Lady Rouge - Amor de uma Noite escrita por Anikenkai


Capítulo 4
Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, estou em um furacão com minhas outras fics, sobre "Os Cavaleiros do Zodíaco". XD Bem, voltamos para a saga de Jogos Vorazes. Espero que gostem! Boa leitura!



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08:01 da manhã.

Lá em cima, a menina respirou fundo o ar da manhã. Voltou a olhar atentamente a posição do sol.

Mal Greasy havia lhe levado para o local onde receberia as primeiras instruções do que começaria a fazer, quando alguém gritou do outro lado afastado do convés. Alguns homens ao redor se assustaram e largaram as redes. Katniss também se assustou e agarrou imediatamente o avental da velha e apertou seu braço com a outra mão.

Algo aconteceu. Tudo ficou agitado de repente.

Assim que perceberam, os tripulantes avistam que o barco acabara de desembarcar novamente em outro porto. Mal haviam saído do último, praticamente.

— O que Haymitch está fazendo?! — Katniss largou Sae e correu agarrando o corrimão, gritando de volta para ela. — Nem saímos direito de Cairparavel! Como podemos já desembarcar? — disse, respirando muito rápido. Estava realmente exaltada. Precisava chegar a Finchley, não podia demorar!

— Acalme-se, criança — disse a velha ao segurar seus ombros. — Sei lá o que o velho capitão está fazendo. E pouco nos importa, não é da nossa conta — rugiu Greasy. — Bem, vamos supor que ele veio fazer algum descarregamento ou pegar mais alguma coisa antes de irmos para a Inglaterra, eu acho. Isso acontece às vezes — respondeu, tentando assegurá-la de que estava tudo sob controle.

Logo uma onda de preocupação percorreu o corpo e a mente de Katniss. Suas mãos suavam e sentia um calor insuportável, e ainda era manhã. Será que Haymitch havia voltado com sua palavra e pretendia jogá-la para fora do barco ali? Ia abandoná-la secretamente, assim como fizera a vida toda?

— Será que ele vai me expulsar!? — perguntou para si mesma em um fio de voz. Ela já sabia pelo olhar de repugnância do avô que ele a torturaria, era inevitável, mas expulsá-la assim, tão cedo...?

Antes que Katniss o fizesse, Greasy Sae correu em direção aos mastros, puxando um dos rapazes que gritava para os pescadores em algum canto, em busca de respostas. Apressada, acabou deixando o rapaz imprensado na madeira e se aproximando também. Katniss percebeu os seus mesmos olhos cinzentos, cabelos castanhos que tinha o rapaz. Ele era bem musculoso e Katniss ficou rapidamente atraída pela passagem de olhares.

— Escute aqui, Gale — sussurrou a velha em seus ouvidos, com os braços cruzados e uma voz raivosa. — Minhas meninas ficaram assustadas com essa parafernália. O que infernos o capitão está aprontando? Onde estamos, e onde está Finnick? Annie ficará preocupada se ele sumir com os homens de novo! — Greasy disse o mais alto e sacudiu seu avental.

O jovem piscou várias vezes até perceber que o estavam chamando do outro lado do barco, mas não podia empurrar a velha. Antes de respondê-la rapidamente, cruzou olhares com Katniss e percebeu que era a tal moça que havia invadido o barco há poucas horas por carona. Sorrindo para ela, passou o olhar de cima a baixo. Por um instante, esqueceu-se de tudo ao redor. Ela era bonitinha.

— Estamos no Beruna — Gale respondeu calmamente. — Giles, Finnick, Thom e o capitão desceram até o cais, porque disseram que temos passageiros preciosos para levar também para a Inglaterra — disse, torcendo para que isso fosse informação suficiente.

Outra chamada forte de seu nome. Se não fosse obedecer à ordem, o capitão o mataria na certa. Olhou de relance para as duas mulheres, ambas estavam confusas. Baixou o olhar quando percebeu que Katniss o encarava.

— Tenho que ir, estão me chamando — explicou-se. — Só sei que devem abrir espaço no navio agora, não vamos demorar. Finnick estará comigo, diga a Annie que vai ficar tudo bem.

Assim que Gale se afastou correndo, outros homens gritaram e correram, tropeçando nas mulheres que estavam ao seu redor, tremendo e murmurando preocupações. De repente, ouviram todas um estouro forte.

