Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 15
Saindo da Inércia


Notas iniciais do capítulo

Sem papo que eu quero ir direto pro quebra pau, bordoada pra todo lado e...

Ok, é mentira. Ou não.........

https://youtu.be/HpyZEzrDf4c



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/652593/chapter/15

"And if you listen you can hear me through the radio, in that bright white noise"

Ninguém emitia reação com a cena que presenciávamos.

Os dois recém-chegados me transmitiam um sentimento ruim de insegurança e até mesmo desconfiança, ainda que eu nem sabia de quem se tratava. Olhei de relance para Kagami e ele parecia sentir exatamente a mesma coisa que eu, já que éramos os únicos que não sabiam nada sobre aqueles dois.

Momoi e Kuroko inconscientemente se aproximaram um do outro, e se não fosse a tensão ali eu com certeza iria brincar com isso. Por outro lado, Aomine demonstrava um receio grande, visto pela rigidez que seu corpo tomou no momento que eles apareceram.

– E não é que todos os amiguinhos do Ryouta vieram? Sem contar com essa carne fresca... – o rapaz me secou, dos pés a cabeça.

Percebi que Momoi ficara esquiva desde o segundo que a garota se aproximou, assim como Kuroko. Kagami e eu estávamos desconfiados de todo o clima que se instaurou, mas ainda sem saber quem eram.

– O que estão fazendo aqui? – Aomine fechou a cara

– Apenas nos divertindo, Daiki. Quer nos acompanhar? – a menina se aproximou dele, passando a mão por seu peitoral.

Eu fiquei indignada com o atrevimento dela, talvez até uma pontada de ciúmes, mas principalmente o modo como ela levava aquilo naturalmente. Fui tirada de meus pensamentos por uma movimentação em minha direção.

– Você está convidada também, linda – o cara aproximou o rosto de mim com a boca entreaberta.

– Eu passo – não movi um centímetro, apenas continuei encarando-o friamente, deixando toda minha raiva transparecer.

– Brincando com o perigo, é? Gostei de você... – ele tentou pegar em uma mecha do meu cabelo, mas desviei instantaneamente.

– Por que está me tratando com tanta frieza, gato? A bonequinha é sua acompanhante hoje? – a garota tombou a cabeça, com um sorriso cínico no rosto – Eu achava que você gostava das malvadas...

– Haizaki, você não é bem-vindo aqui – Kuroko interrompeu o clima pesado se impondo no atrito.

– Ele está comigo hoje, relaxem – a garota falou, se virando para o resto de nós

– Então os dois não deveriam estar aqui – Aomine falou, mantendo a voz firme

– Viu só? É assim que ele vai te tratar depois que te comer... – o garoto me puxou pela cintura, me fazendo colar nele de forma forçada – Comigo vai ser diferente.

– Ei, solta ela! – Kagami vociferou, pronto para interferir

– Fique longe – Aomine agarrou um dos braços do cara, que soltou imediatamente e ficou encarando o moreno

– Quer resolver isso fora das quadras, é? – o tal do Haizaki perguntou, como se estivesse louco para que a resposta fosse afirmativa.

– Vamos nos acalmar, garotos, estamos numa festa! – a menina disse, rindo sarcasticamente – A gente se vê por aí, Daiki.

Dito isso ela piscou para ele, que nem se mexeu. O garoto me dirigiu uma última avaliação, como se memorizasse meus traços, lançando um sorriso malicioso. Por fim, os dois saíram e foram desaparecendo no meio da multidão.

– Ina! Você está bem? – Momoi perguntou, visivelmente preocupada

– Eu? Tô ótima. Aquele cara que não estaria se não tivesse se soltado de mim. – comentei, indiferente, deixando a raiva fluir por meus dedos que ainda estavam cerrados em um punho pronto para ser usado.

– Sério que você ia bater nele? – Kagami ficou atônito, notando que eu estava toda enrijecida

– Na verdade eu pretendia algo como um nocaute... – estalei os dedos e dei um meio sorriso, tentando quebrar o climão.

– Eu nunca quero ter problemas com você, Ina – Kuroko comentou, fazendo os rir e me ajudando a amenizar o ocorrido.

Enquanto eles continuavam com algum assunto aleatório, notei que Aomine ainda estava avoado, com a cabeça longe. Resolvi interferir, já que não queria que ele perdesse a noite por uma coisa dessas que, aliás, eu nem sabia o que era.

