Lady Rouge - Amor de uma Noite escrita por Anikenkai


Capítulo 2
Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos para essa nova fic! Eis aqui o primeiro cap. Boa leitura! ♥



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Cairparavel, Nova York; Distrito 12, 12 de Junho, 05:04 da manhã.

Seu primeiro erro foi deixá-la entrar.

— Se você acha mesmo que vou te deixar entrar e pegar carona no meu barco de graça? Você deve ser muito idiota mesmo, queridinha.

Ainda era por volta de cinco da manhã, mas, pela voz alta e como ele soluçava, Haymitch já estava claramente bêbado. Na verdade, ele sempre estava com algum resquício de sua embriaguez, mas raramente, Katniss o tinha visto virar uma garrafa de uísque garganta abaixo logo pela manhã.

A ressaca o deixava estressado. Deixava-o raivoso. Mas também havia culpa no que acontecia ao redor, algo errado no ar para tamanha agitação das pessoas naquele cais.

Nova York não costumava ser tão fria naquela época do ano. Não pelo clima, mas pelas pessoas. O ar era cálido, mas as mãos secas de Katniss tremiam entre as luvas esfarrapadas sem dedos, enquanto tentava não enrolar mais o cachecol de lã ao redor do pescoço, com medo de se sufocar. Havia muitos homens no porto Cairparavel, e logo o cais estaria lotado de pescadores.

Muitos barris passavam por Katniss, caixotes de peixes frescos e outros estragados, com banha encrostada nas redes recém-tiradas da água salgada que fazia seu nariz torcer; mas pela fome voraz, comeria aqueles peixes de bom grado se deixassem. Violinistas de rua tocavam nas beiradas das tábuas do porto. Homens musculosos e de uniformes sujos de carvão e peixe, suados e de olhos cinzentos,a empurravam enquanto subiam a rampa do barco pesqueiro de Haymitch.

Não havia mais opção para Katniss, a não ser implorar. Ela sabia que isso seria delicioso para ele.

— Por favor — suplicava, enquanto os homens parrudos resmungavam ao tropeçar em seu corpo pequeno. — Preciso, urgente, chegar até Finchley. Minha mãe estava... naquele barco. Você sabe muito bem.

— Tem certeza...? — Ele fez uma careta, roendo as unhas escuras de sujeira e cuspindo logo em seguida na água. Haymitch estava sentado em cima de uma das toras presas em correntes, que seria logo transportado pelo seu navio, enquanto fumava um trago — Se for verdade isso, lhe garanto que ela já está morta. — Deu de costas para a garota, dando um peteleco no cigarro, que se apagou na água também.

— Ela não está morta! — Katniss gritou, batendo as botas no chão.

— O que posso fazer? Até parece que a colocariam em um dos botes salva-vidas. Tua mãe está morta, garota. Aceite isso, seja feliz e siga sua vida — disse simplesmente, com os braços cobertos de pelos e erguidos. Seus suspensórios também estavam embolados, assim como sua camisa branca, há muito tempo não lavada.

Haymitch assoviou para alguns garotos que estavam carregando alguns sacos de farinha na polpa. Como se previssem a ordem, os dois rapazes desprenderam as cordas do barco, e Katniss pôde ver mais agitação do lado de fora. Todos à bordo! Ouviram o velho gritar.

Katniss poderia se desesperar ali mesmo. Estava sendo rejeitada novamente, e, agora, pelo próprio avô. Precisava embarcar no navio. Precisava fugir, antes que a pegassem e a levassem para o orfanato da Mrs. Alma Coin novamente. Não suportaria permanecer naquele lugar de novo, enlouqueceria. Precisava de notícias da mãe para que sua própria alma ficasse paz.

A mãe de Katniss, Marbleize Everdeen, estava desaparecida há cerca de um ano, aproximadamente. Ninguém sabia de seu paradeiro, se estava bem, se ainda estava trabalhando como enfermeira em Londres ou algo do gênero. Nem mesmo uma carta havia recebido de sua mãe.

Nada. Mas uma coisa estava certa: ela não estava morta.

Sra. Everdeen, inglesa assim como a filha, trabalhava como enfermeira. Ninguém tratava ou queria cuidar dos deficientes que vagavam as ruas. Era um trabalho sujo que alguém deveria fazer. Foi então que ela teve uma chamada de emergência em Nova York, onde soube que havia se alastrado uma epidemia grave desconhecida.

Katniss foi a primeira a embarcar em um navio sozinha, escondida entre as bagagens para não pagar passagem, até Nova York, no distrito 12. Sua mãe apenas lhe dera instruções de se refugiar com uns amigos e disse que, nas semanas seguintes, embarcaria em outro navio, maior e famoso, que seria inaugurado (com uma passagem de terceira classe, é claro). Partiria assim que terminasse de arrumar as coisas na Inglaterra. E Marbleize embarcou com destino na América.

Esse navio era o tão famoso RMS Titanic.

