Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 16
Jogando com os garotos.




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Sei que não era a minha obrigação, mas mesmo assim escrevi um texto enorme pedindo para minhas leitoras que, por favor, parassem de escrever coisas nas páginas do Lucas ou da Helena. Eu garanti a elas que eles estavam felizes e se mereciam, porque se amavam muito. Não tinha porque ficarmos nos metendo na vida dos outros.

Imediatamente as meninas pediram desculpas e reconheceram que foram longe demais. Outras prometeram que isso não se repetiria e iriam apagar os comentários. Algumas até concordariam comigo e disse que isso era muita infantilidade. Não tínhamos o direito de opinar na vida de ninguém. Por fim, éramos mais uma vez uma grande família feliz e unida.

− Obrigado. – Lucas disse ao sentar-se no sofá ao meu lado. Eu estava assistindo Masterchef.

Ele nem precisou dizer para eu saber do que ele estava falando.

− Não fiz isso por você, muito menos por ela. – Digo, perdendo o interesse de continuar ali assistindo.

Levanto-me e vou para o meu quarto dormir.

Yuri e eu combinamos de ir ao parque no domingo à tarde levar Scott para correr um pouco.

O dia estava bonito. Um céu claro coberto de nuvens e um vento forte bastante agradável.

Compramos sorvete e fomos direto para a sombra.

− Seu namorado tem te ligado ultimamente?

− Não.

− E isso não te preocupa?

− Um pouco. Tenho medo. Não sei onde tudo isso vai parar e como vai ser para nós dois.

− Você gosta mesmo dele, não é?

− Sim, ele foi o primeiro amor.

− É, eu também me lembro do meu primeiro amor.

− E como foi? – Me encostei na arvore, saboreando meu sorvete de limão. – Como ela era?

− Eu tinha quatorze anos. E sempre fui assim, um tanto quanto irritante.

− Ah, então você reconhece!

Ele riu, mas resolveu continuar.

− Eu tirava sarro de todo mundo na sala de aula. Principalmente dela que vivia com suas trancinhas.

− Coitada! Ela deveria te odiar.

− Acho que sim. Porque eu a irritava muito e ela sempre ia para casa chorando.

− Que horror!

− Pois é. Eu era cruel. E ela quase não falava nada com ninguém. Então um dia ela caminhou firmemente até mim. Eu estava sozinho na ocasião. E foi uma das primeiras vezes em que ouvi sua voz. Era tão doce. Naquele dia ela perguntou porque eu ria dela. Porque eu era tão babaca. Mais tarde eu fui pra casa e fiquei pensando muito sobre isso.

− Que jeito estranho de demonstrar que gostar de alguém.

− É verdade. Mas como ela havia sido corajosa de me confrontar, eu simplesmente resolvi parar de encher o saco dela. E foi quando eu acabei me apaixonando. Porque eu comecei a prestar mais atenção nela e nos detalhes.

− E o que aconteceu depois?

− Foi a minha vez de criar coragem de ir falar com ela. Ela estava sozinha e eu sentei a seu lado e abri totalmente o meu coração. Então ela olhou bem pra mim e disse que jamais ficaria com um garoto como eu, que sentia prazer em irritar as pessoas e não se importava com os sentimentos delas.

− Nossa... Ela foi cruel.

− Não. Ela disse a verdade e aquilo machucou. Mesmo assim eu não criei jeito e continuo sendo assim, sendo esse babaca mesmo aos vinte e seis anos.

− Você não é babaca!

Ele olhou para mim com um sorriso torto.

Seus olhos estavam tão mais verdes aquela tarde.

− Tem certeza?

− Talvez seja um pouco. Mas é o seu jeito!

− Não é todo mundo que gosta.

− Não de primeira. Mas depois a gente acostuma.

Ele riu, achando graça.

− Mas então vocês não ficaram juntos?

− Não. Nunca.

− Que pena.

O celular de Yuri então começa a tocar.

Eu termino meu sorvete enquanto ele encara a tela.

− Não vai atender?

− Não.

Nós bem que tentamos continuar a conversa, enquanto Scott explora por aí. Mas o celular de Yuri não para.

− Você deveria atender.

− Não posso.

− Ué, mas porquê?

Yuri fica estranho de repente. Parece tenso.

Seus olhos verdes mudam de cor.

− É a minha ex-mulher.

− Sua ex-mulher? – Estou surpresa. – E o que ela quer?

− Encher meu saco.

− Nossa, eu não sabia que você já foi casado.

− Foi por isso que eu me transferi para cá.

