Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 14
Uma forte atração.


Notas iniciais do capítulo

Bom, queria a agradecer a vocês por todos os comentários. Vocês são demais! ♥



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Antes de subir para comer uma pizza com o Yuri eu tentei ligar para o Kevin. Tentei muitas vezes, mas ele continuava sem dar sinal de vida. Estava começando a ficar preocupada de verdade. Será que ele tinha desistido de mim só porque eu não tinha retornado sua maldita ligação antes?

Eu tentava pensar positivo. Sabia que era um momento importante na vida dele. Sua primeira turnê pelo país. A oportunidade única para sua banda ter reconhecido e crescer cada vez mais. E eu sabia também ele podia estar ocupando viajando de um lado para o outro pelas estradas a fora.

Não era todo lugar que o sinal de celular ou de internet era bom e acessível. E imaginei que ele devesse estar muito cansado com todos aqueles shows, ensaios, sessões de fotos e autógrafos. Uma loucura! Eu precisava dar esse tempo a ele. Uma hora ou outra ele me ligaria e me deixaria atualizada de tudo. E assim eu saberia que eu estava certa o tempo todo.

− Eu estava aqui pensando. – Comentei com o Yuri. Nossa pizza tinha acabado de chegar e estava uma delícia. – Eu gostaria de te ajudar a reformar o seu quarto.

− O que tem meu quarto? – Ele perguntou, se fingindo estar ofendido. Eu ri. Yuri era muito engraçadinho as vezes.

− Ele é tão sem graça! Você não acha? – Provavelmente eu estava me sujando toda de molho. Mas não era mais como eu me importasse. Yuri e eu éramos amigos agora.

E amigos não têm vergonha um do outro.

− Eu acho ele... Normal. Mas você é a especialista aqui. Então se você diz que ele precisa de um trato, eu tenho que concordar. O que você pensa em fazer?

− Ei, eu estudo moda e não decoração! Mas eu sempre gostei desse tipo de coisa. Então pensei que eu poderia te ajudar. Começando em uma boa pintura. Que tal?

− Legal! Podemos ir amanhã comprar a tinta, o que você acha?

− Excelente! Posso gravar tudo para o canal?

− Você que manda, Japonesa.

Yuri me deixava sem jeito na maior parte do tempo, principalmente quando ele vinha com suas provocações e insinuação. Mas na outra parte do tempo ele me fazia sentir estranhamente confortável ao seu lado.

Será que isso é bom sinal?

Saí da aula animada aquela manhã. Yuri já me esperava no campus, perto da árvore onde tínhamos sentados juntos algumas vezes e onde agora passávamos o intervalo juntos.

Eu estava de carro e o levei até a casa de construção mais próxima. Eu achei que seria fácil escolher uma tinta. Mas não foi bem assim. Yuri e eu discutimos muito até nos decidimos por uma cor que combinaria melhor com ele.

− Porque tem que ser azul? – Perguntou ele.

− Eu gosto de azul!

− Eu também gosto! Mas não é meio comum?

− Eu pensei que você não ligasse para esse tipo de coisa.

Sorrimos.

− Eu não ligo. Mas eu gostei dessa cor cinza.

− Então tá bom. Vamos levar essa!

Marcamos de começar a pintar no sábado de manhã, já que nenhum dos dois tinha outros planos.

Yuri foi para a academia dar suas aulas de luta e eu voltei para casa, pois era o meu dia de descanso.

Passei a tarde toda finalizando trabalhos da faculdade e editando vídeos e ouvindo música pop na rádio.

− Ei, está tudo bem aí? Precisa de ajuda? – Me surpreendi quando o Lucas entrou no meu quarto.

Estava tão distraída e ocupada que nem vi que ele já tinha chegado.

− Tudo certo. Não se preocupe.

Ele sorriu, mas antes de ir me deu um beijinho na testa.

Era impressão minha ou ele estava tentando se reaproximar de mim?

Vai ver ele e a Helena tinham brigado e agora ele estava igual um cachorrinho correndo atrás de mim para recuperar o tempo perdido.

