Lady Rouge - Amor de uma Noite escrita por Anikenkai


Capítulo 3
Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Mais um novo capítulo! Boa leitura!



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07:15 da manhã.


— Se não quiser pegar uma gripe brava, saia já desta janela e se adianta em se secar com uma toalha, menina!

A velha Greasy Sae gritou para Katniss, que estava observando o nascer do sol com admiração pela janela. — Anda! Anda! Está me ouvindo?! — Deu um leve tapa no traseiro da menina. — Onde será que eu pus a maldita da escova de cabelo da Annie... !? — murmurou desta vez para si, indo à procura da tal escova.

Ainda era bem cedo. Katniss se lembrava de ter levantado às quatro da manhã, aproximadamente, e com insônia, pensando loucamente na mãe e em ir para o 2 mais depressa possível após receber o fax, e então conseguira abrir a porta do quarto, e fugir do orfanato onde dormia e trabalhava. E se agradecia fervorosamente por ter feito aquilo.

Se não o tivesse feito, não teria "quase" alcançado o barco. Mas, se tivesse saído mais cedo para Cairparavel...

O fax que recebera semana anterior sempre a perturbou. Madge, sua companheira de beliche, que era órfã também, o entregara a ela. A menina trabalhava no correio para se sustentar, como entregadora. Mas aquela carta estava atrasada, cerca de cinco meses, e ela o recebera a sete dias. Nele, havia uma mensagem que não saía mais da sua cabeça e lhe perturbava desde que o recebera:

"Prezada(o) cidadão(a) francês imigrante morador da América, devemos informar que você está sendo notificado (a) a comparecer à capital-sede da Johansson Brothers Police, no Distrito 2 de Finchley, na Inglaterra, até o prazo de dois meses. Estaremos explicando a situação, que é de extrema urgência.

Informamo-lhe que encontramos o corpo de Marbleize Everdeen, enfermeira, trinta e cinco anos, morta por hipotermia ou possivelmente de afogamento. A vítima estava a bordo do RMS Titanic, afundado recentemente por colisão contra um iceberg, por volta da madrugada de 2:21 da manhã do dia 15 de Abril de 1912.

Pedimos a presença dos parentes disponíveis, o pai: Haymitch Alberthany; o marido: Jo Everdeen; a irmã: Clara Everdeen; para a assinatura dos papéis de óbito para que o corpo seja finalmente enterrado adequadamente. (restos mortais encontrados submersos)

Nós lamentamos a tragédia, e nosso luto pelas famílias.

Atenciosamente, Navios White Star Line, dona do RMS Titanic."

Era mentira.

Katniss ainda sentia o formigamento e da presença da mãe ao seu lado. Ela estava viva, em algum lugar, aguardando-a de braços abertos. Ela não estava morta! Não podia acreditar, mas por que o fax mentiria?

Confundiram os faxes. Só podia pensar assim. Afinal, sua mãe prometera lhe encontrar, não é? Como faria isso morta? O fax era o mentiroso.

Ninguém na sua família estava interessado em resgatá-la. O pai de Katniss estava morto há muitos anos. Sua tia Clara também havia morrido de pneumonia na mesma época que a mãe a mandou para morar com ela antes de partir. Tudo o que restava era a pequena Katniss e Haymitch. Mas, pelo que via, seu avô não estava muito chocado com a notícia, muito menos preocupado. O velho continuava rançoso e bêbado, assim como Katniss se lembrava da última vez que o vira antes de abandoná-las sem nenhum tostão sequer para garantir o que comer.

Foi por isso que pulou na água a ponto de quase se afogar, atrás do primeiro navio que partiria para o distrito 2. E este era do próprio avô. Talvez o arrastaria junto para resolver a confusão e achar sua mãe viva e sã e salva, mas não seria uma missão tão fácil. Ela ainda tinha a esperança viva em seu coração.

— Achei! — gritou Greasy Sae ao voltar para a pequena cabine do barco que balançava, e com um solavanco dele, Katniss voltou de seus devaneios.

Greasy a pôs sentada em uma cadeira e a despiu. Nua, Katniss se olhou para o espelho sujo no canto do quarto e cobriu seu busto, com os braços cruzados nos seios.

Não podia evitar de olhar. Seu corpo ganhava cada dia mais curvas estranhas, e se sentia esquisita com a mudança tão rápida. Seu rosto era liso e tinha cabelos castanhos que iam quase até a cintura. Olhos cinzentos sem muito brilho. Lábios carnudos apesar de ser magra, e se sentia baixinha demais. Qualquer um a confundiria com uma criança de doze anos. Mas ela tinha dezesseis! Talvez as novas curvas e o pouco de aumento no busto, faria os homens a olharem diferente, ao invés de uma mera criança.

Odiava ser olhada desse jeito. Imatura e despreocupada.

Katniss voltou a se analisar pelo espelho. E via claramente cada cicatriz que ganhara e seus machucados destacados ali. Cada cicatriz feia e repugnante por todo seu corpo. Ela se sentia mesmo feia, e se aceitava assim. Mas odiava suas cicatrizes que ganhava por apanhar no orfanato. Sempre pela única rasão: Fugir de lá.

