Lovebelt escrita por Nina Antunes


Capítulo 5
Capítulo 5




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Capítulo 5

(Trilha sonora: Bloodstream – Ed Sheeran)

O grito rouco e forte de Rin cortou o som contínuo da chuva pesada caindo sobre as árvores, sobre a terra encharcada e sobre o rio. Escutar a voz desesperada dela e ver o pequeno casaco vermelho boiando no centro do rio fez com que um arrepio, seguido de um mal estar se espalhassem pelo corpo de Sesshoumaru. O estômago dele revirou, a garganta foi preenchida por uma ardência insuportável e sua vista escureceu. Sentiu, por um instante, como se fosse perder a consciência. Embora seu coração não quisesse ver aquela cena, ele olhou por cima dos ombros e viu Rin ajoelhada no barro, com os dedos encravados na terra. Embora a voz dela já tivesse gradativamente desaparecido, os lábios abertos ainda davam espaço para o choro desesperado que ela expressava. Não fosse a adrenalina que percorria seu corpo, Rin certamente teria desmaiado ao ver o que viu. Seu corpo perdeu todo resquício de força, a ponto de impedi-la de respirar. Sesshoumaru só tomou nota que estava reagindo quando seus tornozelos mergulharam na água fria do leito do rio. Por um instante – e ele não sabia exatamente o motivo daquilo – um flash dele mesmo mergulhando na piscina olímpica do centro de treinos da faculdade invadiu sua mente.

— A correnteza está forte. – Gritou um policial, ao tentar contê-lo. Foi por isso que aquela memória surgiu. Era uma resposta inconsciente ao apelo daquele homem: ele não só sabia nadar, e portanto não se afogaria, como fora o nadador com o melhor tempo já registrado em Yale.

Sesshoumaru deu algumas braçadas, lutando contra o ritmo da correnteza. Conseguiu, finalmente, alcançar o casaco vermelho e puxou-o, esperando pelo pior. A dor lacerante que preenchia seu peito foi substituída por um repentino alívio assim que o tecido leve foi puxado de cima das pedras. Não havia um corpo ali, como parecia à distância, somente o casaco. Nadou novamente até o leito e ignorou os questionamentos dos dois policiais que estavam à margem. Naquele momento, a única coisa que causava mais dor a ele do que a possibilidade de nunca mais ver Melissa era ver a desespero de Rin. E ele precisava confortá-la. Deu passos pesados e largos até ela, agachando-se no solo lamacento.

— Tenho certeza que Melissa está viva. E juro que vou trazer nossa filha de volta. – Os olhos dourados longos fixaram-se nos orbes castanhos e arredondados dela. Ele segurou as duas mãos de Rin, envolvendo tanto os dedos dela quanto o casaco vermelho encharcado. Ela resfolegou, permitindo que aquele suspiro sufocante finalmente fugisse do seu peito. Acenou repetidas vezes, com o olhar fixo no dele. Apesar de tudo que Sesshoumaru fizera, naquele instante Rin só confiava na palavra dele. Ao encarar os olhos dourados, ela percebeu que havia somente uma pessoa que entendia a dor que seu peito abrigava.

—___________________________________________________

Já era madrugada quando a chuva finalmente cessou. Os ventos turbulentos também pararam, fazendo com que o assovio entre as árvores se calasse. Rin estava sentada em um tronco caído, ao lado de Kohako. Segurava com força o casaco vermelho de Melissa e via o xerife falando no rádio o tempo todo, comunicando-se com o policial que saiu com Sesshoumaru à procura da filha. Ele havia decidido embrenhar-se na mata para procurar a menina e o policial, amigo de Kohako, resolveu ignorar a ordem do chefe para ajudá-lo. O próprio Kohako também queria seguir na busca, mas o xerife recomendou que alguém ficasse com Rin. Não fosse isso, ela também teria ido atrás da filha. O coração aflito dela não permitia que o lado racional ponderasse aquela possibilidade. Rin estava exausta, desorientada e frágil. Se tivesse entrado na floresta para procurar Melissa, provavelmente teriam que encontrá-la também. E a única pessoa capaz de obrigá-la a esperar e vigiá-la era Kohako. Ele também estava aflito, principalmente porque sua experiência dos anos em que foi policial dizia que casos como aquele não costumavam ter um final feliz. Por isso, o ódio o consumiu quando ele ouviu Sesshoumaru alimentando as esperanças de Rin. Cada instante de aumento de expectativa dela significava mais um pouco de dor que ela sentiria caso Lissy não fosse encontrada, ou pior, se fosse encontrada sem vida. Não queria nem sequer pensar na última possibilidade. Mas a verdade era que conforme o tempo passava, os riscos aumentavam e as chances dela diminuíam.

