Passaram-se alguns dias, e logo teria de enfrentar Gil. Por telefone havíamos combinado dia, hora e local. O local seria aquele de nosso ultimo encontro, a cafeteria. O último lugar que nos vimos antes de irmos para casa de Gil e nos separarmos por este longo período.

O único pedido de Gil foi que eu levasse Julia junto. Levei-a. E por mais incrível que pudesse parecer cheguei pontualmente. Ele já estava lá.

– Pontual? Que milagre. – Ele disse antes mesmo de me cumprimentar. Estava brincando comigo, tentando quebrar o nervosismo que nós dois sentíamos.

– Aprendi muita coisa fora. Ainda mais quando temos excesso de transito e temos de sair com uma hora de antecedência para chegar a lugares próximos. – Disse enquanto Gil puxava uma cadeira para que eu sentasse. Isto não poderia falar, Gil sempre fora cavalheiro.

Julia estava no carrinho, ao lado de minha cadeira. Gil olhou para ela algumas vezes.

– E também aprendeu a parar de fugir? – Fitou-me ainda com um olhar brincalhão.

– Não é questão de fugir Gil. Quando fico deste jeito, gosto de isolar-me de tudo e de todos, mas estou tentando parar de fugir, se isto te preocupa.

O garçom esteve ali, pegou nossos pedidos, haviam sido os mesmos que da ultima vez. Café preto e pastel, cappuccino e pão de queijo.

– Isolar-se por cinco meses é um par de tempo não? – Fitou-me. – Por que não me constaste de Julia?

– Foi planejado Gil, confesso. Eu queria um filho seu, mas não queria que se prendesse a mim por conta de uma criança. Sua mãe estava certa, você tem um futuro maravilhoso pela frente e uma criança só lhe atrasaria a vida.

– Minha mãe sabia disto? – Ele perguntou-me nervoso.

Os pedidos haviam chegado. Tomei um gole do meu cappuccino antes de pensar em responder.

– Eu não disse que ela sabia Gil. – Tentei mudar de assunto, sabia que não seria fácil.

– Ela sabia Sara Sidle? – Ele me olhou no fundo dos olhos. Aqueles olhos azuis ainda me fazia tremer. Talvez fosse por isto que olhasse tantas vezes os olhos de Julia.

– É, sabia.

Gilbert deu um soco na mesa tão forte que quase virou os cafés. Tinha raiva, muita raiva. Assustei-me e ele se recompôs rápido.

– Desculpe-me.

– Você reagiu bem ao perceber que ela era sua filha, achei que se exaltaria no aeroporto.

– Pensei em fazê-lo. No fundo tudo era culpa minha, eu tinha tanta coisa para dizer-te antes de ir. E se você foi, por que não demonstrei tudo que sentia por ti. Eu te amava, e te amo tanto, e nunca fui capaz de admiti-lo isto na época que estava perto de mim. E todos estes meses culpei-me. Culpei-me por não ter impedido que você fosse. Culpei-me por não ter dito que te amava. E todos os segundo que passei longe de você, meu amor apenas cresceu. Quando vi Julia no aeroporto entendi muito bem a parte que você levava de mim, talvez a melhor parte de mim, ainda sou um moleque. – Ele tomou um gole do café tentando tomar coragem de continuar. – Mas fazem seis meses que estou tentando ser um homem, saí de casa, consegui uma promoção no meu serviço e trabalho hoje feito um louco, passei no vestibular e faço faculdade, confesso que não tenho tempo nem de respirar, mas sabia que quando você chegasse eu iria poder dizer para você que estou a sua altura.