O que o destino aprontou dessa vez? escrita por Aquariana


Capítulo 22
Capítulo 22 - Magoou


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores, como vão, hein?
Não tenho muito a declarar hoje.
Então sem mais, boa leitura!



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Duas semanas já haviam se passado. Eram quatro horas da tarde em algum lugar de São Paulo. Mais precisamente onde moravam duas mulheres, que poderiam ser chamadas de garotas, de tamanha juventude que suas almas portavam. A essa altura, as duas já teriam conversado, e muito, sobre o tal assunto que tirava a paz de Luana: o tão infeliz e desgraçado mal entendido que separou-a de Daniel. E claro que quanto a reação de Ellen, já era previsto o espanto e desapontamento.

Os últimos dias daquela ruiva não foram dos melhores. Afinal ela não perdeu apenas a pessoa com que tinha intenções mais afetivas, como também alguém que muito admirava, e que tinha como ídolo.

Ela, deitada no sofá azul, lembrava de tudo. Tudo sem exceção. Realmente parecia uma masoquista sentimental. Era como se fosse um castigo que ela impunha a si mesma, que tinha que sofrer. Aquela conhecida voz estava em sua mente, dia após dia, e repetia o mesmo, sempre: “E você, não se atreve a me procurar de novo, ouviu bem?”. Essas palavras doeram, lá no fundo. É quando dá um aperto no coração, quando se pensa que vai sofrer um enfarto agudo.

Até que o celular começou a tocar. Luana esticou-se ao máximo para alcançar o aparelho, sem que precisasse levantar.

— Oi, Ellen.

— Lua?

— Fala.

— Só pra avisar que vou chegar mais tarde hoje.

— Chegar mais tarde? Por quê?

— Vamos ter reunião no final do expediente. Tudo bem?

— Claro. Sabe que horas chega?

— Talvez só à noite. Agora vou ter que desligar, ok? Te vejo mais tarde.

— Beijo.

Sozinha, sem nada pra fazer, ela buscou algo para se entreter. Foi até a varanda e deu uma rápida olhada para fora. O tempo estava nublado e o sol provavelmente iria se pôr mais cedo hoje. Foi para a cozinha, para o banheiro, para todos os quartos, voltou para a sala e ainda não tinha ideia de alguma tarefa que pudesse fazer. Até que olhou para o teto e viu uma teia de aranha lá no alto. Enfim algo veio-lhe a cabeça.

— Faxina! É isso que eu vou fazer.

Resolveu começar pelo seu quarto, que certamente era organizado, mas que ainda assim precisava de uma limpeza. Pegou um pano úmido e começou a passar pelos objetos que haviam dentro do guarda roupa.

Logo se deparou com uma caixa de sapado, bem velha, no canto do móvel. A reconhecia bem. A tão ilustre caixa de memórias. Nela continham as mais importantes lembranças de Luana. Ela então a pegou com cuidado. Era coberta por um papel preto nas laterais e a tampa era coberta por um papel colorido com diversas formas geométricas. Abriu. Logo de cara viu um diário, que foi dela pouco antes de completar 8 anos. Um presente de aniversário que ganhara de sua mãe. A letra sempre fora bonita desde criança, e o pequeno caderno estava completamente cheio de tantos textos que nele estavam escritos.

Logo depois viu um álbum, repleto de fotos. Também encontrou, mais no fundo da caixa, uma pasta amarela. “Dedicado aos coisos que eu tanto amo”, era o que estava escrito a letra cursiva e em negrito. Sorriu. Lá, encontrou fotos, ingressos velhos e diversas outras coisas que lembrassem seu trio humorístico preferido.

Repentinamente, teve uma ideia. Não sabia se era a melhor opção, mas resolveu fazer mesmo assim. Pegou as chaves do apartamento, do carro, o celular e saiu.

...

Mais uma vez no escritório e em frente ao notebook, Daniel trabalhava. O cansaço já chegara, visto que ele havia passado toda a tarde ali. Agora, estava editando o vídeo que iria ao ar no dia seguinte. Ao seu lado, em cima da mesa, uma xícara de café frio e um sanduíche de queijo derretido, que já havia virado borracha, estes que há tempos esperavam que o barbixa desse bola para eles. Até que os toques da campainha puderam ser ouvidos por toda a casa. Minutos depois, foram ouvidos novamente.

— Silvia! Vai atender a porta, por favor! – Ele gritou do cômodo fechado, porém lembrou-se de que a doméstica já havia ido embora. Então levantou-se na cadeira acolchoada, saiu do escritório e andou até a entrada da casa. Ao abrir a porta, teve uma surpresa mais que enorme.