— Não é nada. Gale disse que é algum tipo de "troca" de passageiros, não entendi muito bem — anunciou alto Greasy, de frente para as demais mulheres e crianças confusas. — Recebemos ordens dele para arranjar espaço para eles, pois mais gente vai subir a bordo. Tenho ainda que terminar de limpar aquilo, vamos, andem! Não temos o dia todo, devemos correr mais do que os pescadores daqui! Acordem! Andem logo! — gritou, apressando-as, e todas voaram para seus postos desconhecidos.

Katniss ainda não entendia que o barco atracara e que havia grande movimentação relacionada a algo estranho. Será que havia sido boa ideia subir a bordo justamente naquele dia? O que se passava no cais?

— Beruna... Este cais fica em... — murmurou Katniss.

— ... Boston — completou Annie Cresta, aparecendo, surpresa, com a agitação de cima. Katniss arrepiou-se ao se lembrar que estava apertada com uma roupa roubada dela, e temeu que a tal jovem brigasse com ela, mas, ao invés disso, sentiu os longos cabelos ruivos e cachedíssimos de Annie fazerem cócegas em seus ombros, e dedos finos como porcelana lhe tocaram. — Onde está Finnick, Greasy? Onde meu marido está? — pedia chorosa a jovem para a velha.

— Calma, querida — confortava-a a velha Sae, também tocando em Katniss. — Leve esta menina de volta para a cabine e lhe dê as instruções de trabalho rapidamente. Eu vou até todas as cabines certificar que todas estão a seus postos. Gale mencionou a chegada de visitantes no barco. Ponha a menina para trabalhar na lavanderia. — Katniss arrepiou-se de novo, mas logo arfou de alívio por não ser nada difícil. — Ah, não se preocupe, Cresta. Seu marido foi com os outros homens ver o que estava acontecendo ali embaixo.

Sendo mais esperta, Katniss passou facilmente pelos braços finos e frágeis de Annie quando já estavam se afastando; esta gritou ao vê-la fugir, mas Katniss queria ver com os próprios olhos o que estava acontecendo. Haymitch não esconderia o jogo assim. Escondendo-se — com vários remorsos de lhe pegarem — atrás da mesma pilha de toras em que vira Haymitch sentado de manhã, tentou olhar o que estava se movimentando. Por alguns minutos, o silêncio reinava, e nada acontecia.

Katniss já estava ficando vermelha de raiva; tombava a cabeça de um lado para o outro, nervosa. Todos saíram do barco? Onde estão aqueles homens? Perguntava-se.

Foi então que o tal Giles — o mesmo homem baixinho que ria dela e estava com Cinna e o capitão — apareceu, gritando o mais alto que podia até sua voz conseguir tocar as aves do céu:

— ABRAM ESPAÇO!

Mais barulho. Mas não tanto quanto antes. Katniss ouviu os passos de saltos e sapatos, inúmeros, subirem a rampa de embarque. Mas não era os pescadores, que estavam todos descalços.

Uma mulher surgiu. Não só ela subia, mas como mais algumas atrás dela. Com certeza, eram pessoas ricas. Havia tantas joias no pescoço e nos pulsos da mulher que estava subindo que ela mal conseguia se manter equilibrada, parecia que iria tombar para o lado a qualquer instante. Seu vestido bem bufante, com muitos babados, arrastava-se pelo piso da do barco, e ela murmurava uns xingamentos em outra língua ao tropeçar e quase cair com um de seus longos saltos fincando na rachadura da madeira da rampa de embarque.

Puxando todo pano do vestido que podia, chacoalhando-o e deixando as milhares de náguas à mostra debaixo do vestido extravagante, a mulher tentava se abaixar, com o cotovelo tremido e segurando com força a barreira de entrada do convés, ainda xingando e tentando puxar com força seu sapato dali.

— Mérde! — ela balbuciava irritada. — Se eu soubesse que seria um navio tão caindo aos pedaços assim, nem teria aceitado em vir! Olhe só! Meu sapato... — ela gemia ainda irritada, mas as várias náguas atrapalhavam a visão e seu alcance na maldita fenda em que seu salto ficara. — Ficou preso! Droga! MÉRDE!

Havia, no máximo, sete pessoas subindo para o barco com a mulher. Eram todas mulheres. As moças eram altas, esbeltas e atraentes, também com muitas joias e sombrinhas luxuosas. Elas se abanavam com as mãos livres ou com os leques ordenados, murmurando sempre ao lado umas com as outras. Só havia um homem com elas.

