Quando Eu Despertar escrita por Anikenkai


Capítulo 2
Words as Weapons


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Aqui vai um novo capítulo, espero que me acompanhem. Boa leitura! ♥



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Um apito alto soou de longe. Me apressei, saltando do ônibus, pulando a catraca de entrada com minha bolsa debaixo do braço, mostrando minha credencial para o segurança. Estava quase sem fôlego de tanto correr; e devido meu atraso por conta da chuva que cai agora, vou me atrasar. Subo a rampa até o terceiro andar onde fica minha sala de estudos.

— Com licença... desculpe. — Sussurro, ao abrir a porta da sala.

Alguns alunos erguem os olhos dos seus livros e me notam, para depois voltarem a ler. Com um gesto de cabeça, meu professor permite que eu entre.

— Por favor, June. Fique à vontade. Estou aguardando o resto da turma chegar, por conta da chuva devem se atrasar, na maioria. — Meu professor comenta, com a mão em direção da minha carteira.

Este é meu professor, Daidalos Soárez. Um grande mestre e excelente professor, sempre atencioso e inteligente. Uma boa pessoa, sempre penso. Com um aceno, agradeço e vou me sentar, deixando minha bolsa sob o pé da carteira.

— Ah, que chato. Duvido que mais alguém chegue com essa chuvarada que cai lá fora! — Seiya comenta, em voz alta e observando a janela.

Seiya Ogawara - o famoso atleta prodígio de atletismo da Faculdade, mas também conhecido como o maior vagabundo de todo campus - está sentado do meu lado. Ele vira levemente a cara para mim, e eu o noto. Ele bufa, e volta a encarar a janela. Me pergunto o porquê dele estar nesta classe, ou melhor, nas aulas de Cosmologia do curso do professor Daidalos. Ele parece querer nada com a vida, ao não ser quando tem algum evento de esportes ou saída dos alunos para encher a cara a noite toda. Sei lá.

Percebo devagar, um leve hematoma no seu rosto. Um pequeno corte ainda não totalmente cicatrizado, acima da sua sobrancelha esquerda. Penso no mesmo instante, que aquilo deve ser resultado de alguma coisa ruim que houve na noite anterior. Shun disse que estava com ele na Casa de Libra, no momento da briga. Será que a coisa... foi mais feia do que imagino?

— Muito bem, alunos. Apenas sete alunos presentes... por conta da chuva, a maioria faltou mesmo. Já está tarde, irei começar de vez a aula. Vamos... abram seus livros na página 124.

Daidalos se senta na cadeira. O barulho de zíperes sendo abertos e folhas sendo folheadas rapidamente ecoa na sala. Desvio meu olhar de Seiya, mas ele me pega de repente. Ergo minha postura, e abro meu livro para ignorá-lo.

Ouço sua risadinha. Suspiro, torcendo para que ele não fale comigo. Tarde demais. Seiya empurra sua carteira para mais perto de mim e afastado da janela com o pé, e fica colado na minha. Põe a mão no próprio livro, folheando com ar entediado.

— Oi, June. — Ele diz em voz baixa.

— Seiya. — Respondo no mesmo tom, observando o professor escrevendo algo no quadro.

— Você, por acaso sabe se o nosso amiguinho, Shun, vem para a aula hoje? — Ele pergunta, parecendo que está me segredando algo.

— Deixei ele no nosso apartamento, dormindo. Duvido que venha. — Respondo, achando a tal página.

No quadro, Daidalos escreve algo como "A Estruturação da Origem do Universo".

— Ah. Saquei. É que, ele saiu tão rápido hoje de madrugada, que nem pude perguntar cê ele tava bem.

— Ele está ótimo. — Digo, um pouco irritada por ele ainda estar falando comigo. Tento disfarçar minha antipatia por ele. — Pra quê essa preocupação?

— Nada demais, oras. Levei um soco do Hyoga ontem por ter entrado na frente dele. Certeza que o Shun teria desmontado se tomasse um soco daqueles. — Ele dá uma risada baixinha, e cutuca o machucado da sobrancelha. — Avisa pra ele que, na próxima não sair pegando os "boys" dele na frente dos ex.

Suspiro pesadamente. O professor termina de escrever no quadro, e liga o aparelho de datashow para slides e desliga as luzes da sala de aula. Alguma coisa haver com a matéria.

— Pode deixar. Ah, me faça um favorzinho. Isso é culpa sua. Pare de tentar levá-lo para quele inferninho que vocês chamam de boate.

— Culpa minha? Hihihihi... eu tentei foi salvá-lo! - Ele diz, sarcástico. — Ah, porra. Não seja chata. Deixa o moleque se divertir mais.

