Lovebelt escrita por Nina Antunes


Capítulo 3
Capítulo 3




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Capítulo 3

Os dez dias seguintes passaram lentamente para Rin. O início da colheita do trigo fez com que suas manhãs e tardes ficassem cada vez mais ocupadas. E embora as tarefas da fazenda a atribulassem, sua mente não conseguia desligar-se da filha, o que fazia com que os dias se arrastassem. Antes de Sesshoumaru aparecer, Lissy acompanhava Rin em algumas tarefas. Ela gostava de ir até o armazém, para ver o trigo começar a ser moído. Adorava ver o movimento das pás enferrujadas do enorme moinho, que rodava freneticamente com os primeiros ventos do verão. Quando Rin precisava ir até o campo, no entanto, Melissa ficava com Sango na doceria. Rin não gostava de ter a filha perto das máquinas de colheita e, como ela mesma acabava operando algumas delas, não conseguia ficar o tempo todo atenta aos movimentos da filha. E mesmo que Lissy adorasse a fazenda, ela não podia ficar naquela extensão de terras sem supervisão.

Isso tudo acontecia antes. Agora Lissy estava passando as tardes na confeitaria, mas na companhia de Sesshoumaru. Rin pedia sempre que Sango os acompanhasse, mas a verdade era que, com o trigo novo chegando do armazém, ela tinha pouco tempo livre fora da cozinha. As férias das crianças estavam chegando e as encomendas de doces sempre cresciam nessa época. Sango só tinha tempo de buscar a afilhada na escola e levá-la até a confeitaria, lugar em que Sesshoumaru estava sempre esperando. Juntos, eles tomavam o café da tarde, faziam o dever de casa de Lissy e conversavam até que Rin chegasse da fazenda, no início da noite. No começo, Sango ouvia da cozinha somente a voz da menina, contando animadamente histórias sobre a escola, a colheita de trigo e das brincadeiras que ela aprendia. No entanto, a cada novo dia Sango podia perceber que Sesshoumaru estava falando mais, compartilhando histórias de Nova York e da infância dele. A ligação entre eles crescia e a maneira com que Sesshoumaru olhava para Melissa também mudava. Havia algo puro, doce nos olhos dourados, mas eventualmente um brilho de arrependimento surgia. Sango acreditava que aquilo era pelos cinco anos em que Sesshoumaru esteve longe, mas ele sentia aquilo toda vez que se lembrava do motivo de sua ida a Lovebelt. Principalmente quando Lissy perguntava sobre Nova York.

Rin não gostava daquilo, mas não havia muito a ser feito. Ficava com o coração apertado toda vez que imaginava a possibilidade de Sesshoumaru simplesmente partir, como aconteceu anos atrás. Melissa não saberia lidar com aquilo. E o fato de pai e filha se aproximarem tão rápido piorava a situação. Era óbvio que havia uma ligação entre os dois, algo que não podia ser explicado. Embora Melissa realmente se parecesse muito com Rin fisicamente, as expressões e os jeitos pareciam muito os de Sesshoumaru. Toda vez que Rin chegava a confeitaria e via os dois sentados juntos, ela reparava como a postura deles era parecida. O jeito de segurar o lápis, a atenção com que liam, a expressão que faziam ao pensar, a forma com que os dois apoiavam o queixo sobre os dedos. Já havia percebido alguns destes sinais antes, mas agora, tudo parecia muito mais óbvio. Lissy estava muito contente com a presença do pai, mas Rin estava a cada dia pensando na necessidade de manter uma distância saudável entre os dois. Não queria, claro, afastá-los completamente, mas precisava colocar aquela situação sob seu controle. Afinal, Lissy era sua filha.

