Lovebelt escrita por Nina Antunes


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658140/chapter/2

Capítulo 2

O chiado da própria respiração ofegante, em conjunto com o zunido contínuo em seus ouvidos, provocado pela irritação, ódio e mágoa, impedia que Rin escutasse qualquer coisa em sua volta. Não havia nada para ouvir, de qualquer forma, já que Sesshoumaru manteve-se calado pelos últimos instantes, apenas encarando-a. O rosto dele ainda ardia e sofria pequenos choques pelo impacto do tapa que havia recebido. Não era a sua pele que doía, mas sim seu orgulho. Após cinco anos, ela o recepcionou com um gesto agressivo e nem sequer uma única palavra. Mas afinal, o que ele poderia esperar? Sabia que aquela conversa não seria amigável, mas não esperava que as coisas saíssem dos trilhos antes mesmo de começar.

Rin não sabia bem como agir. Seus instintos desejavam estapear o outro lado do rosto de Sesshoumaru, mas ela havia perdido a coragem. Precisava se acalmar, antes que ficasse completamente histérica e perdesse a cabeça de vez. Apesar de tudo que aconteceu nos últimos anos, precisava lembrar-se que era o sangue dele que corria nas veias de Lissy. E o que Rin sentia por Sesshoumaru deixou de importar no instante em que Lissy existiu. Ela é mais importante, Rin pensou. Precisava se acalmar e controlar a situação, para que a filha não fosse mergulhada naquela situação caótica.

– Você não deveria ter vindo até aqui. – Ela respirou fundo, finalmente quebrando o silêncio. A voz entrecortada e quase chorosa entregou toda a raiva que Rin sentia.

Sesshoumaru manteve-se calado por mais um instante, apenas encarando o rosto de Rin, que havia tomado um tom avermelhado. Ela parecia tentar controlar a raiva para ser minimamente civilizada diante dele, mas a voz e os olhos castanhos transbordavam toda a fúria e angústia que ela sentia em vê-lo. E aquilo, de alguma forma indesejável, fazia com que o peito dele ardesse. Depois de cinco anos, tudo que ela sentiu ao vê-lo foi raiva e receio.

– Eu mudei meus planos. Quero conhecer Melissa. – Disse, de uma só vez. Sentiu dificuldade em pronunciar o nome da menina. Não conseguia lembrar-se da última vez em que havia feito aquilo.

– Não. – Rin suplicou, girando os calcanhares e cobrindo o rosto com as duas mãos. O seu pior pesadelo estava se concretizando da pior maneira possível. Não queria acreditar que Sesshoumaru estava de volta depois de tanto tempo. Foram cinco anos sem nenhum tipo de contato, somente trocas formais de informações estritamente necessárias com o advogado dele. E, claro, depósitos em uma conta-poupança em nome de Lissy. Aquilo foi tudo – e nem perto do suficiente. Ele não tinha o direito de requerer a presença da filha, tampouco apresentar-se como pai dela. Sesshoumaru nunca havia sido pai de Melissa, desde o princípio. Mesmo que Rin e, principalmente, Kenichi houvessem atenuado as frustrações dela por não ter a presença do pai em sua vida, aquele ainda era um assunto delicado para Lissy. Só Deus sabia quanto ela ficaria confusa e magoada se Sesshoumaru chegasse daquela forma e depois partisse, como ele já havia feito. Rin não poderia permitir aquilo. – Não, não, não e não. – A súplica foi ganhando tom de raiva e ela finalmente virou-se de volta para ele, com os olhos repletos de lágrimas e ódio. – Você não vai vê-la. Não tem esse direito.

Ele arqueou as sobrancelhas, sem perder a expressão fria. Novamente, aquela reação não era completa surpresa. Não esperava que Rin fosse acatar aquela ideia de imediato. Mas tê-la dando ordens estava começando a irritar Sesshoumaru.

– Sou o pai dela. – Reafirmou, em um tom firme e suave de voz. – Assumi Melissa e quero recuperar o tempo que perdi.

– Impossível. – Rin travou os dentes, cuspindo cada sílaba entre eles. – Um nome no papel não te dá o direito de querer absolutamente nada. Melissa é minha filha – eu a criei sozinha. Eu quem decido o que é bom para ela ou não. Você certamente não fará bem a ninguém aqui, principalmente à minha menina.

