, vieram passar o dia aqui jogando videogame com o meu irmão. Jogar era o passatempo preferido dos três. Esse evento acontecia aqui em casa pelo menos uma vez por mês. Primeiro eles saiam para comprar cerveja e refrigerante e algumas besteiras para comer e só então passavam o dia todo espalhados pela sala.

Enquanto eles se divertiam, tirei o dia para cuidar de mim mesma. Primeiro, tomei um banho quente e demorado. Aproveitei o momento para me depilar. Depois me tranquei no quarto e ainda só de roupão e com a toalha na cabeça, eu passei hidrante no corpo e passei uma máscara no rosto.

Gravei um pouco de cada procedimento e postei no Snap para as leitoras me acompanharem nesse meu dia de beleza. Eu sempre dava dicas para elas, caso pretendessem fazer o mesmo qualquer dia desses. Acho que toda mulher precisa de um dia assim. Cuidar de si mesma e relaxar.

Depois que tirei a máscara do rosto, fiz minhas sobrancelhas. E por fim a minhas unhas do pé e da mão e aproveitei para testar os novos esmaltes de uma marca que tinha mandado os produtos lá para casa pelo correio. A maioria delas me enviavam as novidades todos os meses.

Depois de testar os produtos, eu fazia resenhas dele no blog. Dizendo se eu tinha gostado ou não da cobertura, do brilho, na textura, da pigmentação. Era como uma avaliação do produto. Assim as leitoras ficavam sabendo se valia ou não a pena comprar os produtos da tal marca.

Todo esse processo era muito importante para o meu trabalho.

Antes de começar a montar looks para fotografar e pôr no canal como inspiração para as leitoras, eu fiz uma maquiagem mais leve, afinal, estava um dia lindo de sol lá fora e só abusei no batom vermelho alaranjado.

O tempo sempre passava rápido quando eu estava ocupada com o meu trabalho. Por isso nem notei quando o céu lá fora começou a escurecer. Eu estava prestes a tirar a maquiagem para deixar minha pele descansar quando o Lucas bateu na porta do meu quarto e entrou.

− Quer sair com a gente?

− E para onde vocês vão?

− Ah, sei lá. O Otávio disse que tem uma banda nova que vai tocar em um barzinho aqui perto. Achei que seria legal.

− O.K. Eu vou. Só me dê alguns minutos.

Eu precisava de tempo para escolher uma roupa. Estava indecisa. Escolheria um vestidinho, jeans ou shorts?

Optei por um shortinho jeans de cintura alta, uma camisetinha azul claro e sapatilhas vermelhas para combinar com o batom e a maquiagem que eu estava usando.

− O que você acha? – Perguntou o Lucas, entrando no meu quarto mais uma vez. Ele estava usando jeans e uma camiseta simples de cor cinza com a estampa do Coringa.

− Eu gosto dessa camiseta. Mas prefiro quando você usa xadrez.

Então ele voltou para o quarto e trocou. Algumas vezes ele gostava de pedir minha opinião para roupas, apesar de ser básico. Ele sabia que eu gostava de ajudar.

− Melhor assim? – Ele deu uma voltinha e eu ri.

− Muito melhor.

Saímos as nove de casa.

O tal barzinho não era muito longe do prédio, então fomos andando mesmo.

O lugar era escuro, mas não muito grande. As paredes cobertas de pôsteres com grandes bandas clássicas de rock mundialmente conhecidas. Havia um bar em uma das laterais, na outra lateral os banheiros e nos fundos um palco.

Nós fomos direto para o bar, aproveitando o lugar ainda estava vazio e o show só começaria dali uma hora.

Fiquei ouvindo os garotos conversarem enquanto eu bebia minha cerveja muito tranquilamente.

Não sou muito fã de cerveja, mas eu bebo sim em algumas ocasiões. Eu bebo qualquer coisa. Não sou neurótica com esse tipo de coisa. Só tento não abusar muito.