Rin estava estática, como se estivesse em um transe. Chorava silenciosamente, com as mãos unidas. Havia tentado começar a rezar algumas vezes, mas a oração era sempre interrompida pelo caos de vozes, memórias e sentimentos na sua mente. Dolorosamente, lembranças da infância de Lissy vinham à sua mente. Pensava no dia em que ela nasceu, na primeira vez em que falou mamãe, na festa de seu segundo aniversário, na primeira vez na escola. Sentia medo de não ter a chance de ver a filha crescer, de não ver sua adolescência, de não ensiná-la a dirigir, de não vê-la se formar, nem seu casamento. Estava certa de que não poderia seguir em frente se Lissy não voltasse para casa. Aquele pensamento foi interrompido pela voz nervosa do xerife. Kohako levantou-se em um pulo para saber o que estava acontecendo e ela também ficou atenta à resposta.

— Perdi o contato com eles.

Kohako passou a mão pelos cabelos, exasperado. Rin levantou-se também, pegando a lanterna que estava no chão, ao lado do tronco. Começou a caminhar em direção às árvores, mas logo foi impedida por dedos fortes segurando seu braço.

— Você não pode fazer nada agora, Rin. – Ele pediu, com a voz trêmula.

— Preciso saber o que aconteceu com a minha filha. – Respondeu, aumentando o tom de voz.

— Eu sei que você quer trazer Lissy de volta, mas isso não vai acontecer. Você não está em condições de procurá-la, ainda mais no meio da noite. – Segurou-a com mais força, em resposta à tentativa dela de se soltar.

— Vou perder a sanidade se ficar parada por mais um instante. Quanto mais pessoas procurando por ela, mais rápido a encontraremos. – Argumentou, percebendo que ele não a soltaria. Mexeu-se outra vez, puxando o braço. – Eu preciso ir.

— Não vou permitir que você vá. – Endureceu o tom de voz.

— Não quero sua permissão. A responsabilidade é minha, e Melissa é minha filha, não sua. – Gritou, finalmente, livrando-se da mão dele.

— Rin, aquele homem te encheu de esperança, mas você precisa começar a pensar racionalmente, precisa se preparar caso...

— Não ouse terminar essa frase. – Ela ameaçou, empurrando Kohako. A fúria queimava no fundo dos olhos de Rin.

— Escuta, eu amo Lissy. Estou ao lado de vocês duas desde que você me contou que estava grávida. Eu só quero te proteger. – Suplicou, segurando os dois pulsos dela.

— Então não diga que minha filha não vai voltar. – O choro tomou conta da voz de Rin novamente e ela baixou a guarda novamente.

— Eu não disse isso... – O nó na garganta quase impediu que ele terminasse as últimas sílabas. Sua mente lembrou-o de quantas vezes viu mães na mesma situação de Rin durante os tempos de patrulha. Novamente, a aflição de lembrar quantas vezes o fim foi trágico o atingiu. – Por mais difícil que isso seja, você tem que ser forte.

— Melissa não está morta. Eu sinto isso. – Ela aproximou-se outra vez, olhando-o fixamente. – Você não é pai, por isso é incapaz de saber qual é a sensação.

— Eu posso não ser pai de sangue de Lissy, mas eu estive presente. Aquele cara não.

Rin ficou em silêncio por alguns instantes, apenas olhando-o. A respiração forte e ruidosa dela fazia com que seu peito inflasse e recuasse repetidas vezes. – Ele está procurando por ela, e isso é o suficiente pra mim neste momento.

— A tentativa dele de bancar o herói não o redime de todas as outras coisas. Ou você esqueceu quem ele realmente é? – Kohako cerrou os pulsos, travando os dentes de raiva.

— Você está tentando me enlouquecer? – Rin passou os dedos entre os cabelos úmidos, encarando o solo. – Minha filha está desaparecida e você quer discutir isso, justo agora?

— Eu só estou sendo racional. Não quero que você encha o peito de esperança de que ele vai trazer Lissy de volta, porque isso pode... – A voz firme de Kohako foi interrompida pela iluminação de uma lanterna. Assim que ele e Rin se viraram, viram o contorno de duas sombras: a do policial e a de Sesshoumaru.

