Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 17
Um sentimento chamado culpa.


Notas iniciais do capítulo

Oi, meninas. Então, eu estou indo viajar hoje a noite. Mas vou deixar vários capítulos prontos e agendados para vocês. Só não sei dizer se para o lugar onde eu vou terá fácil acesso a internet, então não posso garantir que poderei responder todos os comentários de vocês. Então sejam pacientes comigo, tudo bem?



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Estava sozinha em casa aquela noite e tinha acabado de postar vídeo novo no canal. Pelo que parecia, Lucas tinha levado Helena para um jantar romântico. Pois ele saiu daqui muito bonito, usando um jeans escuro e uma camiseta azul.

Eu estava carente, era verdade. Parecia que todo mundo a minha volta merecia ter uma vida amorosa perfeita, exceto eu. Minha vida amorosa era uma bagunça sem fim.

Peguei meu celular sobre o criado-mudo e resolvi ligar para o Kevin. Estava cansada de esperar. Não fazia ideia de onde ele estava nesse momento. Em qual estado, cidade ou se estava no meio de um show ou uma reunião.

Eu precisava ouvir a voz dele de todo o jeito.

Para minha total surpresa ele me atendeu.

Mas não disse nada.

− Kevin, você está aí?

− Oi. Posso ajudar? – Perguntou uma mulher.

Seria a empresária dele? Ele tinha uma empresária?

− Posso falar com o Kevin?

− Não. Não pode. Ele está meio ocupado no momento. – Não sei porque, mas não gostei do tom da voz dela.

− Avisa pra ele que eu ligo mais tarde então.

Eu estava prestes a desligar quando ouvi ele me chamar.

− Manu?

− Kevin, é você mesmo?

A ligação estava muito ruim. Ele deveria estar muito longe. Mesmo assim fui capaz de ouvir a voz da mulher ao fundo, como se tivesse o chamando para alguma coisa:

− Vem, amor. Volta para a cama.

Como é que é?

− Kevin, o que está acontecendo?

− Manu, querida, me desculpe. Eu estou um pouco enrolado aqui. Posso te ligar depois?

Enrolado? Eu sabia bem que tipo de enrolado ele estava.

Ele desligou antes que eu pudesse concordar ou surtar.

Fiquei muito mal pelo resto da noite, imaginando se o Kevin estava mesmo me traindo com outra qualquer.

Preferi não pensar muito nisso. Não queria causar um transtorno desnecessário. Talvez não fosse nada. Apenas um amigo zuando ou uma fã enciumada.

Recebi um e-mail um dia desses o qual eu nem dei muita importância. Era de uma loja não tão conhecida me convidado para participar da abertura da loja em um shopping aqui perto. Eu divulgaria a marca para eles e eles me pagariam uma quantia razoável por isso.

Hoje era o último dia para dar minha resposta.

Amanhã seria o dia do evento.

Eu estava terminando de me arrumar quando Kevin me ligou. Droga, borrei meu rímel. Depois eu daria um jeito nisso. Peguei meu celular a atendi no mesmo segundo.

− Vamos nos encontrar no aeroporto no sábado a tarde por volta das quatro horas? Precisamos conversar.

Ele foi direto e reto.

E pelo seu tom de voz não era boa coisa.

Mesmo assim eu concordei em ir, precisava de algumas explicações.

O evento não foi tão bom quanto eu esperava.

Primeiro motivo: eu estava sozinha. Segundo motivo: eu só conseguia pensar no Kevin e o que ele tinha a me dizer.

Passei o resto da semana pensando nisso sem parar, por mais que eu tivesse tentando me distrair com outras coisas.

Quando sábado enfim chegou eu me arrumei bastante, pois queria impressiona-lo. Depois peguei o carro sem avisar ao Lucas e fui correndo para o aeroporto.

Kevin se atrasou quarenta minutos.

Eu estava no Starbucks, no lugar onde a gente tinha combinando de se encontrar, quando ele apareceu com suas típicas roupas pretas e seus olhos acinzentados nem um pouco caloroso por finalmente me encontrar.

Kevin beijou minha bochecha e sentou-se na minha frente. Nada de beijos românticos ou abraços apertados.

Minhas mãos suavam frio.

− Não vou enrolar, Manu. Vou direto ao assunto. – Pelo menos ele estava olhando nos meus olhos.– Precisamos terminar antes as coisas fiquem ainda mais desagradáveis.

Não, isso não pode estar acontecendo.

Não aqui no meio do aeroporto. No Starbucks!

− Você quer terminar comigo?

− Não quero, Manu. Mas eu preciso.

