Fiquei completamente estática com tudo que Gil me disse. Todo aquele sentimento que me revelou, tudo que havia feito por mim. Por um momento pude acreditar nas palavras de amor dele, por um momento acreditei que Gil realmente amava-me.

Não sabia o que dizer, minha cabeça estava tão confusa que mal sabia por onde começar.

– Você saiu da casa de sua mãe? – Sara, grande merda. Não podia ter dito algo melhor depois de tamanha declaração?

– É. – Ele sorriu, mostrando-se feliz. – Sar, eu quero assumir Julia, eu quero ficar com ela, ficar com você. – Gil então começou a falar tanto que minha cabeça havia de entrar em colapso.

– Gil. – Chamei-o.

– E se você não puder ficar aqui e realmente quiser morar fora... – Ele não se calava.

– Gil. – Chamei-o novamente.

–... eu vou com você, peço transferência, faço o que for. Sar, eu aprendi muitas coisas nestes últimos meses e uma delas foi que...

– Gil! – Gritei-o.

– O que? - Ele finalmente parou de falar.

– Eu encontrei outra pessoa. – Talvez não devesse ter falado daquele jeito. Porém Gil havia me negado por meses, anos, e agora deveria mudar toda minha vida para ficar com ele? Corri tanto atrás e depois de desistir ele vem? Agora estava namorando Adam, levando uma vida estável, e ele queria bagunçar tudo? Não, ele não podia. Eu o amava muito, mas tinha medo. Gil era instável, até quando ele conseguiria manter-se um adulto?

– Como? – Ele foi pego de surpresa, desta vez foi ele quem se engasgou.

– Eu estou namorando outra pessoa. – Falar isto me machucou mais do que pensava.

– Ok. – Ele levantou-se da mesa, engolindo seco. Ficou de costas para mim por alguns segundos, talvez tivesse tentando se controlar. Virou-se novamente e sentou-se, tomando o resto do café. – Você o ama?

– O que? – Por um momento, havia me desligado do assunto.

– Você ama seu namorado? Você me esqueceu?

– Uma hora podia cansar de te esperar, não acha? Mas não, infelizmente ainda não o esqueci, não amo ele, te amo. Eu sei disso, ele sabe disto, você sabe disto melhor que ninguém. Porém eu cansei de te esperar, cansei de esperar o seu amor, e agora você acha que vai dizer um monte de coisas e que eu vou largar ele pelo fato de você ser o pai da minha filha? Vou deixar bagunçar toda minha vida novamente?

– Eu sei que errei com você Sara, mas...

– Mas eu não quero saber mais de seus erros Gil, não quero depender da aceitação de seus familiares, cansei de ouvir você dizendo que não quer falar de amor. Eu engravidei de você para ter um pedaço seu eternamente comigo, um pedaço que me ama e nunca te cobrei nada em relação a Julia. Criei-a por três meses sozinha, e vou criar a vida inteira se for preciso. Não estou pedindo para assumi-la. Eu quero apenas viver a minha vida e cuidar de minha filha. – Suspirei, contendo minhas lágrimas. Não, hoje não ia chorar por ele.

– Você não quer que eu assuma minha filha? É isto mesmo? – Ele me olhou sério.

– Você não quis me assumir, por que iria querer assumi-la? Se sua família não me quis, não irá querer ela também. Eu carreguei Julia sozinha, descobri que estava grávida sozinha, na minha primeira ultrassom era minha mãe que estava ao meu lado, alias foi ela quem esteve ao meu lado durante todo o pré-natal, dei a luz a Julia sozinha por que só um pai poderia acompanhar-me na cirurgia, fui eu sozinha quem trocou a primeira fralda, que dei o primeiro banho, e quem cuida dela desde que nasceu. E sabe por que? Por que você não me amou o suficiente para compartilhar destes momentos, para que eu ficasse com você, pode ter feito tudo contigo. E agora quer o que? Entrar em minha vida? Não Gil, eu não preciso mais de você. – Suspirei. Não gritava, minha voz era visivelmente triste. – Se você quiser participar da vida de Julia, você terá todo o direito, é pai dela e tem direitos perante a lei, não te privaria mais disto como te privei até agora, mas se não quiser pode ter certeza, não fará falta.

Gil olhou-me sem falar mais nada.

– Posso ir? – Pedi, estava visivelmente transtornada.

Gil deu um beijo em Julia que seguia dormindo no carrinho, aquém de tudo que acontecia a sua volta. E saímos sem despedir-nos.