Logo que os olhos de Rin se acostumaram com a luz e puderam enxergar com mais clareza a figura de Sesshoumaru, ela viu Lissy. A menina estava encolhida, agarrada ao pescoço do pai, embora estivesse acordada e com os olhos fixos no rosto dele. O macacão estilo jardineira branco estava completamente coberto de terra, e os arranhões nos braços e pernas mostravam que ela havia andado entre os arbustos. Rin correu, sem que os pés pudessem sentir o chão – foi como se tivesse flutuado até lá. Assim que chegou aos dois ela quase se arremessou contra Sesshoumaru. Envolveu a filha e ele em um abraço longo e apertado. Moveu os cabelos molhados de Lissy e beijou a testa dela repetidas vezes, grudando o rosto da menina em seguida.

— Você voltou pra casa, meu amor, está tudo bem agora. – Ela sussurrou, apertando mais a filha contra si.

Sesshoumaru tentou evitar aquilo, lutando para atender seu lado racional, mas ele também envolveu Rin e a filha. Com o espaço entre seus braços preenchido, sentiu-se completo pela primeira vez em toda a vida. O coração acelerado transbordava alívio, felicidade e... amor. A alegria que sentiu ao encontrar Lissy deitada entre as folhas, embaixo de uma árvore no leito do rio, também era inédita para ele. E mais ainda quando a menina o abraçou com toda a força, aliviada por vê-lo ali e sentir-se segura. Não sabia exatamente em qual momento havia percebido aquilo, mas agora sabia que existia um sentimento forte e genuíno em seu peito, que havia sido reprimido desde que Melissa nasceu. E agora sentia como se tivesse todo o tempo do mundo para permitir que sentisse aquele amor.

—___________________________________________________

(Trilha sonora: Head or your heart - Mat Kearney)

Faltava menos de duas horas para o amanhecer quando Sesshoumaru parou a caminhonete de Rin na porta da casa dela, em Lovebelt. Depois de tudo que aconteceu naquele dia, ela decidiu voltar para a cidade. Não conseguiria dormir em paz com Lissy na fazenda, tampouco poderia voltar a trabalhar nos campos de trigo no dia seguinte. Precisava de pelo menos um dia para se acalmar, organizar o caos da sua mente e, principalmente, cuidar da filha. Kohako e Sango cuidaram da abertura da ocorrência na polícia enquanto Sesshoumaru levou Rin e a menina para casa. Depois que a adrenalina baixou, Rin percebeu que estava esgotada. Não conseguiu nem mesmo lutar contra o sono no caminho entre a fazenda e a cidade. Dormiu, no banco de trás da cabine da caminhonete, com Melissa no colo.

Sesshoumaru estacionou e desceu, abrindo a porta de trás. Assim que ele envolveu a menina para tirá-la do carro, Rin reagiu em reflexo, segurando a filha com mais força contra si. Com tudo que havia acontecido naquela noite, a sensação de alguém tirando Lissy de seus braços a assustava.

Choose one, baby, your head or your heart, we could not of known it'd go this far

— Desculpe. – Sussurrou, finalmente soltando a menina. Sesshoumaru a segurou, acariciando as costas cobertas por uma manta. Rin abriu a porta da casa e ele entrou, sentindo um turbilhão de lembranças de seis anos antes o invadindo. Sentiu-se zonzo, mas lutou para permanecer firme. Subiu as escadas de madeira que levavam ao quarto infantil, decorado de azul, amarelo e lilás. Reparou como cada coisa estava caprichosamente arrumada, embora a casa como um todo fosse simples.

Lissy não acordou sequer enquanto Rin colocava um pijama quente e seco em seu corpo. Secou o excesso de umidade do cabelo castanho claro com uma toalha grossa e a colocou na cama.

— Eu te amo, Lissy. – Ela sussurrou próximo ao ouvido da filha. – Você é a minha vida. Eu prometo que vou ser uma mãe melhor.

Sesshoumaru sentiu um nó na garganta ao ver a cena. Lembrou-se do desejo de Rebeca de ter um filho, de seu plano e da razão que o levou de volta a Lovebelt. Sentiu-se enojado e cada vez mais zonzo.