− Kevin, me explica essa história direito. – Eu ainda não sabia se explodia de raiva ou caia no choro. – Agora!

− Nosso relacionamento não está dando certo. Estamos em páginas diferentes! Eu estou curtindo com a banda agora. Viajando pelos país inteiro. Realizando meu sonho. E você está aqui, estudando, vivendo sua vida longe de mim.

− Então a distância mais uma vez é o problema? Você sabia que isso ia acontecer! – Eu meio que gritei e todo mundo em volta passou a prestar atenção na gente. – Então porque fez tanta questão de se aproximar de mim e de me pedir em namoro mais uma vez? Você não percebe o quanto eu já sofri com isso e estou sofrendo de novo por sua causa?!

− Eu sei, eu sei. Me desculpe! Eu realmente quis você de volta. Porque eu te amava! Eu não fazia ideia de que as coisas iriam dar esse salto enorme. Naquele momento a coisa mais importante para mim era você. Ter você de novo. Porque eu sabia que tinha cometido um grande erro no passado.

− Você me amava? – Repeti com amargura. – E não minta para mim, Kevin. Eu nunca fui importante para você. Nada nunca foi importante para você além da sua banda.

− É o meu sonho, Manuela! Você não tem um sonho?

− Eu tenho! Mas nunca tive que passar com ele por cima das pessoas, atropelando tudo pela frente. É isso que você faz, Kevin. Você tem prazer de colocá-lo acima de todas as coisas. Acima das pessoas, da sua família, dos estudos. Você não se importa com mais nada além de você.

− Não é verdade! – Agora ele parecia muito bravo comigo. Ninguém gosta de umas boas verdade.

− E quem era aquela vagabunda no telefone? Sua amante? Uma de suas tantas amantes que você encontrou pela turnê?

Ele abaixou a cabeça.

Culpado!

− E você ainda tem a cara de pau de dizer que me amava? Você não sabe o que é amar uma pessoa! – Continuei sem dor ou piedade. – E quer saber? É melhor assim. Eu precisava que você sumisse de uma vez por todas. Na verdade, eu nem sei porque eu voltei com você. O que eu sinto por você não é amor. Não como era no passado. Não o quanto eu já te amei um dia.

Suspirei fundo. Não ia chorar na frente dele.

− Eu te amei um dia, sabia? Amei muito. Você foi o meu primeiro e único namorado. O primeiro cara com que eu dormi e o primeiro cara que partiu meu coração. Anos se passaram e vejo que pouca coisa mudou. Você continua sendo um babaca. Mas saiba que essa é a última vez que vou permitir que alguém me destrate assim. O único lado bom de tudo isso é que eu finalmente aprendi. Obrigada, Kevin. – Peguei minha bolsa e me levantei. – Obrigada por ter me ensinando isso do pior jeito que você pode ensinar a uma mulher apaixonada.

Nem sei como cheguei em casa viva aquela noite. Eu chorei tanto no caminho de volta para casa que por um momento eu quase me arrependi de estar dirigindo e colocando a minha vida e das pessoas em risco por nada.

A sensação que eu tinha era que o Kevin tinha arrancando meu coração costurado do peito, jogado no chão e pisado nele como se não significasse nada para ele.

Eu pensei que a casa estivesse vazia e eu poderia chorar a vontade. Então bati a porta com força e fui direto para o meu quarto me afogar em tristeza e solidão.

Mas a verdade é que eu estava enganada. Lucas estava ali. Eu não tinha percebido! Ele veio ver o que tinha acontecido comigo.

− Me deixa em paz, Lucas. – Joguei a almofada na direção dele e tentei esconder meu rosto molhado.

− Não faz isso, Manu. Me deixa ajudar. – Com o travesseiro em mãos ele se aproximou ainda mais. – O que houve? Me conta! Eu estou aqui por você, lembra?

Como é que eu poderia esquecer?

Lucas sempre me deixou muito claro que estaria ao meu lado quando eu precisasse. Mas a verdade é que ele tinha descumprido sua própria promessa nos últimos meses.

− Kevin terminou comigo. – Consegui dizer em meios aos soluços. – E, por favor, não me diga que você avisou. Porque essa é uma péssima hora para ouvir esse tipo de coisa.

− Eu sei. Não vou dizer isso. Eu não seria tão babaca. Não mais do que já fui nesses últimos meses.

Pela primeira vez consegui olhar para ele.

− Se eu tivesse ficado ao seu lado, certas coisas poderiam ter sido evitadas. Mas eu falhei.

Que papo era esse agora?