Azar dele, porque agora me parecia um tanto quanto tarde demais para isso. Ele já tinha perdido uma boa parte da minha vida nas últimas semanas. Nossa amizade nunca mais seria a mesma. E isso nunca aconteceu com a gente antes. Claro que já brigamos uma centena de vezes. Mas o máximo que passamos sem nos falar foram três ou quatro dias.

E não semanas!

Mais tarde, logo depois que jantei sozinha no meu quarto assistindo a um filme bobo e melodramático que resumia perfeitamente minha vida no momento, fui escovar os dentes e adivinhem só que apareceu para me fazer companhia?

O sr. Lucas Andrade.

Ele tentou fazer gracinhas com a boca cheia de espuma de pasta de dente. Porque era o que fazíamos antes de tudo isso acontecer. Mas eu não consegui entrar no clima. Para mim o Lucas não era o mesmo de antes. Nossas brincadeiras já não eram tão mais divertidas.

Eu fiquei um bom tempo pensando nisso antes de conseguir dormir. E acabei chorando com a porta do quarto trancada. Lamentando que isso tivesse acontecido entre nós. Não era uma coisa pela qual eu tivesse preparada.

Eu nunca estaria preparada para perder o Lucas.

Mas parece que algumas coisas mudam com o tempo.

− Qual é o seu maior sonho? – Yuri perguntou do nada, me pegando totalmente desprevenida.

Estávamos dando um passeio com Scott naquela noite calorosa.

− Nunca parei para pensar muito sobre isso. Parece cedo. Mas de um tempo para cá tenho pensando em algum dia ser capaz de ter minha própria marca de roupas.

− Nossa! Isso seria extraordinário. – Disse Yuri sorridente, puxando a coleira de Scott com força.

Aquele cachorro era tão enorme que mais parecia um cavalo. Se ele não fosse tão doce e manso, eu teria muito medo dele.

− E você. – Virei-me para ele. – Você também tem um grande sonho?

− Acho que todos nós temos. Mesmo que eles estejam esquecidos em algum canto escuro dentro de nós.

− Então, qual é o seu?

− Ser pai. Ser tão bom para o meu filho quanto o meu pai foi para mim.

− Meu pai também sempre foi ótimo! Mas me conta um pouquinho mais sobre o seu. Você nunca me falou sobre sua família antes.

E mais uma vez nos sentamos na calçada, em frente ao prédio e conversamos, dessa vez sobre nossas infâncias e famílias.

Yuri cresceu em uma cidade pequena no interior do Rio de Janeiro. Ele tem uma irmã, Yasmim, que tem a minha idade e ele se preocupa muito com ela, pois diz que ela é muito rebelde e independente. Seus pais se conheceram aos quinze anos e se casaram aos dezoito. Até hoje eles estão juntos.

Acabei falando mais sobre a minha mãe e a morte dela e o pouco de lembranças que eu tenho. Falei também sobre como foi difícil aceitar a Sara e o Lucas e como aquele dia no acampamento de férias mudou tudo entre nós.

− Vocês parecem se amar muito. Não parece certo que estejam tão distantes agora. – Yuri observou.

Seus olhos verdes eram tão calorosos quando ele falava sério, olhando fixamente para mim. Eu sentia como se ele pudesse ver a minha alma através dos meus olhos.

Quando entrei em casa aquela noite, encontrei o Lucas conversando com a mãe dele no telefone.

Não pude evitar de ouvir o que eles conversavam, pois a porta do seu quarto estava aberta.

− Eu conheci uma garota, mãe. E ela é muito especial para mim. Quero que você a conheça um dia. Sei que vocês vão se dar muito bem. Ela é incrível!

Eu senti tanto ciúmes daquele momento que tive vontade de arrancar o celular das mãos dele.

Como assim Helena iria roubar a minha mãe adotiva também?

Já não bastava o Lucas? Meu melhor amigo e irmão?

− Se eu a amo? Acho que é meio cedo para dizer isso, mãe. Mas eu gosto de estar com ela. Ela me faz muito bem todo o tempo.

Revirei meus olhos.

Ele mal conhecia a Helena e já achava que ela era a mulher de sua vida?

Dá pra ser mais ridículo do que isso?

− A Manu? Ah, ela saiu. Não sei onde foi. Mas acho que ele vai chegar daqui a pouco. Liga mais tarde, se quiser.

Em outros tempos ele saberia exatamente para onde fui e onde me encontrar.