− Para fugir dela?

− Mais ou menos. – Ele riu e aquele Yuri divertido estava de volta.

− Porque vocês se divorciaram?

− Não deu certo. Brigávamos muito. Ficamos nisso por três anos, mas chegou uma hora que não deu mais.

− Eu não entendo...

− Porque você ainda é nova.

− Mas não sou ingênua!

− Eu sei. – Ele sorriu. – O maior problema entre nós era porque ele não podia ter filhos. Nós tentamos muito por um ano. Mas ela não engravida de jeito nenhum. Então recorremos ao médico e ele detectou problemas nela. Mas ele sugeriu que fizéssemos tratamento e um acompanhamento, pois não era um caso perdido.

− Mesmo assim vocês não conseguiram?

Era difícil imaginar que o Yuri já tinha passado por tudo isso.

− Ela não aceitou o tratamento. Disse que nunca daria certo e lamentava muito que ela não pudesse dar o que eu mais queria. Mas fiquei ao lado dela, tentei convence-la do contrário e apoia-la. Mesmo assim não adiantou. Ela ficou distante, fria e então começaram as brigas.

− Nossa, é muito pior do que eu esperava.

Depois disso não toquei mais no assunto, imaginei que seria muito difícil para ele.

Na volta para casa, seu celular continuou tocando muito.

− Mas porque ela ainda quer te encher o saco? – Não resisti a vontade de perguntar aquilo.

− Eu não sei! Acabou. Ela deveria entender. Foi uma escolha nossa.

− Acho que vocês deveriam conversar.

Yuri fez que não com a cabeça.

Quando entrei em casa aquela noite, Lucas e Helena estavam no sofá, abraçados, vendo um filme. A casa estava toda escura. Passei por eles sem dar um pio.

Não queria atrapalhar o clima de romance.

Fiquei lendo alguns livros da faculdade e acabei pegando no sono rapidamente.

Acordei me sentindo péssima na manhã de segunda-feira, mas não era frescura. Minha garganta doía muito.

Será que eu estava resfriada?

Yuri: Japonesa? Vc sumiu!

Eu: Acho que estou doente. Ñ consigo nem levantar da cama.

Yuri: Passo aí mais tarde.

Ele realmente veio e foi a primeira vez que entrou no meu quarto para valer e pôde ver todos os detalhes.

− O que você sente? – Ele perguntou, sentando-se ao meu lado e passando a mão na minha testa.

− Um pouco de frio e dor na garganta. – Digo, fazendo uma careta. Estava com fome, não tinha comido nada ainda.

− Você está com um pouco de febre. – Ele voltou a se levantar. – Vou sair para comprar uns remédios e alguma coisa para você comer. Eu volto logo.

Ele me deu um beijinho na minha testa antes de sair e não pude deixar de lembrar que era o Lucas que se encarregava de cuidar de mim quando eu ficava doente.

Parece que o jogo virou não é mesmo?

Yuri voltou em meia hora.

Me deu remédio e água e só depois algo para comer.

Ele ficou deitado comigo a tarde inteira, tentando me distrair e perguntado se eu estava melhorando.

Ouvi o barulho da porta quando o Lucas chegou. Ele ia passando direto para o seu quarto quando olhou para dentro do meu quarto e viu nós dois ali deitados.

− O que aconteceu com ela? – Ele veio correndo em minha direção e se abaixou ao lado da cama e pegou minhas mãos.

− Ela está resfriada. – Yuri se levantou, parecia um cão raivoso. – Nada que eu já não tenha resolvido.

− Você se sente bem, Manu? – Lucas perguntou, ignorando tudo que Yuri tinha dito. – Quer ir ao médico?

− Cai fora, cara. – Yuri voltou a dizer, um pouco mais alto dessa vez. – Ela não precisa mais de você.

Lucas não se moveu, mas Yuri cuidou disso por ele. Pegando-o pelo colarinho e colocando-o para fora do meu quarto.

Eu fiquei assustada.

− O que foi isso? – Exigi saber.

− Nada. – Disse Yuri risonho, voltando-se a deitar ao um lado. Ele quase não cabia na cama de tão grande. – Eu só precisava mostrar para ele quem é que manda aqui.

Tive que rir.

− Você pode ir embora se quiser. Precisa descansar um pouco. Obrigada por tudo. Mas acho que vou dormir agora.

− Nada disso. – Ele me olhou no fundo dos olhos e passou a mão de leve no meu rosto. – Vou ficar aqui até você dormir. Não se preocupe. Não vou fazer barulho.

