Tão Perto. Tão Distante. escrita por Mia Golden


Capítulo 18
Hannah




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/656076/chapter/18

Eu sabia que agora não tinha mais volta. Teria que contar ao Billy coisas do meu passado. Talvez contando eu me sentisse livre de uma vez.

Ele segurava minha mão e me olhava com expectativa.

— Hannah, por favor, me conte!

Olhei para ele e respirei fundo. Era tão complicado falar de mim. Do meu passado.

— Ok.

Senti ele ficar tenso, mas ainda segurava minha mão.

— A minha mãe decidiu se mudar pra cá por minha causa. Ela achou que eu precisava de um lugar tranquilo pra que eu melhorasse de certas coisas... ela tinha três propostas de emprego em três diferentes hospitais, mas ela ficou curiosa com o nome e o lugar de onde era essa cidade – Billy me ouvia atentamente. Continuei – então ela escolheu morarmos aqui. Mais por mim do que pelo emprego dela.

Ele balançou a cabeça entendendo.

— Por que você precisava melhorar Hannah? – perguntou ele.

— Eu...e minha mãe...sofriamos com meu pai. – só de lembrar dele eu tinha vontade de chorar.

Senti a mão de Billy apertando a minha.

— O-O que ele fazia?

Fechei os olhos com força.

— Ele espancava a mim e minha mãe.

Ainda com os olhos fechados, senti Billy soltar minha mão. O ar no lugar ficou pesado. Nunca havia contado isso a alguém. Alex soube foi pela minha mãe, mas eu era mais delicado em me abrir. Abri meus olhos e vi que Billy me olhava surpreso.

— Billy? – senti meus olhos marejados.

— Ele... ele fazia isso?

Concordei.

— Sim. Passei dois anos indo ao psicólogo. Ele me odiava.

— Mas Hannah! Por quê? – Billy parecia desesperado. Ele agora agarrou minhas duas mãos.

— Minha mãe e ele se conheceram na faculdade. Eles logo se gostaram e tiveram uma relação rápida. No segundo ano de faculdade de medicina da minha mãe e terceiro de direito dele, ela ficou grávida de mim. Ele sempre foi ambicioso. Ele vem de uma família estável financeiramente.. no inicio quando ele soube que minha mãe estava grávida, ele não quis acreditar, mas minha mãe insistiu e provou a ele com testes de DNA. Então, a partir daí que tudo começou. O pesadelo começou. A família dele ficou do lado da minha mãe e obrigaram ele a se casar com ela.

— Nossa Hannah...

— Mas o pior vem agora. – Senti um nó na garganta por lembrar das palavras dele – Ele estava tão perturbado por todas as coisas que ele queria estarem dando errado, que ele culpou minha mãe...ele queria que ela abortasse.

Billy ficou horrorizado.

— Como é que é?

— Mas minha mãe disse que não! Então ela largou a faculdade temporariamente pra se cuidar e cuidar de mim. Ele começou a beber a sair à noite deixando minha mãe sozinha. Ele voltava e a culpava. Quando eu nasci ele nunca cuidou de mim. Era só a minha mãe e meus avós paternos, pois a minha mãe já não tinha mais os dela.

Respirei fundo. Senti que minhas mãos tremiam e suavam.

— Eu fui crescendo e ele foi ficando pior. Mas quando eu tinha treze anos, foi o tempo que todos os dias foram pesadelos. Ele foi demitido do emprego. O dono da empresa achava que ele não tinha capacidade pra ser advogado. Ele chagava às vezes na empresa cheirando a álcool e tinha problemas de comportamento. – a cada coisa que eu me lembrava era como eu estive passando outra vez – quando ele voltou pra casa, eu me lembro que estava sozinha. Ele entrou no meu quarto e começou a me bater. Eu não sabia o por que dele estar fazendo aquilo. Não sabia o por que dele estar me batendo. Eu ficava sozinha em casa enquanto minha mãe trabalhava de estagiaria em um hospital. – Comecei a chorar – Ele dizia enquanto me batia que era tudo culpa minha. Que eu não deveria ter nascido.

Billy me puxou e me abraçou. Eu soluçava.

— Foi assim por quase três meses, ele não conseguia emprego então chegava em casa e descontava em mim e na minha mãe. Dizia que era culpa nossa dele não ter conquistado o que queria. Minha mãe já estava desesperada. Ela não podia contar a ninguém, pois ele a ameaçava.  – dizia ainda braçada em Billy. Ele só me ouvia – Mas então minha mãe criou coragem por mim... – sai do abraço de Billy e o olhei – Ela viu que eu não merecia, então procurou os pais dele. Mas então foi o maior erro. Em um fim de semana, ele disse que iria sair com uns amigos. Minha mãe trabalhava até tarde. Eu fiquei em casa sozinha, mas mamãe avisou a uma vizinha pra me ver de vez enquanto... – minha garganta já doía – Era um pouco mais de meia noite e eu ouvi a porta batendo com tudo no andar de baixo. Me assustei e fui para debaixo da cama. – a memória ainda era fresca na minha mente – Passos rápidos subiam as escadas. Então ele entrou no meu quarto gritando meu nome. Eu tremia muito. Ele parecia bem pior naquela hora. Parecia um monstro.

Eu já me sentia exausta das lembranças, mas continuei.