Ele estava de costas por isso não me viu. E quando ele se despediu da mãe e desligou a ligação eu me virei rapidamente, fingindo estar mexendo em alguns papéis.

− Manu, você chegou! A mamãe perguntou de você.

− Ah, é? E o que ela queria?

− Apenas saber como estavam as coisas, mas ela te mandou um beijo. Disse que ligaria outro dia.

− O.K. Obrigada por me dar o recado.

Ele não disse mais nada, mas notei que estava bem vestido e perfumado. Na certa iria sair com a Helena.

Mas ele também já não me dizia mais essas coisas.

Acordei no sábado de manhã com o celular despertando. Eu não tive uma boa noite de sono, por isso me sentia muito cansada. Mas eu tinha um compromisso com o Yuri.

Enquanto tomava o meu café da manhã sozinha na bancada da cozinha tentei ligar para o Kevin mais uma vez.

E nada.

Eu ia voltar para o meu quarto para me arrumar quando a porta se abriu e Helena entrou.

− Oi, Manu. Bom dia! – Disse ela com um sorriso forçado ou era apenas coisa da minha cabeça. Não sei.

Antes ela costumava bater na porta ou tocar a campainha. Mas agora ela tinha sua própria chave da nossa casa. Impressionante! E o Lucas nem estava acordado ainda. Então que porra ela veio fazer aqui logo cedo?

Eu não perguntei, é claro. Seria demais da minha parte. Mas enquanto fingia limpar as migalhas do pão que eu deixei cair em cima da bancada, vi quando ela se sentou no sofá com os pés para cima, totalmente relaxada e ligou a TV.

Que merda é essa? Alguém me explica?

Será que o Lucas esqueceu de avisar que Helena também está morando aqui em casa agora?

Eu pensei que o apartamento fosse de nós dois. Afinal, eu ajudo com todas as despesas. Ele não era nem louco de tomar uma decisão como essa sem me consultar.

A campainha tocou.

Deveria ser o Yuri.

− Deixa que eu atendo. – Corri até a porta.

Não era o Yuri coisa nenhuma. Era a mesma ruiva da outra vez. Aquela com sardas. Mas ao contrário de antes, ela não me parecia tão insuportável quanto a que estava agora esparramada no sofá da minha casa vendo a minha TV.

− O Lucas...

Nem deixei ela terminar.

− Ah, oi. Quanto tempo! Que bom te ver. – Dei um abraço nela. Ela me olhou com espanto. – O Lucas está sim. Entra. – Eu praticamente puxei a garota pelo braço e a arrastei para dentro na direção do quarto do Lucas. – O quarto dele é esse. Fica à vontade. Ele já deve ter acordado. – Menti.

Helena olhava para gente sem entender.

Corri para o meu quarto antes que sobrasse para mim. Me troquei na velocidade da luz, peguei minhas coisas de filmagem e saí dali antes que começasse a gritaria.

Subi correndo e cheguei lá em cima ofegante

Abri a porta sem nem bater.

− Você não vai acreditar, Yuri.

Eu me sentia tão diabólica.

Quando ergui meu olhar na direção do Yuri eu soltei um grito. Ele estava praticamente nu na minha frente, usando apenas uma cueca preta box.

− Porra! Se cobre, Yuri. Tenha mais respeito.

Ele riu.

− A culpa é sua que foi entrando sem bater.

Ele desapareceu em seu quarto. Pelo visto tinha acabado de sair do banho. Da sala eu ainda podia ouvir seus risos.

− Mas me conta. O que você aprontou dessa vez? – Ele gritou do quarto.

Scott se aproximou para me receber.

− Ah, esquece. Anda logo aí!

Quando ele voltou a aparecer estava usando um short velho e uma camiseta igualmente velha.

− Estou pronto!

Yuri preparou a tinta, enquanto eu tentava tirar o máximo de coisa do seu quarto e pôr na sala e o que não dava para tirar eu cobri com panos e jornais para não sujar.

Eu iria filmar absolutamente tudo. Depois iria juntar as partes e fazer um vídeo completo sobre reformas no quarto.

Quando estava tudo pronto, eu posicionei a câmera dentro do quarto dele e nós enfim começamos a pintar uma das paredes.

