No fim de semana fui a praia. Fazia algum tempo que não ia para lá, mas Catherine me convidou. Parece que tudo conspirava. Essa era a praia por qual passamos tantos momentos juntos, logo que cheguei senti meu corpo estremecer. Não fui direto para a casa de Catherine, andei um pouco pela cidade, ela era tão pequena, que nem havia modo de se perder, e havia muitos modos de encontrar, e por minha sorte – ou azar – encontrei-o lá.

Gil também havia vindo para praia. Não era surpresa, seus pais vinham quase todo fim de semana para cuidar da casa. Ele não estava sozinho, Manuel estava com ele.

“Definitivamente não é a hora certa de falar com ele” – pensei. Lá estava seu amigo, ele ainda deveria sentir raiva de mim. Talvez se estivesse sozinho, tomasse coragem.

Ao terminar de pensar, Manuel entrou no mercado, e ele ficou parado do lado de fora guardando as bicicletas. Estava com a mão apoiada na parede, olhando para o nada. Pude analisa-lo melhor. Depois de três anos sem vê-lo, algumas coisas haviam mudado.

Com certeza haviam mudado. E para melhor.

Havia mais músculos em seus braços, que o tornavam mais forte e sensual. Ele havia deixado o cabelo mais comprido, não fazia isso quando jovem, seus cabelos negros levemente acinzentados em algumas áreas, mesmo apesar da pouca idade, sempre ressaltaram muito bem seus olhos azuis. Seu rosto se tornara mais masculino, havia perdido as expressões de menino e ganhado verdadeiras expressões de homem. Seu sorriso ainda era o mesmo, este jamais poderia mudar, era perfeito como sempre.

Andei em sua direção, e juntando um pouco de coragem, lhe dirigi a voz.

– Oi, você por aqui? – Disse com cara de surpresa, mas é claro que eu imaginava que ele estaria aqui, sempre esteve.

– Oi. – Ele disse seco, desviou o olhar, me repudiava tanto que mal conseguia olhar nos olhos.

– Nossa! – Tomei folego, mantendo minha firmeza. – Não quer conversar, tudo bem, nem vou insistir. Tenha um ótimo dia. – Virei-me e comecei a me afastar.

“Por favor Gilbert, me chame... Me chame”. – Minha mente não negava o que queria.

– Espera. – Graças a Deus, ele me puxou pelo braço. – Eu não quero ficar chateado com você, eu só queria entender por que de tudo aquilo? Por que queria me meter em encrencas? - Ele falou calmamente.

– Eu não queria te meter em nenhuma encrenca. – Respondi no mesmo tom de voz. – Apenas queria preocupar sua mãe, irritá-la. Ela sempre me julgou por algo que não sou, achei que tinha direito disto. Desculpe-me se te prejudiquei, mas não deu para segurar Gil.

– Aquela situação Sar não foi boa para nenhum de nós dois, – Ele soltou meu braço e se aproximou uns dois passos, ficando bem próximo. Senti-me quente. – mas já passou e eu não quero perder sua amizade.

– Você é ridículo. – Gritei. Amizade? Amizade? Ele queria apenas amizade? Era um idiota.

– Rídiculo. – Ele bufou franzindo a testa. – Adeus Sara! – Se virou de costas para mim.

Foi nesta hora que engoli todo meu orgulho, puxei-o e me joguei em seus braços, fazendo que minha boca se aproximasse da dele e o beijei. Ele podia ter negado este beijo, mas não negou. Beijou-me com vontade, lhe exigi neste beijo, queria que fosse o melhor, talvez não se repetisse, então tinha que aproveitá-lo. Minha língua explorou toda sua boca antes que pudesse me separar dele, nos faltou ar, o beijo foi intenso, e isto nos obrigou a apartar-nos, minha boca separou-se da dele com relutância, meus lábios pediam por mais, e meu corpo pedia por ele.

– Bons amigos é? – Dei uma pausa para retomar o ar, fazia anos que não havia dado ou recebido um beijo como este. – Eu não vejo assim.

Antes que ele pudesse falar algo, Manuel começou a se aproximar. Ele não devia ter visto nada, e Gil não se importava, ele apenas ficou me vendo ir, me afastando dele até que me perdesse de vista. Continuou parado no mesmo lugar.