Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 31
Um grande erro.


Notas iniciais do capítulo

Pra variar, um capítulo repleto de drama. Não me odeiem por isso.



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Quando eu acordei algumas horas depois e abri meus olhos vi que o Lucas já estava acordado e olhando diretamente para mim. Ele era tão apaixonante! E nem precisava dizer muitas coisas. Bastava ele me olhar desse jeito para eu me sentir leve como uma pluma. Ainda mais depois de tudo que aconteceu.

− Bom dia, Manu.

− Bom dia, Lucas. Como você está se sentindo?

Eu tinha que perguntar, afinal, as coisas só tinham acontecido daquele jeito porque ele tinha bebido e quando a gente bebe muito assim as coisas no outro dia não são nada legais.

− O cara mais sortudo do mundo. – Ele confessou com um sorriso.

− Ah, bobo. Não quero dizer nesse sentido. O que eu quero saber é se você não estar com ressaca.

− Não. Não se preocupe comigo. – Ele me deu um beijinho e eu amoleci. – Eu estou ótimo.

Lucas puxou o lençol um pouco e se sentou.

− Preciso ir agora. – Ele pegou sua cueca jogada no chão, vestiu e foi até o guarda-roupa pegar uma roupa limpa.

− Ah, não. Não vai! – Choraminguei feito uma criancinha. – Você prometeu que iriamos ficar aqui o dia inteiro!

− E vamos. – Ele sorriu enquanto vestia uma camiseta branca de frente para mim. – Mas a gente precisa comer algo.

Quando ele foi par a cozinha preparar nosso café da manhã, eu aproveitei para tomar um banho e trocar de roupa.

Depois caminhei até ele que estava preparando uns sanduiches na bancada pra gente e me apoiei em suas costas e fechei os olhos por um momento, inalando seu perfume.

Eu ainda não podia acreditar em tudo que tinha acontecido.

Será que tudo isso era mesmo real ou só um sonho e agora eu estou delirando?

Lucas levou uma bandeja com sanduiches e sucos até a sua cama e nós nos sentamos ali outra vez.

Quando terminamos de comer, eu coloquei a bandeja vazia no chão e me deitei, puxando o Lucas junto comigo.

− Agora eu não consigo mais parar de te beijar.

− Isso é bom. – Disse ele com a boca grudada na minha. – Porque eu não quero que você pare.

Dessa vez as coisas aconteceram mais devagar.

Primeiro nós nos beijamos devagarzinho, apenas colados, saboreando todas as sensações que aquele momento nos proporcionava. Depois a boca do Lucas desceu por todo meu corpo, me tocando nos pontos mais sensíveis. E foi então que eu me dei conta que ele me conhecia ainda mais do que eu imaginava.

Eu já estava sem folego quando ele beijou toda a minha barriga e começou a dizer todas as coisas que amava em mim.

− Eu amo a sua pele, eu amo o seu corpo, eu amo o seu cabelo, o seu rosto, os seus olhos, o seu cheiro, o seu gosto, amo a sua boca.... Eu amo tudo em você. Amo de um jeito eu nunca pensei que fosse possível amar outra pessoa.

Lucas estava me provocando! Dizendo coisas e me tocando ao mesmo tempo era algo que eu não podia resistir.

Eu queria que ele fosse direto ao ponto, mas por outro lado eu também que tudo fosse devagar agora.

Eu me livrei de sua camiseta e dessa vez eu fiquei por cima. Foi a minha vez de provoca-lo. Tocando seu ombro com dedos e a boca, depois seu peito, sua barriga lisinha, até chegar ao cós da bermuda. Eu sorri quando sua barriga se contorceu, sinalizando que ele estava totalmente excitado.

Ficamos brincando assim por um bom tempo até não aguentamos mais.

 − Porque, hein? Porque você escolheu me amar? – Acabei não resistindo e perguntei de uma vez.

Lucas estava agora mexendo no meu cabelo e minha cabeça estava deitada em seu peito que subia e descia.

− Eu não escolhi te amar. As coisas simplesmente aconteceram. Mas você é perfeita para mim! Foi inevitável. Eu sei que acabaria acontecendo uma hora ou outra. Pois quando uma coisa tem que ser, ela será. Não importa quando tempo você tenha que esperar e eu esperei por muito tempo.

− Mas quando foi que você teve certeza do que sentia por mim?

− No momento em que eu saí de casa e vim pra cá para estudar. O ano que passei longe de você pela primeira vez em anos desde que nossos pais foram morar juntos, foi o ano que eu me dei conta de que o que eu sentia por você não era apenas um carinho especial entre amigos ou irmãos de consideração. Ia muito além disso, mesmo que eu não soubesse descrever tal sentimento em palavras.

− Então não faz muito tempo. – Observei.

