Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 17
Em Um Piscar de Olhos


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é bem barra pesada, não de termos e linguajares em si, mas de sentimentos. Bom, vejam por vocês mesmos...

https://youtu.be/xrhfuHQTbdI



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"And the worst part is, before it gets any better we're headed for a cliff

And in the free fall I will realize I'm better off when I hit the bottom"

Virei minha cabeça a tempo de, graças ao meu reflexo, desviar de um chute que me acertaria na nuca. Já no estado de alerta, fiquei de pé rapidamente passando meus olhos por todo o perímetro da quadra, procurando uma saída.

– Já disse que não vai escapar – Hanamiya disse, segurando meu pulso numa velocidade absurda

– Tá louco? Me solta! – exclamei, forçando meu braço para longe dele e recuando até esbarrar na parede

– Acho que não fomos claros o suficiente... – Raizaki começou a falar, sorrindo cinicamente e colocando sua mão em meu pescoço, me erguendo um pouco do chão.

A força que ele usava era fora do normal, me machucando desde o contato inicial e me impedindo de usar a voz. O resto do meu corpo parecia estar em choque e eu não conseguia controlar nenhuma reação.

– Você quieta é mais atraente ainda – o sobrancelhudo sussurrou no meu ouvido

Com uma faísca de consciência chutei-o fortemente na boca do estômago, fazendo-o recuar e arfar, mas sem sumir com o maldito sorriso. Encarei o braço que me segurava e o apertei com ambas as mãos, mas ele me girou e jogou ao chão, apoiando a sola do seu pé no mesmo local que havia soltado.

– Tá fogosa, assim que eu gosto – ele desdenhou, passando a língua por seus lábios.

– Mais respeito, garota! Não é porque você é namoradinha do Aomine que pode sair chutando quem bem entender... – o outro passou a mão pelo bolso, retirando um canivete dali.

Mas que droga era essa?! Esses dois não podiam estar falando sério, tinha que ser só um pesadelo... A única coisa que me vinha a cabeça era a rapidez com que as coisas estavam acontecendo.

– Na verdade só queremos brincar com o brinquedinho dele...

Prontamente Hanamiya se aproximou do meu tórax com o maldito canivete, mas eu consegui jogá-lo longe com um espasmo. Seus olhos antes cínicos começaram a demonstrar uma raiva gigantesca, me fazendo estremecer e perder o fôlego.

– Estou perdendo a paciência – ele proferiu, virando-se para buscar o objeto a alguns metros

– Não mexe com ele, não sabe do que é capaz... – Raizaki disse, com uma voz mansa

– Me deixa ir embora, por favor – sussurrei, sentindo uma dor enorme na garganta

– Você quer sair? – ele perguntou, com uma feição falsa de preocupação

– Quero, me deixa ir Raizaki – implorei, enquanto ele se aproximava

– Falando assim... – ele me soltou e por um segundo até acreditei em sua bondade, mas tudo foi por água abaixo no segundo seguinte – Eu fico com mais tesão, gostosa.

Depois de falar, ele se debruçou sobre mim, beijando meu pescoço e passando as mãos vulgarmente por todo o meu corpo, parando apenas quando o outro voltou a me rodear.

– Eu acho que consigo deixar isso melhor ainda e agora é melhor você ficar parada, Ina – ele se aproximou e pude sentir o gelado da lamina percorrer minha barriga

Tentei me levantar mas um deles me deu um forte soco no estômago, me fazendo perder as forças. Minha cabeça girava e eu lutava comigo mesma pra ficar acordada.

Um tempo se passou, não faço ideia de quanto porque eu tinha apagado. Acordei com aqueles dois cortando pedaços da minha blusa, me ferindo pela força usada no objeto cortante, enquanto falavam coisas já sem nexo pra mim. Notando minha repentina volta de consciência, eles pararam o ato e começaram a me fitar.

– De pé. – uma das vozes ordenou.

Como eu não respondi, eles me desferiram golpes, a maioria no tórax parcialmente exposto mesmo, mas não se resumindo a isso. Senti a parede de concreto atrás da minha cabeça e me apoiei nela para ficar erguida, tentando me localizar espacialmente no mundo físico.

– Que obediente... Mas tem que ficar de olhos abertos e boca fechada, gracinha. – o outro falou, pressionando o canivete frio contra meu pescoço em forma de ameaça.