– Eu devo perguntar ou deixar quieto? – disse perto de seu ouvido, de modo que a conversa fosse restrita a nós dois.

– May. Ela é amiga do meu ex-colega de equipe, o Haizaki. Eu saí com ela uns meses atrás. – ele fez uma careta, como se lembrasse da época – Momoi a odeia, diz que ela me fez mal e que se não fosse Kagami ter aparecido em minha vida eu continuaria na merda.

Observei suas reações uma por uma e deduzi que boa coisa não devia ser, ainda mais para o resumo ser tão direto. Resolvi melhorar a situação, afinal não eram alguns minutos que acabariam com horas de diversão.

– Que bom que o Taiga apareceu, então – sorri levemente, voltando a atenção para nosso grupo.

Não perguntei mais nada, vi que ele não gostava de mencionar o assunto e já estava se abrindo demais. Ele pareceu contente por eu não ficar interrogando ou enchendo o saco dele sobre o ocorrido. Aomine me devolveu um sorriso mínimo, também se dirigindo por inteiro ao outros.

Mais algumas horas se passaram e a música continuava boa. Já havíamos comido um tempo atrás e tenho que dizer, estava tudo uma delícia! Acho que seria uma versão de festa junina japonesa porque a variedade de comidas dispostas nas barracas era enorme.

Avistamos Murasakibara e Himuro em uma delas e eles nos deram um feedback de quais os melhores pratos da noite, já que haviam provado todas duas vezes. Por mais que os dois nos tratassem super bem percebi um clima esquisito entre o cabeludinho com cara de neném, que eu havia sido recém apresentada, e Kagami. Também reparei em algo entre o cabeludão com jeito de neném e Kuroko. Ok, eu não era muito boa com apelidos.

A música variou bastante nesse meio tempo. De batidas frenéticas a mais calmas, a DJ agradou a todos os gostos e o repertório parecia ser infindável.

Depois de algumas horas eu já estava arfando de tanto me exercitar dançando. O suor que normalmente sairia do meu corpo era barrado por um ventinho frio que vez ou outra penetrava a multidão, refrescando e dando mais pilha a todos.

– Vou buscar algo pra beber, alguém quer ir junto? – perguntei fazendo gestos exagerados, por causa da euforia da última música

– Eu vou – Aomine prontificou

Fomos até o outro lado do espaço, numa fila de comprar fichas. Estávamos discutindo alguma coisa sobre bebidas e tentando descobrir o que tinha à venda ali quando de uma música pop americana aleatória, começou a introdução de uma música brasileira, porém conhecida internacionalmente também.

– Mas o que... – virei-me para o telão imediatamente, a tempo de ver o nome do autor e da música se esvaecendo – Não acredito! – comecei a rir alto

Peguei as duas fichas rapidamente e quase arremessei o dinheiro pro cara que estava no caixa, guardando-as no bolso imediatamente. Grudei no moreno, o puxando para fora dali até um espaço mais a diante.

– Ei, ainda não pegamos nada! – ele resmungou enquanto era arrastado, mas se calou logo em seguida.

O posicionei de frente pra mim, peguei suas mãos colocando uma em minha cintura e outra mantendo entrelaçada com a minha. Apoiei a mão que me sobrou em seu ombro e juntei um pouco nossos corpos.

É bem isso que vocês tão pensando mesmo.

– Dança comigo – pedi num tom quase que autoritário, começando a movimentar meus pés no famoso dois pra lá e dois pra cá.

Pude ver um enorme ponto de interrogação em sua cabeça, ainda mais com o movimento que eu fazia com nossos corpos. Mas ele não deu o braço a torcer, se esforçando um monte pra me acompanhar. Quem diria, Aomine estava dançando Michel Teló.

Eu não era lá uma das maiores fãs de sertanejo do mundo, mas quando se é estrangeiro, qualquer gostinho de terra natal é bem vindo. E eu morava no interior, né... A cada esquina tinha uma loja, um bar ou um carro rebaixado tocando essas coisas e acabei me acostumando.

Meu par estava empenhado e concentrado nos pés durante os primeiros versos, mas logo pegou o jeito. A partir daí ele ficava de frente para o telão, acompanhando a legenda da música que passava em japonês com a tradução da letra, enquanto eu cantarolava as partes que eu sabia.

