Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 5
Proximidade


Notas iniciais do capítulo

Esse vai ser mais compridinho e mais interessante, pelo menos foi o que eu achei!

https://youtu.be/Nl2vFYpadLk



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"These emotions I never knew of some other world far beyond this place

Beyond the trees and above the clouds, I see before me a new horizon"

O silêncio perdurou por um tempo na quadra, que já estava muda por si só. Havíamos ficado nesse jogo por quase 1 hora e eu já não conseguia mais andar tranquilamente, então esperei sua resposta sentando e esticando minha perna discretamente.

A pergunta era simples, só queria saber com quantas ele já tinha ficado! Mas isso parecia ser motivo de vergonha para o menino então me senti um pouco culpada.

– Ei, não precisa responder, ok? Vamos considerar que as perguntas estão encerradas e...

– Nenhuma. – respondeu me encarando.

Ok, agora era a minha vez de ficar matutando. Como um cara alto, musculoso e bonitão poderia não se dar bem com as mulheres? No Brasil isso não faria sentido algum e, pela expressão dele, nos Estados Unidos também não. Será que...?

– Desculpa, não devia ter perguntado sobre sua sexualidade – disse rapidamente, enrubescendo e juntando minhas coisas para não deixa-lo desconfortável.

– Não é nada disso! – ele disse encabulado – É só que lá na América eu ficava com meus amigos jogando basquete e isso nunca me preocupou! Mas aqui é diferente. Parece que as meninas são muito...

– Sonsas? – respondi rindo

– É – me mostrou um sorriso – Aqui é tudo tão tradicional, família, educação e tal, parece que as pessoas não querem se divertir ou ao menos conhecer a outra se não for por amor incondicional, para encontrar o amor da vida delas.

– Pois é, o tal do “se dar valor” – comentei, revirando os olhos – Isso é ridículo! Beijar não é casar e não precisa ser levado tão a sério! – ele me fitou curioso, enquanto ajeitava suas próprias coisas – Pra você ter uma noção, até hoje eu nunca me apaixonei e já beijei bastante gente...

– Bom, eu não tenho linha de frente pra chegar assim em alguém, então acabo ficando na minha mesmo.

Demos risada e assim fomos durante o caminho todo para a minha casa. Foi tudo tranquilo, conversávamos sobre aleatoriedades e peculiaridades japonesas. Até contei meu medo do primeiro dia em comer grilo frito, o que fez com que ríssemos por um tempo.

Internamente, eu matutava sobre o que ele tinha falado. Lembro que, no meu caso, eu era bem introvertida até dar o primeiro beijo, como se dependesse disso pra me sentir confiante o suficiente pra beijar outras pessoas. Será que isso também acontecia com ele?

Estávamos mais ou menos na metade do percurso quando senti uma fisgada no joelho, tendo que me segurar em seu braço pra não cair. Ele me olhou preocupado e percebeu a dor que eu tanto estava segurando finalmente dar as caras. Me endireitei e respirei fundo, mas sem apoiar a perna machucada no chão.

– Desculpe. Será que podemos ir um pouco mais devagar? – pedi sorrindo fraco sem olhar em seus olhos, pois sabia o que iria encontrar.

Sem querer ser intrometido ele apenas assentiu, mas não tirou o olhar de mim, atento para qualquer passe em falso que eu pudesse vir a dar. Além disso, quando fui tirar a mão de seu braço ele a segurou ali, como se dissesse pra eu continuar me apoiando. Vendo que eu tinha concordado com seu pedido mudo, ele afastou sua mão e continuamos a andar normalmente.

Não falamos mais nada até chegar na porta de casa.

Fiquei de costas para a entrada enquanto ele fitava o chão, sem querer erguer a cabeça e encontrar seus olhos nos meus, que estavam na mesma altura devido aos pequenos degraus que eu havia subido. Para quebrar o clima chato, resolvi abrir a boca de uma vez.

– Obrigada pela partida e por... Me trazer até aqui. – disse, tentando aparentar mais segura do que realmente estava.

– Eu que agradeço pelo jogo, você me ajudou bastante com essa história de ritmo no basquete. – ele riu, descontraindo-se e voltando a ficar sério rapidamente – Me desculpe por forçar seu joelho, não deveria ter insistido para que ficasse até mais tarde por minha causa.