− É claro que faz! Todos esses anos, mesmo quando éramos só uma criança, eu sabia que tinha algo estranho. Algo diferente. E eu tentava me convencer de que era loucura, que não era certo. Eu tentei ignorar, tentei deixar para lá. Mas não funcionou. Porque não é fácil esconder um sentimento tão grande assim. Uma hora ele acaba explodindo. E foi o que aconteceu ontem. Eu já aguentava, Manu. Eu precisava que você soubesse. Nem que fosse para bater em mim e me odiar pelo resto da sua vida. Eu precisava te dizer aquelas coisas!

− Então é por isso que você sentia tanto ciúmes de mim quando eu falava de outros garotos. – Eu ri.

− Por um lado era sim ciúmes de você, mas por outro era a minha vontade de te proteger sempre, te livrar dessas caras que nunca levariam uma garota como você a sério. Sabe, eu realmente queria que você fosse feliz. Eu queria que você encontrasse o cara certo. Mesmo que não fosse eu, mesmo que não fosse comigo. Mas aí eu te via chorar, te via sofrer e isso me matava por dentro. Porque eu sabia que eu estando no lugar deles eu jamais faria algo assim com você.

− É, eu sei. Você não é perfeito, Lucas. Nós já brigamos tantas vezes e em algumas delas você foi um babaca comigo. E eu não te entendia! Mas diferente dos outros você sempre voltava para saber como eu estava, você sempre pedia desculpas. Mesmo distante, mesmo bravo ou decepcionado comigo você continuava a se importar e me procurar...

− Eu disse que eu sempre estaria ao seu lado, não disse? Disse que você poderia contar comigo quando precisasse, aquele dia no acampamento. E foi o que eu tentei cumprir todos esses anos. Por mais bravo que eu tivesse com você por algo, eu me lembrava da minha promessa e me lembrava que eu precisava cumpri-la de qualquer jeito.

− Você foi tão bom comigo todos esses anos. – Só de me lembrar de todos os momentos eu tinha vontade de chorar. – Esteve ali em todos os momentos, nos bons e nos ruins. Principalmente nos ruins. Você nunca me deixou na mão. E eu sempre serei grata a você por isso. Pois por mais que eu tentasse me convencer de que era muito bem capaz de cuidar de mim sozinha, no fundo eu sabia que precisava de alguém e esse alguém era você. Todo o tempo foi você.

Eu não aguentei e comecei a chorar. Lucas me puxou mais para cima e me abraçou tão apertado que eu só tive vontade de chorar ainda mais.

Como eu pude ser tão cega? Como foi que eu não percebi que não era só amizade ou carinho entre irmãos? Porque eu me enganei por tanto tempo?

Era estranho conhecer alguém há tanto tempo e só agora descobrir algo que nunca tinha notado.

Se eu tivesse enxergado antes talvez pudesse ter evitado tanto sofrimento em vão, tantas brigas bobas, tantas lágrimas desperdiças por caras que jamais me amariam como o Lucas me ama. Se eu tivesse enxergado antes poderíamos ter sido felizes por mais tempo e ter vivido muita coisa juntos.

− Agora você percebe? – Ele perguntou limpando minhas lágrimas com carinho. – Sou eu quem te cuida, quem te protege, quem te espera, quem te adora, que te entende, que te respeita, que te aceita e acima de tudo, sou eu quem te ama. Hoje e amanhã e depois e sempre, por toda vida.

Eu o beijei com ainda mais vontade do que antes.

− Lucas, não podemos. – Digo ao me afastar subitamente por lembrar de algo muito importante.

− Do que você está falando, Manu? – Lucas me olhava intrigado e ao mesmo tempo assustado com a minha mudança repentina de comportamento.

− Não podemos ficar juntos. – Sinto as lágrimas voltarem a escorrer, agora mais intensidade. – Não podemos!

Sento-me desesperada.

− Porque não? Se eu gosto de você e você gosta de mim porque temos que complicar tanto as coisas?

− Você não entende. – Levanto-me. – Isso não está certo. O que vão pensar da gente? O que vão dizer?

− E você realmente se importa com isso, Manuela? – Lucas levanta-se também. E é evidente que está aborrecido comigo e bravo. – É claro que isso está certo. A gente se ama! Não é errado amar tanto uma pessoa e querer estar com ela...

− Não podemos! Não podemos! – Eu não conseguia parar de repetir isso enquanto as lágrimas escorriam e banhavam o meu rosto.

Não podíamos ficar juntos por muitos motivos.

Primeiro, éramos uma família. O que nossos pais diriam? Eles nunca iam aceitar! Sempre fomos vistos apenas como irmãos por eles e agora nós estávamos até transando pelas costas deles. Isso era repugnante!

Segundo, eu tenho o Yuri agora. Não estamos tendo algo concreto ou muito sério. Mas estamos juntos e eu nunca tinha ficado com mais ninguém depois que começamos a ficar juntos e agora eu estava o traindo pelas costas.