– Fuu-dji-dii-nya...? – ele se arriscou, sussurrando em meu ouvido para que eu o escutasse.

– Fugidinha. Gi, não di. Não vai confundir, por favor – gargalhei, calculando o que aquela troca de sílabas poderia causar para um brasileiro desavisado

Ele riu por eu ter achado graça e manteve um olhar fixo em mim a partir daí. Parecia que estava entrando em um lugar novo, descobrindo sensações que não sentia antes. Ao menos foi o que eu deduzi, a partir das minhas próprias reações frente aquela proximidade estranha.

A música logo acabou, mas não sei ao certo o motivo, não nos separamos. Ouvimos a DJ anunciar que tocaria algumas músicas mais calmas, e então Will You Still Love Tomorrow, versão da diva Amy Winehouse começou a tocar.

Olhei para o moreno em minha frente, tentando decifrar seu olhar, sem sucesso. Julguei que ele devia estar desconfortável então afrouxei meus braços aos poucos, mas fui impedida por suas mãos que me mantiveram ali

– Vamos... Mais uma? - ele perguntou, receoso pela minha reação

Assenti e sorri baixo. Pelo visto eu não era a única que tinha deixado a bebida de lado e não conseguia explicar aquele momento que estávamos. Envolvi meus braços em seu pescoço e ele colocou os dele na minha cintura.

Aomine não fitou mais o telão em nenhum momento, estava muito ocupado me fazendo morrer de vergonha por ficar me encarando intensamente.

– Que foi? – perguntei, rindo sem graça com a constante observação

– Sei lá... Você parece diferente hoje.

– Estou igual desde o dia que cheguei aqui – constatei calmamente – Quem sabe você não esteja diferente?

Ele ponderou, sem responder de imediato. Ficamos ali embalados em músicas calmas por um bom tempo, sem dizer nada.

– Sabe, nós nunca mais falamos sobre aquilo... – ele começou, e eu finalmente entendi o motivo de seu silêncio.

– O beijo? – perguntei

– É – ele parecia envergonhado

– Acho que no fundo eu tenho medo de falar sobre isso... – ri, nervosa

– Por que?

– Eu odiaria ouvir que você quer se esquecer dele novamente. – confessei, apoiando a cabeça em seu ombro de modo a me esconder de seus olhos inquisitórios.

Já não tinha mais razão na minha fala, apenas um misto de sentimentos que insistiam em escapar dos meus pensamentos, de tão intensos que eram. Eu tinha acabado de admitir que aquele beijo havia significado algo pra mim! Pela primeira vez alguém me fez sentir algo além de um simples tesão por proximidade, era algo como desejo e vontade de tê-lo mais perto.

Comecei a corar com o rumo que minha cabeça tomava e, em resposta, ele apenas estreitou nossa distância, ficando num abraço só que dando pequenos passos para os lados vez ou outra.

A respiração do moreno era calma e quente, me aquecendo levemente a lateral da nuca. Fechei meus olhos, querendo aproveitar mais o momento. Numa hora dessas eu já nem me importava com o que iria sair disso, eu apenas queria continuar ali o máximo de tempo que eu pudesse, eternizando o momento em minha memória.

A música trocou para “More than words” e senti a tensão de seus ombros desaparecerem enquanto ele suspirava fundo, como se acalmasse a mente.

– Gosto dessa música – ele sussurrou com um meio sorriso, colocando seu queixo em minha testa e respirando lentamente.

O perfume dele era viciante, fazendo com que eu não tivesse outra necessidade senão permanecer onde estava. Eu não sabia o que estava acontecendo conosco, era uma série de ações e reações inexplicáveis, mas que de alguma forma pareciam naturais. Aquele era o lugar que deveríamos estar, sem mais nem menos.

– Não quero me esquecer daquela noite. – eu disse, olhando em seus olhos com uma coragem que eu desconhecia.

– Então vamos nos lembrar – comentou, num tom quase inaudível com a voz rouca de sempre.

Nos aproximamos, cara a cara, e com delicadeza eu passei uma mão na parte de trás de sua cabeça fazendo com que as mexas de cabelo azuis se remexessem por entre meus dedos em uma espécie de cafuné, enquanto meu polegar acariciava a pele lateral de seu rosto.

Ele também removeu uma de suas mãos do lugar depois da minha iniciativa, apoiando-a no meu queixo e olhando descaradamente para meus lábios, já levemente entreabertos com a intensidade da situação. Esse olhar... Só esse olhar me fez perder totalmente o juízo.

