Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 16
Fantasmas do Passado


Notas iniciais do capítulo

É, aqui temos mais umas cenas bonitinhas e harmoniosas... Talvez harmoniosas demais? Calei.

https://youtu.be/TJAfLE39ZZ8



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/652593/chapter/16

"You went back to what you knew, so far removed from all that we went through

And I tread a troubled track, my odds are stacked, I'll go back to black"

Depois daquele dia, tudo o que se falava era relacionado a festa da Kaijo. Todas as fofocas, boatos e barracos se resumiam aquela única noite. Se bem que eu tenho que admitir, ela realmente estava num padrão muito além do que eu conhecia.

Claro que eu tinha mais um fator pra ter gostado tanto do evento, mas surpreendentemente estava tudo dando certo entre Aomine e eu. Conversávamos normalmente por mensagens e não chegávamos a mencionar nada sobre a tal festa, mas também havíamos mudado um pouco de postura, como se ambos deixassem claro que o que tinham era um pouco além da mera amizade.

Durante os primeiros dias daquela semana o padrinho me ocupou todo o tempo livre depois dos treinos. Ele queria garantir que o procedimento do meu joelho foi um sucesso e tivemos que refazer diversos exames demorados, desde resistência até de previsão de fortalecimento.

Sendo assim, acabei por ficar somente com os meninos da Seirin até a quarta feira, por mais que ainda conversasse com Kise e Aomine por celular. O loiro por sua vez estava num humor ótimo recentemente, já que era assunto de toda e qualquer conversa do momento. Sinceramente, eu não sabia como ele conciliava todo esse agito resultante do seu evento com a vida normal da escola, visto que ainda era o às do seu time de basquete e treinava normalmente.

Na quinta-feira eu finalmente fui liberada dos exames, e com mérito diga-se de passagem. Pra comemorar, combinei com os meninos de jogarmos em uma quadra qualquer, mas Kuroko tinha compromisso com a família e Kise estava preso na escola com seu time de basquete. Acabou que Taiga e Daiki eram minhas companhias.

Estávamos numa quadra diferente, mais distante porém bem mais arrumada e conservada. Kagami e eu havíamos recém saído do treino e Aomine surpreendentemente também trajava roupa esportiva

– Ué, não matou treino não? – Kagami questionou

– Satsuki me torrou a paciência – ele respondeu, fitando qualquer lugar menos o olhar do outro.

– Sei – o ruivo estreitou os olhos em sua direção – Tá querendo ficar melhor por algum motivo específico, Aomine?

Corei um pouco reparando na reação nada discreta do moreno. Óbvio que ele tava fazendo isso por algum motivo, mas resolvi aliviar para o seu lado e interceptar o assunto.

– O que vai ser hoje? Querem que eu humilhe os dois juntos ou um de cada vez? – debochei, rodando a bola de um dedo para o outro.

– Tá se achando demais pra quem está enferrujada – Aomine comentou, tentando tomar a bola de mim.

– Muito engraçadinho. – respondi, tirando-a de seu alcance rapidamente.

– Por que não treina a gente com sua técnica maluca? – Kagami sugeriu

– Estão dispostos a isso? Eu não pego leve como a Riko.

– Pera, a treinadora quase come nosso couro... – o ruivo matutava em voz alta

– Sou dez vezes pior. – falei em um tom quase assombroso, retomando minha feição normal logo em sequência – Mas como é só uma diversão pra terminar o dia, prometo não ser tão rígida. – dei de ombros

– Que alma caridosa – o moreno comentou com seu tom preguiçoso

– É pegar ou largar! – exclamei , desafiando-os

Os dois se entreolharam, como se conversassem mentalmente e abriram um sorriso idêntico no mesmo segundo. Suas expressões se assemelhavam a crianças fazendo complô contra o professor substituto da escola, pra vocês terem uma ideia.

– Estamos dentro – eles responderam em uníssono, me fazendo gargalhar com tamanha intensidade.

– Então prestem bastante atenção porque a partir de agora não ficarei mais de graça com meus pupilos. – comentei, séria.