A irritação dele se transformou em mágoa em apenas um instante. A expressão fria do rosto cedeu por um instante e as linhas do rosto de Sesshoumaru ficaram dolorosas. Rin havia atirado a verdade nele. Não poderia contestá-la em nada – exceto na última frase. Não queria fazer mal à menina. Aquele não era o objetivo.

– Você está enganada. Um nome no papel – Repetiu a expressão com desprezo, imitando o tom de Rin – me dá todo o direito de ver Melissa. Não pode me impedir de ficar longe dela para sempre.

– Quem te impediu de ficar longe dela nesses últimos cinco anos? – Soltou um riso nervoso e raivoso entre os lábios. – Por que não mostrou tanto interesse até agora?

– Isso não importa. – Ele retomou o tom frio do rosto.

– Pode não importar pra você, mas pra Melissa faz toda a diferença. Não vou permitir que você a magoe. Sei que logo sua mulher vai ordenar que você volte para casa. E assim que você voltar, Melissa ficará de coração partido. – Levantou o dedo em direção a ele, ficando cada vez mais irritada pela expressão indiferente no rosto de Sesshoumaru.

– Está enganada mais uma vez. – Abriu uma linha sarcástica de sorriso, sem tirar os olhos de Rin. – Quero que Melissa saiba que tenha um pai. Não pretendo partir. Gostando você ou não, eu vim para ficar. – Tomou fôlego, vendo qualquer cor desaparecer do rosto de Rin. – Espero que você aprenda a lidar com essa situação amigavelmente. Não gostaria de pedir a um juiz a garantia de ver a minha filha. – Girou os calcanhares e abriu a porta do carro, escorregando as pernas para o banco do motorista suavemente. Sem pressa alguma, ligou o motor e abriu o vidro do motorista do carro. – Quando você estiver calma, conversamos novamente. – Saiu, deixando Rin completamente atônita no meio da rua.

Ela esperou que o carro dele dobrasse a esquina para deixar que a raiva se transformasse em um choro silencioso e frustrado. Não queria acreditar que Sesshoumaru havia voltado definitivamente. Não podia aceitar o ar de soberba dele, tampouco aquela certeza irritante de que os cinco anos longe de Lissy não foram nada, que a situação era totalmente reparável. Rin nunca havia deixado que a mágoa que guardava dele contaminasse a imagem que Lissy tinha do pai. A menina nunca soube o real motivo da partida de Sesshoumaru – e talvez por isso nunca tivesse entendido por que o pai estava longe. Mas ele era uma figura distante, que Rin procurava manter afastada da mente de Lissy no dia-a-dia. Eventualmente, no dia dos pais ou em datas festivas, ela perguntava sobre o pai ou sobre quando finalmente o veria. E Rin nunca teve uma resposta para essas perguntas, embora nunca tenha escondido o nome ou a existência do pai de sua filha. No entanto, a volta de Sesshoumaru dava a ela a assustadora certeza de que Lissy teria seu desejo atendido, ela finalmente conheceria o pai. E Rin poderia ver seu pior pesadelo tornando-se real: Sesshoumaru partindo o coração da filha, assim como ele havia partido o seu.

__________________________________________________

– Rin? Você está me ouvindo? – Sango perguntou, saindo com pressa pela pequena porta móvel da cozinha da confeitaria. O movimento fez com que a madeira fosse pra frente e pra trás, em um movimento contínuo e típico de portas estilo bar faroeste.

– Não, desculpe. – Rin virou-se para olhar a amiga. O semblante cansado e o olhar distante denunciavam a falta de concentração dela. – Estou tentando fechar o caixa, mas não consigo. Estou errando as contas, esquecendo os números... – As mãos nervosas colocaram novamente as notas nas gavetas da caixa registradora, que fechou em um estrondo seco.

Sango colocou uma das mãos na cintura, adotando um ar complacente. Sabia que o motivo daquela perturbação era a presença de Sesshoumaru. Ele havia chegado na cidade há apenas de três dias e desde então, Rin estava no mundo da lua.

– Kohako faz isso depois, esqueça. – Ela aproximou-se, recostando ao balcão de madeira que guardava a caixa registradora. – Você realmente não consegue esquecer que Sesshoumaru está aqui, não é?

– E como eu poderia? – Rin massageou as têmporas, fechando os olhos. – Eu não consigo ficar em paz. Penso o tempo todo em como ele vai magoar minha filha.