Choose one, baby, it's the hardest part. Losing one becomes the very start

— Você pode ficar por mais alguns minutos? Preciso tomar um banho, ainda estou coberta de terra. – Rin pediu, interrompendo os pensamentos dele. Só então ela havia percebido que estava com a mesma roupa desde de manhã e que, além de ter se sujado com a lama do trabalho no campo mais cedo, havia ainda tomado chuva e se sujado de lama durante a busca por Melissa. – Não quero que ela fique sozinha.

— Claro. – Respondeu, sentando-se em uma poltrona ao lado da pequena cama infantil.

— Não vou demorar. – Disse.

Logo que Rin saiu, Sesshoumaru fechou os olhos, esfregando o rosto com as mãos. Olhou para Lissy dormindo, serenamente. A menina também estava exausta. Sabe-se Deus o que ela passou durante as horas em que ficou perdida na mata, sozinha.

Aquele dia havia sido interminável. Mal podia lembrar-se da briga com Rin e do carro destruído. O ódio de mais cedo havia se apagado em seu peito. Toda dor que sentiu ao ver o desespero de Rin o fez lembrar que, não importava quanto tempo passasse ou quanto ele lutasse contra aquilo, ela ainda seria a única mulher da sua vida. E embora ele ainda valorizasse as razões que o fizeram escolher a vida com Rebeca, Sesshoumaru estava começando a sentir que aquele plano de conseguir a guarda da filha seria mais difícil que imaginava. Principalmente porque não poderia suportar ver Rin sendo separada da filha outra vez.

Droga, pensou. Sua mente estava tão caótica, que estava começando a deixar que as emoções tomassem conta de suas atitudes. Não podia permitir aquilo, não havia ido tão longe para fraquejar agora. Tinha que deixar esses sentimentos de lado, até que sua razão voltasse ao normal. E, por enquanto, tudo que importava era o bem-estar de Lissy. Mal percebeu quando o sono tomou conta de sua consciência. Sesshoumaru estava esgotado também, afinal.

The trains are ringing in the yard again. Tell me, have I lost a friend?

Minutos depois, Rin entrou pelo quarto, vendo-o cochilando na cadeira. Pensou em não incomodá-lo, mas depois daquele dia, seria desumano permitir que ele dormisse em uma poltrona. Tocou o ombro dele, recuando um passo em seguida. Logo que Sesshoumaru abriu os olhos e viu Rin com uma camisola de algodão preta de mangas médias e os cabelos úmidos, ele achou que estivesse ainda sonhando. Piscou repetidas vezes para voltar à realidade e endireitou-se na poltrona, esfregando os olhos novamente.

— Desculpe, mas acho que é melhor todos descansarmos – Ela quase sussurrou, desviando o olhar.

— Tem razão. – Respondeu, levantando-se. Sesshoumaru aproximou-se de Melissa e depositou um beijo rápido no topo dos cabelos da menina. Em seguida, saiu do quarto. Só então percebeu que Rin o seguia.

Desceram as escadas, chegando à sala. Somente o abajur de chão, no canto do cômodo, estava aceso, o que deixava o ambiente a meia luz.

— Espera. – Rin pediu, ao perceber que a mão dele já segurava a maçaneta da porta da frente.

Sesshoumaru virou-se, sentindo as pernas trêmulas. Estava sentindo-se perturbado e, naquele momento, temia que sua razão perdesse a batalha constante de consciência.

— Preciso te agradecer pelo que você fez por Melissa. Sem você ela teria passado a noite sozinha, ou... – Apertou os olhos, tentando fazer aquela ideia desaparecer da mente. – Enfim, eu nunca vou esquecer o que você fez por ela.

— Eu me importo com ela. – Disse, acenando com o rosto em seguida.

— Eu... – Rin respirou, demonstrando que também tentava manter o controle. – Prometi a mim mesma e, principalmente, à Lissy que não vamos mais brigar. Decidi enterrar tudo que aconteceu nos últimos anos, deixar tudo de lado, pelo bem dela. Se não nos entendermos, vamos só magoá-la.

— Tem razão. – Acenou outra vez, olhando-a fixamente.

— Eu perdi a razão hoje de manhã e vou reparar esse erro. Vou pagar pelo conserto do seu carro. Se não for possível acionar o seguro do trator, eu...

— A sua boca pode dizer mil vezes que você esqueceu-se de tudo que aconteceu entre nós, mas a frieza com que você fala comigo e o jeito distante como me olha não escondem sua mágoa. – Sesshoumaru a interrompeu, dando um passo à frente. Ele havia definitivamente perdido a razão e estava, finalmente, permitindo que as emoções falassem. Eles ficaram perigosamente perto e o coração de ambos pulou uma batida, perdendo o ritmo. – Você nunca vai compreender os motivos da minha decisão, as razões que me levaram a partir, não é?