Por que tinha ricos subindo naquele navio pesqueiro? E o mais importante: quem eram eles?

A respiração de Katniss estava cada vez mais ofegante. Eles estavam se aproximando dos troncos onde ela estava escondida, murmurando entre si que queriam se sentar, quando algumas risadas soaram perto da porta de embarque, e apitos altos ao lado.

— Effie, você está atrapalhando o caminho! — um homem jovem anunciou, sorrindo para a mulher presa, segurando sua cintura com força e a ajudando a se libertar. — Vê se não deixa todos os seus sapatos quebrados até o fim da viagem. Não iria gostar de receber uma punição por sua distração, gostaria, boba-ambulante?! — Ele então gargalhou quando ela quase caiu ao ser solta.

— Eu sei! Eu fiquei presa, ficou cego? Olhe só isso! — Ela apontava para o próprio sapato, agora sem parte do seu bico fino. — Acha que esses sapatos dão em árvores? Foram muito caros, e vem me dizer que eu sou a boba? Culpa sua isso tudo!

— Culpa minha...?! — o jovem fingia estar totalmente indignado, e Katniss o via erguendo o cenho e pondo uma das mãos no coração.

— Sim! Sim! Sim! Estamos fugindo, querido, não indo para circo! Lástima! Esse barco foi o melhor que pôde nos arranjar?! — Ela o olhava atravessado e se apertando nas peles que a cobriam. Mas, ao contrário dela, o jovem com quem brigava apenas gargalhava.

Uma mão tocou o ombro direito de Katniss. Era uma mão fria, quase congelada.

Um frio passou pela sua espinha, e seu coração disparou quase como se uma bala a tivesse atravessado, e Katniss sufocou um gemido. Olhou para trás, perplexa e erguendo os punhos para agredir o infeliz que lhe assustara. Antes que cometesse tal loucura, percebeu que era Gale, o mesmo homem a que Greasy Sae se dirigira quando a agitação no barco começou.

Ela o olhava de verdade agora. Os olhos do rapaz eram de uma cor muito mais inesquecível que ela tinha visto anteriormente por alguns minutos; era pálida, misturada ao negro ao redor das profundas pupilas, tão negras que pareciam que iriam engoli-la. Mas também lembrava um azul tão branco quanto gelo derretendo, era um olho tão acinzentado que lembrava o olhar de um lobo.

Uma das ásperas trabalhadoras mãos do rapaz se encontrou com a sua, e apertou com uma força suave, como se quisesse agarrá-la para sempre, e Katniss pôde sentir as profundidades das cicatrizes que ele tinha nas mãos e em seu corpo exposto da cintura para cima. Logo, ela se identificou com ele. Katniss também tinha muitos machucados e cicatrizes por todo seu corpo defeituoso e estranho. Ela também se sentia feia, assim como ele provavelmente já tinha se sentido.

— O que pensa que faz aqui?! — ele murmurou o mais alto que pôde quando a tocou perto do seu ouvido, e Katniss se largou dos devaneios, acordando graças aos dedos de Gale molhados da congelante água. — Não deveria estar com Annie e as outras moças lá embaixo? — interrogava-a frio.

— E-eu... — Precisava de uma boa desculpa rápido. — M-Me perdi, senhor...

— ... E por isso se escondeu aqui embaixo dos troncos? Ficou louca? — murmurava desconfiado. — Não deveria estar aqui, menina, vou te levar depressa de volta para o serviço lá embaixo. Vou eu mesmo lhe escolher a tarefa, bem longe daqui de cima. O capitão Haymitch me contou sobre você. Discutiremos sua lerdeza mais tarde.

Qualquer elogio ou resquício de beleza que Katniss viu ou pensou dele desapareceu completamente quando ele a ofendeu.

— Ei! Não sou nenhuma lerda! Quem você pensa que eu sou, hein?! — Katniss estava quase em pé, de joelhos, com a voz mais elevada, ignorando o fato de haver nobres desconhecidos a menos de meio metro dela. — Sou uma moça! Você me deve respeito!

— Isso não te faz melhor que ninguém. Você poderia ser a princesa da Inglaterra e, mesmo assim, esses homens e eu iríamos te tratar da mesma forma neste navio. — Doía ouvir a sinceridade daquilo, mas ela também sentia uma pontada de sadismo nas suas palavras. De qualquer forma, qual era o problema de estar ali espionando um pouco?