– Preciso refrescar minha memória – eu falei com um meio sorriso, sem conseguir controlar mais minha vontade.

Parecíamos hipnotizados pelas feições mínimas um do outro, e aquele pedido foi só o desfecho para nos unirmos em um beijo calmo, mas repleto de sentimentos.

Meu corpo estava estático, entretanto minha mente girava com aquilo. O toque dele tão macio e contagiante me fazia perder o chão. Todos os meus sentidos apontavam para o ser em minha frente, que ainda me beijava.

Nos separamos, relutantes, mas ambos pareciam precisar de uma checagem de realidade pois estávamos embriagados um com o outro. Olhei para ele tentando decifrar sua reação, mas apenas vi um reflexo da minha, ou seja, muitas coisas se passando ao mesmo tempo para resumir a uma só.

Sorri, involuntariamente, ao passo que ele me aconchegou em um abraço. A multidão parecia não existir e erámos só nós dois ali.

– Tsc... – ele resmungou, dando um sorriso em minha direção

– Que foi? – perguntei, duvidosa

– Veio pra cima de mim com tudo – me devolveu um sorriso malicioso

– Nem vem, você que olhou pra minha boca – argumentei, arqueando as sobrancelhas

– E daí?

– Regra básica: olhou pra boca quer beijar – concluí fazendo ele cair na risada

– De onde você tira essas coisas? – questionou, me puxando para si perigosamente

– E não é verdade? – retruquei, olhando para seus lábios sugestivamente

No mesmo segundo ele deixou outra risada escapar e me tomou em um beijo um pouco mais eufórico e necessitado.

Depois de uns minutos de exercício labial, nos separamos para retomar o fôlego. Assim que ampliei o alcance da minha visão reparei que algumas pessoas nos olhavam e outras até cochichavam, me deixando bem desconfortável.

Inconscientemente abaixei a cabeça e tapei meus olhos com o cabelo, tentando sair da linha de frente daquelas pessoas bisbilhoteiras. Pelo modo com que nos observavam, coisa boa é que não falavam.

Notando o que se passava em minha mente, o moreno deu uma averiguada geral no ambiente para depois tirar uma das mechas de cabelo da minha visão. Seus olhos encararam os meus, como se ele me confortasse ao mesmo tempo que achasse graça do que eu pensava.

– Ina... – Aomine sussurrou em meu ouvido, discretamente – Quer dar uma fudidinha?

– É o que!? – exclamei ficando vermelha, olhando para os lados procurando alguém que pudesse ter ouvido aquilo, mesmo que não fosse entender o idioma.

– Fudidinha – ele sorria marotamente, não entendendo minha vermelhidão ou interpretando-a errado.

– Fugidinha. Gi. Pelos deuses do Olimpo, gi, não di. – expliquei, falando mais baixo ainda.

– Tá, tanto faz – ele gargalhou – Quer ou não?

– Vamos logo, garanhão – respondi, percorrendo o lugar com os olhos em busca de uma maior isolação

– Então vem – ele me fez sinal com a cabeça, para eu o seguir – E depois você me explica o que é fudidinha.

Voltei a enrubescer, mas nem tive tempo para reclamar. Ele nos levou para o caminho da saída, mas , assim que assegurou que ninguém estava nos vendo, fez uma curva brusca e discretamente pegou meu pulso, nos colocando a caminho das quadras que estavam desertas.

Apertamos o passo até chegar numa espécie de área de descanso, com bebedouros e tudo mais. O som da festa ainda era audível, mas não chegava a nos incomodar em nosso estado de privacidade.

– Até que enfim saímos daquele burburinho. – suspirei, relaxando o corpo

Em um ato inesperado, ele me colocou contra a parede e se inclinou um pouco, ficando na altura dos meus olhos com os braços apoiados na parede atrás de mim. Seu sorriso era brincalhão mas seus olhos demonstravam a veracidade de tudo que começou a dizer.

– Eu procurei aquela música que você cantou outro dia...

– Qual música? – perguntei, ainda atônita pela súbita ação do moreno

– Então quer dizer que eu sou um “negão de tirar o chapéu”? – ele traduziu, se aproximando perigosamente de mim

Vasculhei mentalmente minha memória até chegar na noite do tal beijo, pra variar. As imagens de eu sambando me vieram rapidamente, assim como uma vaga lembrança de um olhar de extrema curiosidade do moreno naquele momento.