O processo inteiro levou boa parte da manhã. Enquanto esperávamos secar para dar a segunda demão, nós fizemos uma pausa e fomos comer alguma coisa: lanches de micro-ondas. Porque pelo visto Yuri não cozinhava nada assim como eu.

Levamos mais umas três horas para passar a segunda demão nas paredes e mais uma vez esperar secar para colocarmos os moveis de volta em seus lugares.

− Acho que uma pintura não será o bastante. – Observei, olhando em volta. – Você precisa de objetos de decoração!

Yuri e eu fizemos algumas pesquisas na internet e consultamos alguns sites com promoções. Acabei convencendo o Yuri a comprar alguns quadros, abajur, cortina, uma poltrona, jogo de cama, carpete.

− Desse jeito você vai me falir, Japonesa.

− Mas é por uma boa causa!

Já estava escurecendo quando o quarto já estava seco e as coisas de volta em seus lugares de forma organizada.

− Sobrou um pouco de tinta. – Disse ele e eu me aproximei para conferir.

Foi muito desleixo meu, pois Yuri aproveitou a situação para me sujar com um pouco de tinta. Eu já estava suja mesmo, mas ele atingiu meu ponto fraco: o cabelo.

Começamos uma guerra.

Por fim acabamos os dois parando em baixo do chuveiro. Não pelados, é claro. Yuri estava apenas me ajudando a tirar a tinta da minha pele com uma esponjinha.

− Quem poderia imaginar que fosse você tão legal? – Brinquei, agora sentada no sofá.

Eu estava limpa agora. Tinha tomado um banho ali mesmo e Yuri me emprestou uma camiseta dele. Os cabelos agora molhados e lavados estavam enrolados em uma toalha.

Yuri estava sentado na outra ponta do sofá. Ele pegou minhas petnas e puxou para cima do colo dele.

Não me importei.

− Eu te detestei no primeiro instante que te vi. Aquele dia da festa. Quando você me chamou de Japonesa pela primeira vez.

Yuri riu, passando as mãos de leve em minhas pernas.

− Fala sério. Eu sou mesmo irresistível. Vai me dizer que você não ficou encantada assim que me viu?

Foi a minha vez de rir, jogando a cabeça para traz.

− Mas você continua sendo um idiota.

− Você gosta, admita.

− É, talvez.

Sorrimos um para o outro.

Em menos de um segundo Yuri estava em cima de mim, me olhando fixo, sem qualquer vestígio de um sorriso provocador para sinalizar que aquilo era só uma brincadeira.

Meu corpo estava paralisado de medo.

Naquele momento seus olhos me diziam tantas coisas. Inclusive o que eu me neguei a enxergar todo esse tempo desde em que nos aproximamos.

Não era amor, nem paixão. E sim uma forte atração entre nós dois e que não surgiu só agora. Surgiu naquela vez, no dia da festa, quando ele me olhou impressionado com um sorriso divertido. E eu brava, não consegui não reparar no quanto ele era forte, alto e bonito.

− Eu quero muito beijar você agora, Manu.

Manu? Ele nunca me chamava pelo meu apelido. Somente pelo qual ele próprio inventou.

Mordi o lábio, sem saber o que eu queria.

Não, não era certo. Mas poucas coisas são certas nessa minha vida confusa e dramática. E agora, o que eu faço? O que eu digo a ele se nem eu mesma sei a resposta?

Yuri deve ter se cansado de esperar, porque se aproximou ainda mais como quem está prestes a tomar uma decisão por nós dois. Sua respiração forte agora estava de encontro com a minha. Seus olhos verdes dentro dos meus. Sua pele roçando na minha. Sua boca me procurando.

Meu coração parecia que tinha parado de bater.

Fechei os olhos quando senti seus lábios pressionados contra os meus. Eram gelados. Mas não tive coragem de abrir a boca e permitir que aquilo se intensificasse.

− Não podemos. – Digo em um sussurro.

− Eu sei. – Ele se afastou e de repente eu senti tanto frio. – Me desculpe. Eu não deveria ter..... Me desculpe.

Ele se levantou, evidentemente nervoso e confuso.

− Vou pegar um suco para a gente.


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Notas finais do capítulo

Quase rolou, hein. Quase!