– Ei, não se gabe tanto assim! – dei um leve soco em seu braço e mantive o sorriso – Eu queria estar ali também então não desvalorize minha vontade.

– Tá certo – sorriu, pela primeira vez com sinceridade – Bom, precisa de alguma ajuda ou já estou dispensado?

– Seu serviços foram concluídos com êxito, sr. Kagami – fingi cordialidade arrancando uma gargalhada do ruivo, que bateu continência, entrando na brincadeira – E fique tranquilo, não é nada grave, porém é constante e difícil de curar totalmente, mesmo com a ajuda de profissionais – expliquei repentinamente, para sua a surpresa.

O ruivo colocou seus olhos nos meus e fiquei imaginando o que se passava por traz daquelas chamas dançantes. Ele parecia estar processando várias informações ao mesmo tempo, e pude jurar que a qualquer momento apareceria a tela azul.

– Então é por isso que a Riko fica tanto no seu pé... – respondeu fitando minha perna direita, que estava um pouco mais tensa que a esquerda, devido aos exercícios do dia – Literalmente, né.

– Sim – ri da expressão que ele usou – O pai dela, meu padrinho, está me tratando e pediu para que eu não andasse por aí sozinha no começo do tratamento, porque se acontecesse algo não teria quem me amparasse no local. – falei sem dar muita importância – Meio dramático, eu sei, mas ao mesmo tempo não sei o que faria se tivesse uma crise no meio da rua numa hora dessas.

Kagami me olhava com dúvida. Na verdade, quem estava com dúvida era eu, que não conseguia decifrá-lo. Nem deu tempo, porque ele tomou uma atitude bem rápida frente ao silêncio que se instaurou.

Pediu meu celular e, assim que lhe entreguei, digitou seu número, colocando-o na discagem rápida.

– O dia que você precisar sair, me avisa que eu te acompanho. Não importa a hora. Me considere como um primo responsável a quem seus pais diriam “não saia de perto dele, viu?” – dei risada da sua analogia.

Nunca tive alguém que me remetesse a sua comparação, mas imaginei que fosse normal algo do tipo. Pensei em uma coisa para por em prática, mas antes preferi mencionar, com medo de sua reação.

– Considere isso um agradecimento. Mas não leve a sério, ok? – antes que pudesse se permitir questionar, dei um selinho em seus lábios – Agora quando encontrar uma garota pra se apaixonar, já pode dizer que não é totalmente inexperiente no assunto.

Para o meu alívio, ele soltou uma gargalhada leve, após ficar alguns segundos raciocinando o que tinha acabado de acontecer. Mas logo que entrou em funcionamento de novo, ele notou que eu estava soltando o peso na perna saudável e começou a se despedir.

– Eu vou te deixar cuidar disso aí – mencionou o joelho com o olhar direcionado a ele. – Sem falar que os caras vão me comer vivo se eu me atrasar demais.

– Tudo bem. Diga que eu mandei um beijo a eles! – falei sem pensar, fazendo com que Kagami corasse um pouco relembrando o recém-ocorrido – Não precisa ser igual ao seu, a não ser que queira entregar pessoalmente – fiz piada estreitando os olhos, tentando captar a reação dele frente a isso.

– Acho melhor você mesma entregar quando encontra-los da próxima vez! – devolveu a brincadeira com um olhar maroto.

Observei-o caminhar rápido em direção à rua escura, e fechei a porta após um ultimo aceno. Soltei minhas coisas pelo caminho e me dirigi à geladeira, em busca das bolsas de gelo. Sentei no sofá com as pernas esticadas, amarrando os saquinhos térmicos firmemente em ambos os joelhos.

Fiquei matutando por um tempo, imaginando se foi a coisa certa a se fazer, ou se foi ao menos prudente. Visto pela reação do menino, eu não havia feito nada de mais, e isso era um bom sinal. Não pretendia me apaixonar assim sem nem conhecer direito a pessoa.

Ao mesmo tempo, não queria deixar de ser eu mesma só pelo fato de estar no Japão. Se um beijo nunca foi assunto sério pra mim, não é meia volta no mundo que me faria pensar diferente.

E com pensamentos vagando, peguei no sono ali mesmo.