– Talvez... Mas não vá se gabando – disse, sentindo meu coração palpitar.

– Mesmo sem saber você já estava preparando o terreno, é? – ele examinava minhas reações a centímetros de distância

– Eu disse que se não quisesse te beijar, você não teria dentes agora – respondi, sussurrando em seu ouvido e entrando em sua brincadeira

Sem falar nada, apenas nos olhamos e achamos no outro o mesmo desejo de nos beijarmos.

Meio milhão de coisas passavam pela minha cabeça. O modo como ele me beijava com intensidade e respeito, como se quisesse satisfazer suas vontades sem me prejudicar, a velocidade descompassada de sua respiração batendo em minha bochecha, sua língua quente impacientemente conhecendo cada canto da minha boca...

Uma de suas mãos estava apoiada na minha cintura, enquanto a outra segurava meu rosto, aquecendo-o do vento gelado que vez ou outra nos rodeava. Nos separamos novamente e eu abri meus olhos antes que ele. Assim que o fiz, vislumbrei por um instante o meio sorriso que ele tinha nos lábios inchados, me fazendo sorrir por um momento também.

Ficamos apenas nos olhando, de vez em quando eu remexia seus fios azuis, assim como ocasionalmente ele desenhava em minha bochecha com seu polegar. Em nenhum momento desfizemos a proximidade, até porque a maioria do tempo nós ficávamos escutando os estalos de nossos lábios em conjunto.

Comecei a rir sozinha. Quem diria que a Marrom seria o motivo de eu cair na pegação com Aomine Daiki.

– Nós devíamos voltar, ficamos um bom tempo fora. – comentei, depois de mais alguns, muitos, beijos

– Tudo bem, mas antes... - ele puxou meu braço, antes que eu pudesse sair de perto dele

– Que? – questionei

– Eu gostei muito... – Aomine procurava as palavras, mas parecia que todas haviam lhe fugido – Disso.

Seus olhos me fitaram numa intensidade que eu desconhecia, assim como o que se passava por detrás deles. Apenas transmitiam uma seriedade em conjunto de serenidade, resultando num estado de paz e calmaria inédito pra mim. Eu encarava cada ínfimo de reação, guardando na memória desde a angulação de suas sobrancelhas até o compasso de sua respiração.

Algo me dizia que eu não conseguiria esquecer esses detalhes tão cedo.

Assenti com um sorriso no rosto retribuindo o que ele possuía, recebendo um beijo rápido na bochecha e um leve afagar de cabelos. O modo carinhoso como ele estava me tratando era novo pra mim e eu acabei ficando sem saber como responder ou agir frente a isso, ainda estava processando toda a situação.

Lentamente nos endireitamos e seguimos para o trajeto inverso. Caminhamos de volta para o pátio central, ele andava na frente e eu o seguia, não trocando nenhuma palavra ou contato físico durante todo o percurso.

Ao avistarmos o nosso pequeno grupo ele diminuiu a velocidade e me dirigiu um olhar pensativo, mas em questão de segundos já voltou com sua feição desleixada e preguiçosa que eu tanto conhecia.

– Até que enfim vocês apareceram, a treinadora quer que... – Kuroko começou

– Onde estavam? – o ruivo interrompeu seu amigo, encarando-nos com suspeita.

– Sozinhos. – Aomine respondeu indiferente, deixando a interpretação chegar para cada um em seu próprio tempo.

– Peraí... Vocês... Vocês...? Vocês! Eu não acredito, bem debaixo do meu nariz! – Kagami exclamava, chocado com a notícia.

– Para de criar caso, Taiga... – respondi corando um pouco

– Que lindinhos! Já estava na hora desse preguiçoso tomar rumo...

– Do que você tá falando Satsuki?!

– Enfim! – eu disse, encerrando as especulações – Kuroko, o que você falou sobre a Riko?

– Ela pediu para que o time se reunisse para estarmos juntos quando o sol nascesse. Além disso, não chegamos a ficar um tempo considerável com eles então provavelmente vamos ficar por lá até o encerramento.

– Nossa, verdade... – comentei pensativa

– E você nem sequer cumprimentou seus colegas de equipe, Ahomine! Temos que passar um tempo com eles também. – a rosada argumentou, não dando espaço para questionamentos.

