Quando Eu Despertar escrita por Anikenkai


Capítulo 3
Liability




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Era final de tarde. A chuva já estava diminuindo, o terrível céu nublado destaca descansado de sua fúria e voltava a clarear aos poucos e de longe se ouvia o som soar da companhia. Era fim da última aula, e eu deveria me apressar antes de que minha vítima escapasse de mim. Olhei para o relógio enquanto saía apressada da sala de aula. 15:05. Será que dá tempo de encontrar Shiryu?

 

Corri pela escadaria do Hall de entrada, atravessando o mar de jovens que passavam para ir até a saída, pedindo licença em meio aos tropeções. De longe, vi um rapaz de cabelos longos e pretos murmurando algo, e reconheci sua voz. Era ele. Tentei desviar pelo gramado até o último degrau, e enfim, com minha mão estendida toquei sua jaqueta. Ele percebeu, e se virou de imediato, se encontrando comigo e seu rosto suado de tanto correr. Eu arfava. 

 

— Oi, June. Você está bem? — Ele perguntou, com uma expressão preocupada. Shiryu era alto, de modo que precisou de curvar para falar comigo. Ao seu lado, estava uma moça de cabelos trançados e igualmente pretos, de mãos dadas aos dele, com a mesma expressão de curiosidade. 

 

— Oi. Desculpa te empurrar. Preciso falar com você. — E olhei para sua companheira e depois para ele. — Em particular. Por favor. 

 

Não precisei me alongar no pedido, pois Shiryu logo percebeu do que se trata. Virou-se para a amiga e deu-lhe um beijo estalado na bochecha, devolvendo sua mochila cor de rosa. 

 

— Me espera no na estação do metrô, Shunrey. Eu já volto. 

 

Ela assentiu e virou-se para ir, não sem antes me cumprimentar com a cabeça. Eu poucas vezes havia falado com Shunrey, mas sabia que era uma pessoa tímida e recatada, por isso não questionou meu óbvio rosto de nervosismo. Shiryu me conduziu até uma árvore próxima, com a mão em minhas costas e largou sua própria mochila ali. Cruzou os braços. 

 

— Gostaria de saber o que aconteceu ontem na Casa de Libra, não é? Os boatos estão circulando rápido. Em um dia, o campus todo sabe. 

 

— Sim, todos menos eu. Eu estou tensa. Não sei o que o Hyoga fez com o Shun… — Disse, e apoiei as costas na árvore, colocando uma mão na testa e bufando. — Tudo isso de novo…

 

— Sinto muito, June. Sei que ama muito o Shun. Vocês são quase que irmãos. — Meu coração acelerou sem motivo ao ouvir aquilo. Ele continuou. — Olha, não tem muito o que explicar na verdade. Marcamos todos nós reunir com a calourada na Libra ontem, para beber como sempre. Começaram com as músicas mais altas, e todos foram dançar. Bebedeira, beijos, esfrega, esfrega… Coisas dessas, sabe. 

 

Shiryu olhou-me e eu o retribui. Suspirou. 

 

— Eu não gosto quando a Casa de Libra fica sem freios assim, então fiquei quieto na minha. De repente, escutamos um barulho de garrafa quebrando. Quando me levantei, tinha um burado na pista, e Shun e Hyoga estavam discutindo no meio dela. Todos os olhavam, parecia que iam cair nos socos. Alguma coisa de… "Você gosta de outra pessoa" e ouvi o Shun dizer "sim". 

 

Outra pessoa? De quem ele falava? Eu não sabia que Shun se interessava por alguém. Meu coração acelerou mais uma vez, e fui obrigada e pousar a mão no peito. Porque estava me sentindo assim?

 

— Depois o de sempre… xingamentos e então, claro, o Hyoga perdendo a razão. 

 

— Como assim?

 

— Ele tentou socar o Shun. Um soco bem dado. Mas o Seiya entrou na frente, e tomou o soco no lugar dele. E então um mar de gente agarrou o Hyoga e o arrastou para fora da boate. De repente, pareciam todos contagiados pela confusão e começou o quebra-quebra, gritos, brigas… todos pareciam que engatilhados para brigar também. Eu simplesmente paguei minhas bebidas e saí dali. Não quis saber do final. 

 

Alguns pássaros voaram no céu e cantaram para nós. A chuva acaba de vez naquele momento, e uma luz pálida de por do sol se filtrava entre as nuvens negras. Virei-me para o Shiryu.