No dia seguinte acordei tarde. Como era sábado mesmo, não tinha problemas. Me espantei do cansaço que eu deveria estar porque dormi feito uma pedra, tirando algum momento em que eu, sonâmbula, arranquei as compressas e as joguei no chão.

Já era hora do almoço então fiz qualquer coisa na cozinha e comecei a organizar a casa logo depois. De forma inusitada, meu celular apitou com o recebimento de uma nova mensagem. De forma mais inusitada ainda vi quem havia mandado.

Como estão as coisas? Já se resolveu com seu joelho?

Ri sozinha, imaginando o ruivo falar aquilo pessoalmente, com um misto de preocupação e deboche. Parei para observar minha perna. O joelho ainda não dobrava sem sentir nenhuma dor e, para melhorar a situação, não encontraria com o padrinho durante o final de semana. Realmente, o ruivo tinha me quebrado ontem.

Ainda estamos entrando em um acordo, mas ele não tá muito pra conversa” enviei, logo em seguida recebendo uma resposta.

Ia te chamar pra jogar mais tarde com a gente, mas assistir também tá valendo. Posso te buscar se estiver afim.” Seria muito bobo da minha parte achar bonitinho o fato dele se preocupar comigo assim?

Desculpa, fica pra próxima. Assistir só vai me dar mais vontade de te ganhar de novo” respondi com certa tristeza. Jogar com o Kagami ontem tinha reacendido uma pequena chama dentro de mim, e eu definitivamente queria experimentar de novo. Merda de joelho...

Você se achava assim no Brasil também ou só depois de se mudar pra cá?” ele provocou.

A partir daí conversamos sobre várias coisas durante o restante da tarde, até o momento que ele foi jogar. Por fim, resolvi tomar um daqueles banhos infinitos, pra tentar relaxar ao máximo minha musculatura que ainda dava amostras do jogo de ontem.

Ao terminar, me deitei na cama de toalha mesmo, só pra descansar os olhos e aproveitar meu corpo calmo e refrescado. Claro que eu acabei cochilando.

Acordei do breve repouso com o toque do meu celular no bolso da mochila. Corri para alcançar o aparelho, e após alguns segundos o atendi com um resmungo ofegante.

Yo, Inacchi, o Kagamicchi te deu uma canseira, é? – Kise miava do outro lado da linha, com seu jeito manhoso de ser – Não sabia que pegava pesado com as novinhas.

– Novinha o cacete! Sou mais velha que você, garoto – xinguei de mau humor – Já posso desligar ou tem mais alguma piadinha que queria fazer?

– Não precisa ser grossa! Tinha esquecido aquele negócio de você ter repetido...

Revirei os olhos, ponderando se ao desligar o telefone ele iria me ligar de novo. Infelizmente a resposta era positiva, então me aguentei por mais um pouco. Percebi barulho de outras vozes ao fundo e fiquei curiosa.

– Quem são as matracas que estão aí com você?

– Apenas alguns rostinhos familiares... Mas isso não vem ao caso. Que palhaçada é essa que você nunca assistiu Titanic? – Kise me confrontou

– Vocês são um bando de fofoqueiras, sabia? – respondi rindo, me perguntando o que exatamente eles já tinham conversado sobre hoje.

– Pode até ser, mas sua desinformação é um atentado a cultura mundial! – disse desafinando um pouco a voz. Meu gay-dar está começando a ficar esperto com esse loiro – Responde logo, porque nunca viu Titanic?

– Sei lá, nunca tive curiosidade de pegar pra assistir, então só vi alguns trechos quando trocava de canal... – respondi, sem dar muita bola, coçando a vista.

Percebi que ele havia colocado a mão no telefone e começado o maior bate boca com quem estava presente.

– Eu não tô nem aí pro que você vai fazer agora à noite, já convidei todo mundo aqui e estaremos na sua casa em 15 minutos pra te buscar – respondeu confiante.

– Mas eu tô morrendo de fome... – retruquei manhosa. Acho que estava há muito tempo nessa ligação e me contagiei com o jeito Kise de ser.

– Calada! – outra mãozada no telefone e muitas vozes do outro lado.

Suspirei olhando pro espelho enquanto tinha o telefone na mão. Fazia tempo que não me divertia, isso poderia ser uma boa ideia até... Meus pensamentos foram interrompidos rapidamente.