Assim que o fiz, eles começaram com insinuações sexuais pra cima de mim. Meu corpo era marcado por cada toque de mãos, cada respiração mais próxima e até pelo roçar de pele sobre a minha. Meus músculos estavam acabados e eu já não tinha noção da metade das agressões que eu havia recebido.

Eu não podia deixar isso ir à diante.

A cada encostada eu acumulava mais e mais ódio, raiva e nojo por aquela situação. Eu tinha que sair dali, sair inteira e sã, e teria que ser agora. Por mais que fosse isso que passava em minha mente, meu corpo não reagia igualmente.

Foi aí que me vieram as diversas imagens boas do que havia acontecido comigo desde que havia chegado no Japão, cada sorriso, risada, amizade entre várias outras coisas. Eu não deixaria que o infortúnio de agora interferisse em tantas coisas boas.

Num momento de insanidade e forças que ainda me restavam acertei Haizaki, que me segurava firmemente, no queixo. No mesmo instante, Hanamiya direcionou o pequeno canivete em minha direção, mas consegui segurá-lo e dar uma bicuda em sua canela. Antes de cair, ele desferiu um corte na minha mão esquerda, cortando na diagonal da palma profundamente.

Cambaleando, juntei minha mochila jogada e corri o máximo que pude, notando que os dois caras se demoraram um pouco para se recompor, mas ainda vinham atrás de mim. Lentamente meu corpo saía do estado de euforia e apresentava as dores do que acabara de acontecer.

Eu não pensava mais, apenas fugia.

Me arrastei rapidamente até um mini mercado 24h e me escondi atrás de algumas prateleiras, tremendo de dor e medo. Só me levantei dali depois que ouvi aquelas vozes assombrosas se afastarem para a outra rua.

Abri a mochila com a mão que não estava sangrando e peguei meu celular. Digitei certeiramente o número favoritado do Taiga enquanto lutava pra ficar consciente, mas era demais pra suportar. Resolvi levantar e apostar que meu corpo ficasse mais ativo depois disso, mas foi sem sucesso.

A última coisa que me lembro foi esbarrar em um casal na fila do caixa antes de sair e bater a cabeça em algo pontudo, ainda segurando o aparelho em mãos.

– Ina OFF –

– 3ª pessoa ON -

Ina desmaiou sobre uma das prateleiras ao redor do caixa e teve seu celular distanciado de suas mãos antes mesmo de apertar a tecla de discagem. O casal que estava ao seu lado, juntamente com o dono da loja, correu para socorrê-la.

Enquanto o senhor discava para os bombeiros, o jovem apoiava a cabeça da menina inconsciente a sua frente no seu colo, tentando prestar os primeiros socorros e estancar o corte em seu supercílio. Sua acompanhante avistou o celular caído e discou para o número exposto na tela.

– Ina... – a voz do ruivo, abafada por um travesseiro atendeu.

– Por favor, tem uma moça gravemente ferida aqui e ela estava tentando discar pra você antes de desmaiar! – a urgência na fala da moça o fez levantar imediatamente, perguntando o endereço e correndo até lá o mais rápido que podia.

Quando Kagami chegou, a ambulância estava colocando-a na maca com um tubo de oxigênio em seu rosto. O ruivo não sabia o que fazer, apenas deixou-se levar pelo impulso de proteger sua irmã.

– Ina!? – esbravejou correndo ao seu encontro, sendo impedido por autoridades – Me deixem passar, é minha amiga que está ali! Meu nome é Kagami Taiga, eu imploro que me deixem vê-la!

– Você é o cara da ligação? – a jovem reconheceu a voz, aproximando-se dele ao receber uma confirmação – Deixem-no passar!

Sem mais nada o bloqueando ele foi até os socorristas, andando ao lado da maca enquanto era direcionada à ambulância. Seu olhar passou rapidamente pelo corpo da garota que estava ferida em diversos lugares, além da roupa rasgada e suja por diversas partes.

– Você é o responsável? – perguntou um bombeiro enquanto junto com mais dois a colocavam dentro do transporte. – Pode entrar conosco, mas terá que arcar com a burocracia depois. Não se preocupe, ela não corre risco de vida agora.

Assentindo, Kagami entrou e procurou manter a calma. Podia ver Ina retomando a consciência aos poucos e seu olhar prendeu-se no dela, fraco e inchado devido a um soco um pouco acima da bochecha. Sua mão boa ergueu-se lentamente, buscando aproximar-se do ruivo que prontamente a segurou com firmeza. Logo após, Ina desmaiou novamente.