E era verdade. Já que queriam tanto saber como eu funcionava, teriam que se esforçar tanto quanto eu me esforcei para aperfeiçoar a técnica. Tudo bem que eles eram excelentes jogadores, mil vezes melhores que eu, mas o fato de eu ter um conhecimento a mais tão poderoso sempre me deixava um passo, por menor que fosse, a frente dos dois.

Na quadra apontei o centro, de modo que cada um ficasse de um lado enquanto eu segurava a bola no meio deles. A cara de dúvida era presente em ambos, mas Kagami foi o primeiro a se pronunciar para confirmar a suposição.

– Um mano a mano? – o ruivo perguntou, com um meio sorriso no rosto.

– É uma perda de tempo – comentou Aomine um pouco ofendido – Eu já derrotei essa criatura várias vezes, do que adianta mais uma...?

Ele ficou em silêncio assim que notou minha expressão imutável. Eu o fitava fixamente em seus olhos, sem hesitar pela proximidade que estabeleci.

– Achei que já tivesse aprendido a não duvidar de mim – respondi séria, recebendo um olhar amedrontado do moreno – Posso estar há alguns dias sem jogar, mas não fiquei nem um mísero momento sem treinar meus ouvidos.

– Foi mal, Ina... – respondeu, coçando a cabeça.

Agora o dito cujo estava num misto de vergonha e culpa, tendo seus traços bem mais suavizados. Daiki pedindo desculpas tão rápido? Era de se desconfiar. Mas se fosse por causa do último final de semana, eu teria que aprender a controlar o riso mais vezes já que sua cara ficava inteiramente passiva quando eu tinha uma pitada de fúria na voz.

– Tirem a camiseta, os dois – disse, fitando o chão – Agora!

Kagami se apressou em fazê-lo, já entendendo tudo o que eu iria fazer. Aomine parecia surpreso, mas não se manifestou em nenhum momento, apenas assentiu.

Quando Aomine estava com a peça nas mãos, peguei-a e com um gesto rápido o vendei, fazendo questão de deixar um pouco apertado demais. Kagami o fez sozinho, soltando uma risada baixa ao reparar na reação assustada do outro.

– Ei! – o moreno protestou, recuando com o corpo.

– É hoje que eu ponho o garanhão na linha – sussurrei em seu ouvido antes de me afastar de volta para o meio da quadra

– Tá, como exatamente isso vai dar certo? Nós não vemos nada, como vamos achar a bola? – ele rebateu depois de se recuperar da minha aproximação súbita.

– Isso não é problema meu – dei de ombros, segurando a risada com mais reações de incredulidade do reclamão – O primeiro que fizer 10 cestas ganha. Pode começar, irmãozinho.

Arremessei a bola para Kagami, que a apanhou com pouca dificuldade. Os dois demoraram para se acostumar com a situação, afinal a visão era um dos principais sentidos que usavam normalmente.

Após alguns momentos os dois já não se trombavam com tanta frequência, e pararam de ficar caçando a bola no ar na hora de roubá-la. Entretanto, a maneira que jogavam ainda estava longe de ter a intensidade que eu gostaria visto que nenhuma bola havia entrado na cesta.

– Não entrou de novo? Que saco! – o moreno esbravejou após sua jogada terminar em falha, assim como as outras.

– Tudo bem, vou dar uma dica. – falei, juntando a bola pra eles

– Ficou com pena do nosso fiasco? – Kagami comentou, dando um meio sorriso

– Não está tão ruim assim, vocês estão dominando bem suas próprias jogadas, mas ainda não alcançaram o ponto principal desse treino.

– E ele seria? – Aomine questionou

– Dominar a jogada do oponente. – respondi prontamente – Eu sei que vocês dois já jogaram muito juntos e por isso estão com uma pequena vantagem nesse exercício, só falta a usarem. Ao invés de focar em fazer uma jogada melhor que a do adversário, tente controlar a jogada do outro completamente e usá-la contra ele.