– Seguinte. Aominecchi vai te buscar pra você não se perder até a casa de Kagamicchi, que vai indo na frente com Kurokocchi para preparar a comida. – ele tem que falar "chi" toda santa hora? – Eu e Midorimacchi – é, pelo visto tem – Vamos pegar o filme lá em casa. – terminou, pegando ar depois de tanto explicar.

– Uau, tudo programadinho hein? – debochei

– Eficiência é outra coisa. E amanhã é sábado, não tem desculpa de horário.

– Mas, Kise... – suspirei, pensando em algo que pudesse fazê-lo desistir da ideia, sem sucesso – Tá certo. Mas já aviso que vou me produzir e não tô nem aí! – já que iam me tirar de casa, que fosse direito – Se alguém vier de piadinha por causa disso vai sofrer as consequências.

– Inacchi vai se arrumar, é? – disse em tom de malandragem – Acho melhor eu fazer alguém ir junto pra vocês não se perderem...

Pude ouvir uma confusão do outro lado da linha, seguida de muitas risadas.

– Hm... Alô? – perguntei, já que parecia que ninguém se lembrava de que eu estava ali. Um barulho abrupto e forte soou, até que a voz do falante trocou e, após um suspiro, começou a falar.

– Já dei um jeito na falação do Kise – a voz firme de Kagami se pronunciou – Posso mandar o garanhão te buscar?

– Se ele for enrolar como sempre, era melhor ter mandando ele ontem – rimos e nos despedimos.

Por que Kagami estava tão protetivo quanto a mim? Por que Kise estava tão assanhadinho por causa do Aomine? Tem alguma coisa que eu não tô sabendo, produção?

Odeio isso. Não saber das coisas que me afetam. Mas foda-se, não é como se... Pera, eu disse coisas que "me afetam"? Então quer dizer que essa feira que eles tão fazendo comigo no meio me afeta?

Saí da cama e me arrumei rápido. Não se enganem, eu não me produzi com meio quilo de sombra e outro meio quilo de base. Só arrumei meu cabelo pro lado, diferente do rabo de cavalo que usava com frequência na escola.

Na roupa nada de mais, um short jeans e uma camiseta do Michael Jackson. Já que não poderia ficar ouvindo minhas músicas, resolvi vestir uma delas. Por cima de tudo um cardigã aberto e comprido, finalizando com uma botinha coturno de interior de oncinha.

Peguei o celular apenas para confirmar o atraso de Aomine. Que novidade.

Fui para a cozinha e reabasteci as bolsas térmicas com gelo para o joelho. Eu havia me excedido ontem e não estava me sentindo 100% ainda. O pior é que teria que andar, sabe-se lá quanto, até a casa do Kagami.

Falando no dedos musculosos, percebi que aos poucos estávamos nos aproximando, algo que foi acelerado depois de ontem. Era uma sensação estranha, estar com ele. Seus olhos vez ou outra ficavam indecifráveis e isso me viciava.

Além disso, não era só ele. Os outros também pareciam ter me adotado no grupinho seleto deles.

Com frequência Kuroko e eu conversávamos antes da aula, já que Kagami tinha uma mania de dormir demais e se atrasar de manhã. Por mais que não esboçasse muitas reações, trocávamos muitas ideias sobre jogos e assuntos que não exigissem muita intimidade.

Kise, por outro lado, se via na total liberdade com assuntos pessoais. Indiscrição seria a palavra adequada. Acho que ele se intrigava pelo falo de que eu não era menininha ao seu lado, ao contrário de suas incontáveis fãs. Essas por sua vez me lançavam olhares de ódio sempre que me viam abraçada com o loiro, que parecia se divertir com isso. Ele não me poupava de cantadas, elogios e olhares, mas isso não me incomodava já que eu retribuía na mesma proporção.

Totalmente o contrário do que Midorima era pra mim. As poucas palavras que trocávamos eram sobre assuntos de notícias ou algo do tipo, e como nos encontrávamos somente na presença dos outros, era quase como se eu fosse uma válvula de escape pra imaturidade dos demais.

E aí tem o Aomine. Ele não era de falar muito comigo, mesmo nós tendo muitas coisas em comum. Ele aparecia bastante na Seirin depois dos treinos para encontrar a dupla prodígio, mas não passávamos dos cumprimentos. Achei no mínimo estranho, já que no primeiro dia ele pareceu tão garanhão pro meu lado, e pessoalmente não era nenhuma ameaça.