Ao chegar no hospital, o médico plantonista pediu que o rapaz o esperasse no quarto destinado a ela enquanto ele fazia o necessário pela recém-chegada. Nesse meio tempo Kagami tentou ligar para Aomine, desesperado, mas não obteve resultado. Por fim optou por mandar uma mensagem, ainda com os dedos trêmulos.

"Venha para o Hospital Central. Que merda você fez dessa vez, Aomine?"

– 3ª pessoa OFF -

– Aomine Daiki ON –

Acordei com o celular vibrando no bolso da calça. Olhei para o céu pouco estrelado que eu conseguia ver dali. Não acredito que fiz isso, e tudo porque fiquei pensando nela. Minhas roupas estavam bem desarrumadas, mas nem liguei.

Essas últimas horas me haviam feito pensar como nunca no que realmente eu tenho que dar valor, ou em quem. Confesso que quando saí da quadra a consciência pesou, e muito. Não sabia se era o certo a fazer depois daquela ligação. Mas agora, depois de tudo, consigo ver que foi preciso para eu me dar conta do que sinto por ela.

Não conseguia admitir isso pra mim mesmo e precisei de uma ligação de ex pra descobrir. Era no mínimo humilhante, ela conseguiu o que queria.

Lembrei-me do aparelho que já estava em mãos e o desbloqueei. Pelo menos era mensagem do Kagami. Ele já devia saber da merda que eu tinha feito, Ina devia ter contado tudo pra ele. Será que ela ainda ia me querer, mesmo depois do que eu fiz?

O tal do peso na consciência bateu mais forte. Eu havia deixado-a em uma quadra de basquete depois de uma ligação de ex. Isso realmente soava mal em todos os possíveis aspectos.

“– E não é que o número continua o mesmo? – a voz daquela garota preencheu meus ouvidos, com um tom de deboche – Que tal me encontrar pra gente se divertir um pouco?

– Faça-me o favor, May. Eu sei o que você quer com isso – respondi, calmamente.

– Tá com a bonequinha né? – a ouvi dizer e pousei meus olhos em Ina, que estava sentada do outro lado da quadra com uma cara azeda – Você realmente acha que ela vai te servir pra alguma coisa? Não percebeu o jeito que ela te seduziu dançando na festa, na frente de todos? No mínimo ela quer se aparecer às suas custas ou, quem sabe, fazer ciúmes praquele ruivo. Você sabe do que eu tô falando. Quer tirar a prova? Tenta repetir agora o que vocês fizeram aquele dia, sem plateia nenhuma. Depois que ela se recusar, pode me ligar. Afinal, eu te quero por inteiro e não só a parte da fama”.

Eu me lembro dessas palavras nitidamente. Como pude acreditar nisso? Acho que foi o encontro com Kise e Kasamatsu na lanchonete, o jeito que ela passou o número dela pra ele, como ela sorriu... Não. Não posso culpa-la por uma ação minha. Tive influência da May, mas só depois de hoje percebi que ela não significa nada mais para mim. Ina era minha referência para tudo que eu sabia e até para o que eu ainda desconhecia.

Sorri com a possibilidade que se formava em minha mente. Mas isso ficou de lado no segundo que me lembrei da mensagem de Kagami. Verifiquei o celular para abrir a notificação.

Em um piscar de olhos me levantei e corri, sem me importar com mais nada.

Que merda você tinha feito, Aomine?

– Aomine Daiki OFF –

– 3ª pessoa ON -

Passados alguns longos minutos o médico reapareceu, analisando Kagami da cabeça aos pés.

– Doutor, como ela está? O que aconteceu com ela? Onde ela está? – o ruivo prontamente perguntou

– Estava justamente me questionando quem foram as pessoas que atacaram essa jovem, mas pelo visto você não estava presente – o médico disse com a voz firme

– Pessoas? Foram mais de uma?

– Exato. Eu não sei o que se passa entre vocês dois, mas sugiro que o senhor tenha mais cuidado perante a essa jovem. Foi muita irresponsabilidade deixá-la andando sozinha a noite, podemos dizer que ela teve sorte por não pagar esse ato com a própria vida.