— Me deixa subir! Me deixa subir! — Katniss gritava enquanto corria na velocidade do barco pesqueiro, arfando por causa do vento cortante da manhã e esbarrando em um monte de senhoras de chapéus de plumas caras e homens de terno fino que gritavam com ela pelos tropeções — Ela sobreviveu! Tenho provas! Droga, me dê uma chance, Haymitch!

— Vai sonhando, queridinha — gritou em resposta o velho lobo do mar, nem se importando com a própria neta e filha.

Ele ria com os dentes amarelados de fora e outros pescadores que estavam fumando ao seu lado no barco o seguiam, com a gargalhada divertida. Haymitch esmurrou a coxa. Estalou os dedos gordurosos e girou-os no ar e, em seguida, fez um sinal de positivo para uma cabine que ficava no topo do seu navio.

Um homem assentiu o ordenado e soltou a fumaça no ar, com a embarcação virando e a âncora já erguida. Era tarde demais para Katniss embarcar no navio do avô.

— Ela parou de correr, senhor Alberthany — Thom, um dos homens de esbarrara em Katniss que fumava na beirava do barco, e ria dela se contorcia com as mãos na trava e girava a cabeça para ver se ainda avistava a menina correndo com o vento. — Acho que a pequena foi esmagada pela multidão.

Os homens que estavam fumando com o capitão voltavam a gargalhar com Thom, mas Haymitch permanecia sério e concentrado em seu cachimbo.

— Eu não sei... — Um dos homens, alto, esbelto, negro e forte nos braços, deixou uma fumaça branca de fumo escorrer pelo nariz e pela boca enquanto murmurava. — Não sei por que vocês fizeram isso com aquela moça. Era só uma menina, e nem deveria ter mais de catorze anos. Poderia ser útil lavando as nossas roupas enquanto pegava carona aqui no barco; Greasy Sae sempre precisa de ajuda também. Que mal faria dar uma carona? Não gosto que fiquem zombando de menininhas. — Ele se virou de costas para os homens, e guardou o cigarro longo de volta ao bolso do paletó surrado.

— Ah, cale a boca, Cinna! — um homem gordo e sem camisa berrou, socando seu braço. — Não precisamos de um sentimental chorando por menininhas órfãs. São cães. Aquela garota é um cão agora! — berrava com pouco mais alto, soluçando pela bebida forte e limpando a grossa barba castanha com as costas da mão. — Aposto que não dura uma semana nas ruas.

— Por favor, Kaviss. Seja otimista. - Um outro homem se entrometeu - A menina até que era bonita... Não iria ser desperdiçada. Aposto que vai parar em bordel agora — suspirava ruidosamente outro homem, mais magro, e ria — O que acha disso, hein?

— Acho que vou comê-la quando voltarmos, então — murmurou em resposta o tal Kaviss, enquanto o cutucava com um sorriso nos lábios.

— Chega! — Cinna protestou alto. — Vocês não têm coração? Não falem isso! — este gritou.

— Então vá para o colinho da sua amada esposinha, Cinna, se gosta tanto de proteger mulheres assim. Família é para os fracos, estes homens são machos! Falamos o que quiser neste barco — defendeu-se outro homem, menor em estatura.

Cinna suspirou, e voltou a olhar para atrás, segurando o corrimão, certificando-se de que Cairparavel já tivesse ficado para trás, junto com Katniss ao relento. Olhou de relance para Haymitch, que só fumava sem prestar a atenção de verdade na conversa.

— Conhece minha esposa, capitão? — perguntou calmamente a ele.

— Não, e tenho raiva de quem conhece — respondeu-o amargamente, tossiu e voltou a reacender o cachimbo sem olhar para Cinna em nenhum instante.

Cinna apenas ignorou sua frieza.

— Minha esposa se chamava Aibileen. Ela era caseira. Tínhamos juntos uma filha pequena, chamada Rue — anunciou com o tom de voz claramente com louvor pela lembrança das mulheres. Ninguém respirava. Mas o capitão nem se moveu, desinteressado. — São nomes africanos, capitão. Sabe o que significa o nome da minha filha?

Os homens se entreolharam. Uns coçaram a barba, outros firmaram as mãos na cintura ou só encararam Cinna. Ninguém sabia a resposta. O que isso tinha a ver com a menina que corria atrás do barco pedindo carona?

— O que significa o nome dela? — Kaviss perguntou em um fio de voz curioso.

Cinna olhou com os olhos estreitos, como se quisesse analisá-los cuidadosamente até a alma.

— Estou desapontado — suspirou.