— Ele se abaixou e me achou de baixo da cama. Gritei com o susto e sai correndo pelo outro lado. Consegui descer as escadas. Eu me lembro de ter conseguido chegar ao telefone e ligar pra vizinha, ouvi quando ela chegou a dizer alô, mas eu senti que ele me alcançou e me agarrou pelos cabelos. Comecei a gritar e espernear. Ele me acusava de ser um erro...que o pai dele disse que o tiraria do testamento e tal. As palavras que ele dizia só me feriam mais. – respirei fundo – então eu ouvi que batiam na porta e nessa hora eu consegui me livrar dele... mas...mas...

— Hannah...tudo bem, eu estou aqui! – disse Billy parecendo emocionado também.

— Quando eu corri em direção a porta...ele atirou em mim.

Vi o rosto de Billy em choque.

A lembrança do meu próprio pai atirando em mim me atormente até hoje. As marcas tanto no meu ser como fisicamente ainda permanecem. Senti meu rosto lavado das minhas lagrimas.

— Hannah...

— O primeiro tiro pegou no meu braço então eu cai perto da porta....depois ele se aproximou e atirou mais perto...no meu abdômen.

A respiração de Billy ficou entrecortada.

— Me lembro que foi uma dor tão terrível que eu desmaiei. Não vi o que aconteceu. Acordei no hospital depois de dois dias.

— O que aconteceu com ele?

— Foi preso. Os vizinhos conseguiram entrar logo depois dele ter atirado em mim. Chamaram a ambulância que veio logo... com a rapidez eu consegui me salvar.

Billy parecia em choque.

— Hannah...eu nem sei o que dizer...isso é...

— Pesado. – completei.

— E a sua mãe?

— Ela ficou em choque. Mais eu fui pior. Não deixava ninguém encostar em mim – chorei mais me lembrando – nem a minha mãe. Eu estava neurótica e assustada.

— Ah Hannah! – Billy me abraçou com força.

Ficamos alguns segundos abraçados até eu me afastar.

— Quando eu vim pra essa cidade, eu tinha sido liberada das consultas com o psicólogo. Então eu conheci a Tina...você.

Ele sorriu tristemente.

— Por isso eu tenho essa dificuldade de me abrir, de me deixar levar. Mas eu juro Billy, eu estou tentando...por mim...e por você!

Billy segurou meu rosto com carinho.

— Agora eu entendo você melhor.

Sorri.

— Obrigada.

— Mas você ainda tem medo de alguma coisa?

— Eu tenho medo de mim. De não responder as expectativas. De ficar fraca.

— Você não pode deixar o que ele fez com você Hannah, fazer que pare de viver.

— Às vezes tem certas palavras que marcam Billy. As dele não só marcavam, mas me destruíam.

— Mas você sabe que agora tem pessoas aqui que estão com você.

— Sim.

Ele pegou minha mão.

— Obrigado por se abrir comigo. – disse ele.

— Fico aliviada.

Nós nos levantamos, mas Billy parou.

— Mas Hannah...por que você havia me dito que eu iria ver se eu ainda iria ficar com você?

Tinha me esquecido deste detalhe. Engoli a seco.

Abaixei minha cabeça. Era um sonho que eu tinha, mas foi destruído. Se Billy também tivesse, não iria saber reagir se ele me rejeitasse.

— Bem... – o olhei. Ele me esperava – Quando ele atirou em mim. O estado que eu fiquei, os médicos disseram que eu fui um milagre por não ter chegado morta. – Billy respirou fundo. Eu também – Um dos tiros atingiu meu abdômen Billy... e... fez um estrago....

Comecei a chorar.

— Hannah, tudo bem! – ele tentava me acalmar.

— Perdi a capacidade de ter filhos. O tiro fez um estrago no meu útero.

Billy me olhou estático.

Me senti sem chão também quando eu soube, mas os médicos disseram que não teria chances de engravidar.

— Eu sinto muito! – disse olhando para ele.

Ele ainda estava parado me olhando.

— Billy, por favor....se você quiser ter um futuro comigo, precisa saber que nunca vou poder lhe dar um filho só seu. Se você quiser desistir, eu...

De repente ele me puxou e me abraçou. Me abraçou forte. Senti seu coração. Senti minha lágrimas escorrendo.

— Nunca vou deixar você Hannah...nunca! – ele se afastou e me olhou – Não importa o que tenha acontecido! Não vou desistir de você por causa disso...

— Mas eu não posso...

— Eu sei! Mas existem tantas maneiras de ter um filho!

Ele me olhou com tanta intensidade que me senti forte por um momento.

— Eu não me importo de como vai ser o nosso futuro, no entanto que você aceite ficar comigo.

— Billy!

Me abracei nele e chorei. Acho que precisava desabafar mesmo.

— Eu te amo Hannah! E aceito você do jeito que é. Se é pra termos filhos algum dia, nós teremos.

Entendi o que ele quis dizer. Muitas vezes entrava em sites de adoção e via quantas crianças esperavam uma família.

— Você promete? – disse.

Ele se afastou ainda abraçado a mim.

— Sim, eu prometo.

Então ele me beijou. Foi o beijo mais lindo que ele me deu. Cheio de amor e carinho.

Naquele momento eu sabia que teria um bom futuro sim. Sei que Billy iria ser um bom pai. Melhor que o dele foi, e excepcional como o meu nunca foi.

Poderíamos ser filhos deles, mas seriamos melhores que eles


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tão Perto. Tão Distante." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.