Estava no ônibus e pensei que Gil viria atrás de mim, era minha ultima esperança de lhe contar tudo. O ônibus partiu, ainda atrasado, e Gil não havia vindo. Ele não me amava, o que esperar dele? Ele não era obrigado a me amar, a culpa era minha por amar alguém que não sentia o mesmo por mim.

Ele não tinha culpa. Não se manda no coração.

Levei-me a mão até a barriga. Havia tomado alguns remédios para evitar o enjoo no ônibus. Por uma série de motivos estava indo sozinha, minha mãe iria amanhã de avião e ainda chegaria lá antes de mim. Bem, não estava sozinha. Em meu ventre crescia um bebê. Já podia sentir alguns de seus chutes.

Flash Back

“- Sar, não está cansada? – Ele me disse enquanto me olhava andando de muletas. – Suas mãos estão vermelhas.

Eu havia quebrado o pé algumas semanas antes na praia. E ele estava me cuidando como uma criança. Eu gostava disto

– Um pouco. – Fitei-o. Confesso que quando olhei minhas mãos estavam de verdade vermelhas. – Talvez seja melhor descansarmos um pouco.

Fomos até a praça de alimentação. Estávamos em um dos shoppings perto da minha casa. Lá ele puxou a cadeira para que eu pudesse sentar, e acomodamos o par de muletas na lateral da mesa.

Quando dei por mim Gil havia sumido de vista. O busquei com o olhar até encontra-lo em uma fila de um fast food comprando um lanche para nós. Voltou poucos minutos depois colocando a bandeja sobre a mesa.

– Tem que comer para esse pé ficar bom de uma vez. – Ele riu.

– Você irá me engordar. – Fitei-o.

– Desde que esteja bem, não importa o quão gorda esteja.

Ele levantou-se e me deu um beijo na ponta do nariz.”

Eu acordei com um sorriso nos lábios. O efeito da medicação passará e eu ainda estava no ônibus, faltava algum tempo para chegar. Estava de encontro a uma nova vida, uma sem Gil, e com uma criança para criar.

Quando finalmente cheguei, trabalhei com o carro da empresa até que o meu fosse vendido e conseguisse comprar outro. Comprei uma camionete antiga mas espaçosa, o suficiente para poder levar um bebê com conforto e uma babá junto sempre que fosse necessário. Principalmente nas aulas da faculdade.

Em poucos meses minha mãe e eu já estávamos instaladas. Minha irmã que sempre havia dito que iria conosco, acabou voltando com o ex-marido, e por causa de minha sobrinha, preferiu ficar por lá mesmo. Invejei-a pela sorte de ter o marido junto.

Havia conseguido um bom médico de inteira confiança que iria continuar o meu pré-natal e acompanhar o parto de minha filha. Sim, era uma linda menina. A chamaria de Julia. A gravidez ocorreu perfeitamente, embora o parto nem tanto.

Consegui trabalhar até a última semana de gestação para poder ficar até o seis meses com Julia depois de nascer. Também trancaria as aulas na faculdade por dois semestres para poder cuidá-la.

Nasceu em março. E era linda.