Então continuou:

— É tão fácil! A resposta está em todo canto. Em cada corda, em cada pneu, em cada pedaço de madeira ou saco de farinha. Minha filha está em um orfanato, senhores, e trabalho com o capitão Alberthany desde que fui solto da cadeia por roubar comida para alimentá-la. Hoje, junto dinheiro para poder voltar para revê-la e comprar uma casa. — Puxou então um pequeno saco gordo de moedas e notas massadas. Não deveria ter mais de cinquenta dólares ali. — Se alguém voltar este barco agora e buscar aquela menina que pedia carona para querer encontrar a mãe, ganha a metade do meu dinheiro. E para quem souber a resposta do nome Rue ganha a outra metade.

Primeiro, um susto repentino, tão grande que até Haymitch se virou-se e encarou Cinna, estupefato. Era o dinheiro que ele juntara e estava ali, sacrificando por uma garota que nem conhecia? Por quê? O que ele ganharia com isso?

Por que aquilo estava acontecendo?

Não havia tempo para perguntar nada, os vários dos homens que estavam no convés começaram a correr. Uns xingavam, outros corriam para a cabine de comando, mas a maioria corria para todos os lados e gritava com o capitão, que permanecia calado. Um gole de cerveja. Haymitch estava perplexo. Era um grande ato de coragem do negro.

— Eu sei a resposta — alguém murmurou, mas a gritaria era tão forte, que a pessoa precisou subir no mastro e assoviar alto e berrar: — Eu sei a resposta! — A pequena voz anunciou mais alto que pôde.

Ninguém realmente entendeu nada. Apenas obedeceram e vislumbraram um corpo pequeno e olhos cinzentos fixos em Cinna, com as roupas encharcadas e os cabelos castanhos molhados. As botas faziam um barulho irritante com água quando pisava no piso.

Era Katniss bem ali. A menina que estava correndo. Ela apenas se aproximou e disse:

— Rue é uma planta medicinal muito usada para aliviar cólicas e curar rapidamente. É o nome de uma planta ornamental, que ajuda doentes — respondeu, de braços cruzados.

Cinna sorriu ao ver que era a menina do cais. Quem diria? Ela pulara na água e nadara até se agarrar no barco (que ainda não havia ligado o motor) em movimento em alto-mar. Eles não haviam se distanciado muito... e ainda havia a escada de cordas. Ela estava mesmo ensopada, mas estava ali, reconhecível, lutando à força por uma carona.

Ela sorria. Todos estavam surpresos e sem palavras para descrever o susto, a encarando como se fosse um fantasma.

— Vejo que chegou nadando. — Haymitch se levantou e se aproximou de Katniss, agarrando seu braço com força até doer. — Diga-me, o que te faz pensar que tem o direito de invadir minha embarcação assim?! — Sacudiu-a.

— Me solta! M-me solta! — gritou sem fôlego. Estava lutando pela respiração pesada do esforço para se manter em pé; Katniss estava exausta.

— Espere — Cinna empurrou levemente o capitão em seu ombro, ajoelhando-se na frente da moça. — como sabe de todas estas informações, mocinha?

— Minha mãe — Katniss respondeu com o nariz para cima. — Ela é enfermeira. Aprendi muito com ela sobre plantas. Ah! "Rue" é bem-conhecida por seu significado simbólico de arrependimento e foi às vezes chamado de "erva de graça" também — refletiu rapidamente. — É isso que está em "tudo" como perguntou, não é? "Graça"? — perguntou.

Cinna sorriu e assentiu. Ela estava certa, e ninguém sabia ao certo o que fazer. O velho lobo do mar apenas fincou mais os dedos na pele branca de Katniss, que chorou. Ela estava correta. E Cinna poderia ser pescador simples, mas era de palavra juramentada.

— Aqui, pode pegar. Você merece. — Jogou a bolsa de dinheiro nas mãos da pequena, e Haymitch a largou imediatamente, cravando o olhar no homem. — E mais um pouco, por ter descoberto minha charada. Agora — Cinna esfregou a mão nos cabelos molhados de Katniss — acho que tem dinheiro o suficiente para subornar seu avô, não acha?

Todos que estavam ali presentes riram. Então voltaram de onde saíram, ao trabalho. Haymitch não tinha saída, Katniss fizera por merecer. O que faria? Ele a jogaria no mar "novamente"? Não, seria mal visto pelos seus homens, e não voltaria a ser respeitado se o fizesse.

Só o que poderia fazer era deixar Katniss a bordo e viver com a consciência o martelando que seu orgulho estava ferido agora por causa de uma menina.

— Então, que tal um quarto? — perguntou Katniss provocativa enquanto girava a corda da bolsa de dinheiro nos dedos, e uns homens berram de rir.

O Capitão Alberthany, já raivoso, calculava com cuidado as formas de infernizar a vida da neta enquanto sua estadia permaneceria ali, puxando o saco de dinheiro de suas mãos com força.

— Se quiser ficar aqui, vai ter que trabalhar para mim. Sem reclamações, como todo mundo — disse ele, com a voz grossa e claramente mostrando raiva. Katniss apenas assentiu, ainda se sentindo vitoriosa, e Haymitch se distanciou, balbuciando maldições para Cinna.


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