O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 21
Capítulo 21 - Apaixonadamente doente


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão?
O capítulo de hoje equivale a 2.159 (duas mil cento e cinquenta e nove) palavras. Ou seja, é longo. Uns vão me amar, e outros me odiar por isso. Mas seja amor ou ódio, já estou acostumada com ambos.
Sintam-se a vontade e boa leitura!



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Luana Bell vagava pela Monte Alegre. Meia noite e meia. Não gostava de andar sozinha pela rua a essa hora da madrugada, ainda mais sozinha, mas estava fazendo. E ela, que um dia se afogou nas traiçoeiras águas marinhas, agora afogava-se em suas próprias lágrimas. No céu, nuvens e mais nuvens cinzas, contornadas pelo contraste com o céu negro. A lua não se podia ver, estrelas e outros astros muito menos. Apenas lençóis e mais lençóis de nuvens.

No alto dos prédios, alguns pontos de luz. Nos estabelecimentos, portas fechadas. Na rua, solidão, que hora ou outra era quebrada por um ou outro carro que passava velozmente. No ar, o cheiro de poluição, típico de São Paulo e o silêncio que sumiu de uma hora para outra com alguma música que tocava bem longe dali, porém o som abafado podia ser ouvido a longa distancia devido o alto volume em que se encontrava.

Em seus olhos, lágrimas, e em seu peito, uma dor que jamais sentira e jurou nunca sentir. Juramento falho. Seria essa a dor que todos falavam? A dor de perder uma paixão? Se fosse, seria por alguém que sequer teve a chance a beijar pela segunda vez, muito menos ter o prazer de tê-lo em sua cama.

Tempos depois ela pôde identificar a tal música que tocava ao fundo. Ao ouvi-la com mais clareza, concluiu que era romântica, porém, brega. Provavelmente vinha de algum bar que ainda estava aberto por aquelas redondezas. Se lhe servia de consolo? Nem um pouco. Odiava músicas assim.

Perdida em seus devaneios, ela não conseguia esquecer as cenas que assistira a pouco e as palavras que acabara de ouvir. Ao atravessar a avenida, quase foi atropelada por um carro que passava em alta velocidade. O motorista, sem um pingo de bom senso, a xingou logo em seguida.

— Cuidado ô! Idiota!

No entanto, ela não deu a mínima importância para isso. Por ela, ele poderia passar por cima. Luana não se importaria nem um pouco em sair da realidade para não ter a chance de lembrar daquele infeliz mal entendido.

Ao chegar em seu apartamento, teve consciência de que certamente encontraria Ellen a esperando para saber como tinha sido o espetáculo, mas não queria desapontá-la. Não queria que ela a visse naquele estado tão deprimente. Ao menos isso ela pôde evitar isso por hoje, já que encontrou a casa totalmente escura e em silêncio. A amiga estava dormindo no quarto. Ainda bem, já que a ruiva não estava com cabeça para explicar nada hoje. Aliás, não estava com cabeça para mais nada.

Só queria dormir, talvez fosse melhor tentar pegar num sono e rezar pra que não sonhasse com o que menos queria sonhar, pois aquilo só lhe traria sofrimento. Se bem que qualquer lembrança dessa noite com que sonhasse não seria um sonho, seria um pesadelo.

...

Na manhã seguinte, uma campainha tocava incisivamente. “Quem será o filho da mãe que tá me tirando do sério?” Perguntava-se ele, já muito irritado com aquela pessoa insuportável, que sequer sabia quem era. Desenrolou-se dos lençóis e levantou-se da cama. Muito lentamente e sem vontade alguma, foi abrir a porta. Não ligou para a cara de sono que provavelmente tinha e quase perdendo totalmente a paciência com a insistência daquele ser, deu um grito que talvez pudesse ser ouvido por toda a casa.

— JÁ VAI!

Quando abriu a porta e viu quem era, não sabia se convidava para entrar ou se expulsava. Como a antipatia estava maior, ele disse tentando ser delicado.

— Vai embora. Não estou recebendo visitas hoje. – E fechou a porta sem dar chances de réplica.

— Daniel! – Elídio o impediu de fechar a porta na sua cara, forçando uma das mãos contra ela. – Olha, eu tô perdendo a paciência com você.

— E você acha que eu também não tenho o direito de ficar com raiva?

— Não me interessa.

— Tá fazendo o que aqui tão cedo?

— Tão cedo?! São 10:00 horas da manhã cara!

— Hã?

— Sim, 10:00 horas da manhã. E você esqueceu que a gente tem um voo pra Belém hoje?

— Belém?! Caramba! Eu esqueci totalmente. – Elídio entrou na casa subitamente, mesmo sem a permissão do amigo.

— Eu vou te ajudar. Você já fez as malas?