– Mas como?

– Aí já estão querendo demais...

– Ah, Ina...

– Vamos, quero as dez cestas logo! – ordenei, batendo palmas para coloca-los no ânimo.

E assim ficamos no restante da tarde. O soar do tênis no concreto já passava despercebido para meus ouvidos, assim como as pequenas briguinhas que os dois faziam entre um ponto e outro. Na maioria do tempo era eu gritando com algum passe muito errado ou ameaçando sair caso eles não parassem de se estranhar.

Quando a última cesta foi feita, sorri, orgulhosa com o resultado.

– Gostei de ver, Taiga! – fiquei de frente pra ele, retirando sua venda e anunciando o fim do treino.

– Eu consegui mesmo? – ele se surpreendeu, com o par de orbes flamejantes me encarando com euforia.

– Não foi aquela coisa linda de se ver, mas pra quem teve seu primeiro jogo sem visão você se saiu muito bem, irmãozinho!

– Primeiro jogo nada, vocês treinam todos os dias! Não tem como eu ter um jogo igual nessas circunstâncias... – o moreno reclamou, desmanchando a venda e retomando o fôlego.

– Isso tudo é ciúmes, é? – o ruivo o confrontou, passando o braço por seu pescoço.

– Para de graça, idiota – reclamou, revirando os olhos enquanto o outro lhe pentelhava

– Você... Você não foi tão ruim assim também, Daiki... – comentei, com a voz baixa e tentando manter a indiferença

No mesmo segundo o olhar do moreno se dirigiu a mim com surpresa. Ao que me parece, ele não esperava que eu o defendesse desse modo, ainda mais na frente de outra pessoa. Se bem que, pra mim, Kagami estava longe de ser outra pessoa, era quase como se fossemos uma mente em dois corpos de tão familiares que éramos.

– De todo modo, eu já terminei por hoje e vou pra casa. – o ruivo anunciou, juntando suas coisas

– Mas já? Eu quero jogar mais! – Aomine protestou impaciente.

– Você não ouviu o que a Ina disse? Eu fui melhor e consegui dominar seus movimentos primeiro, ou seja, revanche hoje não adiantaria nada pra você.

– Até que faz sentido... – o outro murmurou pra si, até que uma ideia surgiu em sua mente e ele instantaneamente olhou pra mim – Você pode ser minha oponente então.

– Eu? – apontei para meu peito, surpresa.

– Claro! Eu já estou aquecido mesmo, então obviamente terei uma vantagem, mas prometo não te esculachar tão rápido... – ele desafiou, me provocando propositalmente.

– Muito abusado pra quem acabou de aprender a jogar de olhos fechados. – respondi, já soltando minhas coisas no canto da quadra.

O ruivo apenas negava com a cabeça, rindo da facilidade com que eu caíra naquele joguinho mixuruca. Por fim, ele se virou para o amigo ficando bem próximo de seu rosto e estreitando os olhos.

– Você tem que levar ela em casa depois, ouviu? – Kagami o fitou sério, com uma mão em seu ombro.

– Relaxa, Bakagami. Tá comigo tá com Deus – apontou para si, logo se desvencilhando do aperto do ruivo – Vamos logo, Ina, quero ver do que você é capaz.

– Se esse pamonha não fizer o que eu mandei, sabe que pode me ligar – Kagami se dirigiu a mim, pondo um beijo em minha testa.

– Eu dou conta do garanhão – dei um soco de leve no seu braço

– Veremos – o moreno respondeu, me desafiando e já posicionando sua camiseta em seu rosto novamente.

– Negativo – o repreendi tirando a camiseta de sua mão – Dessa vez só eu vou vendada, quero te dar uma chance de ganhar, Ahomine – sibilei estreitando os olhos.

– Ai, ai... – riu o ruivo, saindo da quadra acenando – Divirtam-se.