– Eu sei que o histórico dele não é o melhor, mas você já pensou que ele pode realmente ter percebido que estava perdendo o amor da filha? – Colocou uma das mãos na cintura e jogou o pano de prato por cima do ombro.

– Impossível. Ele não liga para o amor de ninguém, a não ser o próprio. – Rin estreitou os olhos castanhos, balançando a cabeça negativamente.

Sango suspirou, sabendo que seria muito difícil tentar tranquilizar a amiga. Rin estava muito estressada com aquela situação – e tinha razão de estar.

– Sesshoumaru pode ter amadurecido. Não é você mesma quem diz que amar um filho muda tudo?

– Acontece que ele não ama Lissy. Ele a rejeitou desde o começo, não a viu crescer. Eu duvido que ele realmente sinta que está perdendo alguma coisa na criação dela. - As palavras atropeladas denunciavam a mágoa que Rin sentia. Era como se tudo que tivesse sentido pelo abandono de Sesshoumaru nos últimos anos estivesse sendo menosprezado agora.

– Por qual motivo ele viria, então? As coisas que ele tanto prezava foram deixadas em segundo plano para ele vir até aqui conhecer Melissa. A carreira em Nova York, aquela mulher...

Rin desviou o olhar, encarando os desenhos na madeira do balcão. Era verdade. Foram longos cinco anos de ausência, mas ele finalmente havia voltado. Por mais que ele não tivesse o direito de exigir nada em relação a Lissy, Sesshoumaru parecia disposto a finalmente abrir mão de algo em nome da filha. O problema é que Rin tinha certeza que ele se cansaria, cedo ou tarde. Ele pensaria novamente no dinheiro, no prestígio, na carreira e na bela esposa dele. E ela o veria partindo outra vez.

– E eu devo simplesmente abrir as portas da vida da minha filha pra ele? Permitir que ela se afeiçoe a ele, sem ter a menor certeza de que ele vai retribuir esse sentimento ou que ele vai sequer ficar aqui por mais de alguns dias? – Rin respirou fundo, não podendo conter as grossas lágrimas que se formaram acima dos cílios volumosos dos olhos castanhos.

– Eu entendo sua angústia. Você tem toda razão de pensar assim. – Sango aproximou-se da amiga, passando os dedos pelo ombro dela, em um afago delicado. – Mas não há nada que você possa fazer agora. Sesshoumaru já está na cidade e se você impedi-lo de ver Melissa, ele acabará envolvendo a justiça nessa questão. E então será tudo mais doloroso para nossa menina.

– Eu o odeio, com todas as minhas forças. – Rin apertou os olhos, permitindo finalmente que as lágrimas rolassem pelo rosto dela.

– Não diga isso. – Suspirou pesadamente, puxando a amiga pra perto e afagando os cabelos castanhos dela. – Pense: o que seu pai faria neste momento?

Rin riu baixo, só de imaginar a situação. Pacífico como era, Kenichi jamais teria permitido que ela fosse ao encontro de Sesshoumaru três dias atrás – tampouco permitiria que a filha estapeasse o pai de sua neta. Ele com certeza acharia uma solução sábia, que protegesse Lissy, mas que colocasse paz naquela situação tão caótica. Mas como Rin não havia herdado tal sabedoria do pai, ela não havia sido pacífica em momento algum.

– Acho que o velho Ozawa permitiria que Lissy conhecesse o pai, mas manteria uma distância segura entre os dois, até ter certeza do que acontecerá.

– Então você já sabe o que fazer.

__________________________________________________

– Não posso acreditar que essa mulher fez isso – A voz delicada de Rebeca ecoava pelo quarto. Sesshoumaru havia colocado o celular no viva voz, enquanto passava a fina toalha branca pelos cabelos curtos prateados. – Ela realmente te bateu?

– Foi só um momento de histeria. Ela ficou com raiva ao me ver. – Ele sentou na cama, logo ao lado do aparelho.

– Inacreditável. Até mesmo para uma mulher ignorante como ela. – Apesar do tom delicado, a dose de rancor e arrogância transbordavam nas palavras dela.

