– Daí você começou a ver suas transferências. Conversei com Teri, sei que se envolveu com ela para afogar suas mágoas, disse para ela dar em cima de você, pensei que iria ceder. Mas tudo saiu melhor quando Sara viu o beijo e pela primeira vez ela estava frágil o suficiente para poder influencia-la. Disse que você não iria, que não iria esperar por ela, enfim. – Manuel tentava resumir a história. Estava de cabeça baixa, não conseguia olhar em meus olhos. Covarde. – E depois falei com você, falei para você quase a mesma coisa que falei para Sara. Enfim, você terminou tudo com ela. Pareceu-me certo. Ela não era mulher para você.

– E agora ela está indo embora? Vou lhe matar Manuel. Por que de tudo isso?

Catherine olhou como se fosse contar.

– Catherine, você prometeu. – Manuel falou sério.

– Eu prometi que não falaria nada. – Catherine me olhou. – Mas isso não impede que você tire a verdade à força Gil. – Disse cinicamente.

Então sem duvida peguei Manuel pela gola da camiseta que usava e o prensei na parede, pronto para dar-lhe um grande murro.

– Conte-me. Por que fez tudo isso, por que aprontou tanto? Achei que fossemos amigos, grandes amigos. – Não tive coragem de soqueá-lo como tive vontade. Éramos amigos desde pequenos, não entendia o por que de tudo isso, da mesma forma que pensando em tudo que vivemos desde pequeno não tinha coragem de bater-lhe como merecia.

– Por que eu te amo. – Manuel rendeu-se talvez pelo medo de eu mata-lo. – Sou gay. – Manuel confessou, surpreendendo-me. – Faz tempo isto, e você nunca percebeu, mas sabia que nunca iria me querer e por isto nunca te contei. Quando Sara apareceu, você se envolveu com ela de um jeito que nunca se envolveu com ninguém. Nunca seria meu.

O larguei no mesmo momento. Que tipo de amor era aquele? Nós éramos amigos de infância. Não, não podia ser real. Oh Merda! E agora? Sara amanhã iria viajar. O que ia fazer? Ela não me escutaria nem que estivesse pintado de ouro. Perderia Sara e Julia para sempre. E Manuel era gay? Muita coisa para organizar na minha cabeça. Confesso que não tinha espaço para tanto pensamento.

Minha primeira atitude, no entanto, foi fazer com que Manuel contasse para minha mãe tudo que havia me contado. Todos os detalhes, até os mais sórdidos, coisas que ele havia cortado do resumo inicial.

Manuel era uma víbora. Uma terrível víbora.

Havia planejado tudo. Absolutamente tudo. E minha mãe havia caído como um pato. Eu havia sido ainda pior, confiando mais em Manuel que em meu próprio amor por Sara. Pobre Sara, ela havia segurando seu antidoto contra o veneno de Manuel até onde pode, e talvez teria conseguido mais se não tivesse visto aquele beijo de Teri.

Esta era a próxima que eu mataria. Era da pior espécie.

Minha mãe ficou chocada ao saber de tudo. Não admitiu ser tão influenciada por uma criança. Meu pai também estava presente nessa conversa. O pior de tudo é que ele não conheceria sua neta se eu não fizesse algo rápido.

– Seja um Grissom. – Foi a única coisa que ele me disse.

Nunca entendi por que o nosso sangue era tão importante para a família. O fato de “ser um Grissom”. Quando ele disse eu entendi: Um Grissom não era imaturo, um Grissom não era um covarde, um Grissom não deixaria o medo vencer e iria atrás de seus objetivos.

Honraria meu sangue, meu sangue acima de tudo. Acima disto, somente meu amor por minha Sar e por ainda mais minha Julia.

Sara viajaria amanhã. Eu iria hoje.