— Acho que não. Vamos subir. – Eles então subiram as escadas e começaram. Lá pelas 11:00 horas já tinham tudo a postos para ir ao aeroporto.

— Dani...

— O quê?

— Você já se olhou no espelho hoje?

— Não, por quê?

— Porque não olha agora? – Daniel então foi até o banheiro, e enfim pôde ver como de fato estava sua aparência. Para descrever: deprimente. Seus cabelos assanhados, e seu rosto machucado. Tinha arranhões e marcas vermelhas por ele todo. E isso sem falar no olho roxo.

— Meu Deus. – Ele disse espantado com seu próprio reflexo. – Lico, eu não posso sair assim.

— Eu sei. Eu tenho uma base. – Ele disse indo até o quarto onde tinha deixado sua mochila. – Tá aqui.

— Desde quando você leva base na mochila?

— Desde que previ que você precisaria dela. – Daniel baixou a cabeça. Lembrou que o amigo havia presenciado a briga em que se metera. Constrangeu-se depois do que ele disse, por mais que sua intenção não fosse essa.

— Obrigado.

Minutos depois, prontos para sair, eles pegaram todos os pertences, chamaram um taxi e foram para o aeroporto. Chegando lá encontraram os outros com quem fariam turnê. O avião atrasou-se por quase meia hora, então ainda tiveram algum tempo livre para conversar.

— Daniel, o que aconteceu com você? – Perguntou Andrei, ao ver que ele estava visivelmente deprimido.

— Nada. – Mentiu. Elídio, Anderson e Tauszig, que testemunharam o que aconteceu na noite anterior, o olharam com uma certa decepção ao ver que ele mentia descaradamente.

— Dan, não quer conversar? – Perguntou Anderson.

— Conversar? – Ele se fez de indiferente.

— É, conversar. E não se faz de idiota, por que você sabe do que eu estou falando.

— Não foi nada de mais, tá? Deixa pra lá.

— Como não foi nada demais? Você quase se matou naquela briga.

— Briga? Que briga? – Anne perguntou.

— É que o bonitão aqui se meteu a brigar com um amigo da garota que ele está afim, e só não dá pra ver a desgraça que está a cara dele por causa da maquiagem. – Disse Elídio, desistindo do celular e o pondo no bolso na mochila.

— Amigo? – Daniel riu alto. – Eu vi os dois se beijando. Ninguém me disse, eu vi com meus próprios olhos. E ele ainda teve a cara de pau de rir da minha cara e me humilhar na frente dela. Então tive motivos, e bons, pra ter feito aquilo.

— Mas ninguém ia resolver nada com violência. – Disse Anne.

— Na raiva eu não pensei em nada. Só queria quebrar a cara daquele otário.

— Só queria que você não ficasse deprimido desse jeito. Assim vai ficar difícil trabalhar. – Anderson retrucou.

— Opa lá. Eu não levo desaforo pro trabalho e acho que todo mundo aqui sabe disso. – Todos confiaram no que ele dizia. Talvez por que realmente não era típico que Daniel se deixasse abalar quando o assunto era trabalho, que ele sempre realizava da melhor forma.

À noite, já em Belém, eles saíram do hotel em que estavam hospedados e foram diretamente para o teatro, onde o espetáculo se iniciou às 20:30.

Talvez pela primeira vez em anos, Daniel deixou de cumprir o que disse. Sim, ele deixou os problemas afetarem seu desempenho no palco. Provavelmente grande parte do público pôde notar isso. Ele não esforçava-se para dar vida aos personagens, sequer fez piadas. Sua falta de “combustível” era notável.

Ao fim do Improvável e depois da sessão de fotos, ele por opção, decidiu voltar para o hotel, enquanto os outros iam jantar fora.

Chamou um taxi e foi. Chegando lá, teve a bela visão do quarto em que ficou hospedado. Era um lugar bem amplo, repleto de cores neutras e tinha uma vista pra ninguém botar defeito. A temperatura do lugar provavelmente estava meio baixa, já que o barbixa sentia frio.

Ele então foi até o banheiro onde tomou um bom banho de água quente e trocou de roupa. Pôs uma peça um tanto confortável e foi para a varanda, não muito grande, porém razoável. Encostou-se em uma das colunas e se pôs a observar o que se passava lá fora. A imagem urbana misturava-se com a litorânea. O mar se perdia de vista por entre os prédios e as luzes da cidade. O frio começou a ficar cada vez maior, chegando a ser insuportável. Até que uma leve brisa fez com que ele desistisse de permanecer ali depois de arrepiar-se todo.

A indisposição também o atacara aos poucos. A nuca doía intensamente. Não, ele não estava se sentindo bem. Foi até a mochila, de onde tirou um termômetro eletrônico. Depois de alguns minutos, checou: 38,7 graus.

