Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais.

(Vanessa da Mata).

~~OQ~~

Abri meus olhos e me arrependi amargamente do ato, a claridade que vinha das janelas me incomodava, minha cabeça latejava como se tivesse uma gangue de gatos brigando ali dentro, me praguejei assim que fiz menção de levantar bruscamente.

̶ Chega de porre nunca mais seguirei esse conselho de Felicity. – o pensamento me fez lembrar vagamente da noite passada, em como ficamos bêbados e acabamos por passar a noite juntos. – Merda, isso não podia ter acontecido.

Levanto-me ficando sentado na beira do colchão, espero a tontura passar e corro meus olhos pelo quarto à procura de algum sinal dela, mas tudo que vejo é um par de brincos repousados sobre o criado mudo. Não é preciso ser um gênio para saber que as coisas entre mim e Felicity ficariam mais que estranhas, ela é assistente executiva do Oliver Queen, parceira do arqueiro e minha amiga, e é por isso que transar com ela foi um dos maiores erros que eu já cometi. Sem perder mais tempo me levanto e corro para o banheiro tendo em vista que hoje eu me atrasaria além do aceitável. Tomo um banho rápido, visto um dos meus diversos ternos e cato minha pasta que está largada numa poltrona do cômodo, para sair voado rumo a QC.

~~FS~~

Levantei-me sentindo aquele atípico gosto amargo provocado pelo álcool, onde eu estava com a cabeça quando resolvi aconselhar Oliver a beber em plena quarta feira? Aquele pensamento me fez lembrar a noite passada e não precisei de um espelho para saber que meu rosto aderia a um tom de vermelho. – Droga Felicity, onde você estava com a cabeça quando aceitou transar com seu chefe? – Tudo bem que Oliver era mais que um simples chefe, ele era meu parceiro e melhor amigo e é exatamente por esse ultimo posto que eu sei que o clima entre nós ficará estranho.

Arrasto-me para debaixo do chuveiro na tentativa de fazer a água levar meus pensamentos, o que claramente não acontece, então saio do banheiro e corro até meu armário em busca de algo para vestir. Decido por um vestido lápis de mangas três quartos e ombro romântico de cor vermelha e um scarpin nude prendo meus cabelos em seu habitual rabo de cavalo, faço uma maquiagem leve no rosto e por fim ponho meus óculos. Atravesso o corredor apanhando minha bolsa e chaves na sala para logo sair em direção a QC.

̶ Bom dia Oliver – falo assim que chego ao andar da presidência, eu estava decidida a por os pingos nos is e não deixaria um erro alcoólico interferir em nosso relacionamento. – Sobre a noite passada eu gostaria de dizer que...

̶ Bom dia Felicity, eu quero que você busque para mim os relatórios do setor de finanças para uma avaliação. – Sim, ele me interrompeu e sim, ele mudou de assunto. Olhei em sua direção buscando uma resposta plausível para tal atitude, não sem antes olhar em direção ao elevador para checar se não vinha alguém.

̶ Você pode me explicar o que está havendo? – perguntei me referindo ao fato dele ter interrompido minha fala.

̶ Apenas estou sendo um CEO responsável e avaliando os relatórios de todos os setores, sem falar que temos novos projetos e eu preciso saber se as finanças estão em dia. – De repente foi como se um clarão tivesse iluminado minha mente, eu havia acabado de entender tudo, Oliver estava evitando tocar no assunto, ele não queria esclarecer nada. Então resolvi jogar aquele jogo de perda de memória, se ele queria por uma pedra, não seria eu a arrastá-la.

̶ Como quiser Mr. Queen. – pude ver seu olhar surpreso e questionador sobre mim, mas logo ele voltou ao seu olhar frio de sempre.

Assim que saí da sala de Oliver desejei ter uma de suas flechas para lançar em direção ao mesmo, tudo bem querer ignorar a noite passada e eu até entendia que era constrangedor tocar no assunto, mas ele poderia simplesmente chegar e dizer: “Felicity, vamos esquecer esse assunto e fingir que nada aconteceu”, eu entenderia e até seria grata por isso, mas me ignorar como se eu fosse mais uma de suas conquistas baratas chegava a ser inadmissível, nós éramos amigos, mas pelo visto um certo CEO resolveu esquecer desse detalhe. O resto do meu dia passou azedo e se arrastando. Oliver me evitava, Isabel me mandando indiretas nada sutis e mais um monte de problemas com reuniões, acionistas e papeladas, eu juro que me demitiria se não fosse por minhas contas a pagar no fim do mês.

̶ Mr. Queen, o senhor ainda precisará de mim? – falei pondo só a cabeça para dentro da sala de Oliver, mas me arrependi de não ter ligado no momento em que vi Isabel.

̶ Acredito que hoje ele dispensará seus serviços querida, mas não se preocupe que eu te substituirei muito bem. – A voz daquela mulher me da nojo e vê-la com as mãos na gravata dele me fez querer voar em seu pescoço.

̶ Mr. Queen? – perguntei lançando um olhar mortal a Oliver, que pareceu me ignorar completamente.

̶ Pode ir Felicity, não precisarei de nada por hoje.

Sai do prédio soltando fogo por todos os meus poros, afinal como Oliver consegue ficar com alguém como Isabel Rochev? Aquela mulher era uma víbora, uma arrogante, uma bruxa. – Qual é Felicity, a quem você quer enganar? – Eu reprimia minha paixão por Oliver a tanto tempo que aprendi a conviver com as modelos esbeltas, a querida Laurel e a Sarah voltada dos mortos, essa ultima eu até gostava. Mas Rochev não, ela não me cheirava a coisa boa, me dava uma sensação de perigo estar perto dela e eu não gostava nem um pouco disso.