Fiquei dispersa por mais alguns minutos, até que escuto alguém na porta. Com rapidez, guardei minhas famosas compressas e fui até a porta, apagando as luzes da casa. Dei uma espiadinha pela estreita janela que ficava ao lado da entrada antes de sair e, pelos deuses do Olimpo, ainda bem que fiz isso.

Aomine estava de lado, uma mão na cintura e a outra erguendo a camisa de basquete que usava para secar suor de seu rosto. Como eu nunca reparei nisso? Aquele corpitcho morenoso todo exposto bem ali, na porta da minha casa. Alguém me segura porque eu vou agarrar esse macho delicioso...

Ah droga.

Fui interrompida dos meus pensamentos pelo ser em questão, que me viu secando seu abdômen devidamente esculpido. Pude jurar que vi um sorrisinho de canto antes de fechar a cortina de novo.

Ok, foco. Essa é sua carona e você não pode pegar sua carona. Pelo menos não hoje... Caronas são feitas para te levar de um lugar para o outro. Bem que podia ser da porta pra minha cama, né... Ou até o paraíso, quem sabe...

Mais uma vez interrompida dos meus pensamentos calientes, só que dessa vez por um novo toque de campainha. Respirei fundo, juntei a cara de pau que eu tinha e abri a porta.

Yo – um moreno de sorriso de canto apareceu no meu campo de visão, bloqueando meu caminho com seu braço.

Minha nossa senhora da perdição, que braços são esses? E esse olhar cheio de maldade... Posso imaginar mil coisas pra fazer agora que não incluem deixar esse pedaço de mau caminho à toa.

– Oi. – disse, com a respiração um pouco acentuada, mas procurando manter a maior calma possível e não cair no amasso com essa criatura.

Ele se afastou um pouco, sem desbloquear meu caminho, e me olhou dos pés a cabeça, para então aproximar seu rosto do meu ouvido. Pude sentir sua respiração quente no meu cangote e digamos que minhas partes baixas já estavam um pouco encaloradas, se é que me entendem.

Segurei as pontas, sem mover um músculo, mas em minha cabeça já tinha arrancado minha roupa ali mesmo. Parei de repente, percebendo que ele ia falar algo. Senti um arrepio me percorrer, esperando o que sairia daquela boca pecaminosa.

– Bora jogar? Kagami falou que perdeu pra você e eu aposto que não perco. Aquele fracote não aguenta um mano-a-mano decente. Eaí, fechou? – disse ele rapidamente, quebrando totalmente aquele climão que se passava nos meus pensamentos.

– Você tá me zoando, né? – respondi incrédula, e essas eram as únicas palavras que consegui proferir.

– Que? – ele disse desentendido, praticamente estampando um enorme ponto de interrogação no meio da sua testa – Não tá a fim de jogar não?

Ah, não. Você não fez isso, garanhão. Não respondo por mim depois dessa gafe.

– Eu tô aqui, toda paquita, cheirosa e dondoca e a única coisa que você consegue me dizer é isso? – disse trancando a porta e escapando de seu bloqueio, para sua surpresa – Desgruda dessa porta e vamos logo pra esse caralho.

Dito isso, comecei a andar a passos rígidos para a calçada, sendo logo seguida por um moreno sem entender nada.

– Pera, não sabia que se importava com essas cosias. Foi mal! – ele tratou de se desculpar enquanto andávamos, coçando a cabeça e arqueando as sobrancelhas.

– Tá, tanto faz – respondi indiferente, o que preencheu de dúvida o rapaz.

Sério mesmo que ele não percebeu minha drástica mudança do que eu uso no meu dia-a-dia? Poxa vida, isso era no mínimo brochante. Também, o que deu na minha cabeça de achar ele gostoso justo hoje? Eu via rapazes definidos e sem camisa todos os dias! Claro que eu babava todos os dias também, mas não era o caso...

Caminhamos em silêncio durante todo o percurso e isso não me incomodou nem um pouco. Estava muito ocupada no meu dilema interno sobre o que acabara de acontecer, inclusive nem notei quando havíamos chegado ao apartamento do Kagami.