Rin pensava naquilo, ainda deitada na cama. Faltavam alguns minutos para que seu relógio despertasse, na mesinha de cabeceira de madeira, mas ela já estava acordada. Não havia conseguido dormir direito, na verdade. Escutou cada gota da grossa e pesada chuva que caiu durante a madrugada. Os pensamentos e as lembranças fervilhavam na sua cabeça, impedindo que o sono viesse. O quarto ainda estava praticamente escuro, já que o sol também não havia nascido. Virou-se outra vez, encarando o teto do quarto e depois revirou-se, chegando finalmente à conclusão de que não poderia ficar na cama. Assim que colocou os pés para fora do lençol, o telefone tocou. Rin correu, descendo as escadas com pressa, para pegar o aparelho no corredor do andar de baixo. Seu coração batia no alto da garganta, imaginando o que seria tão urgente para ser dito tão cedo. É Sesshoumaru, ele está indo embora, foi a primeira coisa que pensou. Só podia ser isso. O primeiro voo para Chicago partia logo cedo e ele estava indo para Wichita para não perder o avião. Assim como foi naquele dia. Fechou os olhos e atendeu ao telefone, esperando pelo pior.

Rin? – Chamou Kohako, do outro lado da linha. Ela soltou a respiração de uma vez, sentindo o alívio diminuir as batidas aflitas em seu peito. – Desculpe por ligar tão cedo. Você precisa vir para a fazenda agora.

– O que aconteceu?

A chuva fez com que a enxurrada descesse pela plantação à noite. As bombas das irrigadoras acabaram levando boa parte da água de volta para o rio, então o estrago no campo não foi grande. Mas todo o sistema hidráulico está entupido e coberto de lama. – Explicou. A voz rouca indicava que ele também havia acabado de acordar.

– Precisamos limpar as bombas. Se não, a água que está no campo não vai deixar que as máquinas trabalhem, além de estragar o trigo que está prestes a ser colhido. – Ela esfregou os olhos. O sistema de irrigação costumava trazer água de um rio próximo à plantação para o campo, mas com a enxurrada causada pela chuva, os canos acabaram fazendo o caminho contrário. Por sorte, Rin pensou. Uma enxurrada é capaz de destruir a plantação e ela havia visto isso acontecer muitas vezes ao longo da vida. A terra avermelhada da região era boa para a plantação de grãos, mas por ter muita argila, ela encharcava com facilidade. E isso causava as enchentes que arrancavam o trigo da terra e arruinavam toda a temporada de vários fazendeiros. – Preciso que Sango arrume Lissy e a leve até a escola. Você pode pedir isso a ela, por favor?

Claro, vou falar com minha irmã. – Kohako concordou.

– Vou acordar Lissy, colocar uma roupa e encontro você aí. Aproveito e deixo-a com Sango. Nos vemos em alguns minutos.

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Sesshoumaru acordou no começo da manhã, sentindo o suor escorrer pela pele. Embora tivesse dormido somente de short, o sol batendo contra a cortina fina da janela havia transformado o quarto dele em uma sauna. E é claro que o ar condicionado velho e barulhento, instalado no chão do quarto, não tinha potência para refrigerar o ambiente. O calor daquela cidade era infernal. Não sabia como alguém tinha disposição para morar em lugar tão inóspito. Irritado, ele revirou-se na cama, ouvindo as molas – também velhas – do colchão rangerem. Levantou-se, não podendo suportar mais aquilo. Olhou o luxuoso relógio de pulso, depositado na cabeceira da cama e percebeu que faltava ainda um bom tempo para o seu compromisso do dia.

Como o plano era o de passar algum tempo naquela cidade insuportavelmente quente, Sesshoumaru resolveu trazer um pouco do luxo da sua vida de Nova York. Não podia mais ficar com o sedan mediano da pequena locadora de Ellsworth, então resolveu ir até uma concessionária local para comprar um carro. Era difícil conseguir qualquer coisa minimamente compatível com o que ele queria em poucos dias, mas um bom cheque resolveu aquela questão e, em menos de cinco dias, a BMW que pediu já havia chegado. Pensou em pegar o carro e aproveitar para buscar Melissa na escola, que também ficava em Ellsworth. Precisava, no entanto, do aval de Rin. Embora pedir permissão fosse algo extremamente incômodo para Sesshoumaru, ele precisava daquilo para conquistar a confiança dela.