̶ Olá John – falei assim que adentrei o porão com algumas sacolas em mãos. – Trouxe nosso jantar, cadê Roy e Sarah?

̶ Felicity, você é a melhor – falou puxando as sacolas das minhas mãos – e Roy está lá em cima com Thea, quanto a Sarah...

̶ Estou aqui. – falou descendo as escadas e me dando um beijo no rosto ao passar por mim.

̶ O que temos de diversão hoje? – perguntei já indo em direção as cadeiras – Estou louca para por alguém atrás das grades essa noite.

̶ Ei, vai com calma ai justiceira, nós estamos esperando algum sinal de ação também – ouvi a voz afetada de Sarah por está com a boca cheia. – E Oliver, onde está?

̶ Se esfregando com aquelas pernas de modelo dos infernos no escritório. – soltei sem perceber. – Meu Deus, preciso por um filtro no caminho das coisas que falo.

̶ Felicity. – ouvi Diggle me chamar sugestivo – Você está com ciúmes?

̶ O inferno John Diggle – falei já me virando para encontrar um par de sorrisos travessos. – Oliver é solteiro e tem o direito de transar com quem quiser, mas aquela mulher é uma víbora e eu sei que não sou a única que não gosta dela, o próprio Oliver já havia dito o mesmo, então eu me pergunto, por que diabos ela?

̶ Como você disse, eu tenho direito de transar com quem quiser. – gelei ao ouvir a voz dele vinda da entrada lateral. Merda, eu tinha entendido o que ele quis dizer com aquela frase.

̶ Faça o que achar melhor, só não venha chorar as pitangas no meu ombro depois. – falei pegando minha bolsa e indo em direção as escadas.

̶ Liz, onde cê vai? – ouvi Sarah perguntar e parei no terceiro degrau.

̶ Você disse que nada tinha aparecido, então estou indo para casa, qualquer coisa vocês tem meu número.

Eu não sentia fúria, eu sentia tristeza e um pouco de decepção, Oliver havia deixado claro que não queria qualquer tipo de intromissão minha em sua vida particular e que aquela noite transformara nossa relação. E eu que achei que fossemos amigos.

Duas semanas. Faz exatamente quatorze dias que Oliver vem me evitando, não sem antes me dar uma bronca por perder a localização de um chefe de uma quadrilha assaltantes de joalheria, eu não tinha culpa se a quadrilha era bem organizada e tinha um inteligente que iria descobrir um rastreador. Mas ele fez questão de esbravejar que precisava de total apoio em sua cruzada, que não poderia aturar falta de atenção de nenhuma das partes e blá blá blá. E como se não fosse suficiente todo o estresse de ter que suportar as oscilações de humor do Queen, eu ainda tenho essa fome surreal que parece não sessar, ontem mesmo eu estava na cave quando Roy apareceu com um sanduíche e eu praticamente voei nele por uma mordida, no fim ele acabou me dando todo o lanche.

̶ Felicity, eu preciso que você recupere alguns contratos que eu perdi semana passada, eu acabei esquecendo de te avisar antes devido as diversas reuniões.

̶ Claro Mr. Queen, onde está seu computador? – perguntei com toda a formalidade devida.

̶ Aqui. – me entregou o aparelho para logo sair. E era assim que vinhamos agindo, na verdade ele conseguia ser pior a cada vez que saia da cave antes de eu chegar e só voltava quando eu já tivesse ido embora, as únicas exceções eram quando precisávamos de uma reunião para planejar algo e ainda assim mal nos olhávamos na cara.

Cheguei em casa por volta das 23:50, sentia minhas pernas doloridas e só tive noção de quão incomodo era meu sutiã quando o tirei e senti meus seios latejarem em resposta, o que na verdade vinha acontecendo com frequência. Nunca tive seios sensíveis, mas há alguns dias sinto eles doloridos, sem falar no meu sono descomunal e na minha fome infinita. Meus trabalhos realmente vem acabando comigo, preciso começar a ignorar mais o humor instável de Oliver ou quem acabará com a saúde danificada será eu.

~~ OQ~~

Eu estava sendo um completo idiota com Felicity, quase três semanas a ignorando e eu não sei como ela ainda conseguia me aturar, todo dia era um tormento para mim ter que ignorá-la, afinal era a Felicity, minha amiga e parceira. Mas levantar esse muro entre nós seria preciso, pois eu sabia dos seus sentimentos por mim, cansei de flagrar ela me olhando enquanto eu treinava, e de ver ela se embaraçar nas próprias palavras a cada tentativa de elogio, sua antipatia a Laurel e sua aversão a Isabel também a denunciavam, essa ultima eu até lhe dava razão. Isabel vivia provocando Felicity com suas insinuações baratas, mas era incrível como ela sempre as ignorava com superioridade, o que deixava a morena nadando em fúria. Felicity era de longe uma mulher superior, ela era gentil e sempre tinha as palavras certas, suas qualidades poderiam ser contadas nos dez dedos e ainda faltariam mãos para tantas e era por isso que eu precisava estabelecer uma barreira entre nós, eu não dormir com qualquer garota e só a ideia de machucá-la me deixava em alerta. Sem falar que depois daquela noite eu não sabia como agir com ela, verdade seja dita, nada entre nós seria mais o mesmo depois do que tivemos.