Rin ficou em silêncio por um longo instante. Sentiu os olhos encherem de lágrimas, embora ela estivesse segurando-as para que não escorressem. Por um instante, pensou que o nó na garganta a fosse impedir de falar.

— Você tem razão. Eu nunca vou compreender a sua ausência. E não simplesmente porque você partiu, me deixando sozinha. Há seis anos, se você tivesse me dito que amava aquela mulher, ainda seria doloroso te ver ir embora, ainda seria difícil passar por tudo que passei sozinha, mas eu entenderia, respeitaria o seu motivo. Porque pra mim, nada é mais relevante que o amor. – A voz trêmula falhou por um instante, mas ela obrigou-se a continuar, dizer tudo que estava engasgado em seu peito.

Ele sentia a ardência na garganta aumentar. As mãos formigavam e o coração estava fora de controle. Finalmente Rin havia derrubado o muro de polidez e frieza que a mantinha a salvo, distante dele.

— Mas o pior de tudo isso é que você não ama aquela mulher. Nunca amou, nunca vai amar. O que você ama são as coisas que ela te proporcionou. Uma carreira extraordinária, uma vida luxuosa na alta sociedade de Nova York, um casamento perfeito, com uma mulher inteligente, estudada e influente. Mas é a mulher que você não ama. – Repetiu, travando os dentes em uma linha de raiva e ressentimento. – É por isso que eu nunca vou respeitar ou perdoar a sua decisão de partir. No entanto, Lissy já te perdoou por isso e vai te dar a oportunidade de saber o que é amar alguém de verdade. E se você conseguir colocar esse sentimento acima das outras coisas que você ama, você vai ter o amor da minha filha. E eu decidi hoje que não vou interferir.

Sesshoumaru sentiu como se o chão tivesse desaparecido. Ouvir tudo aquilo havia feito com que a mágoa surgisse em seu peito. Mas não era mágoa de Rin, era a dor de lembrar a escolha que fez. Ela tinha razão em tudo, ele não amava Rebeca. Não foi este o motivo que o fez voltar para Nova York e reprimir tudo que sentia por Rin. A verdade é que ele havia agido racionalmente a vida toda, havia calculado cada passo e dependia disso para que seu futuro fosse planejado e previsível. No entanto, se tivesse permitido que a razão fosse derrotada há cinco anos, teria sentido como se todo seu esforço – a faculdade de direito, as infinitas horas trabalhadas no escritório e o distanciamento de todas as pessoas próximas – tivesse sido jogado fora. Teria desistido de seu sonho mais ambicioso a apenas um passo de realizá-lo. E isso, talvez, ele não pudesse suportar. Casar com Rebeca foi uma decisão que ele tomou com a razão e, embora aquilo implicasse algo doloroso em seu peito, ele não podia se arrepender agora. Precisava manter-se forte e reprimir aquela mágoa.

Não conseguiu pensar em nada, nem sabia se sequer havia algo a ser dito. Desviou o olhar trêmulo do de Rin e deu as costas, abrindo a porta. Ela apertou os olhos, abraçando o próprio corpo. Sentia uma mistura de alívio e aflição. Havia finalmente dito o que a perturbava e o silêncio dele só confirmou que ela tinha razão. Sesshoumaru não amava a mulher dele – e isso não aliviava em nada o ressentimento de Rin. Pensar que ele desistiu do amor dela por causa de uma vida luxuosa em Nova York a fazia ter certeza que ele nunca a amou realmente. Foi melhor assim, ela pensou. Embora ele fosse ser, para sempre, o único homem que ela amou, se Sesshoumaru não a amava, Rin preferia o sofrimento à indiferença. Era isso que a diferenciava de Rebeca.

Trains are ringing in the yard again. One road opens and one road ends


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Notas finais do capítulo

Oi gente

Quanto tempo, eu sei. Atrasei pra caramba esse capítulo, mas só tive tempo de escrevê-lo agora. Estou trabalhando muito! Espero que vocês me perdoem por isso e que comentem (muito muito muito!) sobre o que acharam do capítulo.

Prometo que vou tentar voltar ao ritmo de postagem com um capítulo a cada quinze dias, pelo menos.

Beijos e bom domingo!