Após vestir uma peça íntima de baixo nova, com rendas em suas bordas, Greasy a olhou por um instante e ficou chocada. A menina estava mesmo... com curvas de moça! Precisava se adequar a roupas novas agora. Mesmo não a conhecendo muito bem, tratou de procurar algo adequado, e correu ao armário da jovem Annie, puxando um espartilho pequeno, de bom caimento, e levou para a menina.

— Levante os braços... E segure esta barriga! — anunciou ao enfiar o espartilho ao redor do tronco de Katniss — Eu disse para segurar a barriga! Prenda bem a respiração, se quiser caber nisto daqui! — gritou de novo, empurrando a peça no corpo dela. Forçando.

— Mas... O que infernos está fazen... — Katniss só parou de protestar quando sentiu os seios doloridos e apertados um no outro e de repente, olhou de relance o espelho. Aquilo era o que chamavam de "decote"? Se sentia mais estranha. Sua barriga estava apertada com aquilo ao seu redor. Mal conseguia respirar, e gritava esperneando enquanto a velha Greasy fazia força para terminar de abotoar o espartilho.

— Ah, pare de fazer birra, criança! — disse. — E seja grata por eu roubar isto daqui da Annie para você. Você está precisando manter sua cintura, e não usava nenhum tipo de vestimenta que lhe desse curva melhor... Só não conte à Annie que nós pegamos — falou pausadamente quando finalmente fechou o espartilho em Katniss.

Lambendo o lábio superior, perguntou:

— Gostou?

— Odiei — respondeu ela imediatamente, tentando realmente respirar com uma mão pousada na barriga. — Quero tirar esta coisa agora! Não preciso usar isso, sem falar que dói e me aperta em todos os lados! — explicou com muita raiva.

— São seus seios e sua barriga que estão encurralados, mas está tudo bem. Logo vai me agradecer por isso — sibilou a velha em resposta.

A velha Greasy, pelo que parecia a Katniss, era a responsável pela comida e por limpar o barco para os tripulantes, pelo avental sujo do mesmo que estava usando. Havia sido a primeira pessoa que Haymitch chamou assim que tomou o dinheiro que ganhara de Cinna das mãos, ordenando-a se secar e ajudar Greasy a limpar o barco assim que terminasse.

Pelo que ouvira, Sae também dividia a minúscula cabine com uma jovem chamada Annie, que era responsável por lavar as roupas e limpar as linhas e redes de pesca.

— Annie é sua filha? — perguntou, enquanto, estranhamente, Greasy Sae passava em uma tábua seu vestido molhado.

— Quem dera fosse, menina... — suspirou. — Mas não. Ela era uma órfã, que encontramos quase morta de fome em um cais qualquer. Nós a resgatamos, e consegui convencer o capitão que ela seria útil a bordo... — a velha se engasgou nas palavras, revirando os olhos arrependida. — Bem útil, quero dizer. B-bem útil...

— Quantas mulheres trabalham aqui, Greasy? — perguntou Katniss de repente. Fazia já alguns minutos que estava intrigada com isso. — Outras como você ou Annie ajudam na pesca também? — A jovem só havia visto homens desde sua chegada, até então; assustou-se.

— Várias. — Virou-se para a cadeira onde Katniss ainda estava apenas de calcinha e de espartilho. Sorrindo, voltou a passar o vestido molhado com o carvão fumigante no ferro. — Outras moças também vivem trabalhando nestes barcos pesqueiros. Muitas são viúvas e velhas acabadas como eu, outras mais jovens. Inclusive, há vários negros e estrangeiros... e crianças nestes barcos — murmurou. — Vai poder conhecê-los enquanto trabalhar na viagem.

— Gostaria muito de conhecer crianças daqui — disse Katniss e, de repente, sentiu um vento congelante bater nas partes nuas de seu corpo expostas.

— Me desculpe, querida — A velha Sae já se explicava, após mais alguns segundos de silêncio — Mas não achei roupas aqui no quarto que caibam em você. Sinto muito, mas vai ter que usar seu mesmo vestido até eu encontrar roupas emprestadas para você poder usar, tudo bem?

Ela continuou:

— Eu irei até o quarto das outras procurar algo para você, talvez de alguma adolescente que não esteja usando, mas não posso te deixar na cabine sozinha. Algum dos homens do capitão podem reclamar que você está cabulando o serviço, ou algo assim...

— Tudo bem. Já está suficientemente seco — assentiu agradecida Katniss, retribuindo com um de seus melhores sorrisos.

— Então fique aqui por alguns segundos. Vou até o corredor ver se encontro alguma comida para você ir comendo até ir lá em cima. Não vai ter problema, pois não vou me afastar muito da porta, tudo bem?

Com o vestido envolvido ao corpo, Katniss se sentou e esperou. Comeu rapidamente e bebeu um pouco de leite com pães duros e foi ao seu novo trabalho, onde permaneceria por um dia inteiro até atracarem no distrito 2.

Seguindo Greasy e outras mulheres, voltou a subir as escadas para o convés, certificando-se de que o navio desgastado não balançava, desviando de inúmeros varais pendurados de improviso de roupas nos corredores.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo! Beijo em todos!



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