Ao entrarmos, Kise e Midorima estavam conversando no sofá com trajes casuais e Kagami se encontrava no balcão da cozinha, preparando alguma coisa de moletom. Kuroko, para meu desconforto feminino e assanhado do momento, estava só de bermuda, secando seus cabelos com uma toalha.

Não pude apreciar aquele corpinho magro porém definido por muito tempo, porque assim que coloquei meus pés naquele apartamento, Kise se levantou e veio em nossa direção.

– Inacchi! Que bom que veio! – me recepcionou com um abraço perfumado, quase me deixando em transe.

– Eu também cheguei, Kise – Aomine constatou com um olhar inexpressivo, se dirigindo ao interior da casa, atrás de uma toalha para tomar um banho também.

– Mas eu vejo essa sua cara azeda todos os dias, Aomine – respondeu o loiro, voltando a me olhar – Mas não é que se produziu mesmo? Realmente, achei que não tinha como melhorar algo tão bonito – cantou pro meu lado, me deixando corada e fazendo com que os outros revirassem os olhos em meio a risadas.

– Ah, Kise – respondi aumentando o tom de voz para que todos pudessem ouvir – Obrigada por ser o primeiro a me elogiar nessa noite – dei um beijo em sua bochecha, ao ver que o moreno nos olhava com olhar baixo – Não é mesmo, Aomine?

– Como é que eu ia saber que era pra elogiar? Além de problemática é rancorosa... – resmungou entrando no banho.

Dei de ombros e cumprimentei os outros que ali estavam, terminando no cozinheiro da noite.

– Pelo visto alguém não deu moral pra sua arrumação – disse o ruivo em meio a uma pequena risada, me olhando de canto de olho enquanto mexia numa panela grande.

– Pelo visto alguém está a fim de cozinhar numa cadeira de rodas hoje – devolvi, fuzilando-o.

– Parei! – rimos e dei as costas a ele, indo em direção ao sofá, mas sendo impedida por uma segurada no braço e uma voz mais baixa – A senhorita não está nada mal mesmo... – terminou dando um peteleco em minha testa, me empurrando levemente para o meu caminho original.

Fiquei papeando com os meninos por um bom tempo, até a janta ficar pronta. Pelo visto a notícia do meu mano-a-mano com Kagami tinha se espalhado, e já tinha fila de espera pras próximas partidas. Até o retraído esverdeado ficou curioso com o modo que eu jogava.

Após enchermos o estômago, o dono da casa obrigou os demais a lavarem a louça. Tentei escapar com a desculpa da unha feita, mas Kuroko apenas me entregou um pano para secar os pratos, estragando meus planos.

Por fim, era o momento do tão esperado filme.

Sentei no sofá ao lado de Kagami, que passou o braço por mim, e com um Kise, deitado em meu colo e com as pernas pra fora. Midorima e Kuroko dividiam o outro sentadinhos, enquanto Aomine se folgava num terceiro sozinho.

Ao decorrer do filme, meu coração ficava apertado com as cenas mais marcantes, mas consegui segurar minhas lágrimas bravamente. Não ousei olhar para o lado durante as 3 horas que se seguiram.

Até que veio a cena final e meus olhos se arregalaram. Não consegui pensar em mais nada, apenas chorar escandalosamente.

– Jack! – exclamei entre uma respirada e outra, voltando a me debulhar em lágrimas.

Kagami colocou a mão em minha cabeça, me aconchegando em seu peito. Só aí que percebi que meus shorts já estavam úmidos com as lágrimas do loiro.

– Ele e Rose... – consegui ouvir um ruivo murmurar, deixando as lágrimas caírem pela sua face lentamente.

– Depois de tanto tempo... – Kuroko completou, enxugando suas lágrimas com um pequeno sorriso.

– Tsc... – Midorima se deu por vencido, limpando seus olhos por baixo dos óculos.

– Por... Que...? – Kise tentava se recompor, comprimindo o rosto na minha coxa e negando com a cabeça fervorosamente, deixando suas madeixas loiras se espalharem.

Ficamos assim, sem dizer frases lógicas, enquanto os créditos rolavam. Comentávamos uma ou outra coisa sobre o filme com vozes embriagadas pelo choro exposto.

– Esse foi o filme mais triste da minha vida inteira... – solucei e abraçando a cintura do ruivo que me consolava – Kise, você me paga! – fitei-o soltando uma leve risada, recebendo outra do loiro que se ergueu.

