Três Formas de Amar escrita por Mi Freire


Capítulo 13
Meu mais novo companheiro.


Notas iniciais do capítulo

Vocês já estão de férias? :)



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Na semana seguinte acompanhei o Kevin ao aeroporto. Tínhamos passado os últimos dias juntinhos, como não fizemos durante esse mês inteiro em que começamos a namorar. Mas foi bom. Foi o bastante para me dar a certeza de que ficaríamos bem e sobreviveríamos a isso.

Voltei para casa de carro, mas parei no acostamento durante o trajeto e fiz uma ligação rápida.

− Yuri?

Sim, tínhamos trocado números a alguns dias depois do fim do treino.

− Quer dar uma volta comigo?

Yuri tinha se mostrando um ótimo amigo ultimamente. Diferente do Lucas que mesmo após aquela nossa última conversinha, tinha chutado o balde de vez e me esquecimento completamente para ficar um tempo com a Helena.

Quer saber? Esses dois se merecem!

Peguei Yuri no ponto do ônibus onde combinamos, ele entrou no carro e beijou minha bochecha.

Eu poderia dizer que já estava me acostumando com essa nova intimidade entre nós. Mas não era bem assim. Eu ainda sentia minha pele queimar quando ele me tocava.

Não pensar muito sobre isso ajudava a suavizar a situação.

− Não sabia que você dirigia. – Ele observou.

− Eu dirijo quando posso.

− E para onde vamos?

− Preciso me divertir um pouco. Acabei de me despedir do meu namorado e sabe-se lá por quanto tempo vai ficar fora.

− Não sabia que você tinha um namorado.

− Você não sabe muito sobre mim ainda. – Eu tive que rir. – Pois é. Eu tenho um namorado. Ele é guitarrista de uma banda nova. Eles vão fazer sua primeira turnê agora pelos principais pontos do país. O nome dele é Kevin. – Acrescentei antes que ele perguntasse. – Nós nos conhecemos no colégio e já namoramos uma vez por um tempo curto.

− E porque acabou?

− Éramos muito jovens.

− E ainda são.

− Diz o cara que tem sessenta anos.

Ele riu.

− Tenho vinte e sete e você?

− Vinte e sete? Sério? Eu tenho dezenove!

− Eu já imaginava.

− Pareço tão nova assim?

− Às vezes parece que você tem doze anos.

− Está me chamando de infantil?

− Claro que não. Até porque todos nós somos algumas vezes. Não importa a idade.

Fomos ao parque. A ideia foi do Yuri. E eu concordei. O parque era pequeno com brinquedos bem bobinhos. Mas estava surpreendentemente cheio aquela noite.

− Onde vamos primeiro? – Perguntou ele assim que entramos após comprar os ingressos.

− Tiro ao alvo! – Eu praticamente berrei e corri até a barraca de tiro ao alvo. Ele veio atrás. – Vamos apostar.

− Apostar o quê? – Perguntou intrigado.

− Cerveja, pode ser?

− Você quer ficar chapada aqui no parque? Rodeada de pais e crianças?

− Fala sério! Se tiver com medo é só arregar.

− Eu nunca arrego!

Ficamos um bom tempo ali tentando acertar o alvo. Fomos marcando os pontos no celular. No final, ele acabou perdendo para mim, mais uma vez. Fomos atrás de cerveja.

Só ele bebeu dessa vez.

Em seguida fomos em brinquedos mais radicais, apesar de não serem nada extraordinários. Quem gritasse ia perder e eu nem preciso dizer que dessa vez foi quem perdi.

Bebi cerveja.

− Eu duvido você ir ali naquele senhor e pedir algumas moedas para comprar um algodão doce.

− Yuri! Ficou maluco? Ele não vai cair nessa.

− Use seu charme! Ou está com medo?

− Eu vou lá. – Digo decidida.

Não foi fácil. Eu era tímida e péssima mentirosa. Afinal eu tinha dinheiro o suficiente para comprar quantos algodões doce quisesse. E nesse momento ia me aproveitar do coitado do senhorzinho caduco que estava de bobeira por ali.

− Consegui! – Voltei saltitante para perto do Yuri e praticamente esfreguei a nota de dois reais na cara dele.

Foi a vez de ele beber. Virar a cerveja com tudo.

− Agora minha vez. Eu duvido você ir ali naquela morena, jogar seu charme e conseguir um beijo dela.

− Essa é moleza! Ninguém resisti ao meu charme.

Fiquei de longe, apenas observando.

