Ren atravessa a parede trazendo o cadáver de Miya nos braços, ele ainda estava chorando e Shinji, que saiu logo atrás estava com os olhos avermelhados.
–O que faremos com... E-ela? -Shinji pergunta.
–Eu não sei, tá legal?! Não sei. -Respondo balançando a cabeça. Eu e Erin ainda estavamos na mesma posição.
–Temos que tentar ligar pra Polícia. -Erin diz e me solta pra que eu possa levantar.
–Com que sinal? Esqueceu que aqui telefone não pega? -Pergunto me levantando e secando as lágrimas.
–Podemos tentar ir até a rodovia, lá pega sinal. -Shinji sugere.
–VOCÊS ACHAM MESMO QUE QUEM QUER QUE SEJA QUE ESTÁ TENTANDO NOS MATAR VAI NOS DEIXAR ATRAVESSAR A PORTEIRA? FALAR DOIDEIRA TODO MUNDO QUER AGORA PENSAR LÓGICAMENTE QUE É BOM, NADA NÉ? -Grito já irritado.
Erin se assusta com meu grito e se encolhe, Shinji fica me olhando com os olhos arregalados e Ren balança a cabeça positivamente.
–Hiroshi está certo. -Ele diz.
–Certo então, já que é assim... O que faremos? -Shinji pergunta me encarando.
–Vamos voltar pra casa, vamos juntar as meninas e vamos tentar entrar em contato com Ryo de novo. Ren... Pode contar pra Mina sobre a Miya? -Pergunto e ele balança a cabeça positivamente.
Ren começa a subir na frente com a ajuda de Shinji.
–Erin, me desculpe por gritar... E, eu preciso de você agora. -Digo, pego dois machados dentro do armário e entrego a ela.
–Leve isso pra mim.
Eu pego duas picaretas, mais um machado e começamos a subir a escada. Eu estava todo embolado tentando segurar as ferramentas e a espingarda, quando terminamos de subir as escadas percebo que o Shinji e o Ren estavam lá fora.
–Vá com eles, eu já vou.
Volto pro banheiro e pego um daqueles frascos de anti-alucinógenos. Quando estou no corredor indo pra porta eu escuto Ren gritar.
–HIROSHI CUIDADO! ATRÁS DE VOCÊ!
Viro pra trás e antes que meus olhos pudessem focar na silhueta que estava na minha frente eu sinto uma dor alucinante no lado esquerdo da minha cabeça, minha visão embaça, perco o equilíbrio e desabo no chão. Vejo a silhueta fazer outro movimento e sinto novamente a dor. Escuto um grito muito alto e minha visão escurece de vez.
(...)
Acordo. Meus ouvidos estão zumbindo, minha cabeça dói tanto que mau consigo abrir os olhos e estou sendo arrastado, só não posso ver por quem.
–Quem é você? -Pergunto com dificuldade por causa da dor.
Não obtenho nenhuma resposta, a pessoa simplesmente não responde.
–Shinji? É você? Ren?
Nada de responder. A pessoa para de me arrastar e eu sento no chão, balanço a cabeça e consigo abrir bem os olhos. Eu estou na beira do lago e na minha frente há um homem todo coberto de preto, usando uma máscara também preta e tinha um machado na mão.
Meu primeiro impulso é me afastar rapidamente mas ele começa a andar na minha direção. O homem agarra na gola da minha blusa e me arrasta em direção ao lago. O homem dá um grito ferino e começa a empurrar minha cabeça pra dentro da água.
–PARA! PARA PARA! -Começo a gritar e a me debater.
–ME SOLTA! ME SOLTA!
Ele continua a me empurrar. Ele consegue colocar minha cabeça em baixo d'água e eu acabo engolindo bastante água. Consigo me debater e me forçar o suficiente pra tirar a cabeça da água, aproveito pra respirar, agarro o pescoço dele e começo a apertá-lo.
Ele me empurra de novo e eu fico submerso novamente. Consigo ficar imerso e agarro a cabeça dele dessa vez, pressiono minhas unhas contra sua cabeça e o homem solta um grunhido. Quando ele volta a me pressionar eu agarro a máscara, no desespero ele me solta e eu acabo arrancando-a.
Aqueles olhos cheios de ódio me encarando fazem eu me sentir um lixo humano, ele cerra os dentes e começa a apertar meu pescoço. Ele estava sentado em cima das minhas pernas, então eu não posso chutá-lo nem nada do tipo. Minha agonia aumenta e começo a pensar em minha vida, tenho certeza que vou morrer.
–Você vai morrer... IGUAL MEU IRMÃO! -Ele grita e eu arregalo os olhos.
–Seiji...
–SEIJI SE FOI.
Não consigo falar... Mal consigo respirar, dou um tapa forte na cara dele, socos, tudo o que posso mas ele não me solta. Já começo sentir as consequências de anos fumando, maldito cigarro, meu pulmão anseia por ar e Seiji dá um sorriso maléfico ao ver meu desespero. Ele parece um psicopata, esse não é o Seiji que eu conheço.
Minha visão embaça e sinto fraqueza. Quando senti que ia desmaiar alguma coisa acerta a cabeça de Seiji e ele cai de lado.
–BORA CACETE!
Escuto Shinji gritar, ele me ajuda a levantar e me arrasta correndo pra dentro da casa. Quando atravessamos a porta o Ren bate ela e Mina e Lizzie começam a pregar tábuas de madeira nela, as janelas já estavam fechadas e Shinji corre comigo pro 3° andar. Erin está lá, ele me joga na cama do antigo quarto de Miya e ela começa a cuidar do ferimento na minha cabeça.
–QUE MERDA! MERDA! QUEM ERA AQUELE? -Shinji pergunta andando de um lado pra outro nervosamente.
–HASEGAWA! OLHA PRA CARA DELE! ELE PARECE APTO A RESPONDER QUALQUER PERGUNTA QUE SEJA? -Erin grita enquanto limpava meu machucado.
–Se..
–O que Hiroshi? -Erin pergunta.
–Sei... Ji.
Digo e minha cabeça começa a doer insuportavelmente. Começo a chorar e percebo que Shinji estava me encarando com os olhos arregalados.
Começo a lembrar do olhar sanguinário de Seiji, de sua expressão psicótica, seu sorriso maligno. Ele matou Miya, sequestrou Erin, tentou me matar... O que aconteceu com ele? Aonde está meu irmão? Ele está cego pela vingança, tentou me matar sendo que eu não fiz nada! NADA.
Seguro um dos braços de Erin e aperto de leve.
–Eu estou bem, não se pre...

Continua...