Katniss encarou o gelo dos olhos de lobo de Gale por mais alguns instantes, até perder a coragem e abaixar a cabeça, assentindo em seguida. Abaixados, seguiram para fora do alcance de vista daqueles hóspedes estranhos até a porta da escadaria de ferro enferrujada. Olhando de relance para trás, ela avistou Haymitch e algumas daquelas mulheres discutindo algo.

Seu pé já estava descendo o segundo degrau quando a voz de seu avô atrapalhou seus movimentos.

— Atenção! Atenção, eeeeiiii! — o velho capitão, coberto de tatuagens e com uma das garrafas nas mãos e as calças manchadas, gritava, não só para aquelas moças e aqueles senhores, mas para toda embarcação afastada. — Tudo bem, tudo bem. Alarme falso, meus queridinhos. Vou dar um tempinho para que chamem os outros tripulantes para cá perto das gaiolas para um anúncio. É de extrema — ele soluçou. — importância que eu fale isso antes de seguirmos para Baratheon. Chamem os outros. — Haymitch percorreu o olhar pelo pátio do barco, e encontrou Gale e Katniss grudados na porta e imobilizados. — Hawthorne — ele o chamou, e Gale assentiu. — Vai — Haymitch ordenou.

Gale saiu apressado para a porta, desviando o olhar de Katniss, e a jovem temeu o olhar de seu avô. Ela ficou imóvel por dois minutos seguidos.

— E você? Não vai fazer nada?! — Ela sentiu um dedo indicador apontar para ela, e assustada, girou o pescoço e tentou achar mais alguém além dela presente ali. — Vai chamar as mulheres! Anda logo, garota. — Assentindo também, Katniss girou e seguiu Gale, contendo uma lufada de alívio que não sabia de onde vinha.

Rapidamente, Katniss teve uma oportunidade de olhar para todas aquelas senhoras que haviam atravessado o pátio. Seus dedos voltaram a ficar gelados, de modo que tentou aquecê-los com o pano do seu vestido em trapos, mas, mesmo assim, tomou coragem e encarou todas ali. As mulheres ricas continuaram a se abanar e a murmurar lamentações, enquanto ela observava a tal de Effie, que havia prendido seu sapato, sentada no chão, naquele momento tentando colar o salto de seu sapato.

Mas, antes que pudesse desviar o olhar novamente, um dos rapazes que estavam ali a encarou de volta.

Olhos azuis profundos e pele branca. Foi tudo que ela pôde ver antes de enrubescer e voltar a descer a escada.

Katniss pulou os três últimos degraus — ainda com calafrios pelo par de olhos azuis que haviam lhe brevemente roubado a atenção — e correu em disparada para onde estavam as cabines, seguindo a trajetória que acabara de ver antes de subir. Desviou de canos e válvulas de pressão que soltavam grossas fumaças ou gotas d'água com lodo no chão e na parede, como se fossem estourar a qualquer momento. Ainda voando, encontrou Annie com uma cesta de roupas nas mãos, e precisou jorrar desculpas antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa.

Antes que mais de meia hora se passasse, Katniss voltou com mais da metade das mulheres que estavam lá embaixo, e Greasy surgiu de uma escotilha com mais duas idosas e uma jovem esbelta carregando caixotes. Sae foi em direção a Katniss e fincou as unhas em seu ombro, todos esperando o que o capitão iria dizer, e a menina precisou morder o lábio inferior para não gemer pela dor daquilo. Mas parecia que merecia a punição.

Quando todos os pescadores estavam ao lado do capitão, os cozinheiros, zeladores e as mulheres e crianças ali naquele pátio enlameado e com muita água salgada, Haymitch bateu palmas e começou a rir para chamar a atenção. Pôs fumo em seu cachimbo e sacudiu o fósforo para apagá-lo com o vento, dando uma bufada com a fumaça cinza e fazendo uma expressão de total prazer. Ele então começou a caminhar entre os homens, com uma das mãos atrás das costas.

— Queridos companheiros — ele anunciou, e pulou entre as pontas das botas — ..."piratas". — Ele se curvara sarcástico, saudando-os. — Quero mostrar para vocês o quanto o seu capitão é zeloso e bom para seus tripulantes e o quanto somos pessoas boazinhas e sem preconceito com ninguém. — Sorriu zombeteiro. — Quero mostrar que não é à toa que dizem que a América é um país livre.