Sesshoumaru não sabia o que dizer. Em outras ocasiões, as ofensas de Rebeca não o incomodariam, mas especialmente agora, algo havia mudado. Ele também estava com raiva pelo comportamento de Rin, mas, ao mesmo tempo, não podia culpá-la. Na verdade, ele a conhecia bem o suficiente para saber que a reação histérica dela não tinha nada a ver com o final mal resolvido dos dois, mas sim por um medo real que ele magoasse a menina. Afinal, ela era a vida de Rin. Um nó na garganta impediu que ele respondesse, mas antes que o silêncio constrangesse aquela conversa, duas batidas na porta ecoaram pelo quarto.

– Oh, você está esperando alguém? – Perguntou Rebeca. Não havia tom de cobrança na frase, mas Sesshoumaru sabia que ela ficaria mais curiosa que o comum com Rin por perto.

– Serviço de quarto. Pedi que servissem o jantar aqui. – Disse, virando-se para olhar a porta. Tirou o telefone do viva voz e levou o aparelho até o ouvido novamente.

– Não quero atrapalhar. Falamos depois. Boa noite, Sesshoumaru.

– Eu te ligo assim que tiver novidades. Até. – Desligou, como se estivesse tratando com alguém do trabalho ou de algum contato formal. Apesar de Rebeca ser sua esposa, eles nunca foram afeitos às amenidades de um casal. "Eu te amo", ou qualquer outro sinal de afetividade nunca era compartilhado. E assim eles haviam vivido nos últimos anos, sem brigas ou problemas.

Ele ajeitou a toalha bege que envolvia o quadril, firmando o arranjo que a mantinha no lugar. Caminhou até a porta vagarosamente e desaferrolhou as duas fechaduras de metal da madeira, puxando a maçaneta. A surpresa de ver Rin em sua frente escapou pelo rosto dele, substituindo por um instante a expressão fria que ele mantinha sempre. Ela também não conseguiu esconder o constrangimento de vê-lo somente de toalha, mas manteve a pose firme e altiva de sempre.

– Desculpe, vou me vestir. – Ele ameaçou a dar as costas, mas ela o interrompeu.

– Não é necessário, eu não vou tomar muito tempo. – Rin aumentou a voz em um tom e então ele parou, voltando a encarar os olhos castanhos e expressivos. – Amanhã, depois da escola, vou levar Melissa até a confeitaria da minha família. Vou conversar com ela e prepará-la para que vocês se conheçam. – Tomou outro fôlego, tentando segurar a coragem para terminar aquelas dolorosas frases. – Vou dizer a ela que você está na cidade por um tempo e que veio vê-la.

– Eu já disse que não vou partir. – O tom sereno da voz dele quase fez com que Rin perdesse a cabeça.

– Se você quer fazer isso de uma maneira amistosa, será da forma que eu disser. – Ela o encarou com firmeza, apertando a mandíbula em uma linha demarcada. – Um passo de cada vez, para não assustar ou magoar minha filha.

– Chego em qual horário? – Perguntou, ignorando o tom usado por ela ao dizer "minha filha".

– Às quatro. A confeitaria fica na rua do...

– Eu não me esqueci. – Ele olhou fixamente nos olhos dela e Rin sentiu como se o par de olhos dourados tivesse a atravessado. Perdeu o fôlego por um instante, mas se obrigou a manter firme e acenar uma única vez antes de dar as costas, caminhando pelo corredor de paredes amarelas do hotel.

__________________________________________________

Às quatro horas em ponto daquela sexta-feira ensolarada, Sesshoumaru entrou pela porta da confeitaria. A sineta da porta emitiu um som longo e irritante, fazendo-o parar logo depois da porta de vidro. A mulher atrás do balcão, de cabelos castanhos escuros, virou-se para olhá-lo. Ele sabia que aquela era a melhor amiga de Rin, que trabalhava naquela confeitaria há anos. Esperou um olhar de desprezo, mas Sango somente acenou uma vez com a cabeça e virou-se para a cozinha novamente. Sesshoumaru suspirou profundamente, fechando os olhos por um instante. Finalmente alguém naquela maldita cidade não o odiava.

Procurou uma mesa no fundo da cafeteria vazia e sentou-se, de costas para a porta. Não podia admitir aquilo, nem mesmo para si mesmo, mas a ansiedade não permitia que ele ficasse olhando Rin e a menina chegando. Mais uma vez, as palavras fugiam da sua mente. Ele não sabia o que dizer para a menina, nem mesmo como se comportar no momento em que ela chegasse. O que, afinal, meninas de cinco anos de idade gostavam de conversar? Ele certamente não conhecia nenhum desenho ou filme que ela gostava. Tampouco sabia quais eram seus gostos, hábitos ou expressões. Pela primeira vez, desde os últimos cinco anos, ele sentiu o peso da distância. Ele era um estranho completo para a menina. E não fazia a menor ideia de como ela o receberia.