Percebi que aos poucos o barzinho ia se enchendo de todos os tipos variados de pessoas. Quando vi um grupo de garotas na frente do palco segurando capazes com o nome e fotos da banda, eu olhei surpresa para o Lucas quando tive a certeza que ele reparou a mesma coisa que eu.

− É permitida a entra de menores de idade?

− Sim. Só não a venda de bebidas alcoólicas.

Então agora estava explicado.

Um tempo depois as luzes se apagaram. O pessoal gritou empolgado. A banda começou a tocar e as luzes voltaram a se acender. O lugar já estava lotado de pessoas. E como eu não estava familiarizada com aquele tipo de ambiente, fiquei o tempo todo do lado do Lucas, perto do bar.

Como eu era baixinha, quase não consegui ver nada do show. Mas pelo menos a música era boa. Eles cantavam bem e pareciam fazer muito sucesso por aqui, principalmente com as garotas que não paravam de gritar enlouquecidas.

− Manu – Lucas se inclinou para cochichar no meu ouvido. – Olha lá.

Olhar o que?

Eu quase não conseguia ver nada!

Me estiquei um pouco na ponta dos pés e olhei na direção do palco. Quando vi eu soube exatamente ao que o Lucas se referia. O guitarrista da banda era o meu ex-namorado. Meu primeiro e único amor. Nós nos conhecemos ainda no ensino médio, no segundo ano, e ficamos juntos sete meses.

− Não acredito!

Lucas riu. Só ele sabia o quanto eu fui louca pelo Kevin, apesar nunca ele ter aprovado nosso namoro. Na época eu era muito boba e sofri muito. Kevin não era uma pessoa fácil de lidar e e eu sempre acabava chorando.

No primeiro ano eu já era apaixonado pelo Kevin, que estava no segundo ano e era da sala do Lucas. Acontece que mesmo naquela época ele já fazia um grande sucesso entre garotas. E eu era só mais uma que morria de amores pelo bad boy do colégio. E tinha plena consciência que ele jamais me notaria. Eu sempre fui muito tímida. Nunca estava no meio da muvuca e não me destacava em nada. Só em desenhos. Mas ninguém ligava para isso, exceto o Lucas e a minha família.

Louca de amores, eu vivia desenhando o Kevin no meu caderno de desenho. Só o Lucas sabia disso. E ele mantinha segredo por mim. Pois se meu pai soubesse me mataria, é claro. Eu era nova demais para pensar nessas coisas. Mas não conseguia evitar. O Kevin era como um deus para mim.

No segundo ano, para minha felicidade, o Kevin estava agora na minha sala, pois havia repetido de ano. Foi quando enfim ele me notou. Porque eu não era muito de prestar atenção nas aulas assim como ele. Eu sentava no fundo, no canto, para desenhar em paz sem se vista pelos professores e foi quando ele descobriu meu segredo.

Nós conversamos muito depois que nos conhecemos de verdade. E eu até criei coragem de mostrar os desenhos que eu tinha feito dele. Kevin ficou admirando, disse que ninguém nunca tinha feito nada parecido por ele. Disse que eu era especial e diferente das outras. Foi quando ele se apaixonou por mim e eu ainda mais por ele.

Começamos então a namorar escondido. Meu pai não poderia saber. E o Kevin não queria que o colégio todo soubesse. Mas o Lucas descobriu e desaprovou. Disse que não era certo. Que se o Kevin gostasse de mim ele não teria vergonha de me expor aos outros. Mas isso não era verdade. Ele realmente gostava de mim, só queria mais privacidade e não queria se complicar com o ciumento do meu pai.