— Ele já se diverte demais em certas companhias — Digo, virando meu rosto para fuzila-lo.

— Oh, ok, ok, mamãe. Só dizendo. — Ele ergue as mãos, vencido.

Fazemos silêncio por uns minutos, enquanto a sala é apagada e assistimos imagens de galáxias e estrelas, enquanto Daidalos explica sobre elas. Após esses minutos eternos, Seiya se curva de novo para balbuciar no meu ouvido.

— Está sabendo dos boatos?

— Já está tendo boatos?

— Ah. Óbvio! O Shun não te contou nada mesmo do que rolou então ontem. — Ele comenta, contorcendo os lábios para baixo. Em seguida, afunda na carteira e dobra as pernas quase que na cabeça do aluno na sua frente, apoiando os pés nas costas daquela carteira.

Suspiro pela segunda vez. É exatamente isso que me preocupa agora.

As imagens dos slides são lindas, e a explicação do professor volta em volume máximo na minha cabeça. Nos é mostrada a imagem de Alpheratz; a estrela principal da constelação de Andrômeda que interliga para Pégaso. Espio Seiya novamente. A expressão do seu rosto muda ao ver a imagem da estrela... de repente ele fica meio pálido.

Já que estou falando com ele, me curvo na sua direção, sussurrando para matar uma curiosidade. Não sei se terei tempo - ou até vontade - para falar com ele assim de novo sem mais nem menos.

— Ei. Me diz uma coisa. Nada haver com os boatos. — Falo baixinho, e ele acena com a cabeça, sem tirar os olhos do slide. — Por quê está no curso de Cosmologia, também? É raro te ver, minimamente, nos corredores.

— Tá me reparando? — Ele ri baixo debochado, e eu reviro os olhos. — Nha. A técnica da equipe me disse que, para continuar competindo na equipe, preciso voltar a frequentar as aulas. Olha, é chato. Chato pra caralho, quero pular o muro e fugir. — Ele responde.

— Então por quê não faz, agora?

— Porque já tomei cinco advertências. Me inscrevi em Cosmologia, porque ainda tinha vaga e porque acho essa "parada" de estrelas, interessante. Sacou?

Aceno com a cabeça, apoiando o queixo na mão e observando as imagens como ele. Realmente... todas as pessoas que conheço desde o Ensino Fundamental que veio para esta Faculdade, estão escritas nesse curso de Cosmologia: Hyoga, Shiryu, Shun, e os outros.

É estranho. Não pode ser tão coincidência.

A imagem de alpheratz e a constelação de Pégaso passa dos slides, e Seiya parece relaxar aliviado, de repente.

As luzes são acesas, e ouço um burburinho de longe. Duas meninas estão conversando e olham para mim. Pego-as no flagra, e elas riem. Devem estar fofocando pelo que aconteceu com Shun na tal noite passada. Ergo meu livro, voltando a me irritar. Ignoro isso. Tento.

[...]

O sinal soou longe. A aula acabou. Todos nós nos levantamos para arrumar nossas coisas, e sair de sala. As cadeiras sendo empurradas, e o datashow sendo desligado pelo professor. Seiya foi o primeiro a sair, correndo e empurrando algumas meninas na porta, dando uma risada. Enfim. Ele nunca deixará de ser um irresponsável mesmo.

Assim que guardo meu livro de Astronomia, percebo que todos saíram e uma cadeira ficou intocável no fundo da sala. Percebo que ela não esteve aqui na aula hoje, e franzo as sobrancelhas, estranhando isso. Ela sempre vem, nunca faltou uma aula, por pior a tempestade que estivesse caindo lá fora. Porque a ela faltaria logo hoje? O que será que aconteceu com ela?

— Senhorita Delfos. Posso falar com você por um instante? — O professor Daidalos me chama, antes que eu cruze a porta. Aceno com a cabeça, indo até a mesa dele. — Poderia me responder algumas perguntas, June?

— Claro. — Respondo.

— É sobre seu amigo, Shun Amamiya... — Ele começa, e eu já bufo, com um discurso inteiro preparado para explicar a falta dele em mais uma aula.

— Professor, eu sei, ele faltou de novo, ele está atrasado nas matérias, mas é que ele disse que ele estava delirando de febre, e...

— Calma, não é sobre isso que quero esclarecer. — Daidalos diz, erguendo a mão direita. — Escute. Como professor, tenho que saber o que acontece com meus alunos, e, soube pelos corredores que existe um boato pelos alunos da Faculdade. Algo relacionado à orgias, bebidas, festas, uma grande briga ontem à noite... e o nome do senhor Amamiya e do senhor Alexei estavam entre essas histórias. Está se espalhando por todo campus.