— Merda! Eu tinha que adoecer logo em turnê!

Por sorte, sempre levava remédios quando viajava. Depois de ingerir um deles, resolveu assistir algo, até que o medicamento fizesse efeito. Ligou a televisão e por ironia do destino, se passava uma novela, justo durante um beijo de um casal. Mudou de canal: filme, romântico. Mudou novamente: tag como reconciliar-se com o parceiro.

— Aí já é sacanagem!

Desligou a TV. Decidiu mexer no celular, mas a bateria havia descarregado. Então levantou-se da poltrona, indispostamente, e pegou o carregador. Depois deitou-se na cama. Seria melhor dormir. Mas quem disse que ele conseguia? Os olhos ficaram grelados durante um bom tempo. Tentou por diversas vezes encontrar uma boa posição para dormir. E nada de alguém voltar. Além de tudo, os remédios pareciam não funcionar.

Então enterrou a cabeça no travesseiro.

— Tá tudo dando errado! – Disse com a voz embargada e abafada. De fato: rompeu com Luana, havia entrado numa briga feia, não trabalhou bem, estava doente e tudo o fazia lembrá-la. Parecia mais um joguinho do destino. Cansado daquilo tudo, esparramou-se de vez na cama e por incrível que pareça, aquela era uma boa posição. Finalmente, adormeceu.

Minutos depois os outros chegaram. Como não haviam muitos quartos, eles tiveram que dividir. Foram cada um para o seus respectivos dormitórios. Elídio, que dividiria o quarto com Daniel, logo foi ao seu encontro. Quando abriu a porta, encontrou o amigo na cama, dormindo.

Aproximou-se do criado mudo, onde encontrou um termômetro. Nele já não marcava nenhuma temperatura, pois estava desligado. Porém Sanna suspeitava do seu anterior uso, e por ventura, tocou no outro. Como pressentia, estava com o corpo quente. Decidiu chamar alguém e foi até o quarto vizinho, onde deu três toques na porta.

— O que foi? – Anderson apareceu.

— É o Daniel.

— O que tem?

— Tá queimando em febre.

— O Dani? Espera, estou indo. – Voltou rapidamente para dentro, deixou o celular sobre a cômoda e voltou segundos depois. – Vamos. – Andaram apenas alguns metros para chegar ao outro cômodo. Anderson teve a mesma visão que Elídio ao entrar no lugar: Daniel dormindo totalmente esparramado sobre a cama. Passou a mão por seu pescoço e constatou o mesmo. – Tem razão. Ele está muito quente. Será que é melhor acordar ele?

— Eu acho que sim. – Elídio aproximou-se da cama e sentou-se ao seu lado. – Daniel. – Vendo que ele não acordava, continuou. – Daniel. Acorda.

— Hm...

— Você tá ardendo de febre, cara.

— Eu sei... – Sua voz era claramente cansada e rouca.

— Levanta, vem tomar um remédio.

— Eu... já tomei. – Ele falava com os olhos fechados e sem mover um músculo sequer.

— Mas Dan...

— Me deixa dormir, por favor... – Ele o interrompeu antes mesmo que falasse mais alguma coisa.

— Elídio, deixa ele aí. Amanhã a gente vê isso. Se a febre não passar, arranjamos um jeito de substituir ele no próximo espetáculo.

— Tá. – Sanna levantou-se da cama e os dois foram até a sala, bastante espaçosa. – Estranho, não é?

— O que?

— Ele ficar doente assim de uma hora pra outra.

— Pode ser que seja por causa da Luana, não?

— Você acha que ela passou doença pra ele?

— N... – Ele ia dizer que não, no entanto a vontade de rir foi maior. O outro sequer sabia o motivo de tantos risos, mas foi contagiado e ficaram os dois rindo como idiotas na sala. – Não é isso. É que talvez isso tudo que rolou possa ter deixado ele mal.

— Será?

— Só pode. Ninguém fica doente assim sem mais nem menos

— Ele gostava mesmo dela, né?

— É, mas deixa. Vamos dormir.

— Dormir é tão mais fácil que eu faço de olhos fechados. – Elídio o fitava como quem espera uma reação, enquanto o outro apenas o olhava com cara de paisagem.

— Era pra ser uma piada?

— Era.

— Oito anos fazendo isso e você ainda tem que melhorar. – Ele enfim expôs um sorriso, e num gesto de companheirismo, deu um tapa nas costas do outro, indo para seu quarto. Elídio fez o mesmo.

Enquanto isso, o “quinto membro do trio” relaxava nas profundezas de seu sono, em seus sonhos. Quem diria que algum dia ficaria doente por um sentimento tão complexo e avassalador? Algo que seria... paixão?


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Notas finais do capítulo

Já dizia Sr. Omar: Trágico.
Obrigada por lerem e até domingo!



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