Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 32
Não vou desistir.




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Acabo de sair do almoço mais importante da minha vida, o almoço que pode definir o rumo da minha carreira.

Conversei com dois empresários muito importantes que acompanhavam meu trabalho no Youtube e que assistiram o meu vídeo sobre sonhos, aquele que eu acabei falando sobre o meu grande desejo de ter uma marca de roupas.

Eles me fizeram uma grande proposita: desenhar a nova linha de roupas da marca deles. Não seria como ter minha própria marca. Mas já era um salto e tanto desenhar uma coleção inteira de roupas para uma marca importante e conhecida. Por isso não hesitei em aceitar a proposta.

Perguntei a eles como eles sabiam que eu poderia ser capaz de fazer algo tão grandioso e eles acabaram relevando que viram meus antigos desenhos no blog. Por um momento tive medo de não conseguir, pois já fazia um tempinho que não desenhava nada por ter estado ocupada com meus problemas amorosos. Mas agora eu não tinha alternativas.

Eu assinei um contrato e precisava colocar a mão na massa.

Assim que sai do restaurante onde tivemos todas essas conversas, eu peguei meu celular e liguei para o meu pai. Eu queria que ele fosse o primeiro a saber. Queria que ele sentisse orgulho de mim e visse que cada sacrifício que ele fez por mim ao longo dos anos valeu a pena no final.

Meu pai ficou tão feliz que começou a chorar e eu quase chorei também. Ele quase não conseguiu dizer, apenas o quanto estava orgulhoso e contente por mim. Então ele passou o telefone para a Sara e ela também pirou.

As pessoas na rua ficavam me olhando torto, imaginando o que uma garota como eu estava fazendo ali rindo e chorando ao mesmo tempo com o celular grudado na orelha.

Quando cheguei em casa no final daquela tarde quis desesperadamente dar um forte abraço do Lucas ou até mesmo beija-lo e comemorar juntinho dele. Mas ele nunca estava em casa quando eu estava, desde aquele domingo em que ele me relevou tudo e mesmo assim eu me recusei a acreditar, a ser feliz ao seu lado, a ficar com ele...

Ele estava me evitando, eu sabia. E isso deveria ser difícil para ele tanto quanto estava sendo para mim. Mas nós precisávamos superar isso. Ele precisava perceber, assim como eu, que isso nunca daria certo. Não fomos feitos para ficarmos juntos. Não desse jeito. Ele tinha que entender!

Eu estava jantando sozinha na bancada da cozinha quando alguém bateu a porta. Era o Yuri. E dessa vez era quem estava evitando alguém e esse alguém era o Yuri.

− Oi. – Ele me deu um rápido beijo e foi logo entrando. – Você andou sumida. O que aconteceu?

Voltei para a bancada, evitando olhar para ele.

− Estive um pouco ocupada com coisas de trabalho. – Isso não era exatamente uma mentira. – Hoje eu tive um almoço importante de negócios.

− É mesmo? – Ele se aproximou. – E você não me contar mais sobre isso? Estou curioso!

Na verdade, eu não queria não. Não queria compartilhar isso com ele porque sabia que ele não levava o meu trabalho a sério. Ele mesmo deixou isso muito claro para mim diversas vezes nessas últimas semanas. Mas eu não tinha muitas escolhas. Se eu não contasse ele acharia que eu não confiava nele, apesar de certa forma não confiar cem por cento.

− Vou desenhar uma coleção inteira de roupas para uma marca bem conhecida. Estou bastante empolgada!

− Sério mesmo, Japonesa? – Ele me olhava como se tivesse impressionada. Particularmente eu não gostava nada desse olhar. Significava que ele pensava que eu não era capaz de algo assim e eu era. – Isso é incrível!

− Sim, é mesmo. Muito incrível. – Levei meu prato até a pia, depois segui para o banheiro e escovei os dentes.

Yuri me esperava sentado em minha cama.

E já estava sem camiseta.

O que ele quer insinuar com isso? Que vamos transar para comemorar? Será que ele não pensa em outra coisa? Será que esse é o único modo que ele conhece de comemorar uma notícia como essas?

Se fosse o Lucas...

Não, Manuela. Não pense mais no Lucas.

Ele não está aqui ou está? Não, não está.

Se contente com o que você tem.

− Você não parece muito animada. – Yuri observou quando eu me aproximei devagar e me sentei perto dele e não em cima dele como ele deveria estar esperando.

− Eu estou feliz, sabe? Mas ao mesmo tempo é uma pressão enorme. Uma responsabilidade imensa.

− Eu sei que é. – Ele colou seus lábios nos meus com a mão no meu rosto. – Mas você dá conta. Você sempre dá conta de tudo. – Ele tentou me beijar e eu cedi.

Eu me sentia frustrada por dentro. Yuri tinha conseguido arruinar a minha noite. Ele raramente falava o que eu queria escutar. Sinal de que ele não conhecia quase nada de mim.

Mas não era sua culpa. Talvez eu fosse um pouco exigente demais e esperasse muito das pessoas. Eu não deveria ser assim, eu sei. Não é como se pudesse evitar.

Ele me deitou e continuou me beijando.

Parei de beija-lo quando ouvi um barulho na porta, quando ergui a cabeça vi o Lucas passar, olhar rapidamente para dentro do meu quarto e se trancar no dele, mas não antes de bater à porta com tudo, fazendo as paredes estremecerem.