Tomou banho, vestiu uma camisa social branca e uma calça jeans preta. Dobrou as mangas da camisa de maneira quase metódica, organizando cada dobra exatamente do mesmo tamanho e não deixando o tecido dobrar ou franzir. Por fim, organizou os papéis de devolução do carro locado e de retirada do carro novo, colocou os óculos escuros e o sapato preto. Saiu, dirigindo por alguns quilômetros até entrar em uma pequena estrada de terra que levava à fazenda de Rin. Imaginava que ela estava ali, coordenando a equipe que colhia o trigo, sob o sol escaldante. Foi assim que a vira pela primeira vez, quando fez aquele mesmo caminho há seis anos. Ele estava indo até a fazenda de Joseph Braxton, um velho senhor dono de imensas terras na região. Ele, ao contrário dos outros fazendeiros do entorno de Lovebelt, plantava soja. Era um senhor rico, que havia estudado em Nova York com Leonard, pai da então noiva de Sesshoumaru. Joseph já tinha mais de oitenta anos e queria fazer seu testamento em vida. O objetivo era distribuir a herança valorosa e as terras entre seus quatro filhos, mas havia também a clara intenção de prejudicar o filho mais novo, que decidira ser professor de artes na Europa e não envolver-se com os negócios da família. Sesshoumaru não costumava atuar em inventários, muito menos cuidar de questões de direito de sucessão. Mas ele era competente, Leonard sabia disso e queria testá-lo antes de permitir que o futuro genro assumisse a sociedade no escritório de advocacia - cargo que conseguiria ao casar com Rebeca, meses depois.

O primeiro teste foi chegar à fazenda do velho Braxton. Sesshoumaru não conhecia a região e Leonard não deu nenhum tipo de instrução para ele, tampouco permitiu que um dos funcionários de Joseph fosse buscar o rapaz no aeroporto. Ele decidiu, na época, parar em uma das fazendas no caminho para perguntar onde raios aquele velho se escondia. E assim como fazia agora, ele encostou o carro a uma centena de metros da porta da casa dos Ozawa, bem em frente à plantação de trigo. E assim como há seis anos, Rin estava no meio do campo, no meio do caos das máquinas e de homens trabalhando sob o sol. Ele quase sentiu como se o tempo não tivesse passado, como se tudo que o separou de Rin tivesse desaparecido. Mas ela não era mais a mulher com um ar de menina de anos atrás, mas sim uma mulher de verdade. Embora ainda usasse as mesmas roupas de ar interiorano – uma camisa xadrez azul marinho e laranja, por dentro de uma calça jeans escura e botas – ela parecia ter amadurecido. E continuava tão bonita quanto sempre. Mas agora o odiava.

Ele ficou por longos instantes observando-a de dentro do carro, até finalmente conseguir voltar a pensar racionalmente e esquecer aquela tolice de déjà vu. Saiu do carro, sentindo a diferença do ar quente e úmido de fora com os dezoito graus programados no ar condicionado do sedan, e começou a andar sobre a terra vermelha argilosa. Só então percebeu que o cenário era caótico. Rin estava com a calça suja de barro até a altura do joelho. O cabelo longo estava preso em um rabo de cavalo firme, mas alguns fios se desgarraram da arrumação e estavam grudando no suor do rosto dela. Ela amarrava um trator em uma colheitadeira presa no barro para, provavelmente, guinchar a máquina. Sesshoumaru parou de andar assim que percebeu um homem se aproximando de Rin. Ele sabia quem era aquele rapaz. Kohako, amigo de infância dela e irmão de Sango, era perdidamente apaixonado por Rin, mas nunca foi correspondido. Ele trocou algumas palavras com ela, fazendo com que ela passasse da expressão séria para um sorriso leve. As mãos de Kohako afastaram os fios de cabelo rebeldes do rosto de Rin e ela retribuiu a atenção com um rápido beijo. Aquela cena doeu mais em Sesshoumaru que o tapa que recebera de Rin há alguns dias. Não havia mais amor não correspondido e, ao contrário do que parecia quando ele chegou pela estrada de terra, tudo havia mudado. Sesshoumaru resolveu voltar. Não havia mais nada a fazer ali. Entrou no sedan alugado e deu meia volta pela pequena estrada de terra, sem que Rin percebesse que ele havia aparecido ali.