– Pelo visto só uma pessoa conseguiu manter seu coração de gelo aqui... – respondeu, indo em direção ao sofá de Aomine – Acorda, seu insensível!

O moreno rolou do sofá com o susto, caindo seco no chão com uma baba no canto da boca. Ele então observou o estado emocional de todos ali e começou a rir.

– Sério mesmo, gente? É só um filme, seus chorões! – debochou, recebendo uma travesseirada de Kuroko.

Isso só fez começar uma chuva de almofadas e xingamentos para o menino no chão. Claro que eu ajudei.

Depois de nos acalmarmos, Midorima anunciou que estava de saída e se retirou rapidamente mesmo com alguns protestos dos demais.

Ficamos no sofá por mais um tempo, assistindo alguns programas e séries aleatórios. Só dei conta de que o tempo havia passado porque observei um Kuroko bocejando mais de uma vez.

Olhei para o relógio, já era quase duas da manhã. Reparei que os meninos vieram de mochila, mostrando que iriam dormir ali mesmo.

– Merda... – deixei escapar.

Como que iria pra casa sozinha, ainda mais uma hora dessas? Percebendo meus pensamentos, senti aquele par de olhos flamejantes me fitando, ponderando sobre alguma coisa, até que se pronunciou.

– Ei, por que não fica aqui essa noite também? – disse sério ao meu lado

– Mas eu não trouxe nada! Além do mais, não me sentiria confortável dividindo a cama com um de vocês... – respondi meio encabulada ao ver as expressões coradas de todos menos Kuroko, pra variar.

– Eu não disse que teria que dividir a cama com alguém, idiota! – o ruivo me deu um soco no braço, visivelmente desconfortável com a possibilidade.

– Por que Ina não dorme no quarto de Alex? – sugeriu o azulado, calmamente.

– Ei, Testu! Eu e Kise normalmente o dividimos! – protestou o ranzinza do Aomine

– Por mim o quarto já é seu, Inacchi – miou um loiro, já me abraçando de lado com um sorriso no rosto – Assim como o meu coração – completou cheio de galanteios.

– Obrigada, Kise – sorri, dando um beijo em sua bochecha, avistando um moreno revirando os olhos – Não é tão difícil assim, viu? – provoquei-o com um sorrisinho, fazendo os outros rirem.

– Vem dona saliente, vou te mostrar o que posso te emprestar pra dormir – um Kagami fez sinal para que o seguisse até seu quarto.

Fiquei quietinha na porta, só olhando ele lá dentro. Seu quarto não era bagunçado, por incrível que pareça. Mas não é que você realmente é diferente, dedos musculosos?

– Pode vir até aqui, eu não mordo. – disse indiferente enquanto fuçava algo dentro do seu armário, olhando de esguelha pra mim.

Assenti e fui até ele, que me mostrou um punhado de camisetas e bermudas que estavam dobradas num canto. Peguei uma camiseta que ficava larga no ruivo e julguei que seria o suficiente pra uma camisola improvisada.

– Obrigada Kagami – agradeci olhando fixamente pra ele, que não entendeu o porquê da intensidade que eu falava – Por tudo. – ri fracamente.

Ele assentiu um pouco sem graça e então voltamos para a sala. Agora quem estava sem graça era eu.

Kise e Aomine se trocavam ali mesmo, expondo seus lindos corpos esculturais e um par de cuecas bem preenchidas, se é que dá pra entender. Não que eu estivesse encarando, mas... Ok, tava encarando mesmo. Por pouco não babei.

– Temos uma garota entre a gente agora, dá pra vocês serem mais discretos? – Kagami dizia, fuzilando-os.

Retomei minha sanidade para um pensamento um tanto quanto inesperado. Porque eles podiam fazer isso e eu que devia ter vergonha? Ah, qual que foi minha gente, estamos no século XXI! E foi assim que fiz com que os três ficassem vermelhos em meio segundo.

Tirei minha camiseta e coloquei a substituta rapidamente, depois retirando o sutiã e o short por baixo da blusona que vestia.

– Ina...! – Kise balbuciava, quase tropeçando na bermuda que estava colocando.

Pelo visto ele foi o único capaz de dizer alguma coisa depois de uma ação tão súbita. Os outros dois apenas olhavam para mim incrédulos.