Ouvi seus passos se afastando enquanto eu apertava bem o tecido em meus olhos. No mesmo instante senti o outro corpo presente diminuir a distância de mim, mas não consegui emitir reação nenhuma até ele me dirigir a palavra

– Eu não vou pegar leve. – Daiki sussurrou, da mesma forma que eu havia feito um tempo atrás.

A proximidade dele, somada à minha falta de visão e percepção, me causou um arrepio por todo o corpo. Meu olfato identificou prontamente sua fragrância habitual, já misturada com o suor após tanto exercício. A rouquidão de sua voz ainda tinha seu timbre ecoando em meus ouvidos assim como o ar quente que ele expirava batendo em meu pescoço.

O único sentido que me sobrava era o único que eu não conseguia usar. Mas foi por pouco tempo.

Em uma fração de segundos eu já tinha noção completa de sua boca se aproximando da minha, todo o meu corpo tinha aquilo como foco. Ao contrário das reações rápidas que eu tinha em quadra, naquele instante eu não tinha autonomia nenhuma em meus movimentos.

Os lábios quentes e úmidos do rapaz a minha frente preencheram os meus em um toque leve, sutil e calmo, contrastando com nossas respirações mais ofegantes. Minha mente estava a mil, só voltei a mim quando pensei ter ouvido um barulho de algo se movendo do lado de fora, me separando do moreno.

– Você ouviu? – perguntei, virando para o local que eu imaginava ser a origem do som.

– Na verdade não... – o percebi virando seu corpo e olhando a sua volta, para depois voltar-se a mim novamente – Mas vamos voltar ao que interessa.

– Espero que esteja falando do jogo – respondi erguendo uma das sobrancelhas

– Do que mais seria? – ele debochou, me roubando um beijo na bochecha

Sorri negando com a cabeça e assim começamos a nos movimentar pela quadra.

– Já conseguiu descobrir como eu faço minhas jogadas? – perguntei, ouvindo-o quicar a bola distraidamente a uma curta distância

– Ainda não. Mas faz tempo que não jogo com você, não me lembro de ter grandes problemas pra marcar.

Aomine acelerou em um piscar de olhos, passando por mim e quase me deixando sem reação. Quase.

– Pense duas vezes, Daiki. – disse ultrapassando-o e bloqueando sua jogada, mantendo a bola firme em minhas mãos e, posteriormente, atravessando a cesta a meu favor.

Eu estava vendada, mas pela falta de reação do meu oponente ele estava no mínimo boquiaberto com meu progresso. É meu bem, com esse joelho novo eu quebrei muitas barreiras e agora eu podia afirmar: eu estava no meu auge.

– Eu deixei você passar – ele comentou em uma péssima mentira

– Que generoso da sua parte! O próximo ponto vai ser seu de certeza então, né? – desafiei, com um sorriso no rosto.

Ele nada disse, apenas juntou a bola e se posicionou para atacar. Sua respiração estava mais descompassada, o ritmo dele havia mudado, mas para seu azar eu já havia decorado todas as suas variações.

O ponto seguinte foi mais suado, mas continuei invicta por várias cestas. Passado uns 10 minutos, o moreno estava ofegante e limpava o suor que escorria com o antebraço.

– Como... Você... Faz... Isso...?

Já tinha perdido as contas de quantas cestas eu havia bloqueado e mais outras quantas eu reverti em ponto pra mim. Não vou desmerecê-lo, ele havia conquistado seus três acertos com muita honra.

– Infelizmente não vai ser hoje que você vai descobrir. Já deu. – disse desfazendo minha venda e devolvendo sua camiseta com um sorriso triunfante.

– Ah não! Você precisa me contar. – ele intimou, visivelmente descrente do placar.

– Que tal comermos algo? – perguntei desviando do assunto e juntando minha bolsa.

– Eu não tenho um padrão, meus movimentos são totalmente criativos, não tem como você prevê-los! – ele implorava, me seguindo com passos pesados.

– Não é uma mera previsão. – estreitei os olhos – E eu não vou contar – cantarolei.

– Ina... – ele pediu, com direito a biquinho e olhos pidões.