Deitei minha cabeça em seu peito e fechei os olhos.

Peguei no sono em segundos.

Acordei de madrugada louca para ir no banheiro. Yuri ainda estava ali. E tinha pegado no sono comigo.

Eu o cutuquei.

− Ei, você tem que ir para casa.

− Me deixa dormir. – Ele resmungou, virando-se para outro lado.

Segurei o riso.

− O.K. Você venceu. Pode ficar. Mas depois não reclama se acordar sentindo dores pelo corpo.

Fui correndo no banheiro e depois voltei a dormir.

Lucas fez uma cara muito feia quando eu e Yuri saímos do quarto juntos aquela manhã.

− Estou melhor, Lucas. Não se preocupe.

Para minha sorte tinha sido só um resfriado e o Yuri tinha cuidado direitinho de mim.

− Vou indo. Nos vemos mais tarde. – Yuri se despediu de mim e saiu, antes que se atrasasse para aula.

− Não acredito que você está com ele só para provocar. – Lucas disse assim que Yuri desapareceu por completo.

− Eu nem estou com ele! – Dei risada, sem acreditar no que tinha acabado de ouvir. – Se liga, Lucas.

Fui tomar meu banho e me vestir para aula.

Escolhi um shortinho, uma blusinha leve, camisa xadrez vermelha e sapatilhas pretas.

Fiz uma trança embutida no meu cabelo e caprichei no delineador.

Como eu já estava atrasada, nem tomei café da manhã. Apenas peguei alguns biscoitos e saí de casa, sem nem esperar pelo Lucas. Não queria papo com ele.

O professor pediu os trabalhos e depois liberou a gente para ele corrigir mais cedo. Eu estava confiante. Tinha terminado esse trabalho fazia um bom tempo e dei meu melhor.

Como eu não tinha o que fazer, fui até o ginásio ver o que estava acontecendo por lá e se por acaso eu encontraria o Yuri tendo aula ou sei lá o que esse pessoal de Educação Física faz da vida.

O ginásio estava sempre aberto, então o pessoal aproveitava para ir lá matar aula ou coisa do tipo. Sentei-me na primeira fileira da arquibancada, na parte mais vazia.

Na quadra tinha uns vinte rapazes de uniforme e eles pareciam discutir sobre alguma coisa específica.

Em meio a eles eu avistei o Yuri, o maior de todos os gigantes ali presentes.

− Yuri! – Gritei e imediatamente ele me ouviu e correu na minha direção sem se importar com nada.

Eu desci da arquibancada e fui falar com ele, toda sorridente.

− O que vocês estão fazendo? - Perguntei.

− Nada. Estávamos pensando em jogar alguma coisa.

− Então é isso que o pessoal de Educação Física faz? – Brinquei.

− Vem cá. Entra aqui. Vem fazer parte do meu time.

− O quê? Não. Eu nem sei jogar!

− Você aprende rapidinho. Vem!

Ele segurou a minha mão e eu não pude dizer não.

Eu entrei na quadra meio envergonhada, não era muito de me enturmar com os meninos. Mas eles me receberam muito bem. Eu fiquei de lado, esperando eles resolveram o que iam jogar e montar os times. Por fim, eu seria uma espécie de “café com leite” e isso parecia ótimo para mim já que não sabia jogar quase nada, só truco mesmo.

Fiquei no time do Yuri e ele me ajudou na maior parte do tempo, até roubando um pouquinho para me passar a bola e eu marcas alguns pontos na cesta já que ninguém estava me marcando com medo de me ferir ou sei lá o quê.

Homens têm essa mania desnecessária de achar que nós mulheres somos frágeis.

Qual é?

− Você foi ótima hoje. – Disse ele me passando sua garrafinha de água.

Estávamos ambos suados.

− Também! Você roubou para mim! – Só de lembrar eu não conseguia parar de rir. Foi divertido! Nunca fiz nada parecido. – Os caras são legais, nem ficaram com raiva de você.

− Eles são demais mesmo! Ficaram de olho em você. Não percebeu?

− Só porque eu era a única mulher!

− Não é só por isso. – Ele piscou.

Yuri me achava bonita e isso era importante para mim de alguma forma. Porque ele era tão bonito que quase parecia um deus grego. Já eu era muito magra e magricela. Nunca me achei feia, mas também nunca me achei tão bonita.

Mas do jeito que ele falava e me olhava, era como se para ele eu fosse a criatura mais bonita do universo.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acham? Gostariam de ver o Yuri e a Manu como um casal?