Contei no relógio. Em menos de trinta segundos ele tinha beijado a morena e dado um aperto de leve no bumbum dela.

Eu morri de rir. Foi difícil beber assim.

As apostas continuaram durante toda a noite. Yuri certamente ficou bêbado primeiro do que eu.

− Acho que exageramos. – Eu observei entre risos enquanto íamos sendo enxotados pelos seguranças do parque.

Já estava na hora de fechar. Mas não queríamos ir embora agora.

Fomos cambaleando até o meu carro. O único em todo estacionamento escuro iluminado apenas pela pouca luz que vinha do parque a certa distância.

− Não acho que deveríamos dirigir. – Ele me impede de abrir a porta do carro assim que enfio minha chave ali.

− Então o que vamos fazer? – Pergunto, olhando em volta. Estamos muito longe de casa.

− Podemos ficar aqui até amanhã.

− Ficou doido? – Dei risada. – Pode ser perigoso.

− Que nada! Você não confia em mim?

Sabe de uma coisa? Eu confiava sim.

Íamos ficar.

Pensei em sentar no chão para descansar um pouco as pernas. Eu me sentia cansada e meio desorientada. Não sei o que houve mas tropecei em algo e quase fui de cara no chão. E olha que eu nem estava de saltos. Yuri me segurou a tempo, me pressionando forte de encontro ao seu corpo.

Olhei para cima, para a imensidão de seus olhos verdes ao mesmo tempo em que ouvia seu coração bater forte dentro do peito. O meu também estava muito rápido.

Será que ele conseguia sentir o mesmo que eu?

Toda aquela tensão entre nós?

Por um rápido momento pensei em agarra-lo, só para ter a certeza de que não estava delirando e que ele era mesmo tão bom quanto parecia ser. Mas então o Kevin me veio à cabeça. E eu me lembrei que tinha um namorado e não era nada bonito ficar agarrada ali no escuro com outro cara.

Sentei-me no chão como estava planejando momentos antes de pensar em beijar o Yuri.

Que merda eu tinha na cabeça?

E o meu namorado?

Yuri se sentou também.

− Sabe, seu namorado tem muita sorte.

− Não acho que tenha tanta assim.

− Porque não?

− Eu não sou muito boa como namorada.

− Eu duvido.

Isso porque ele não era meu namorado e não sabia que eu pensava em agarrar outro que nem era meu namorado.

Confuso, não é mesmo?

− Acho que estou com sono. – Bocejei e por fim acabei encostando minha cabeça no braço dele.

− Pode dormir. Eu fico de vigia.

Quando acordei mais tarde como o corpo dolorido de ter adormecido sentada, vi que o sol estava começando a aparecer.

− Você não dormiu nada? – Perguntei a ele, passando a mão nos cabelos.

− Não. Fiquei de vigia.

Eu ri.

− Você é um bom vigia, sabia?

Ele sorriu.

− Agora eu tô aqui pensando. – Levantei-me e abri a porta do carro. – Porque não dormimos aqui dentro?

− É, verdade. Também não pensei nisso.

Caímos na risada. Fomos tão burros!

Olha só o que a bebida não faz com a gente.

Quando cheguei em casa ainda era muito cedo e fui logo para minha cama onde adormeci o dia inteiro.

Acordei mal-humorada com o barulho de risos que vinham da sala. Ninguém mais me respeita nessa casa?

Lucas estava fazendo cocegas na Helena e ela quase morria de tanto rir.

− Manu!

Lucas parou assim que me viu indo direto pra cozinha que se separava da sala apenas pela bancada.

− O Kevin ligou.

− Ah, é? O que ele queria?

− Falar com você.

− Legal.

Bebi água e voltei para o meu quarto.

Já era noite e eu estava sem sono por ter dormido demais. Postei vídeo novo no canal e atualizei o blog com alguns posts. Acabei me esquecendo de telefonar de volta para o Kevin. Mas sabia que ele era capaz de entender.

Yuri: Acabei de ver todos os vídeos do seu canal.

Eu: Mentira!

Yuri: Vdd hahaha E gostei mais do primeiro

Eu: Não brinca! Eu era ridícula naquela época.

Yuri: Mas só faz dois anos. Vc nem mudou tanto!

Eu: Ta me chamando de ridícula? Hahahaha

Yuri: Não, Japonesa. Vc sabe que é linda :)

Eu: Me sinto lisonjeada hahaha :)

Yuri: Ta de bobeira?

Yuri: Quer sair? Vms levar o Scott para passear

Eu: Pensei que isso fosse uma tarefa da Helena

Yuri: Era, até ela esquecer o coitadinho.