− Eu me odeio por te ver assim. Me odeio por ter permitido que isso acontecesse com você.

− Lucas... Não é culpa sua.

− É claro que é! Quantas vezes eu disse que não deixaria nenhum babaca estupido partir seu coração de novo?

− Lucas...

− Eu errei. E a culpa é minha, Manu.

− Lucas...

− Eu sinto muito. Não vou deixar isso acontecer de novo. Mas como é que você vai confiar em mim agora?

− Lucas... Para.

Ah, meu Deus. Ele ia chorar também?

Não, isso eu não ia suportar. Lucas era forte. Poucas vezes eu o vi chorar. Antes que isso acontecesse eu o abracei com toda força que me restava e desabei quando senti os braços dele me envolverem também.

− O que foi que ele fez dessa vez? – Perguntou ele, segurando meu rosto e limpando minhas lágrimas com carinho.

− O mesmo de antes. – Funguei. – A banda é mais importante para ele. Sempre foi. Mas dessa vez ele pegou pesado. Ela estava com outras. Sabe-se lá quantas.

Lucas balançou a cabeça de um lado para o outro.

− Eu nunca foi entender como um cara pode ferir uma garota como você.

− Simples, Lucas. Eu não sou boa o bastante, então ele precisa buscar o que falta em outro lugar.

− Não! Não pode ser verdade. Você é perfeita, Manu. O problema não é você. O problema são esses caras que não enxergam tudo que você pode oferecer. Você é a melhor pessoa que eu conheço e eu conheço cada pedacinho seu.

Isso era tão verdade que eu não conseguir não chorar de novo, logo agora que eu estava me controlando.

− Sei que não é o bastante. Mas vou ficar aqui com você essa noite, tudo bem? – Assenti e ele beijou minha bochecha.

Eu me deitei e ele me abraçou por trás. E esse gesto não tinha nada de perturbador ou sexual entre nós. Era só um carinho entre irmãos. Não envolvia nada além de amor fraternal.

− Eu senti a sua falta. – Admiti, fechando os olhos e deixando as lágrimas escorrerem livremente.

− Eu também senti muita a sua falta. – Disse ele com a voz abafada. Seu rosto muito perto do meu pescoço.

− Eu amo você, Lucas. E saiba que eu nunca fiz nada para tirar a sua felicidade. Eu só meio que estou com ciúmes. Você me deixou de lado. Praticamente me excluiu de tudo!

− Eu sei. Eu também amo você, Manu. E reconheço que nós dois fomos longe demais. Mas não vamos falar sobre isso agora. Eu quero que você fique bem. Então, descanse.

Não dava para dormir com ele ali, sendo que eu tinha tanta coisa a dizer. Mas abastou ele passar a mão no meu cabelo, como nos velhos tempos, para eu adormecer logo.

Acordei com os primeiros raios solares entrando pela janela aberta e batendo no meu rosto. O braço do Lucas ainda estava em volta de mim. E pelo som da sua respiração no meu pescoço, ele ainda estava dormindo tranquilamente.

Não havia nada no mundo capaz de atrapalhar aquele momento.

Mas eu estava enganada, mais uma vez.

− Lucas?

Helena estava parada na minha porta.

Lucas deu um salto da cama.

− Helena?!

Os dois foram até a sala conversar. E mesmo com a porta do quarto trancada, pelo que parecia eles estavam tendo a primeira briga de casal. E por minha causa. Helena estava fervendo de ciúmes e eu nunca a vi tão brava.

Se vocês acham que eu me senti melhor com isso, estão enganados. Eu me senti ainda pior. Lucas estava feliz e não é porque eu estava infeliz e de coração rasgado, ele merecesse estar passando pelo mesmo.

− Está tudo bem? – Perguntei assim que ele entrou no meu quarto.

− Tudo resolvido. Helena foi embora. – Ele torceu os lábios e sentou-se na minha cama.

− Olha, se você quiser eu posso falar com ela e dizer que não é nada disso que ela está pensando.

− Não, não precisa, Manu. Ela sabe que somos amigos e irmãos. Nem sei porque essa crise de ciúmes bobo.

Ele me olhou com seus olhos caramelos ainda mais claros por conta da claridade que entrava pela janela.

− Você está melhor? – Ele quis saber, alcançando minhas mãos e entrelaçando nossos dedos.

− Não muito. Mas vou ficar. – Tento sorrir, olhando para nossas mãos unidas. – Eu só preciso de tempo.


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Notas finais do capítulo

Será que dessa vez eles vão se entender? Me digam o que vocês acham disso :)