Julia estava com três meses quando o médico a liberou para poder viajar de avião. Poderia voltar antes se fosse de ônibus, mas era extremamente desconfortável ainda mais para levar uma criança.

Minha irmã me implorava que a levasse para conhecê-la antes do fim da licença maternidade. Infelizmente por questões de trabalho ela não pode visitar-me e vê-la.

Assim que a pediatra liberou, então marquei minhas passagens para regressar, mas isto parecia diferente para mim. Já não era a mesma, era uma mulher que tinha o dobro de responsabilidades, trabalhava mais, estudava mais, tinha Julia para cuidar e não havia tempo de pensar em Gil.

Mesmo que não houvesse tempo, eu pensava. Era impossível não pensar.

Cada vez que olhava aqueles grandes e lindos olhos de Julia não havia como não pensar em Gil, eram tão azuis quanto os do pai. O sorriso, bem como as pequenas covinhas que saiam em suas maças do rosto quando lhe abria os lábios, eram as mesmas. Alguns traços me faziam o lembrar. E para finalizar, os poucos cabelos que já haviam nascido, eram tão negros, e tinha a mesma textura que os cabelos de Gil.

Suas pequenas mãos e seus pequenos pés, tudo me lembrava um pouco dele. Apesar de minha mãe dizer, que o nariz de Julia era igual ao meu. Acho que ela gostaria de me alegrar, por que Gil deveria ser exatamente assim como criança. Julia era uma cópia feminina perfeita de Gil.

Quando tomamos o avião rumo ao regresso, eu senti um frio no estomago. Preferi pensar que era o medo de altura, mas na verdade era o medo da volta mesmo. Desci do avião já em meu antigo lar, e minha mãe ajudou a pegar as bagagens na esteira. Ao passarmos pela porta de desembarque havia mais pessoas que eu imaginava a nossa espera.

Meus avós, tios e cunhado estavam lá. Esperava apenas minha irmã e sobrinha. Catherine, Christian, Wendy, Morgan, Greg, todos estavam lá. Estava fitando todos, quando dei-me de cara com Gil. Não, ele não devia estar ali. Perceberia em pouco tempo que Julia era sua filha. Oh céus, o que fazer?

Pensei em inúmeras maneiras de sair daquela situação. Minha vontade era de fugir dali com Julia para que não percebesse a semelhança. Mas repeti para mim mesma, agora era uma mulher e se tivesse que enfrentar aquela situação o faria de cabeça erguida. Enfrentaria de frente tudo que fosse necessário.

Julia passou de colo em colo. Confesso que senti ciúmes, sempre fui muito ciumenta com Julia, desde que nasceu ela tinha sido a pessoa que fazia meu mundo girar. Depois de cumprimentar todos os familiares, Julia ficou no colo de minha irmã – que se chamava Taylor - e fui cumprimentar meus amigos.

– Oi amiga! – Disse Catherine logo que me aproximei. – Que saudades.

– Também morri de saudades. – Catherine me fazia muita falta desde que me mudei.

– Então Sar, quanto tempo vai ficar? – Perguntou Christian me enchendo de beijos na bochecha.

– Dois meses e meio, depois acaba minha licença e tenho de voltar a trabalhar. E assim que possível volto pra faculdade também. – Sorri, estava muito contente de revê-los.

– Apenas dois meses. – Perguntou Gil chegando por trás sem nem me cumprimentar.

– Sim. – Sorri sem graça.

– Não vai dar nem tempo de matar a saudades. – Ele sorriu, e eu fiquei sem saber o que dizer.

Julia me salvou quando começou a chorar. Ela não estava acostumada a passar de colo e colo e ficou estressada com essa atenção demasiada. A peguei no colo fazendo-a se acalmar. Porém Gil não me deixou fugir daquela situação constrangedora, vindo atrás de mim. O resto da família conversava com minha mãe.

– Posso conhecer minha filha? – Gil sorriu, encostando a mão em meu ombro.