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O suor escorria pelo rosto de Rin, até cair pela ponta do nariz fino. A camisa xadrez que vestia podia ser torcida em um balde, encharcada. Ela e os outros homens que trabalhavam na terra estavam exaustos. Haviam andado na lama o dia todo, afundando os pés até quase as coxas, para conseguir resgatar as irrigadoras e as máquinas que haviam sido soterradas durante a chuva. Já passava do meio da tarde e ela não havia parado para comer. A única pausa que fez foi para ligar para Sango, pedindo que ela buscasse Lissy na escola. Kohako estava ajudando Rin a resolver o caos nos campos de trigo, então a amiga era a única a quem poderia recorrer. Provavelmente as duas já estavam em Lovebelt.

– Você deveria dar uma pausa. – Kohako recomendou, passando o ombro sobre o lado direito do rosto, secando o suor no tecido da camisa. – O calor está forte demais.

Ela estreitou os olhos, com uma expressão divertida no rosto.

– Eu, ao contrário de você, cresci sob o sol do campo. – Riu, entre os dentes, vendo Kohako sorrir também.

– Não que você não saiba disso, mas até eu escolher a carreira policial, eu também ajudei meu pai na plantação. – Ele fincou a pá na terra úmida, retirando as luvas. – Mas preciso ao menos tomar uma água, estou começando a ver estrela.

Rin revirou os olhos, ainda com uma expressão divertida no rosto. Nunca admitiria aquilo, mas o calor estava quase a matando. Enquanto liberou os funcionários da fazenda para almoçarem, ela e Kohako ficaram para tentar fazer a contagem das irrigadoras soterradas. Queria terminar aquele trabalho ainda hoje – e quase tudo havia sido retirado da lama – mas precisava, de fato, parar um pouco para comer algo e tomar água.

Fincou sua pá também no chão e aproximou-se de uma das máquinas, recostando-se ali. Passou a mão pela nuca molhada de suor e fechou os olhos por um instante, respirando fundo. Assim que abriu os olhos, viu o carro de Sango vindo pela estrada de terra, mais rápido do que deveria. O coração pulou uma batida. O combinado nunca foi o de trazer Lissy até a fazenda, então algo havia acontecido para Sango ir até lá. Desencostou do trator e começou a andar, a passos largos, em direção à estrada. Viu quando a amiga parou o velho carro hatch que dirigia e desceu, sozinha.

Onde está Melissa? – A voz urgente perguntou, alertando Kohako. Ele começou a correr em direção à irmã, ao mesmo tempo em que Rin o fez. Ela repetiu. – Onde está ela?

– Eu me atrasei alguns minutos e, quando cheguei lá, Lissy já havia saído da escola. – Sango explicou, entre as palavras ofegantes. – Ela não estava mais lá!

O chão pareceu desaparecer sob os pés de Rin. Ela cambaleou e Kohako segurou seu braço com firmeza.

– Ela saiu sozinha? – Ele perguntou.

– Não... – Sango engoliu seco, passando a olhar a amiga. – A inspetora disse que Sesshoumaru foi buscá-la. Mas eles não foram para a confeitaria e também não estão no hotel. Não consegui encontrá-los em lugar algum.

– Desgraçado. – Rin sussurrou, cerrando os pulsos. Ela procurou as chaves da caminhonete nos bolsos e começou a andar, ainda com a visão borrada, até a entrada da fazenda, lugar em que a Ford velha estava estacionada. Kohako e Sango foram logo atrás.

