Sem mais ligações de Gilbert, desisti. Não choraria mais, engoli minhas lágrimas que apesar de úmidas desceram amargas e secas. Estava no avião, rumo a minha casa. Minha mãe não foi junto, ela iria somente na segunda-feira.

Já havia decidido. Independente de Gilbert, não queria mais Adam. Se ficasse com Adam faria com ele o mesmo que Gilbert fez comigo. Sim, agora ele seria apenas Gilbert, e se quisesse seria pai de Julia. Ele teria que decidir, só poderia tomar mais uma vez a decisão, seria eternamente pai de Julia, ou a esqueceria para sempre.

No momento, queria que ele esquecesse.

Mas pelo lado de Julia, seria bom ter um pai. Embora eu não tivesse tido um e não tenha sentido falta, achei que isto era uma decisão de Gilbert, ele deveria decidir. Ele a cuidou com tanto carinho e ternura, que deveria desta vez ter o poder da decisão. Não me decepcionaria se dissesse não, na verdade não esperava mais nada dele.

– A senhora quer algum lanche? – Disse a aeromoça antes de o avião decolar.

– Não, obrigada.

Virei meu rosto para baixo, Julia dormia. O voo não seria demorado, ao contrário das viagens de ônibus em que se tinham três dias de estrada, no avião mesmo com atraso não ficaria mais de duas horas, duas terríveis horas.

Quando o avião finalmente baixou, agradeci a Deus. Não havia vomitado uma vez se quer naquele voo. Desci com Julia nos braços e fui até o salão onde teria de pegar minhas bagagens. Ao contrário da minha cidade de nascença, esta onde descia agora não haveria ninguém me esperando, nem Adam estaria lá.

Liguei meu celular e logo peguei minhas malas que apareceram passando pela esteira. Coloquei sobre o carrinho do aeroporto. Tinha de chamar um taxi para ir para casa. Não morava muito longe dali, mas ir com minhas malas, malas de Julia e ainda com Julia no colo era algo completamente fora de cogitação.

Estava exausta da viagem, e das noites em claro chorando. Julia também não deu trégua, as poucas vezes que pisquei os olhos, ela se acordou. Ou querendo mamar, ou com cólica. Parecia que ela realmente sentia que estava péssima, e também estava sentindo falta de seu pai.

Quando passei pela porta de desembarque empurrando o carrinho que continha minhas malas com uma mão, e com Julia carregada em outro braço, percebi que não poderia andar assim. Abri uma das malas e peguei o canguru.

Como vestiria isto? Onde deixaria Julia?

Estava completamente sozinha. Sentia-me mais sozinha do que nunca aquele momento. Até o momento que um par de olhos azuis se lançou contra mim. Faltou meu folego.