Arregalo os olhos, e abro minha boca, meio tensa e já suando frio. Daidalos está sabendo até antes de mim sobre o que ocorreu nessa madrugada... e eu não fiz nada. Tenho medo do que ele pode fazer com essa informação. Mandar expulsar o Shun da Faculdade? E se Hyoga procurar vingança caso ele o expulse também? Pisco os olhos, tentando pensar em algo para explicar, mas nada me vem a mente.

— Err... professor... eu... não estava sabendo dessa confusão, nem quando, e...

— Tudo bem, se acalme. Apenas fico preocupado no que tudo isso carreta! Shun é meu aluno também, e fico preocupado com tamanhas confusões que chega aos meus ouvidos. Pelo bem dele se isso continuar, a própria diretoria pode expulsá-lo. — Ele comenta, em um tom sério. — Quero dizer, ao não ser que, o diretor Ares não esteja sabendo de nada, ainda...

Minha cabeça gira por um momento. Não posso deixar isso acontecer! Todo futuro de Shun... irá para o ralo, por causa desses boatos. Ainda não sei o que está verdadeiramente acontecendo. Preciso sair daqui desta sala, tirar a história à limpo, antes que alguém seja verdadeiramente prejudicado ou saia machucado. Preciso saber o que aconteceu naquela boate ontem a noite de verdade antes do professor e do diretor Ares.

— Professor Daidalos, prometo que o Shun não vai mais se meter em confusão. Eu mesma vou tentar resolver isso. Preciso ir, até a próxima aula! — Digo, apressada para sair, mas ele novamente me chama.

— June, eu falo a verdade quando digo que estou preocupado com meus alunos. Conheço Hyoga e seus amigos encrenqueiros... o que tivesse acontecido ontem, quero que tenha morrido ontem. Entendido? — Ele diz, e eu aceno com a cabeça mais uma vez, afirmando.

Meus dedos tocam a maçaneta da porta, e estou quase saindo, mas não saio. Esqueci de perguntar. Dou meia volta, aproveitando a ocasião que falo com ele.

— Ei. Professor Daidalos, sabe... — Sussurro ao voltar para sua mesa, e ele ergue os olhos do seu livro mais uma vez e me encarando. — Tenho uma dúvida...

— Pode me perguntar, senhorita Delfos.

— O senhor sabe se... a Saori veio para a aula hoje? — Pergunto, apontando para a cadeira que me refiro ao fundo da sala, de costas. — Nunca a vi faltar um dia. É estranho não a ver hoje, mesmo em dia de chuva...

— De fato. A senhorita Kido nunca faltou. Ela é uma aluna tão tímida, não é de falar com ninguém.... alguma coisa deve ter acontecido com ela. — Daidalos me responde, com uma expressão também de dúvida. — Tentarei ligar para o avô dela, e saber o que aconteceu.

— Obrigada, professor. — Digo, com um sorriso mínimo, e me afastando novamente.

— Ah! Diga ao Shun para... tomar algum remédio e sarar desta febre. Pretendo vê-lo na minha próxima aula... certo? — O professor me questiona com um sorriso meio sádico, e eu engulo o seco, concordando que sim.

[...]

A tempestade acabou, e tudo o que restou foi uma brisa gélida no ar e poças de água sob os pátios à céu aberto.

Os alto falantes do campus tocam uma música diferente. Com batidas suaves e uma voz da cantora com um tom de raiva enquanto ela canta nela. Words as Weapons, me recordo do título da música. O som está meio abafado, por conta das caixas de som afastadas daqui.

Corro pelas escadarias, no corredor ao ar livre que fica de frente ao campo de futebol americano. As arquibancadas e escadaria estão enfileirados em forma de "C", com os prédios colados atrás dos pilares de mármore que enfeitam a saída do prédio. Como é intervalo, alguns alunos estão aqui sentados sob a sombra dos pilares para conversar, ou fumar juntos.

Pulo os últimos degraus, indo até o acesso do campo. Me viro, tentando olhar para as arquibancadas e procurar alguém, as pessoas, a pessoa que necessito tirar explicações. Ao fundo da ponta direita do "C", vejo a silhueta de alguém se aproximando, com um grupo atrás dele.

Corro até a pessoa, já enxergando quem é. O alcanço e puxo-lhe pela gola da camisa, para trás.

— Hyoga Alexei. — Grito, quando ele se vira.