Os três pararam assim que viram uma BMW preta na estrada, a algumas centenas de metros. Rin retomou a caminhada sozinha. Sabia exatamente quem estava dirigindo aquela porcaria de carro exibicionista e tinha certeza que sua filha estava lá. Assim que o luxuoso sedan parou, também na entrada da fazenda, Rin abriu a porta de trás e tirou Melissa dali. A menina protestou, mas ela não pôde ouvir. Seus ouvidos zuniam, de raiva. Sesshoumaru também desceu, dando a volta no carro.

– Entre, agora, com sua madrinha em casa. – Segurou os ombros da filha e falou, em um tom firme. Sango aproximou-se, segurando a mão da menina.

– Mas o que eu fiz, mamãe? – Ela choramingou, confusa.

– Agora, Melissa. – Ordenou, em um tom de voz que a filha nunca havia ouvido. Esperou que as duas se afastassem e virou-se, encontrando Sesshoumaru parado, com os braços cruzados.

– O que há de errado com você? – Ele perguntou, com a mesma expressão fria no rosto.

– Comigo? – Rin falou, entre os dentes. Ela deu um longo passo para alcançar Sesshoumaru, mas Kohako interviu, segurando-a. Sua raiva quase permitiu que ela estapeasse aquele homem de novo, mas ela já não tinha mais idade para resolver aquela confusão com tapas. Até porque nem uma surra aplacaria o ódio que ela sentia naquele momento. – Quem permitiu que você buscasse a minha filha na escola?

– Eu vim até aqui, mas vi que você estava ocupada demais, então resolvi não atrapalhar. – O olhar de desprezo dele passou por Kohako.

– Você não podia ter feito isso sem ter falado comigo, sem a minha permissão. – Ela aumentou o tom de voz e livrou-se do braço de Kohako, encarando Sesshoumaru de perto.

– Oh, achei que algumas coisas não precisassem ser ditas, não é? – Ele levantou as sobrancelhas, mas ainda manteve a pose fria. - Melissa é minha filha e, como nem você ou seu namorado foram buscá-la, eu fui. E a trouxe até aqui, então não estou entendendo qual é o problema.

– Como é? – Ela balançou o rosto, franzindo as sobrancelhas. – Você perdeu o juízo, Sesshoumaru?

Ele travou os dentes, evidenciando a linha da mandíbula no rosto. Como em poucas vezes da vida, estava sendo desafiado por alguém. Ficou calado, apenas encarando-a.

– Escuta bem. – Ela avançou um passo apontou o indicador para ele, olhando-o nos olhos. Apesar da diferença de altura entre os dois, Rin estava enfrentando-o de igual para igual. – Eu não devo nenhum tipo de explicação para você, entendeu? Você, no entanto, está se aproximando da minha filha. E sou eu quem decido quando e se você pode vê-la.

– Gostando você ou não, Melissa não é sua filha. Ela também é minha. – Ele estreitou os olhos, olhando-a fixamente. – Lamento por você não ter escolhido outro pai para ela. – Os olhos dourados passaram outra vez por Kohako, que estava somente a um passo dos dois. – Mas já que eu sou o pai dela, eu tenho todo direito de vê-la quando eu quiser.

– Você está proibido de ver Melissa sem a minha presença. – Ela vociferou, entre os dentes. Aproximou-se ainda mais, aumentando a tensão do ambiente. – Eu vou deixar avisado em todos os lugares que ela pisar que você não tem autorização para vê-la. Vou até mesmo dar a placa dessa porcaria de carro que você comprou, para reafirmar o dinheiro que tem. Dinheiro que é da sua mulher, aliás.

Aquilo quase tirou Sesshoumaru do sério. Ele precisou respirar fundo para não gritar de volta com Rin, mas não podia, de forma alguma, perder a razão. Ela estava transparecendo todo o ódio e desprezo que sentia por ele, tentando pisar no orgulho dele.

– Prefiro achar que você está fora de si e que não está falando sério. – Ele quase sussurrou, estreitando os olhos. – Porque se estiver, eu posso te garantir que qualquer juiz vai te fazer voltar à sanidade. E o meu dinheiro pode comprar quantos carros eu quiser, com placas das mais diversas combinações. Ou melhor, talvez ele até convença algum juiz dessa cidade fim de mundo a me dar a guarda de Melissa.