Me senti muito culpada naquele instante.

O que é que eu estava fazendo com a minha vida?

Porque eu estava ferindo tanto a pessoa mais importante na minha vida? E porque eu ainda não tinha tido coragem de contar ao Yuri toda a verdade sobre o final de semana passado?

Eu não estava mentindo só para duas pessoas, eu estava também mentindo para mim mesma.

Enquanto eu pensava nessas coisas, Yuri já tinha tomado posse de mim com toda sua urgência.

Será que ele não percebia que eu não estava a fim agora? Ainda mais sabendo que o cara que me ama está do outro lado daquela porta, daquelas paredes?

Como é que eu posso fazer isso comigo mesma e com eles?

− Yuri. Não. Para, por favor.

Ele me olha assustado.

− Você não quer? Eu fiz algo errado?

Além de tudo desde que chegou aqui?

− Não, é só que eu.... Não posso. Se é que você me entende.

− Ah, sim! – Ele se senta. – Entendi agora.

Forço um sorriso para ele.

− Eu tenho uma surpresa para você..

No bolso do jeans ele tirou um pequeno embrulho com um pano preto aveludado. Ele desfez o laço e de dentro tirou um pequeno anel.

− Eu quero que você use isso.

Peguei o anel sem entender.

− Olha, não vou fazer um pedido formal, porque essas coisas são muito bregas. E eu sei que você me pediu um tempo, mas eu também disse a você que não poderia garantir que não me apaixonasse por você e, bom, eu me apaixonei e quero que você seja minha namorada. O que você me diz?

Isso está mesmo acontecendo comigo?

A primeira pessoa que eu penso ao olhar para aquele anel é no Lucas. O que ele diria? O que ele pensaria sobre mim? Como se sentiria ao saber? Mas depois eu pensei em mim. Apenas em mim. Por mais egoísta que isso possa parecer.

Eu não posso levar em conta os sentimentos do Lucas agora. Nem mesmo depois de tudo que ele disse e vivemos. Não sabendo que isso nunca mais pode acontecer de novo, por mais que meus desejos sejam outros. Não é certo. Eu sei disso. Todo mundo sabe e ele precisa saber também.

Eu gosto do Yuri. Gosto mesmo e ele acaba de deixar claro que gosta de mim também. Que está apaixonado e quer que eu seja a garota dele. E eu quero ser a garota de alguém. Talvez eu ainda não ame. Mas eu posso ama-lo um dia, não posso? Eu sei que posso.

Eu preciso tirar o Lucas da minha cabeça. Preciso parar de pensar nele do jeito errado. Somos amigos, somos irmãos. Apenas isso. Preciso ignorar o que sinto por ele e esquecer o que aconteceu naquele final de semana.

Mas não posso fazer isso sozinha. Não mesmo. Eu preciso de uma distração e de outra companhia. Alguém que preencha o buraco vazio no meu coração. Sei que o Yuri não é a pessoa perfeita e nem o cara dos sonhos. Mas olha só para mim! Eu não sou nada perfeita. E eu tenho muitos segredos. Coisas que jamais poderia dizer a ele.

Coloco o anel no dedo.

− Eu acho.... Perfeito. – Digo enfim olhando para ele. Yuri abre um sorriso maior do que eu achei que fosse possível.

Ele pega a minha mão e beija o dedo que está com o anel.

− Eu amo você, Japonesa. E quero que sejamos apenas você e eu. O resto pouco me importa agora.

E então ele me abraça.

− Eu também amo você. – Digo sentindo uma pequena lágrima escapar dos meus olhos.

Passamos o resto da noite ali, apenas conversando em minha cama e trocando carinhos.

Nada de caricias dessa vez.

Yuri vai embora lá pelas onze horas e eu vou até a cozinha beber um pouco de suco para ver se esse nó da minha garganta é capaz de descer.

Fecho os olhos quando sinto a presença do Lucas logo atrás de mim.

Ele para ao meu lado perto da geladeira.

− Pelo visto você já fez a sua escolha. – Ele olha diretamente para minha mão, o local exato onde está o anel que eu acabei de receber do Yuri.

− Lucas... Por favor.... Você tem que entender...

− Não, Manuela. Eu nunca vou entender como é que de todas as escolhas que você tem, você prefira me machucar mesmo sabendo que eu sou louco por você e ainda assim escolhe outro para ter ao seu lado.

− Lucas...

− Olha só, Manuela, quer saber? Eu não vou desistir de você. Eu nunca vou desistir de você. Você pode me afastar, pode se esconder, pode se enganar, pode me rejeitar, mas eu sempre vou estar esperando por você. Pois não há ninguém mais que eu queria tanto quanto eu quero você.

Eu queria gritar com ele. Queria perguntar porque ele estava dificultando ainda mais as coisas entre nós e porque ele tinha que dizer aquelas coisas sabendo que eu jamais seria capaz de esquece-las por mais eu tentasse?

Mas tudo que eu fiz foi dar meia volta e entrar no meu quarto, agora trancando a porta atrás de mim.

Eu não consegui pregar o olho aquela noite. Me sentindo um lixo de pessoa. Para minha sorte eu já estava de férias e não precisaria acordar cedo na manhã seguinte. Mas estar de férias significava que o Lucas tinha mais tempo para ficar de baixo do mesmo teto que eu, me torturando até eu me render.


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