— Boa tarde. – Luana disse séria, com a mão escorada no batente da porta.

— Boa tarde. – Ele dizia no mesmo tom. – O que quer?

— Conversar.

— Não temos o que conversar.

— Temos sim.

— Não, não temos. Vai embora. – Sem pensar muito, Luana o empurrou, entrando inesperadamente dentro da casa. – Você é teimosa. – Disse, enquanto batia a porta com força, fechando-a.

— A gente não se vê há tanto tempo. Eu fico com saudade de conversar contigo e da tua companhia.

— Não é problema meu. – Ele disse com a voz seca. E mesmo tendo a mais plena certeza de que sofria o mesmo, ele não deixou isso transparecer.

— Você não se importa?

— Por que eu iria me importar com alguém que só estava interessado em mim pela minha fama e dinheiro? – Ela sentiu a garganta fechar, os olhos arderem e as mãos suarem.

— Não é verdade. Eu gosto de você e não do que você tem. – Ele virou o rosto e abaixou a cabeça. Estava claro que ele não queria renegá-la daquela forma, mas estava fazendo, pois ao seu ver, ela merecia. – Eu quero me explicar. Naquele dia... você não me deixou falar.

— E se pensa que vou deixar isso agora, você está redondamente enganada.

— Porque não facilita as coisas?

— Por que você não facilitou. – A outra respirou fundo.

— Não vamos terminar o que mal começou por causa de uma briga. E será bem mais simples se você me deixar explicar. – Ele a segurou pelos braços, com o máximo de delicadeza que conseguiu, pois sua vontade agora era jogar qualquer objeto para longe, de tamanho rancor.

— Eu não quero conversar. Vai embora.

— Mas...

— Ainda quer que eu acredite em alguma coisa que você disser? Você não me merece. Vai ficar com aquele tal de Lucas e torce pra que eu não cruze com ele no meio da rua. – Ela aproximou-se ainda mais dele. Queria reconquistar sua confiança, dizer que tudo foi um grande mal entendido. Aproximou seu rosto ao dele, e ele enfim olhou no fundo dos seus olhos, depois de tantos dias. Ficou hipnotizado por seu olhar, por ela. Porém respirou fundo e virou o rosto.

Sem dizer nada, ele soltou-a e abriu a porta. Com um gesto de mão, pediu que ela saísse. Foi o que a ruiva fez, visivelmente deprimida. Passou por ele a longos passos e saiu, assim como ele queria. Se é que queria.

Daniel ainda podia sentir seu doce e suave cheiro dentro do cômodo. Levou as mãos à cabeça e passou os dedos entre os fios de cabelo castanhos. Sabia que também gostava dela, mas pensava que ela estava enganando-o, e isso ele não estava disposto a perdoar.

Gemeu. Queria alguém para conversar. Queria uma companhia, mas decidiu ficar sozinho. Seria melhor não perturbar o sossego de ninguém, as pessoas já tinham os problemas delas para resolver.

Sentou-se no chão da sala e escorou-se na parede. Parecia uma adolescente que há tempos sofria as consequências da puberdade. Deitou-se na cerâmica fria e começou a olhar para o teto. Aos poucos, foi acalmando-se até pegar um sono. Passou grande parte da noite ali.

...

Fazia frio e o chão era coberto a metros pela neve branca. Ele olhou para os lados e a sua volta viu pessoas, que ele conhecia bem. Nada menos do que as pessoas que mais amava.

A mãe, estendeu-lhe a mão, porém quando ia alcançá-la, ela transformou-se em cristais e misturou-se a tantos outros flocos gelados na tempestade. O mesmo aconteceu com o pai, os dois irmãos, os amigos e... uma garota de cabelos ruivos, agora brancos. Repetiu o gesto e estendeu-lhe a mão. Porém, ela transformou-se não em neve, mas sim em jovens borboletas que traziam consigo a primavera e os primeiros raios de luz.

...

No meio da madrugada, Daniel acordou com frio. Acabara de ter um sonho um tanto precursor, e até mesmo significativo.

Quando não suportou mais o frio, abriu os olhos e levantou-se. Viu que estava naquela situação deprimente, sozinho na sala e dormindo no chão. As luzes haviam apagado. Tentou acende-las, porém as lâmpadas não funcionavam. Havia ocorrido um apagão muito provavelmente.

A passos curtos, foi até seu quarto. Chovia lá fora. Uma chuva fina, que engrossava aos poucos e trazia consigo o som dos raios e trovões, e os ventos fortes e gélidos. Passou o resto da noite sobre a cama espaçosa, em meio aos cobertores, num sono profundo até amanhecer.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem e até a próxima!



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