O primeiro pensamento de Rin foi, novamente, o de estapear Sesshoumaru. Mas aquilo não era suficiente para o ódio que ela sentia agora. Como ele podia ser tão dissimulado e arrogante? Pior, como ele podia ameaçar tirar Lissy dela? Nada no mundo poderia causar tanta raiva em seu peito. Ela deu as costas, ainda com os ouvidos zunindo, as mãos formigando e a vista borrada, e caminhou até uma das colheitadeiras parada a alguns metros dali. Sesshoumaru, que esperava de fato ser estapeado outra vez, acompanhou com surpresa o movimento dela. Assim que Rin subiu na máquina em um impulso, ele franziu as sobrancelhas. Ouviu o ronco do motor da colheitadeira e viu quando ela engatou a marcha, avançando contra o carro novo dele. Só então entendeu.

Perdeu a razão de vez e começou a correr antes mesmo de ouvir o estrondo das grades da frente amassando a lateral do chassi do carro. Os vidros se estilhaçaram e os pneus saíram do chão. Rin deu ré e repetiu o estrago, fazendo com que o carro retorcido avançasse mais alguns metros. Ao mesmo tempo em que a máquina parou, Sesshoumaru alcançou a escada de acesso da cabine do motorista e puxou Rin dali. Ela segurou o braço dele de volta e os dois desceram em um solavanco só. Kohako puxou-o pela camisa, fazendo com que ele se soltasse de Rin. Sesshoumaru o empurrou de volta, fazendo com que as mãos do outro rapaz se soltassem de sua camisa. Esperou que ele revidasse o empurrão, mas tudo que Kohako fez foi segurar Rin pela cintura, antes que ela avançasse contra Sesshoumaru para, finalmente, dar os tapas que havia tanto pensado em dar nele.

– Se o seu dinheiro pode comprar tudo, inclusive todos os carros do mundo, é melhor você começar a pagar. Mas pode ter certeza que o amor da minha filha não é uma das coisas que você pode simplesmente comprar. E você nunca mais vai colocar as mãos nela, entendeu? – Ela debateu-se, ainda nos braços de Kohako, apontando o dedo para Sesshoumaru. – Você pode comprar a decisão de cada juiz desse país, mas eu vou até o final com isso, eu não vou abrir mão da minha filha. – Gritou, em plenos pulmões.

Sesshoumaru finalmente voltou a si, percebendo como as coisas fugiram do controle. Ficou perturbado com as coisas que disse para Rin e com o que ouviu dela. O ressentimento entre os dois estava se tornando em uma guerra em que nenhum dos lados sairia vencedor. E brigar – na justiça ou entre tapas – com Rin não estava nos planos dele. Nem de sua esposa Rebeca. Ele já era um homem feito, era um advogado de sucesso e não podia se permitir perder o controle daquela forma. Ajeitou a camisa e deu as costas. Sabia que o carro havia sido destruído e, pela fumaça que saía do motor, podia ter certeza que a BMW não sairia do lugar. Sua única opção era, portanto, voltar andando pelos quinze quilômetros que separavam a fazenda de seu hotel em Lovebelt, embaixo de um sol escaldante. E foi isso que fez, deixando uma Rin furiosa para trás e uma Melissa, que via toda a cena pela janela da casa da fazenda, arrasada.


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Notas finais do capítulo

Oi gente!

Por incrível que pareça, eu consegui cumprir minha promessa de postar em quinze dias. Esse capítulo foi mais curto que o normal, mas espero que vocês gostem. O que acharam da atitude de Rin? E do Sesshoumaru? O que acham que vai acontecer nessa guerra declarada?

Estou adorando o feedback e as reviews! Fiquei mega contente. Prometo responder todas no próximo capítulo. Agora está mega tarde e eu também já estou começando a ver estrela de sono (até por isso, desculpem os possíveis e prováveis erros no texto).

Digam o que estão achando, por favorrrr!

Beijos



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