Ouviu a caminhonete barulhenta de Rin encostando em frente à confeitaria. Ela ainda dirige esse ferro velho, pensou. Algumas coisas não haviam mudado desde que ele partiu de Lovebelt, mas uma coisa especialmente mudou. Melissa havia crescido e já tinha maturidade suficiente para perceber a ausência dele. Ela havia crescido, um pouco a cada dia, sem qualquer tipo de contato com o pai. Assim como ele mesmo cresceu, sem a presença de InuTaisho. Antes que a memória perturbadora da sua relação – ou da não-relação – com seu pai fizesse com que Sesshoumaru perdesse a pose fria, ele ouviu a sineta tocando longa e irritantemente mais uma vez.

– Oi tia Sango! – Melissa exclamou. A pequena correu até a cozinha, totalmente alheia à presença de Sesshoumaru no salão, e encontrou o ambiente vazio. – Cadê você, madrinha?

– Lissy, sente-se aqui. – Rin pediu, indicando uma banqueta de pedra, ao lado da extensa mesa também de pedra, coberta de farinha e repleta de formas de rosquinhas e pães prestes a irem ao forno. Ela ajudou a filha a subir e sentou-se logo à frente dela. Respirou fundo, segurando as pequenas mãozinhas entre os próprios dedos. Teve de morder o lábio inferior para conter o choro. – Você sabe o quanto eu te amo, não sabe?

– Eu também te amo, mamãe. – Ela inclinou a cabeça e franziu as sobrancelhas claras, expressando a confusão de sua mente.

– Eu contei a você, algumas vezes, que esse amor começou quando eu conheci o seu... – Aquela palavra dolorosa de dizer tinha de sair da boca de Rin, então ela tomou um rápido fôlego – pai. Que eu sempre seria grata a esse amor porque ele me deu você. – Melissa acenou lentamente a cabeça algumas vezes, prestando total atenção na mãe. – Porque você me faz feliz todos os dias, cada vez mais. – Ela aproximou o rosto de Lissy, encostando a testa na dela. – E seu pai nunca pôde estar por perto...

– Porque ele trabalha muito, não é, mamãe? – Ela confirmou, olhando a mãe fixamente.

Rin engoliu seco. Era necessário suprimir toda a mágoa, pelo bem de Lissy.

– Isso. E ele trabalha muuito longe daqui, não é? – Prolongou as vogais das palavras, fazendo a menina rir. – Mas eu preciso te dizer algo. Eu falei com seu pai há alguns dias e ele me disse que conseguiu algum tempo de férias. – Respirou fundo. Seja corajosa, Rin. – E ele veio te ver.

Melissa recuou, afastando-se do rosto da mãe. Rin sentiu o coração pular uma batida ao ver que no rosto da menina, ao invés de confusão ou incerteza, havia genuína felicidade. Lissy havia sorrido, iluminando o doce rosto, de uma forma que Rin não via desde que Kenichi ainda estava vivo. Ela reuniu as duas pequenas mãos em uma sonora palminha, repetindo o gesto em seguida.

– Ele está aqui? Quando eu posso falar com ele? Eu vou poder levá-lo para conhecer o moinho? – As palavras animadas se atropelavam, em ansiedade.

– Uma coisa de cada vez, ok? – Procurou novamente as duas mãos da filha, apertando-as entre seus dedos. Precisava daquela segurança naquele momento. – Ele também quer te conhecer. Mas eu preciso que você vá com calma, Lissy. Seu pai não sabe quando vai ter que voltar ao trabalho.

A menina acenou repetidas vezes, ainda com animação. Ela parecia não ter absorvido a última informação e Rin não queria insistir. Aquele não era o momento.

– Posso vê-lo, mamãe?

– Nós vamos juntas, ok? – Envolveu os dois braços em volta da filha e a comprimiu, em um breve abraço, antes de tirá-la da banqueta. Colocou os dois pés de Lissy no chão e segurou uma de suas mãos com firmeza. – Seu pai está te esperando, aqui no salão.