– O que houve exatamente? – Kagami perguntava atônito

– A paciente Watanabe Ina foi severamente espancada, principalmente na região do tórax. Tem cortes nas mãos, sinalizando que brigou com alguém que portava um tipo de arma branca. Seus pulsos e braços demonstram a maneira bruta com que fora segurada e seus hematomas revelam que foi por muito tempo.– comunicou olhando o prontuário em suas mãos – Sinto em lhe informar, mas pela aparência das roupas que vestia, ela estava prestes a sofrer um abuso sexual.

O rapaz não sabia o que dizer muito menos o que pensar. Caiu sentado numa cadeira próxima e assim ficou. Seus olhos percorriam todo o ambiente, mas o que lhe importava não era o mundo físico. Por fim, conseguiu se situar novamente.

– Ela vai ficar bem? – perguntou olhando para o senhor a sua frente

– Vai. Os enfermeiros estão preparando curativos e aplicando medicação para a dor. Aparentemente ela também apresentava um joelho em recuperação, mas ao que tudo indica não foi danificado com o acontecimento. Fora isso não tem o que fazermos por ela aqui, então terá alta em algumas horas – respondeu, tirando o olhar frio por um segundo, substituindo-o por um mais humano – Peço encarecidamente que cuide dessa moça. Seus ferimentos físicos desaparecerão em poucos dias, mas as sequelas psicológicas podem perdurar por anos se não forem bem resolvidas. Por isso é recomendado que se avalie como ela chegou a situação que estava e quem são os envolvidos. Em outras palavras, ela precisará de apoio mais do que nunca.

Dito isso se retirou e em mais alguns instantes Ina foi levada ao quarto, sem a máscara de oxigênio, e aos poucos foi retomando a consciência.

– 3ª pessoa OFF –

– Ina ON –

Abri os olhos lentamente, a luz extremamente forte dali incomodava muito. Mais um pouco se passou e consegui fixá-los em um ponto próximo da cama em que eu estava. Dei um meio sorriso ao perceber quem era e lágrimas começaram a descer pelo meu rosto.

– Ina... – Taiga disse abaixando a cabeça e segurando minha mão. Lágrimas também corriam por seu rosto, molhando a coberta.

– Taiga... – sorri com a voz rouca, quase inaudível.

Fitei seus olhos que voltavam a me observar. O par de círculos em chamas parecia refletir a dor daquela noite que aos poucos me voltava à memória. Aomine e eu na quadra. Aquela garota o chamando. Aomine saindo sem olhar para trás. Aqueles caras se aproximando e o olhar de um deles expondo puro desejo sobre mim. Era tortura demais me lembrar do restante.

Me foquei no que estava em minha frente, no calor que eu sabia que tinha quando em sua presença. Seus dedos musculosos tremiam ao segurar os meus, o nervosismo estampado em seu rosto lentamente deu lugar a uma raiva incabível àquela face conhecida. Seus olhos voltaram-se para a porta e, após alguns segundos de dúvida, os meus também.

Aomine Daiki estava ali.

O moreno ficou parado após fechar a porta do quarto, sem falar nada. Sua roupa estava bagunçada, uma clara prova do que deveria estar fazendo até minutos antes de chegar ali. Seu olhar passava de Kagami para mim em uma velocidade absurda. Eu podia sentir a tensão do ruivo fechando seus dedos em um punho, mas antes que ele fizesse qualquer coisa eu agi.

Retirei a coberta que me cobria e com dificuldade coloquei meus pés para fora da cama. Firmei-os no chão e caminhei na única velocidade que conseguia até o rapaz parado, encarando-o durante o curto trajeto. Quando cheguei a centímetros de seu corpo, coloquei uma das minhas mãos em seu peito.

– Ina... – Aomine disse, movendo uma de suas mãos para ir de encontro com a minha, mas rapidamente o desfiz.

Apertei a gola de sua camisa com toda a força que reuni e puxei-a para baixo, em minha direção. Um de seus botões estourou. Coloquei seus olhos frente aos meus, seu nariz colado ao meu e falei, com uma voz que não me pertencia horas atrás.

– Você... Você me dá nojo – sibilei rouca lembrando do que eu havia passado, afrouxando minhas mãos de sua gola e me virando para a direção da cama.

– Ina, eu sinto muito... – ele disse, passando uma das mãos em seu rosto e aproximando-se de mim com a outra.

Virei em sua direção mais uma vez, observando sua expressão de desespero.

– Sente? Duvido – fiz meus dedos juntarem e lhe acertarem um soco na boca do estômago certeiramente – Isso não foi o ínfimo do que eu senti hoje, graças a você.