 

— Pelo que estão falando… foi culpa dos dois toda a confusão. O professor Daidalos disse que podem expulsar o Shun se isso chegar aos ouvidos do diretor…

 

— Ah, o que eles podem fazer? Não estávamos de uniforme, ou algo do tipo. É a vida pessoal dos dois caras. Duvido que expulsam o Shun por causa disso. 

 

— Será?

 

— Estou lhe dizendo. 

 

— Bem… — Levantei-me da árvore, ajeitando minha própria mochila no ombro. — Obrigada Shiryu. 

 

— Relaxa. Sei que se preocupa com ele. Afinal, por mais que eu não aprove das maluquices, ou que a gente se fale tão pouco, eu ainda sou amigo do Shun. — Ele sorriu, dando alguns passos de volta para a escadaria já vazia. — A gente se vê, June. 

 

— Você irá até a Libra hoje? — Quis saber. Ele soltou uma risadinha. 

 

— Depois de tudo que aconteceu ontem? Duvido que reabram tão rápido. Os veteranos se se esforcem para achar outro lugar para beber. Não, eu viu curtir a noite com a minha namorada. — E então virou-se, acenando. — Tchau!

 

Acenei de volta para ele, emitindo mais um suspiro. As coisas começavam a ficar um pouco mais claras, e de fato era culpa do Hyoga mas também o Shun que o provocou, imaginava. Se fosse verdade que Shiryu disse, ele estava fora de perigo de uma expulsão. Estava agora completamente sozinha no campus, então tratei de correr para o ponto de ônibus no mesmo instante. 

 

(...)

 

Fechei a porta do apartamento. Da cozinha, ouvia-se o som alto de música e um cheiro delicioso. Tirei meu cavaquinho e larguei a mochila, indo em direção de tudo e encontrei um Shun brincando na pia, sem camisa e calças, com uma faca nas mãos picando um tomate e cantarolando a música que saída do seu celular. Me aproximei dele. Passei a música e ele se virou, com uma expressão divertida. 

 

— Minha pequena! — Seus braços circundadam minha cintura, e ele levantou-me do chão e girou. Dei um gritinho, e enfim me largou. 

 

— Porque tanta alegria? — Quis saber, não conseguindo fazer uma cara de raiva, pois me derretia completamente em sua aura divertida. Ele sorria para mim, e se aproximou com os lábios para beijar meu rosto. — O quê está cozinhando? — Perguntei, me aproximando da panela. 

 

— Ah! Macarroni pesto ao molho de tomate sugo! Ou algo assim. Vi a receita na Internet, e quis testar. Esperei a tarde inteira para fazer mais perto do fim da aula para você comer comigo. 

 

— O cheiro está ótimo. — Comentei, sorrindo. Apoiei as mãos na ilha da cozinha, olhando-o com uma malícia disfarçada. — E na receita dizia que precisava ficar pelado?

 

— Heim? Ah, tá um calor da porra. Me deixa. — Ele respondeu, remexendo o molho da panela com uma colher, assoprando com sofreguidão em seguida e levando aos meus lábios. — Experimenta.

 

Provei o molho. Sim, tava delicioso, e fiz um som de aprovação. Ele lambeu a mesma colher que eu havia usado, e voltou para a faca e o trabalho de picar tomates. 

 

— Shun… Precisamos conversar. 

 

— Poderia ser depois da janta? Não quero queimar nada aqui. 

 

— Bem, só quero que saiba que… já sei de tudo o que aconteceu ontem à noite. Da boate, da confusão, sobre o Hyoga. O campus todo comenta, na verdade. E também… — Novamente, o coração palpitando de nervosismo em meu peito. — Sobre você dizer para ele que está namorando alguém. 

 

Shun demorou alguns segundos antes de parar o que estava fazendo. Soltou um suspiro profundo, e abaixou o fogo do molho, virando-se para mim. Coçou os longos cabelos antes de falar.

 

— Não estou namorando ninguém, amiga. Sério. 

 

— Então porque disse? Esse ciúme… poderia ter evitado tudo. 

 

Em seguida, assistiu o rosto de Shun corar violentamente, e ele arrancou um pano de prato da ilha, e limpou as mãos. 

 

— Ele. Não sou propriedade dele. Quer saber a verdade? Eu tentei terminar com o Hyoga ontem. Foi isso. 

 

— Ah, é? Porque? — Quis saber, preocupada. Ele encarou-me nos olhos e se afastou por um momento. Voltou. Parecia mais nervoso do que imaginava. 

 

— Depois falamos disso, tá?

 

— Não! Quero saber agora. E se ele armar outro escândalo? — Toquei seu braço. — Me diz, Shun. 