– Sendo assim, nos vemos outra hora – Kuroko prontificou e já cumprimentou os dois

Kagami foi logo atrás dele, demorando-se um pouco mais ao encarar o moreno. Este por sua vez estava entediado olhando para a música que passava no telão, só saindo desse transe quando eu me movimentei, indicando minha saída.

Nos despedimos com um aceno, e ele parecia sem jeito para fazer algo além disso. Parecia que não sabia como se portar na frente dos outros ou talvez só estivesse processando o que havia acontecido momentos antes.

Ao passar por ele, em um súbito acesso de coragem, fiquei na ponta do pé e depositei um beijo rápido em sua bochecha, saindo sem conferir sua reação. Depois de alguns passos ousei olhar para trás, a tempo de vê-lo seguir a rosada com as mãos no bolso e um pequeno sorriso preencher seus lábios.

Fiquei com pensamentos aleatórios na cabeça, incluindo um micro sorriso no rosto. Ah, fala sério, eu tinha acabado de sair da seca e o cara era super bonitão! Óbvio que eu ia ficar sonhando com ele por mais um tempo. Por incrível que pareça eu não estava preocupada com o famoso “nós” e o que iria acontecer depois, só queria curtir o momento.

– Claro que Riko não precisa ficar sabendo disso, não é mesmo? – sugeri, no meu nível máximo de meiguice.

– Ué, vai ficar de segredinho? – Kagami arqueou a sobrancelha

– Foi só uma noite, não precisa deixar ela encucada a toa. – desconversei

– Só porque os jogos estão se aproximando e ela tem que estar bem focada, ouviu? – o ruivo respondeu, me lançando um olhar sério

– Por focada você quer dizer sem estar presa por homicídio, Kagami – Kuroko pontuou, nos fazendo rir

Eu realmente não duvidava que a treinadora fosse capaz de encurralar o moreno em uma rua qualquer e o enchesse de perguntas, ameaças e sei lá mais o que. Mesmo que tenha sido só umas beijocas, Riko conseguia ser intimidadora normalmente, mas quando queria ela era quase uma protagonista de filme de terror psicológico.

Encontramos o pessoal da Seirin, eles estavam super empolgados. Riko e Hyuga ficavam se entreolhando o tempo todo, corando, e me segurei pra não juntar os dois ali mesmo, afinal eu sabia que Riko já estava com uma lista de motivos pra me matar no dia seguinte. Os demais dançavam de acordo com a batida conversando e rapidamente nos enturmamos com o time.

Passadas várias músicas, danças e cantorias, os garotos já se acostumavam com meu estilo ousado da noite. Dancei com quase todos ali, excluindo o capitão, que eu julguei extremamente inapropriado devido ao clima que ele e a treinadora estavam. Para minha decepção, eles não tascaram nem um beijinho até o momento final do evento.

O céu já estava clareando e algumas pessoas haviam desistido de ficar até o presente momento. Kise assumiu o palco mais uma vez, anunciando que em instantes o sol nasceria e os primeiros raios de luz entrariam por ali. Nos telões, imagens de diversos pontos da cidade mostravam o nascer do sol de diversos ângulos, dando-nos uma visão privilegiada.

Olhei de relance para as pessoas a minha volta, a procura de um rosto em específico. Pousei a visão diversas vezes, mas não encontrei quem eu queria.

– Mais pra direita, irmãzinha. – Kagami segurou meu rosto e guiou até o local que eu tanto procurei

– Como sabia? – questionei

– Eu te conheço, esqueceu? – ele deu uma risada

– Obrigada, Taiga – sorri ternamente, ainda mantendo os olhos no moreno distante.

– Ele tem que te fazer sorrir assim mais vezes – o ruivo comentou, beijando o topo da minha cabeça e me abraçando, olhando para o telão.

A posição que eu estava era perfeita. Enquanto eu apoiava a lateral do rosto no peito dele, meus olhos ficavam vidrados na feição preguiçosa que eu tanto observei durante a noite. A voz do anfitrião da festa me fez dispersar e mirar aquela cabeleira loira com o microfone em mãos.

– Espero que essa noite tenha sido inesquecível pra todos vocês e que tenham presenciado momentos únicos em suas vidas – Kise falou, olhando para toda a multidão ainda presente.