Ele se curvou com o desconforto no abdômen que eu havia provocado, ficando ali por alguns segundos até voltar a realidade daquele quarto. Meus olhos não cederam por um instante sequer, continuei a encará-lo até que conseguiu pronunciar alguma coisa.

– O que houve...? E-Eu... – balbuciava, procurando as palavras nos olhos do ruivo, sem sucesso, pois estes estavam fechados e deles saíam lágrimas incessáveis.

– Você o caralho. Saiu daquela porra de quadra sem nem olhar pra trás, querendo saciar sua necessidadezinha de se enfiar em algum rabo de saia já que viu que comigo não ia acontecer nada. Infelizmente você não era o único merdinha que queria fazer isso comigo hoje a noite. – respondi ríspida, tossindo ao terminar.

Já não tinha compaixão nenhuma por aquele ser em minha frente, mesmo com lágrimas começando a preencher seus olhos incrédulos. Na minha cabeça, Daiki era um babaca agora. Ele passou de um cara que eu pudesse sentir atração ou qualquer sentimento positivo, para uma imagem generalizada de aproveitador e adolescente cheio de hormônios. Fechei os olhos, tentando tirar essas coisas ruins do meu pensamento, mas apenas relembrei de como Aomine me tratou como uma qualquer naquela noite.

– Te... Estupraram? – aquela palavra me revirou o estômago, conseguia sentir perfeitamente o hálito de um daqueles vermes que me abordaram mais cedo. Meu rosto devia transparecer porque Aomine tentou encostar sua mão no meu ombro, com piedade.

– Não se atreva a encostar em mim – disse rapidamente, juntando todo o ódio que se acumulou naquela noite e dando um tapa em sua mão – Bem que eles tentaram, aqueles seus amiguinhos – soltei uma risada cínica

– Você conhece os trastes que fizeram isso? – Kagami se exaltou, fuzilando o moreno de onde estava. Seus olhos diziam tudo, ele queria quebrar Aomine no meio ali mesmo, assim como eu.

– Conhece. Inclusive devia rever suas amizades porque aqueles dois queriam descontar a raiva da sua arrogância em mim, sua suposta namoradinha corna, abandonada no meio de uma quadra deserta. – disse sentindo o refluxo subir rápido, controlando-o o máximo que pude.

– Não acredito nisso... – deixou escapar enquanto avaliava os hematomas no meu rosto, com a voz falha.

– Ah não? Deixa eu te mostrar isso aqui então – levantei o blusão verde de hospital que vestia, pouco importando se estava mostrando meus seios ou não.

A imagem ali não devia ser nada bonita porque ele caiu sentado no chão, boquiaberto, deixando o choro cair junto. Kagami também vislumbrou a vastidão avermelhada que se estendia por todo meu abdômen, do pescoço até meu ventre, passando as mãos por seu cabelo com força, chegando a arrancar alguns fios.

Minha barriga estava cheia de manchas vermelhas por causa dos socos que me deram tentando me imobilizar, somadas a pequenos cortes em sequência de quando Hanamiya cortava minha blusa aos poucos, centímetro por centímetro. Na região dos ombros mais alguns cortes, algumas tentativas de cortar meu sutiã sem retirar a blusa fina que eu usava, mas sem sucesso.

Meu pescoço e braços tinham linhas, vestígios da mão pesada de Haizaki que me enforcou e prendeu no início, impedindo que eu gritasse. O resultado disso foi mais interno do que externo, pois minha voz estava rouca devido à exaustão provocada nas cordas vocais com a pressão que ele havia feito no local.

Além de tudo isso, ainda tinha um maxilar inchado fazendo par com a bochecha já arroxeada, fora o supercílio cortado nos meus últimos segundos de consciência. Passei a mão por meus olhos, só aí me lembrando do corte profundo na diagonal da minha palma, agora enfaixado.

– Meu Deus... – o ruivo fitava o chão sem piscar – Eu vou moer você, Aomine Daiki, moer! – exclamou levantando-se bruscamente

– Taiga, não. – disse me aproximando do ruivo.

Ele tinha a respiração acelerada, mas se acalmou um pouco quando me aninhei em seu peito. Seus braços fortes ficaram leves ao meu redor, me abraçando e protegendo com o maior cuidado do mundo.

Eu não queria que ele fizesse uma besteira dessas no impulso. Querendo ou não, o moreno era seu amigo e eles teriam que conversar sobre isso a sós, sem me envolver no meio. Só então caberia ao ruivo julgá-lo a partir do que ouviria, não apenas socá-lo por minha causa. Não agora.