As coisas eram boas entre nós. Apesar de não termos nada em comum. Eu amava desenhar e ele tocar. Desde cedo já tocava inúmeros instrumentos e seu sonho era ter uma banda. Pelo visto ele conseguiu e não mudou nada desde então. Seu cabelo continua raspado, mas não completamente careta. Ele tem olhos azuis-acidentados como um dia nublado e frio. As roupas também são as mesmas, pretas e rasgadas. E ele aumentou o furo dos alargadores nas orelhas e deixou a barba crescer um pouco. E os traços do seu rosto são fortes e marcantes, dando a ele um aspecto de cara mau e mais velho. Mas ele não é mau. Só parece mesmo.

Nós namorado por três meses e ninguém ficou sabendo. Mas é claro que um dia isso mudou. Não sei como meu pai descobriu e foi parar na casa do Kevin atrás de mim. Eu fiquei com muita raiva do Lucas, porque só ele sabia e com certeza deveria ter contado ao meu pai. Lucas e eu ficamos brigados por conta disso por muito tempo. Mas ele nunca assumiu a culpa. E eu nunca soube se realmente foi ele.

Depois que meu pai brigou feio comigo e eu expliquei a situação para ele, ele entendeu e acabou aceitado meu namoro. Kevin passou a frequentar nossa casa, os almoços e jantares e festas em família. Mas ele e Lucas nunca se deram bem de verdade. Mas eles pareciam se esforçar por mim, pelo menos quando eu estava por perto.

Minha primeira vez foi com o Kevin. Na casa dele, na ausência de seus pais. Eu morri de medo, fiquei muito tensa e doeu muito. Não tive coragem de dizer a ele que era minha primeira vez. Estava com tanta vergonha! Mas por fim ele foi um fofo e disse que era muito boa em tudo que fazia e olha que eu não tinha um pingo de noção das coisas. Depois desse dia eu me senti bem mais à vontade.

As coisas iam bem entre nós quase o tempo todo. Até que um dia tudo mudou. A mãe do Kevin iria leva-lo para longe, para outra escola. Ela queria que o filho tomasse jeito e se foçasse mais nos estudos e esquecesse o sonho idiota de ser músico algum dia porque aquilo não era carreira de verdade.

Desde então ele se distanciou. Ficou muito estranho comigo. E no fundo eu entendia, porque aquilo algo que ele queria muito e ele só queria o apoio dos pais. Eu tentei dizer a ele essas coisas, mas ele não me deu ouvidos. Estava muito frustrado e terminou comigo dizendo que nunca iriamos dar certo, agora por causa da distância e que ele nunca permitiria que alguém menosprezasse seus sonhos outra vez.

Tentei dizer que eu o amava e sempre estaria ao seu lado, ao contrário do seus pais. Mas ele não acreditou em mim e me deu um chute na bunda. Foi embora e me deixou arrasada. Ele nunca mais voltou, nem ligou, nem entrou em contato e muito menos pediu desculpas. Eu nunca sofri tanto. Mas pelo menos eu tinha o Lucas ao meu lado.

E agora, quatro anos depois, Kevin estava de volta. Bem ali na minha frente. Tinha realizado seu sonho e se tornado musico e tinha até conseguido uma banda.

Eu estava feliz por ele. Mas sem coragem de encara-lo. Não depois de tudo que aconteceu entre nós. Eu era só uma garota apaixonada e ele foi cruel comigo.

Eu ainda estava olhando para ele quando que por um milagre ele me olhou de volta e sorriu.

Eu juro que quase morri do coração naquele segundo.

Não era para ele me ver. Não era para ele me reconhecer.

Como isso pode ser possível se tinha tantas pessoas em volta?

Eu tentei correr de volta para casa logo depois do show. Lucas não entendeu. Mas eu tinha que ir! Só que isso não foi possível. Pois assim que coloquei meus pés na calçada, já do lado de fora do barzinho, alguém segurou meu braço.

Era ele.

− Fugindo de mim, Manuela?

Não como você fugiu de mim, eu quis dizer na cara dele.

− Não. Só estava indo para casa. Estou cansada.

− O show foi demais para você?

− O show foi ótimo. Parabéns!

Ele sorria com seus olhos cinzas brilhando.