A cena era linda de se ver. Um atleta alto e todo suado, vestindo sua camiseta às pressas para acompanhar meu passo, implorando insistentemente para que eu, mera amadora do esporte, o ensinasse a jogar.

– Tudo bem, se você se comportar bastante eu te mostro depois de comermos – cedi, fazendo com que ele comemorasse imensamente por impulso, mas no segundo seguinte voltasse a sua indiferença habitual.

Fomos em direção a uma lanchonete próxima e ficamos lá até anoitecer. O cavalheiro até pagou alguns lanches! Tá certo que ele não achou que seriam tantos assim, mas ele não desfez sua pose, óbvio.

No momento que estávamos deixando as bandejas sujas no local apropriado, ouvimos algumas vozes conhecidas em nossa direção.

– Inacchi! Aominecchi! – o loiro gritou da entrada do lugar, atraindo todos os olhares para si e para o moreno ao seu lado.

– Se não é a dupla da Kaijo... – Aomine suspirou, visivelmente desinteressado nos dois

Fomos em direção a eles e os cumprimentamos. Claro que Kise não me deixou escapar apenas com um aceno, então logo eu já estava com a mão na bochecha devido à intensidade do beijo que ele depositou ali.

– Ina está treinando você? – ele perguntou, arqueando uma sobrancelha para o rapaz ao meu lado.

– Tá mais pra um show, já que ele tá perdendo feio... – suspirei, fingindo desânimo.

– Eu disse que ela era boa, Kasamatsu! – o loiro virou-se para o amigo que parecia um pouco surpreso com o que eu havia acabado de contar.

– Impressionante... – ele murmurou quase para si mesmo enquanto me encarava com admiração.

– E quando vamos ter nossa revanche? – perguntou, esperançoso

– Suas cópias não funcionam comigo, Ryouta... – respondi com um risinho – Mas quem sabe se o capitão do seu time fizer dupla com você, talvez não seja uma derrota tão humilhante pra vocês.

Olhei sugestivamente para os olhos azul-claros, propondo um desafio. Na verdade foi mais pra me aliviar o desconforto que estava sendo de ser encarada pelo rapaz, que fazia aquilo inconscientemente.

– Dois contra um? – ele perguntou atônito e eu assenti

– Nem é convencida... – Aomine revirou os olhos

– Ela é boa assim? – o capitão se dirigiu à Kise

– Digamos que da última vez foi empate, mas... – o loiro respondeu

– Eu estava vendada e com o joelho machucado. – completei, beliscando a bochecha do loiro.

– Agora eu entendi por que fala tanto dela – Kasamatsu concluiu

– De qualquer forma, não quero incomodá-los no treininho particular de vocês dois... – Kise falou com a voz de deboche, me fazendo estreitar os olhos em sua direção

– Sim, nós ainda vamos lá pra casa terminar de estudar uns adversários próximos depois que sairmos daqui – o capitão envolveu empolgado o pescoço de seu amigo num quase enforcamento.

– Achei que íamos descansar! Eu não me recuperei do treino de agora a pouco e muito menos da festa...

– Problema seu, quem mandou ficar se exibindo pra tantas garotas? – ele deu um cascudo no loiro que começou a reclamar do jeitinho Ryouta de ser.

– Mas...

– Até mais Ina – Kasamatsu deu um meio sorriso em minha direção, envergonhado enquanto forçava o loiro a seguir seus passos até a fila de pedidos.

Acenamos para os membros da Kaijo com Aomine praticamente arrastando-se até a porta de saída. Foi aí que me lembrei de algo que tinha feito questão de fazer assim que possível.

– Ah! Antes que eu me esqueça de novo... – dei meia volta, emprestei uma caneta e um guardanapo no caixa e escrevi meu número ali, dobrando duas vezes antes de retornar aos dois – O dia que tiver um tempo livre dos afazeres na escola e quiser marcar nosso jogo é só me avisar!

– Pra... Mim? – o capitão corou, juntando o papel de minhas mãos estendidas em sua direção.