Aomine então se levantou e veio em nossa direção, seu rosto estava marcado pelo rio de lágrimas que não parava de percorrê-lo.

– Perdão, Ina, eu te imploro – suplicava tentando novamente encostar sua mão em mim, ignorando o olhar mortífero do rapaz que me cercava.

– Você não precisa do meu perdão – me desvencilhei do aconchego que tinha para agarrar aquela mão e torcê-la para trás de suas costas, virando-o para que eu ficasse de frente para suas costas. – Você precisa do meu respeito, Aomine.

Dito isso, afrouxei seu braço e encostei minha testa em suas costas, molhando sua camisa com lágrimas que finalmente caíam sem pudor.

Não estava certo. Uma parte de mim queria arrebentar aquele idiota nesse instante, e eu sabia que tinha recuperado força o suficiente para causar um estrago nele, assim como fizeram comigo.

Mas não consegui. A outra parte queria seu conforto pra mim.

É humilhante dizer isso, mas eu gostava de tê-lo por perto, da sua presença preguiçosa e muitas vezes incômoda que de alguma forma me levava um sorriso no rosto vez ou outra. Acho que foi por isso que não contive minhas lágrimas. Não pela dor espalhada em minha totalidade, mas pelo aperto no meu peito de ter sido decepcionada por alguém que eu considerava muito.

– Ina... – ele voltou a falar se desvirando vagarosamente, apoiando o lado intacto do meu rosto com uma de suas mãos trêmulas e frias de modo que eu voltasse meu olhar para ele – Me desculpa.

Isso foi o cúmulo pra mim.

Saí correndo para o banheiro e me joguei de joelhos em frente ao vaso sanitário, expelindo de uma só vez toda aquela repulsa que sentia. Lágrimas me dificultavam a retomada de ar depois de mandar por descarga abaixo os resquícios daquela noite tão longa, trazendo de volta a minha metade enfurecida.

Como ele foi capaz de me deixar ali? Como ele me abandonou daquele jeito? Por que ele fez isso comigo? E ainda tem a capacidade de ficar chorando... Foi ele que me largou pra ir se atracar com aquela garota. Esvaí de meus pensamentos e voltei para o quarto para uma cena um tanto quanto inesperada.

Kagami acolhia Aomine em um abraço sincero, ambos cobertos de lágrimas.

– É minha culpa, olha o que eu fiz! – o moreno falava em meio a soluços, abafados pela camisa do ruivo.

– Você não sabia, não se martirize assim... – respondeu, apertando o outro para confortá-lo.

Aquela cena me desmoronou. Kagami estava quebrado por dentro e sua vontade era de fazer o mesmo com Aomine, mas a dor deles era tão grande que não havia agressão que ultrapassasse aquele sentimento. Foi aí que minha outra metade, a sentimental, me fez entender que a dor compartilhada era o caminho para uma recuperação.

Aomine podia não ter pensado direito ao me deixar sozinha, mas tenho certeza que nunca iria querer que algo assim acontecesse nem perto de mim. Aquilo não foi culpa dele. Era culpa daqueles dois vermes que me atacaram! Ficar sozinha não é desculpa para a agressão deles e muito menos para eu me sentir vulnerável.

Além do mais, eu não podia misturar ciúmes com os acontecimentos da noite. Pois é, demorei pra entender, mas a maior parte daquela minha raiva era por ele ter saído com outra menina, e não comigo. Eu queria dar um couro naquele tapado, mas talvez só porque ele foi tocado por outra.

Larguei todos esses problemas, questões e dúvidas por um momento. Eu precisava me recompor, não me atormentar pelo que havia passado. Precisava de cuidado, e não só físico. Parei ao lado dos dois, colocando uma mão no ombro de cada um deles e tendo a atenção imediata de ambos.

– Obrigada por estarem aqui. – dito isso adentrei no meio dos dois, recebendo um abraço imediato e cauteloso, mas cheio de um calor que eu estava necessitada.

Esse seria o caminho para a minha cura.


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Notas finais do capítulo

Odiei escrever tanta coisa ruim assim, mas foi necessário, vão por mim. Não sei nem o que dizer então vou deixar a música de uma vez.

https://youtu.be/xrhfuHQTbdI

Paramore de novo porque Paramore nunca é demais.

Até o próximo, minha gente.



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