 

Ele voltou a olhar-me nos olhos. Parecia perdido mas ao mesmo tempo como se quisesse muito falar algo. Abria e fechava os lábios sem nada me responder. Virou-se até o fogo e o desligou. Suspirou pesadamente uma segunda vez, até voltar para mim. Parecia diferente, como nunca eu havia o visto antes. 

 

— Somos amigos a tantos anos, June. Desde criança estamos juntos, como dois doidos, nesse mundo, não é? Você me conhece mais do que eu me conheço… não consigo te esconder um segredo…

 

— Compartilhe comigo então! O que está te deixando assim?

 

— Eu… — Ele abaixou o olhar para o chão, e tudo que pude fazer foi erguer seu queixo com minha mão, para que me olhasse. — Eu não sinto mais atração por ele. Na verdade, por nenhum dos caras… Ah, que droga. Acho que eu estou… começando a questionar minha sexualidade, June. 

 

Não consegui evitar o que veio em seguida, fora mais forte do que eu. O larguei e me curvei da gargalhada que saiu de mim. Shun ficou alterado, arremessando o pano de prato em mim, zangado. 

 

— Viu? Para que eu te conto as coisas? Vai pra puta que pariu, June.

 

— Ah, espere! Espere… desculpa! — Corri para abraçá-lo por trás, ainda rindo baixinho. — É que eu não esperava! Você… se questionando?

 

— É. É isso. Não consigo me entender mais. Estava sentindo um misto de emoções e tudo foi para fora! — Ele fez uma carranca de raiva para mim. — Pode rir, ria. E tudo que tem a me dizer?

 

— Não! — Disse. — Obrigada por me contar. Ah, fique tranquilo. Isso nem é algo estranho! É que bem…

 

— Bem…!?

 

— Você é gay desde que virou adulto, Shunny. É estranho que agora esteja… diferente



Shun não respondeu e virou para me olhar. Eu ainda sorria divertida, mas ele parecia sofrer. Eu entendi. Ele estava sofrendo. Sofrendo com o misto de emoções, com as próprias dúvidas, do que gosta ou não, e talvez estivesse guardando aquilo havia muito tempo. A confusão deveria ter sido o estopim. Deixei de sorrir de imediato. 

 

— Então… você acha agora mulheres atraentes?

 

— Não sei… não consigo me entender. — Ele respondeu, mordendo o lábio.

 

Suspirei desta vez. De repente me surgiu uma idéia, algo divertido para testá-lo. Levei os dedos para a gola da camisa, e comecei a soltar os botões, um por um até a barriga, e a camisa se deslizando pelos meus ombros, até ficar de sutiã na sua frente. Vi Shun engolir o seco, parecia chocado. Eu sorri para ele, tocando sua mão, e erguendo a palma para os meus olhos. 

 

— Quer testar? Vamos ver se você se sentiria atraído por uma mulher. De brincadeira, lógico. — E pousei sua mão em meu seio direito, massageando-o lentamente. O rosto de Shun se alterou, e seus olhos ficaram negros de repente. Acreditava que ele me repeliria no mesmo segundo, gritando comigo, mas ele não o fez e me deixou conduzir a cena. Estava eu mesma surpresa com o que estava fazendo e a falta de repulsa dele. Ele apenas… me encarava com os olhos profundos… como se fosse me devorar.

 

— Ah, o macarrão! — Ele gritou de repente, e correu para o fogo. 

 

Estava eu ali, atordoada com o que eu tinha acabado de fazer, sem ter pensando muito na minha ação. Acreditei que ele fosse empurrar ou algo do tipo. Mas… agora era meu coração que estava terrivelmente acelerado. Tratei de imediato colocar abotoar a camisa novamente, me apoiar na ilha, e olhar para o outro lado, torcendo que ele não falasse sobre aquilo nos próximos minutos. 

 

(...)

 

Comemos a refeição em silêncio, enquanto as luzes da cidade cintilavam da janela lá fora, observava distraída nos meus pensamentos. Estava com um arrependimento profundo, não deveria ter provocado meu amigo, ou melhor, ter o desrespeitado daquela maneira. Porque eu o faria ter algum tipo de tensão por mim sendo que ele não gosta do fruto? Ainda mais com alguém que amo e cuido a tanto tempo… era esquisito demais. Desviei meu olhar da janela e o flagrei me encarando, e Shun abaixou os olhos para o seu prato já vazio. Parecia tão pensativo quanto eu. 

 

— Shun… desculpa. Foi ridículo o que eu fiz agora pouco. Não quis debochar de você, me perdoa? — Pedi, um pouco aflita. 