Terceiro, tem a Helena também e todas as coisas que ela me disse. E eu neguei com tanta convicção, pois na época achei que era loucura estar apaixonada pelo meu próprio irmãos. Mesmo que de consideração. E ela disse que tinha nojo do que eu fazia e agora eu comecei sentir nojo de mim mesma por isso.

Ai. Meu. Deus.

Que tipo de pessoa eu me tornei? O tipo de pessoa que coloca seus sentimentos acima de tudo e sai atropelando todo mundo pela frente só para ter minha felicidade?

Não é certo! E eu sei que não é!

Sim, estava tudo tão bom até agora. Perfeito e maravilhoso. Mas isso era porque ainda estávamos presos dentro de nossa própria bolha encantada. Mas e depois? E quando saíssemos lá para fora e tivéssemos que encarar a realidade? Como seria? Não ia dar certo!

Sempre que algo muito bom está acontecendo, tende a acontecer algo de muito ruim para estragar tudo. E era o que ia acontecer. Num dia Lucas e eu estaríamos bem e no outro aconteceria algo para arruinar tudo e nós nos perderíamos para sempre e eu não estava preparada para isso.

O melhor era cortar isso agora, antes que ficasse tão grande ao ponto de ser facilmente destruído por qualquer um, por qualquer coisa.

− Manuela, para. Para de dizer essas coisas! – Lucas estava me seguindo pela casa. Até que ele se cansou e me puxou pelo braço e me abraçou.

Senti que ele também estava chorando agora e por minha causa, o que só fazia com o que o meu coração doesse muito mais.

− Manu, você não entende?!  Eu não posso te perder! Sei que não sou perfeito, sei que não somos um casal. Mas eu te amo, Manu. Eu não suportaria te perder. Não agora. Porque se eu te perder eu me perco também...

− Lucas, me solta, por favor. – Me debati feito uma maluca tentando me livrar dele a todo custo. Porque eu sabia que enquanto ele estivesse me tocando seria ainda mais difícil me afastar. – Não diga essas coisas. Porque não é verdade!

Quando eu enfim consegui me livrar dele eu corri para o meu quarto e me tranquei ali.

Eu me joguei em minha cama e continuei a chorar e parecia que as lágrimas nunca iam acabar.

Lucas ficou batendo na porta por um bom tempo, tentando conversar e me convencer do contrário. Mas eu não me importava e eu só queria que ele ficasse longe de mim.

 Então ele acabou desistido e parou. Foi quando ouvi a porta da frente bater. Ele tinha saído.

Eu já estava cansada de tanto chorar e foi quando me veio a raiva de mim mesma.  Eu me levantei com tudo e abri a porta do quarto. Quando olhei para frente e vi a cama do Lucas desarrumada por causa de tudo que passamos ali nas últimas horas eu explodi e fui até lá.

Comecei a revirar tudo, chutas coisas e jogar na parede tudo que eu via pela frente. Era como se isso de alguma forma pudesse me ajudar a descarregar a raiva. Mas não estava funcionando. Não quando o perfume dele estava por toda parte me fazendo lembrar de tudo que vivemos ali.

Eu estava agindo como uma maluca.

Eu sou maluca!

Houve um momento em que eu cansei de agir feito uma criança imatura e acabei caindo no chão com tudo. Encostada na cama, abracei meus próprios joelhos e continuei a chorar.

Eu fiquei ali por muito tempo, na esperança que o Lucas voltasse, me abraçasse e dissesse que ficaria tudo bem. Mas isso não aconteceu. O que aconteceu foi que eu avistei um objeto desconhecido jogado no meio da bagunça que mesma criei no quarto que nem era meu.

Engatinhei até ele e o peguei nas mãos. Era um caderno. Mas não um caderno qualquer. Parecia mais um livro ou uma revistinha. A capa tinha uma ilustração linda de uma garota que se parecia muito comigo. E o título era A Garota Que Eu Amo e logo abaixo estava escrito que o texto e a ilustração tinham sido feitos por Lucas Andrade.

O meu Lucas.

Abri a revistinha com as mãos tremulas. Era uma historinha em quadrinhas feito pelo própria Lucas e feita toda sobre mim. A cada página que eu lia meu coração se despedaçava cada vez mais. Era tudo tão lindo! Com um traço tão delicado e um texto tão singelo e verdadeiro.

Quando eu terminei de ler e ver cada desenho foi que me dei conta de algo: o Lucas realmente me amava muito. E ele tinha feito uma história inteira para mim. Todas as coisas que ele disse eram reais. Não era só um sonho ou pesadelo.

Mesmo com essa certeza as coisas não se tornaram mais fáceis. Eu não saí desesperadamente atrás dele para dizer que íamos ficar juntos para sempre, porque eu também o amava muito. Na verdade, as coisas só se tornaram ainda mais difíceis para mim. Saber que ele me amava e que nunca poderíamos ficar juntos era a pior coisa que já tinha acontecido em meus dezenove anos de vida.


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Notas finais do capítulo

Tenham calma. Sempre há esperança. Beijos e até o aproximo capítulo :)