– Claro! Na festa você saiu tão rápido que não pude te entregar o meu então agora estamos quites. – sorri abertamente

– O-Obrigado – ele agradeceu, ainda encabulado.

– Mas é pra marcar mesmo hein! Quero ver de perto do que vocês dois são capazes com uma bola em mãos. – desafiei, já me dirigindo para onde Aomine me esperava, ao lado de fora.

– Pode ter certeza que ele vai marcar sim, Inacchi. – Kise falou, prontamente sendo calado pelo outro, que acertou um soco em seu braço e ali começaram uma discussão.

Eu apenas acenei mais uma vez, já da porta do estabelecimento, como se nada tivesse acontecido.

Não é por mal, mas eu não queria me envolver com Kasamatsu, pelo menos não além de uma amizade ou sei lá. Ele parecia ser uma pessoa ótima e centrada, coisa que não é muito fácil de se achar nos dias de hoje, ainda mais ter próximo de si.

Desse modo, eu valorizo esse tipo de gente, que tem virtudes e é sincera consigo mesma, sem máscaras e sem joguinhos. Pra falar a verdade, era isso que eu esperava tentando estabelecer um contato com ele, mas ao mesmo tempo não queria dar falsas esperanças no que quer que ele tenha em mente.

Pra resumir, eu queria o clássico “só amigos”. Não achava justo ter que repelir rapazes que podiam ser ótimos amigos só porque eu era uma garota. Todos nós somos capazes de controlar nossos hormônios e pensamentos primitivos, será que só eu via as coisas desse jeito?

– O capitão ficou bem animadinho de ter o seu número. – o moreno comentou em voz baixa

– Que? – perguntei, saindo dos meus pensamentos.

– Nada não... – ele negou com a cabeça, rindo como se não acreditasse que tais palavras saíram de sua boca.

– Bom mesmo – respondi, dando um peteleco atrás de sua cabeça

Voltamos para a quadra e já estávamos mais recuperados da mini partida de antes. Coloquei minha bolsa no canto da quadra novamente e o repreendi quando ele começou a tirar a camiseta.

– Sem vendas? – questionou, um pouco em dúvida – Então por onde começamos?

– Está pronto pra desvendar o mistério por trás das minhas jogadas super secretas? – fiz uma voz de locutor de rádio o fazendo rir abertamente, antes de ser interrompido.

O telefone de Daiki começou a tocar, mas ele não reconheceu o número de primeira, já que tinha um enorme ponto de interrogação em sua testa. Depois que atendeu e a pessoa do outro lado da linha falou alguma coisa, ele baixou os olhos, fitando o chão sério e mudando sua expressão rapidamente.

– Faça-me o favor, May. Eu sei o que você quer com isso – escutei-o dizer e fechei a cara.

Resolvi me distanciar e prestar atenção em qualquer ponto distante para não ouvir o restante da conversa.

Então aquela menina da festa tinha o número dele, e mais, Aomine conhecia ela o suficiente para saber o que ela queria com apenas uma frase. Comecei a ficar irritada e meu corpo se agitou mesmo sem fazer qualquer movimento.

Em um dado ponto, ele me olhou demoradamente enquanto ela falava. Aliás, ele não falou mais nada, apenas ouviu o que a tal da May tinha a dizer por alguns minutos e depois desligou o aparelho, pensativo.

– Acho melhor eu voltar pra casa. – comentei, sem o olhar enquanto se dirigia a mim.

– Isso tudo é ciúmes? – o moreno disse, sentando ao meu lado.

– Não. Só acho que não é bom voltar a coisas tão problemáticas do passado, a não ser que queria voltar a ser quem era. E pelo visto você tem que pensar algumas coisas a respeito e eu não quero atrapalhar.

Falei tudo de uma vez, sem delongas. Não era assim que eu funcionava e ele merecia uma explicação da minha parte. Ele ficou parado por um instante, mas logo um sorriso debochado preencheu seu rosto, como se uma confirmação estivesse visível.

– Então a senhorita liberal resolveu falar de exclusividade...