 

Ele demorou alguns instantes antes de me responder, pois brincava com o vidro de azeite agora. Novamente me olhou e disse:

 

— Juju.

 

— Sim?

 

— Me dá um beijo? 

 

Assenti que sim. Tínhamos o costume, desde adolescentes, a dar rápidos selinhos um no outro, como carinho. Na verdade, nosso primeiro beijo foi entre nós, para "treinar", pois éramos tímidos demais para chegar em meninos, e foi engraçado. Aqueles selinhos eram meigos e bem rápidos, como cumprimento de primos, e eu nunca me importava. Shun se levantou e foi ao meu lado, colocou meu rosto entre suas mãos e… não me deu o costumeiro selo. Beijou-me de verdade. Seus lábios sugaram os meus e ele brincou com eles, afundando em um sufocante beijo como nunca havia tido, e demorou-se nele. Eu, surpresa demais com o choque, apenas me deixei levar… gostando do que estava acontecendo. Quando nos afastamos - de lábios vermelhos e arfando, vi-o com lágrimas nos olhos. Apertei suas mãos de imediato, ainda arfando.

 

— Nossa… porque você…?

 

— Desculpe, Ju. Não sei porquê fiz isso. É melhor eu… eu ir dormir. — E se afastou-se de mim, me deixando sozinha na cozinha. 

 

Eu não conseguia entender o que estava acontecendo com ele. Limpei a boca com as costas da mão, e sentia-me quente. Novamente, eu o estava olhando demais e agora esses dúvidas dele… eu e Shun nunca tivemos qualquer tipo de "perigo" em morar-mos juntos. Ele nos seus gostos e eu nos meus, éramos como irmãos. Mas não sei se já me sentia assim, ou de certa maneira, a parede de papel que nos separava da malícia entre homem e mulher estava desmoronando. Estava atordoada com esse tipo de pensamento. Estava concluindo rápido demais? Deveria ser sim. Recolhi a louca e a pus na pia, Novamente suspirando pesadamente e tocando os lábios com a ponta dos dedos. Se ele estava infeliz… eu como amiga deveria ser a primeira a ajudá-lo e não… aproveitar

 

Fui até o quarto. O rapaz já estava enroscado nos cobertores, e como de costume, deitado em minha cama do que na dele, no beliche de cima. Sorri. Retirei a camisa e a calça jeans, pus meu babydoll já dobrado em uma cadeira e penteie os cabelos com os dedos, indo para o banheiro fazer minha higiene. Quando terminei, tirei os chinelos e deitei na cama, puxando a coberta. A rotina novamente surgiu, e Shun virou-se sonolento já e passou o braço em minha cintura, apertando-me contra ele, e ficamos assim, de conchinha. 

 

De repente, senti-me estranha. Mais estranha do que toda a situação de mais cedo havia me causado. O gosto dos lábios dele ainda estavam na minha boca e todo pedaço de pele que ele tocava agora em mim queimava. Senti um calor repentino como nunca por ele, e não consegui me conter, mal havia fechado os olhos. Ah, quando ele tinha aquele cheiro? Era tão quente… levantei-me da cama abruptamente e corri de volta ao banheiro. Eu novamente arfava. Sentei no vaso com a tampa fechada, abaixando minhas peças de roupa e… com a mão, me alivie. 

 

O que estava acontecendo!? Eu realmente estava fazendo aquilo por causa dele? Era muito estranho, aquilo pouco tempo atrás era impensável, impossível! Mas eu já o reparava. Eu não me relacionava com nenhum homem havia anos, e me sentia tão solitária. E agora aquilo… quando arfei de felicidade, tratei de me limpar, sentindo-me a pessoa mais suja da face do planeta e sobretudo a mais esquisita. Lavei o rosto na pia e encarei o rosto pálido que me encarava no espelho. Eu estava diferente… talvez cansada por causa dos estudos e do trabalho, talvez angustiada com tudo aquilo entre Shun e agora eu. Desliguei a luz e voltei para o quarto, vendo minha vítima dormir profundamente. Subi a escadinha e deitei na cama dele, ignorando seu cheiro e tentando também mergulhar no descanso. 

 

Eu precisava descansar, pois tudo estava confuso.

 

(...)

 

— Isso é tudo por hoje. Por favor não esqueçam de verificar seus e-mails, irei enviar o trabalho do final de semana por lá. Estão dispensados. 