Calcei minhas chinelas e fui de encontro ao Yuri e Scott que já me esperavam lá em baixo na calçada.

− Eu não vou beber nem tão cedo! – Comentou Yuri. – Estou com uma ressaca terrível.

− Pelo menos conseguiu dormir?

− Eu dormir a tarde inteira! – Ele confessou, rindo.

− Eu também!

Scott fez xixi em vários pontos.

− Vamos voltar, amigão?

Scott olhou para ele como se entendesse cada palavra.

Esse cachorro era muito mais esperto que eu!

− Helena está com o Lucas? – Perguntou Yuri. Estávamos quase perto do prédio.

Quando chegamos ao invés de entrarmos, nós nos sentamos na calçada, encostados no prédio.

Todos que passavam olhavam para a gente.

Talvez pensassem que fossemos mendigos.

− Eles não se desgrudam mais. Eu pensei que você tivesse dito que ela não era uma pessoa má. Porque ela roubou o meu irmão de mim em todos os sentidos.

Yuri riu.

− Eu entendo. Afinal, sempre foram só vocês dois e agora as coisas mudaram.

− Não é só isso. Lucas costumava ser meu ponto de equilíbrio. Nós conversávamos sobre tudo, ele estava ao meu lado em todos os momentos, me ajudava nos estudos ou com o canal e o blog e agora ele nem pergunta como eu estou.

− Poxa! Ele pegou pesado.

− Mas eu não culpo só ela. Lucas também é culpado! Parece que desde que a conheceu eles vivem presos dentro de seu mundinho particular onde só existe os dois. Não acho que isso seja saudável para eles.

− E não é.

− Eu sei! Claro que sei. Mas do que adianta falar? Sabe, nem eu meu namorado somos assim. E olha que eu gosto dele desde o primeiro ano do ensino médio.

− É, você parece bem tranquila em relação a esse tipo de coisa.

− É porque eu sei separar as coisas.

Ficamos conversando sobre um bom tempo e eu nem vi a hora passar. Mas precisei me despedir logo, pois estava ficando tarde e eu queria dormir mais cedo.

Não tive uma manhã fácil na faculdade. Eu odiava ser obrigada a participar de trabalhos em grupos porque esse tipo de coisa nunca dava certo para ninguém.

No intervalo, aproveitei o tempo livre, agora que Lucas e eu não ficamos mais juntos de bobeira e liguei para o Kevin. Mas nada dele me atender. E eu tentei muitas vezes!

No treino de boxe mais tarde, pelo menos a aula foi produtiva. Yuri tinha voltado a pegar no meu pé. Mas eu não ficava mais irritada com ele, nem mesmo quando ele ainda insistia em me chamar de Japonesa.

Ele ainda me tocava por qualquer coisinha. Mas não o afastava mais. Eu até que gostava de sentir aquela correte elétrica percorrer meu corpo. Algo com certeza tinha mudado entre nós e por mais que eu não soubesse o que fosse, eu gostava disso.

− Acho que suas alunas estão começando a ficar com ciúmes de você por estar me tocando com mais frequência.

Comentei ao final da aula. Estávamos sozinhos.

− Elas não são como você. Elas levam isso na maldade e para o lado pessoal e sexual. Mas as vezes só estou fazendo meu trabalho para bem delas.

Sua resposta me pegou de surpresa.

Eu pensei que ele tivesse flertando com ela.

Com todas nós.

Mas pelo visto me enganei.

− Bom, tenho que ir agora.

− Não. Espera! - Ele me chamou. − Passa lá em casa mais tarde. Por volta da hora do jantar. Estou pensando em pedir pizza.

− Eu pensei que você não comesse esse tipo de coisa, assim como Helena.

− Por um tempo eu parei de comer por causa dela. Ela é meia neurótica com esse tipo de coisa. Mas agora que ela mal para em casa, estou aproveitando e mergulhando com tudo.

− Você tem um corpo perfeito! Nem precisa esquentar a cabeça com isso. – Admiti, me sentia à vontade agora que estávamos mais próximos do que já estive com Helena. – Mas pode deixar. Vou passar lá sim. Estou doida por uma pizza.

Ele piscou e eu sorri satisfeita.

Pela primeira vez compreendi o sentido da frase: Parece que alguns males acontecem para o bem. Helena e Lucas tinham me excluído totalmente de suas vidas. Mas agora eu tinha o Yuri e ele estava se mostrando um excelente companheiro.


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Notas finais do capítulo

Vocês aprovam essa amizade?