– Quê? Você realmente tá ouvindo o que eu digo ou só olha eu mexer a boca?

Ele guardou o celular no bolso, pegando meu rosto com as duas mãos e me fitando de frente. Sua proximidade me causou um leve arrepio, mas o modo com que ela ocorreu me fez sentir um desconforto, como se algo não estivesse certo.

– Vamos, deixa disso, Ina... – se aproximou tentando um beijo apressado, diferente dos outros.

– Para com isso... – pedi me desviando de seus lábios, tentando pensar melhor sobre meu mau pressentimento.

– Não precisa ficar com ciúmes, vai, eu só quero testar uma coisa... – ele tirou uma das mãos e a colocou em minha cintura, apertando-a um pouco

– Eu disse que não, Daiki. – respondi firmemente, me afastando bruscamente de seu toque.

Isso não o deixou nem um pouco contente. Eu simplesmente não reconhecia Aomine Daiki naquele instante. Seus olhos, desde o momento que aquela menina ligara, estavam diferentes, distantes e tudo contribuía para algo que eu não tinha certeza do que era, mas que me incomodava profundamente.

Eu não vou negar que tinha uma pontada de ciúmes sim, mas não era o foco do momento. Na verdade, isso era a ponta do iceberg, afinal de contas ele era antes de tudo meu amigo, e não só uma boca pra beijar.

Comecei a procurar na minha cabeça mais informações que eu tinha sobre a tal da menina e da relação que eles tinham. Já tinha ouvido falar de como ele era antes de se aproximar de Kagami e Kuroko neste ano, nunca cheguei a verificar com meus próprios olhos, mas garanto que devia ser similar ao que eu via agora.

Ele pendia a cabeça para o lado, as sobrancelhas franzidas e a boca entreaberta como se não aceitasse o que acontecia e a rejeição que estava levando. E isso me entristecia muito. Era sério que ele só se preocupava com os beijos mesmo?

Tentei encostar minha mão em um de seus braços buscando compreender a situação, mas foi a vez dele se afastar. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele se pronunciou irritado.

– Achei que tivesse alguma coisa acontecendo entre a gente.

– E tem, mas eu só queria entender... – me apressei em dizer, sendo cortada.

Eu já entendi.

Ele bufou e juntou suas coisas que estavam no chão. Sua feição estava indecifrável, mas ao menos tinha deixado parte daquele ar arrogante para trás. Será que eu tinha o magoado? Mas que droga, o que passava naquela cabeça oca?

– Daiki, espera...

– Cansei de esperar você me querer por inteiro.

Parei, surpresa.

Do que essa criatura estava falando agora? Se a resposta fosse a que eu imaginava... Não, eu não poderia ter errado tanto a seu respeito assim. Todos esses meses convivendo com ele se resumiam a uma única coisa?

Sexo?

Era tudo o que ele pensava nesse momento? O motivo de todo esse barulho, dessa mudança repentina, tudo se resumia a isso? Aquela garota devia ter se oferecido pra ele, e agora ele ponderava se era a melhor escolha continuar comigo sem ter como satisfazer sua testosterona.

Não me dei o luxo de questioná-lo se era isso mesmo, a raiva me consumia cada vez mais, esquentando cada centímetro de mim. Apenas o assisti sair da quadra e ir em direção à rua, sem olhar para trás.

Que palhaçada foi essa? Daiki ficou esquisito depois daquela ligação, agindo feito um babaca. O que aquela garota falou exatamente pra ele deixando-o tão mudado?

Continuei em meus pensamentos, ainda sentada no chão da quadra, e fiquei assim por um bom tempo. Só me dei conta de que minutos haviam se passado quando escutei passos quase inaudíveis entrando na quadra.

– Até que enfim nós te achamos. – a primeira voz soou, se aproximando de mim

– E agora... – a segunda riu com desdém – Agora você não escapa, Ina.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O.O

https://youtu.be/TJAfLE39ZZ8

Só vou deixar a rainha do Soul aqui, e até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fate" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.