O cara alto, de cabelos longos e loiros presos em um rabo de cabelo e olhos azuis, e musculoso me encara, com os dedos em volta do pescoço. Ele mostra uma expressão de misto entre susto e raiva, com os dentes trincados. Me afasto um passo, enquanto ele dá um passo na minha frente.

— O que você quer, garotinha? — Ele cospe, me olhando com desdém desta vez assim que suaviza sua raiva ao me encarar, e em seguida me dá as costas.

— Precisamos conversar, por favor. É sobre essas fofocas pela Faculdade. — Respondo em voz bem alta.

Ele arregala os olhos, virando-se para mim de novo. O grupinho de quatro meninas começam a conversar entre si bem baixinho, nos encarando. Hyoga volta a ter uma expressão de raiva sob mim, girando a mão para as garotas e mandando-as sair daqui. Engulo o seco, tensa em meu lugar.

— Não tenho nada que conversar com você. Cai fora. — Ele responde, com um tom de voz violento.

— Quero que me esclareça o que aconteceu ontem. Querendo ou não, eu acabo envolvida. Quero saber o que você fez ontem com o Shun naquela boate. A corda vai estar no nosso pescoço, e esse boato for mais longe!

— Ah, é mesmo? Você se envolve por que quer. — Ele diz, se aproximando de mim. Fico com outro pé atrás, não querendo que ele faça alguma coisa comigo. — Deixe o boato se espalhar. Assim aquele otário viadinho vai saber o gostinho amargo que é fazer um escândalo imbecil na frente de todo mundo.

— Escândalo? Shun chegou hoje de madrugada com o rosto marcado... você bateu nele? Por acaso iria agredi-lo mais porque você o viu com outro homem?

Hyoga volta arregalar os olhos e a virar a cabeça, olhando para os lados para ver se alguém nos ouviu, principalmente as meninas que estavam com ele.

Ele se afasta, e dou um longo suspiro, querendo mais que tudo arrancá-lo a verdade. O loiro grunhe alguma coisa, e volto a me encarar agora com um olhar meio turvo.

— Ele... estava machucado? E-eu... não queria ter machucado o Shun... — Hyoga diz, com uma voz baixa desta vez.

— Parece que sim. Vai me contar o que fizeram para fazê-lo chorar ontem? — Questiono, desta vez com raiva.

Hyoga ergue os olhos novamente, e me encara longamente. Seus lábios tremem, e ele morde o inferior, voltando a olhar para baixo. Não sei o que eles estão me escondendo. O céu volta a ficar meio cinzento, e os alunos de longe da escadaria se levantam e começam a correr para dentro do campus com o som de um trovão.

— Eu não devo nenhuma satisfação para você. — Ele simplesmente diz, cuspindo para mim. Em seguida, me dá as costas e sobe as arquibancadas para dentro, me deixando sozinha.

O observo se afastar, com uma raiva crescendo dentro de mim. O que está acontecendo afinal? O que houve entre vocês dois? Questiono as perguntas que deveria gritá-lo, mas o deixo ir, debaixo dos chuviscos que começam a cair no campo. O céu relampia, e esfrego meu pulso nos olhos, tentando pensar no que fazer agora.

Então de repente... eu a vejo.

De longe, sentada sozinha e debaixo da chuva que agora cai, com a cabeça erguida em direção do campo.

Saori Kido.

— Mas... o quê... ela estava no Campus? — Vejo ela ali, parada, debaixo da chuva. Estou me molhando também, então começo a andar em sua direção, querendo saber o que ela faz ali. — Saori...? — A chamo em voz alta.

Me aproximo após alguns minutos até chegar nela. Toco seu ombro com a camisa branca molhada, mas ela não me responde.

Os olhos de Saori estão meio turvos e encarando o campo, com a cascata de cabelos castanhos encharcados e os dedos sob um livro de couro no seu colo. Resolvo estalar os dedos nos seus ouvidos. Ts, ts, ts. Ela finalmente parece voltar para a realidade, piscando os olhos e arquejando pela boca, balançando a cabeça.

— Ei... está tudo bem?

— Ahhh.... hmmm... e-eu... — Ela sussurra com uma vozinha baixa e rouca. Saori encolhe as pernas, me olhando um pouco assustada. — Desculpe... eu... preciso ir...

Saori se engue, virando na direção oposta e começa a correr. Ali, parada debaixo da chuva, fico sem entender o que acabou de acontecer. Aperto os punhos, zangada demais para fazer qualquer coisa, e subo as escadarias para dentro. Ainda existe algumas pessoas para questionar, sobre os boatos. E que estavam lá quando aconteceu.

Preciso encontrar Shiryu agora.

[...]


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo! ;)



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