– Menos, rapazes. Até parece que nunca viram meninas de biquíni, isso sem comentar aquelas revistinhas... – disse calmamente, dando de ombros até ouvir a porta do banheiro destrancar e um Kuroko já de pijamas sair de lá.

– Por que vocês estão desconcertados desse jeito? – o azulado perguntava, fazendo com que os outros disfarçassem e tentassem se fazer de indiferentes.

Dei as costas segurando o riso, indo em direção ao banheiro.

Eles pareciam tão cheios de si no primeiro dia, e agora não passavam de gatinhos medrosos! Ficava cada vez mais claro a imagem que faziam para o mundo e como ela era diferente do que realmente eram. Olhei para o espelho e me deparei com uma Ina sorrindo sozinha.

Finalmente estava começando a me sentir em casa.

A noite foi tranquila, assim como o resto da minha estadia no apartamento do Kagami. Aproveitei para almoçar lá o que havia sobrado de ontem, e já que os outros tinham ido para suas casas, era só eu e o dono da casa.

Depois de comer e ajudar com a louça, resolvi que já estava na hora de ir embora. Por mais que eu tentasse convencer o ruivo de que meu joelho estava bem relaxado e estava de dia, que não havia necessidade de me acompanhar até em casa, ele não cedeu.

Caminhamos calmamente pelas ruas, conversando com tranquilidade. No percurso, passamos por uma quadra de basquete, não contive uma risada quando o olhar do menino se fixou nela e nos garotos que lá jogavam.

– Que foi? Tá achando graça do que? – perguntou bagunçando meu cabelo

– Você todo bobo por causa de uma bola de basquete em ação. – respondi me desvencilhando das mãos

– Não consigo me conter. É como se me sangue pulsasse quando surgisse uma oportunidade de eu entrar na quadra – o ruivo explicou. Dava pra notar que seus olhos flamejantes brilhavam com o assunto.

– Minha vó ia gostar de você – soltei baixinho, com um leve sorriso no rosto, voltando a caminhar.

O rapaz apenas sorriu um pouco surpreso, me acompanhando. Agradeci mentalmente por ele respeitar meu espaço. Não me perguntou nada, nem fez comentários melancólicos até chegarmos à porta de casa.

– Devidamente entregue! – brincou

– Obrigada pelo final de semana, Kagami – disse meio encabulada por falar de sentimentos com ele – Foi muito bom ter companhia nesses dias...

– Você fica sozinha aqui né? – perguntou. Seus olhos estavam daquele jeito indecifrável, fiquei meio hesitante em responder

– Na verdade essa casa é supostamente um passa tempo entre as aulas e as sessões de fisio com o padrinho, então sim. Por que?

– Eu estava pensando aqui... – começou um pouco envergonhado – Sei que a gente não se conhece faz muito tempo, não quero que você pense coisa ruim disso, mas sempre que quiser pode ficar lá em casa. Tanto pra dormir, comer ou só pra passar o tempo. Eu também fico meio sozinho, quando não estou na aula ou em alguma quadra por aí...

– Vou adorar! – abracei-o fortemente, colocando um sorriso em seu rosto – Obrigada, Kagami.

Fiquei em seus braços por um momento, imaginando quando que eu poderia ter alguém que se importasse comigo tanto assim do outro lado do mundo. Era impressionante como esse cara me fazia tão bem, tão feliz, em pequenos gestos como esse. Ele me cuidava sem me sufocar, e isso era algo novo pra mim.

Ele me mantinha apertada em seus braços, depositando um beijo no topo da minha cabeça antes de nos separarmos.

– Nos vemos amanhã então, Ina – acenou timidamente e saiu após eu acenar de volta.

Entrei em casa e fiquei de boa o resto do dia, ouvindo música. Com o som alto ou fones de ouvido, eu me sentia muito melhor quando estava acompanhada de música. Mas, além disso, sempre que me lembrava dos últimos dias me vinha um sentimento bom, preenchendo qualquer espacinho vazio que pudesse ter restado.


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Notas finais do capítulo

https://youtu.be/Nl2vFYpadLk

Essa música de capítulo eu tive que colocar, mas por favor tirem ela do contexto do Tarzan e desse vídeo super moderno hahahaha

Espero que estejam gostando!



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