O rosto de Lissy se iluminou mais uma vez e os olhos cor de mel se fixaram na porta móvel que separava a cozinha do balcão da confeitaria. Rin começou a andar, com as pernas trêmulas, até o outro lado, sentindo-se completamente zonza. A menina apertou a mão dela e caminhou um passo à frente, quase guiando a mãe. E lá estava Sesshoumaru. Ele usava uma camisa azul marinho, com as mangas dobradas na altura do antebraço. A calça jeans escura envolvia as longas pernas, que espalhavam-se por baixo da mesa de madeira. Ele estava de costas e não havia se virado, embora Rin soubesse muito bem que ele ouvia atentamente a aproximação das duas. Melissa sentou-se do outro lado da mesa, com um sorriso estampado no rosto.

O coração de Sesshoumaru pareceu pular uma batida. Lá estava ela, com um sorriso doce e amigável para recebê-lo. Não havia nenhum traço de insegurança ou mágoa. Os olhos claros, que eram tão expressivos e arredondados como os de Rin, se apertavam por causa da abertura do sorriso. O reflexo do sol batia diretamente no rosto dela, fazendo com que os olhos de Melissa ficassem ainda mais dourados, parecidos com os dele. O cabelo liso, também como o da mãe, tinha uma mecha presa em uma presilha vermelha e estava perfeitamente alinhado. As bochechas, em evidência, tinham a mesma vivacidade da pele de Rin, assim como o formato da boca. A primeira impressão dele se confirmou: Melissa era realmente muito parecida com Rin. Ele desviou o olhar por um instante e encontrou uma expressão apreensiva no rosto da mulher. Rin tentava esconder, mas não conseguia. Estava sendo doloroso passar por aquele momento.

– Fiquei muito contente por você ter vindo me visitar. – A menina começou, não conseguindo segurar a ansiedade. – Mamãe dizia que você trabalha bastante, e longe daqui.

– É verdade. – Ele confirmou, tentando suavizar as linhas frias do próprio rosto.

– Você também planta trigo? – Ela perguntou, apoiando o rosto em uma das mãos.

– Não, eu... – Sesshoumaru gaguejou, tomando fôlego para continuar. – Eu sou advogado.

– Oh... – Lissy arqueou as sobrancelhas, parecendo maravilhada. – Você defende as pessoas boas?

Sesshoumaru quase sorriu diante da visão ingênua e pura da menina. Resolveu somente acenar.

– E você? Já escolheu o que vai ser quando crescer? – Perguntou, observando cada movimento dela.

– Quero fazer o mesmo que o vovô Kenichi fazia. – O olhar encontrou a mesa e, por um instante, a felicidade desapareceu do rosto da menina.

Sesshoumaru procurou o rosto de Rin e encontrou outra expressão dolorosa. Então o velho Ozawa havia morrido. Podia imaginar quão duro havia sido aquele golpe para Rin, que tinha o pai como um porto seguro. Ela estava sozinha e tinha somente Melissa no mundo, agora. Lembrar o motivo de sua volta a Lovebelt fez com o estômago de Sesshoumaru revirasse por um instante, mas ele se obrigou a continuar agindo racionalmente.

– Então você é como sua mãe. – Ele manteve o olhar em Rin por um longo instante e ela evitou retribuir aquele contato, olhando para a filha.

– Sou. – O tom orgulhoso com que ela afirmou aquilo fez com que Rin sorrisse. – Posso te levar até o moinho. Você sabia que o trigo já vai começar a ser colhido? – Melissa também sorriu e Sesshoumaru constatou, mais uma vez, como o riso das duas era parecido. – Depois ele irá para a moagem, para virar farinha e depois irá ajudar os pães a crescer.

A felicidade no rosto de Melissa fez com que, pela primeira vez em anos, uma pequena luz se acendesse no peito de Sesshoumaru. Ela era realmente inteligente, doce e amigável, como Rebeca havia apontado. Confirmar aquilo teria deixado sua mulher radiante, mas ele tentou desligar-se daquilo. Ver o sorriso da doce menina fazia com que Sesshoumaru se desligasse do mundo fora daquela confeitaria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente!

E então? O que acharam desse segundo capítulo?

Estou super animada com a história e com as reviews que recebi. Vou tentar manter um ritmo de postagem de quinze em quinze dias, ou menos, se der.

Espero que gostem e, por favor, deixem suas opiniões.

Um super beijo a todos :*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lovebelt" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.