Ao chegar em casa tudo estava diferente, os móveis não eram mais os mesmos, as paredes já não estavam da mesma cor. Taylor tinha ficado por lá, e modificado bastante coisa. Meu quarto era a única coisa que permanecia igual, exceto por um berço. Ele era de Ana Paula, e agora por esses dois meses e meio seria de Julia.

Tudo estava tão mudado que me dava medo.

Pelo menos as pessoas não estavam tão diferentes. A exceção de Gil, ele já não era o mesmo Gil, o meu Grissom. Não era sua aparência, mas algo nele havia mudado. Não havia enlouquecido quando percebeu que Julia era filha dele, deu-me espaço para conversar com meus familiares, antigamente teria surtado se percebesse que escondi algo tão importante como Julia. De algum modo pareceu-me mais maduro.

Quando o vi, pensei que iria fazer uma confusão no aeroporto. Manteve-se calmo. Ele realmente havia mudado. Por um momento cogitei a ideia de Gil ter sido abduzido por extraterrestres e colocado um alien no lugar, mas não, seu olhar para Julia fora único, conhecia esse olhar, ele já havia me olhado assim quando sentia amor por mim.

Estava perdida em meus pensamentos quando meu telefone tocou.

– Alô. – Atendi distraída.

– Oi Sara, como está? Como foi de viagem? Tudo bem com você e com a Julia? – Era uma doce voz, a voz de um homem que conheci quando me mudei. Ele com certeza estava lá a minha espera.

– Oi Adam, estamos bem, Julia está ótima. Está no bercinho de Ana Paula dormindo. – Fitei Julia no berço. Lembrei-me de quando ajudava minha irmã a cuidar de Ana Paula que agora era uma moça.

– E Gilbert? Viu ele? – Seu tom de voz mudou, era um tom de voz ciumento ao mesmo tempo que calmo.

– Sim, ele foi ao aeroporto. Deve ter sido coisa da Cath. Ele quer falar comigo sobre Julia, percebeu na hora que era filha dele. – Desabafei.

– Te falei que deveria ter conversado com ele já. Gostaria que eu vá para aí contigo? Consigo uns dias de folga se for necessário. E estou com saudades de você já, confesso.

– Pode ser. – Suspirei sem muita convicção. – Você quer vir mesmo?

– Claro que quero. Só não fui junto com você por que me avisou tão em cima da hora que não poderia me organizar a tempo, também não queria tomar seu espaço, sua família deve estar lhe sufocando o suficiente.

– Verdade. – Tive de concordar.

– Tenho que desligar agora. Se cuide e cuide de Ju. – Ele sempre agia de modo perfeito comigo. – Te amo.

– Eu também. – Menti e desliguei o telefone.

Não que eu não amasse Adam, apenas amava demais o Gil. Adam me trazia segurança, ternura, um carinho especial, era alguém que sempre estava ao meu lado e me afagava em meus momentos de carência e solidão desde que havia me mudado. Era a única pessoa lá além de minha mãe que realmente me sentia a vontade lá. Mas não era amor, e sempre deixei claro isto para ele.

As vezes me sentia em relação ao Adam, como Gil se sentia em relação a mim. Mas Gil não tinha ninguém, pelo menos era isto que eu esperava.