Uma apontada de dedo dele foi mais que o suficiente. Todas as pessoas ao redor de Katniss começaram a murmurar e a se cotovelar, tentando saber quem eram aquelas ali, bonitas e de vestidos púrpuros. Com um único assovio, todos se aquietarem, e Katniss pôde sentir aquele olhar lhe queimar novamente. Mas não era Haymitch, nem mesmo os olhos frios de lobo de Gale.

Era aquele rapaz de olhos azuis que ela havia visto por um mísero instante.

Quase ao mesmo tempo, os dois se esqueceram de tudo ao redor, e revidando, Katniss o fitou com toda potência que podia, e ele fazia o mesmo com facilidade. Encaram-se o tempo todo, um jurando silenciosamente não retirar o olhar do outro. Ele a fitou porque ela era a única adolescente que tinha as roupas levemente molhadas e cabelos castanhos. Todos ao redor eram ruivos ou loiros, e isso lhe chamou a atenção.

— Vou ser breve e claro: — O velho capitão foi logo ao ponto, mas Katniss o ignorou. — estas pessoas aqui estarão conosco até o porto de Pentos nas Ilhas Solitárias, um pouco antes de Baratheon. Vocês sabem, no “Distrito 13”. — Então, alguns engoliam em seco, como se não quisessem mais prosseguir e evitar Pentos de alguma maneira. — Nós já paramos em vários portos até o descarregamento. Varys, Castley, Boreas, Brammirr, Tormenta... — Desta vez, Haymitch fitou Katniss severamente e percebeu que ela encarava o filho de Effie com convicção, e ele correspondia. — E a última parada, Cairparavel.

Ele prosseguiu:

— Não passaram nem algumas horas e fomos obrigados por uma chamada para atracar neste pequeno porto, Beruna, que não fazia parte da nossa maldita rota. O que fazemos no Beruna? Bem, e simplesmente acompanhar estas caras damas e este rapaz para o Distrito 13, em segredo. Simples. Receberemos uma boa quantidade de ouro pelo mísero serviço, não é, senhor Mellark?

Haymitch deu leves tapinhas nos ombros do rapaz de olhos azuis, ao que este assentiu para ele, afirmando o que dissera, mas não deixou de fitar Katniss nem um só instante entre a pequena multidão, sem — conseguir — se desprender.

— Então, está confirmado. Não podem contar para ninguém fora do navio que os estamos transportando. Ou arranco a cabeça de todos vocês aí e penduro no mastro! Entenderam, moças? — berrou o capitão a ameaça em direção aos pescadores. Ninguém percebia o sarcasmo que ele fazia ao se referir a eles. Todos concordaram, murmuraram e se dispersaram silenciosamente de volta aos seus postos.

Katniss ainda não conseguia se desgrudar do olhar do jovem rapaz, que estava parado, até Greasy lhe puxar pela alça do vestido. Um grito fino de mulher. Peeta se virou por reflexo, e viu que era Effie de novo, e retornou a procurar a morena, e esta sorriu gentilmente, entregando um recado de vitória por seu novo olhar. Ele se desviou. Ela venceu a encarada.

"Ganhei". Katniss fitava a mensagem para ele, erguendo uma sombrancelha e com um sorriso convencido no rosto.

O Peeta sorriu e deu risada forçada. Assentiu entendido e abaixou a cabeça derrotado, e Katniss estranhamente se sentiu o máximo pelo pequeno feito. É claro, seus olhos já ardiam por nem piscar quando o fitava durante todo o discurso de Haymitch. Agora piscava e com as pupilas inchadas e vermelhas. Mas, ainda assim, era uma pequena vitória. Estava rindo.

— Everdeen! — Haymitch a chamou quando ela estava já se afastando, seguindo seu rumo à lavanderia. — Venha até aqui. Tenho uma tarefa especial para você. — Ele pôs uma das mãos na cintura e abanou a outra e os braços flácidos, em gesto provocativo de lhe chamar, virando-se.

O pânico rapidamente retornou ao seu coração. O que seria desta vez? Ele a jogaria no mar, com certeza! Mesmo receosa, Katniss olhou com medo para Greasy, e esta apenas a empurrou em direção ao seu capitão, apontando para ele.

— Vai lá. Sabe onde estamos. — E se retirou com Annie, olhando-a de soslaio.

[...]


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