− Você não mudou nadinha. Continua linda!

− Obrigada...

− Ainda desenhas seus paqueras naquele caderno?

Puta que pariu.

Que cretino!

Porque ele tinha que se lembrar desse detalhe?

− Não, não. Só desenho roupas agora.

− Ah, é? Então você finalmente descobriu o que queria fazer?

− Acho que sim. Enfim encontrei minha vocação.

− Isso é muito bom!

Ele parecia falar muito sério.

− Bom, eu preciso ir agora.

− Ah, não! Não vai agora. Fica? Vamos beber um pouco.

− Não, obrigada. Mas eu...

− Por favor, Manuela. Vamos relembrar os velhos tempos. Não seja medrosa. Eu não vou te morder.

Ele riu.

− O.K. – Digo decidida. Não ia passar vergonha na frente dele de novo e me mostrar fraca. Porque eu não era. Não mais. – Vamos beber então. Mas só um pouco.

Não bebemos pouco. Bebemos muito. Mas isso só aconteceu por dois motivos.

Primeiro: Lucas não parava de fuzilar a gente. E de uma hora para outra ele já não se importava mais. Pois estava ocupado dando atenção para suas novas amiguinhas.

Isso mesmo. Talvez eu seja um pouquinho ciumenta.

Segundo: Eu continuava tensa e nervosa diante do Kevin e não queria deixar isso transparecer. A bebida acalmava e me fez relaxar mais. E só assim pudemos relembrar os velhos tempos sem eu me senti tão mal ou constrangida.

Enquanto olhava para o Kevin e ele tagarelava sem parar sobre sua nova banda, eu não conseguia evitar de pensar que ele continuava lindo e apaixonante como sempre foi. E ele fazia eu me sentir teletransportada de volta para o passado. Quando as coisas eram magicas entre nós.

No final da noite nós estávamos aos beijos lá fora. Sem ninguém para nos ver ou nos julgar. E eu me sentia um máximo ao sentir as mãos dele firmes em minha cintura enquanto sua língua explorava os cantos da minha boca.

− Vamos embora daqui. – Disse ele rouco.

Kevin me levou ao seu pequeno flat do outro lado da cidade. Mesmo ainda no elevador nós não paramos de nos beijar nem por um segundo. Foi uma grande dificuldade para ele abrir a porta, pois ele não conseguia tirar as mãos de mim. Quando enfim entramos, ele me jogou em sua cama e subiu em cima de mim, voltando a me atacar com as mãos e a boca.

Eu me sentia nas nuvens.

Depois do Kevin, eu só tinha dormido com outros dois caras. Mas eu não gostava deles tanto quanto um dia já gostei dele. Então tudo era diferente. Mais intenso e prazeroso.

Acordei no outro dia totalmente desnorteada. Não me lembrava de nada da noite passada. E quando me levantei e vi que eu estava sem roupa não pude evitar dar um grito.

− O que aconteceu? Você está bem?

Quando olhei para trás lá estava o Kevin, também sem roupa, espalhado na grande cama de seu pequeno flat.

Ai. Meu. Deus.

Eu dormi com ele?

Eu não deveria ter sido tão fraca.

Não deveria ter bebido tanto.

− Preciso ir para casa. – Digo, desesperada. Catando as roupas espalhadas pelo chão e me vestindo.

− Calma, Manu. Eu levo você. – Em um segundo ele se vestiu e pegou as chaves de sua moto.

E eu morro de medo de motos!

Nem sei como eu vir parar aqui.

Expliquei o caminho para ele e quando paramos em frente do prédio e eu desci da moto sentindo as pernas bambas, ele me puxou de novo pelo braço.

− Não vai me dar um beijo?

E sabe do pior? Eu dei. E não foi um beijinho qualquer.

− Nós vemos na próxima.

E ele se foi tão rápido quanto chegou.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam do Kevin? Será que a Manu vai voltar pra ele?