 

O professor Daidalos pirrageou e aos poucos a turma foi se levantando e dispersando, um por um saindo da sala. Olhei ao meu lado, novamente para o lugar vazio que havia notado mais uma vez. Saori. Saori não estava lá novamente, outra vez tinha faltando. Não eu eu e ela fossemos exatamente amigas - se eu tinha trocado mais de quatro frases além dos habituais "bom dia" com ela já era muito, mais havia uma aura de pessoa bondosa que a circulava, apesar de ela não falar com ninguém, e vê-la sumir era esquisito. Balancei a cabeça. Afinal, não era problema meu. 

 

Saí da sala, o professor sequer questionando novamente a falta do Shun, ele já sabia do motivo. Nós corredores, o murmúrio do boato ainda circulava com força e os olhares estavam direcionados para mim, pois todos sabiam que eu era a melhor amiga de Shun. Ignorava-os. Guardei meus cadernos em meu ármário, e me preparava para ir embora, quando alguém tropeçou em mim com o ombro. 

 

— Você! — Uma voz gritou. Virei de súbito para o lado, e me assustei. Era Hyoga ao me lado, com os punhos cerrados e olhar fuzilante. Encarei-o ainda surpresa da afronta. 

 

— Posso te ajudar?

 

— Sim. Avisa seu amiguinho filha da puta viado que se ele não vier para a faculdade amanhã e acertar as contas comigo, eu vou até seu apartamento e quebro ele na porrada. 

 

Um círculo de pessoas começava a se aglomerar ao nosso redor, algumas erguiam a câmera do celular. Ajeitei a mochila no ombro, e fechei o armário com força propositadamente.

 

— Você precisa desse escândalo? Pensei que gostasse de sigilo… — Sussurrei. 

 

Ele bateu a palma no armário, encurralando-me entre seu corpo e a parede. 

 

— Não brinca, idiota. Você está avisada. Amanhã. Avisa pra ele. 

 

— Se vai me ameaçar, Hyoga — Disse, tentando me manter mais calma possível. — Deveria tentar outra vez, pois não tenho medo de imbecis como você. E se aparecer na porta da minha casa, vou chamar a polícia. O avisado é você. 

 

Empurrei seu braço e me libertei dali. Saí meio correndo meio andando, esbarrando nas pessoas ao redor e deixando-as murmurar sobre mim. Inferno! Quando aquelas pessoas nos deixariam em paz, de vez por todas? Era muita coisa na cabeça e agora uma ameaça! Estava decidia em avisar um professor ou ir diretamente na delegacia - eu conhecia Hyoga desde pequeno, era nunca fora do tipo que ameaçava ou até mesmo fosse violento como pessoa, apenas esquentado, mas de qualquer maneira não queria arriscar. Se ele fosse louco mesmo, seja pela sua reputação mentirosa ou pelo Shun, ele poderia voltar a me ameaçar. Mal via onde andava, quando novamente esbarrei em outra pessoa naquele caminho. 

 

— Desculpe! — Gritei, ao mesmo tempo que me inclinava para segurar a pessoa de cair comigo. — Eu não vi… Saori?

 

Era ela! Saori Kido estava ao meu lado, olhando-me com seus olhos azuis profundos e nervosos, com a própria bolsa caída ao chão. Antes que eu a deixasse reagir, me abaixei para tomar sua bolsa, mas ela rispidamente puxou-a para si. Parecia ter uma expressão louca, quase doente. Minha preocupação foi imediata. 

 

— Saori você está bem? Está tão pálida… não a vi de novo na faculdade e…

 

— Se afaste dele. 

 

— O quê? — Meus olhos se abriram mais, e me afastei um passo. Sua voz estava rouca, e ela me encarava friamente. 

 

— Você me ouviu. Se afaste do Shun. Hyoga não é o único que está te ameaçando, eu também vou. Mas por outro motivo. Fica longe dele. 

 

— Com licença…? — Franzi as sobrancelhas. — Nos mal nos conhecemos, quem você pensa que é para…

 

— Vocês não são jovens comuns. Tem algo no Cosmo surgindo, algo poderoso e vocês não podem ficar juntos. Escute. Fica longe do Shun, June. 

 

E tão logo como surgiu, Saori desapareceu, correndo para o sentido oposto com sua bolsa apertada no peito. Fiquei atordoada. O que pensar? Primeiro Hyoga, e agora… ela? O que os dois queriam de mim afinal? Trinquei os dentes e raiva, não deixaria que essas coisas me tirariam a paz. E ajeitando mais uma vez a mochila no ombro, caminhei para o ônibus, querendo de vez, esclarecer coisas ainda não faladas em voz alta com meu companheiro de quarto. 







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