Desviei minha atenção do palco por alguns segundos apenas para meu coração descompassar. Meus olhos foram em direção ao moreno novamente e assim que foquei nele notei que meu alvo também me fitava.

Meus sentidos foram tomados pela lembrança do nosso beijo, desde seu cheiro até as sensações que eu sentia quando estava em seus braços. Eu estava embriagada de uma droga que eu não fazia ideia dos efeitos colaterais.

Tentei disfarçar minha situação, olhava para os lados e demonstrava interesse nas conversas do pessoal a minha volta. Mas, de um jeito ou de outro eu acabava prendendo meus olhos nos dele. Não é como se ele estivesse fazendo diferente, na verdade o preguiçoso nem se dava o trabalho de socializar com seus colegas de time. Daiki só ficava com as mãos apoiadas atrás de sua cabeça, olhando desinteressadamente para tudo que lhe cercava.

Nos momentos ínfimos onde nossos olhares se encontravam sua expressão mudava levemente, como se contra sua vontade, colocando em seu rosto alguma coisa que eu não conseguia compreender. Não sorríamos nem transmitíamos nenhuma comunicação, somente tentativas mútuas de ler a mente do outro, sem sucesso.

Passados minutos, os raios de sol finalmente apareceram, sendo acompanhados de uma música de encerramento e muitos aplausos. As imagens que eram mostradas estavam simplesmente de tirar o fôlego, podendo notar detalhadamente cada linha que a estrela central do universo nos direcionava.

Por fim, a multidão se dispersou por completo e acabei perdendo Daiki de vista. Não deu nem tempo pra ficar presa em pensamentos, o time da Seirin já seguia o fluxo em direção aos portões.

– Descansem bastante, segunda eu não quero nenhuma desculpa pra pegar leve no treino!

– Sim senhora. – respondemos em uníssono.

– Foi divertido – ela completou tirando o tom sério de sua voz

– Ainda bem que nos convenceu de vir, Riko. – Hyuga comentou tentando se fazer de indiferente, mas sem sucesso, pelo menos aos meus olhos.

– Vamos então, gente? – perguntei, notando que o quase-casal não tomava atitude em nada e só criava um clima esquisito cada vez maior.

– Você não vai dormir lá em casa, Ina? – ela questionou, pega de surpresa

– Na verdade não... Mas não se preocupe, tenho certeza que o capitão pode te acompanhar até em casa, certo? – sorri para o rapaz em questão, ignorando sua vermelhidão repentina.

– Peraí, eu também moro praquele lado e... – um dos mais novos começou a falar e eu me apressei em dar uma boa cotovelada no tórax da criatura.

– Esqueceu que vocês iam fazer a noite do pijama dos calouros? Não queremos interromper, não é? – ameacei, encarando-o no meu melhor olhar mortífero.

Assentindo, o pequeno grupo se retirou rapidamente, sendo seguido pelo restante do time. Por fim sobramos o quase-casal, Kagami, Kuroko e eu. Nos entreolhamos e eu tentei repassar telepaticamente meu plano de deixar os dois sozinhos e, milagrosamente, eles entenderam o recado.

Kagami foi caminhando para seu apartamento, não muito longe dali. Claro que com o tamanho daquelas pernas o tempo de trajeto praticamente se dividia pela metade, então não me preocupei com ele.

Guiei o azulado pelo braço e despedi dos dois que ficaram, falando qualquer ladainha só pra treinadora não ficar no meu pé. Na verdade, ela devia é estar agarrada no cangote do capitão de uma vez por todas, mas claro que eu não ia falar isso, apenas dei minha contribuição deixando-os sozinhos.

Peguei o mesmo transporte público que Kuroko, já que era o ponto mais próximo de nossas casas. Durante o percurso nós conversamos de tudo um pouco, tempo suficiente para descermos para a rua. Do caminho que estávamos fazendo, a casa dele era antes da minha então o acompanhei até lá.

Ao chegar na entrada de uma casa de médio porte, o azulado se virou pra mim, indicando que esta era sua residência.

Ficamos em silêncio por um tempo, o necessário para eu encarar a beleza do jardim de entrada e dos meros detalhes, coisa que eu não tinha aqui no Japão mas sentia muita saudade. Na verdade, eu não tinha problemas com minha moradia aqui, entretanto não havia como negar a falta de aconchego quando comparada à minha antiga casa.

– Fico feliz que tenha se acertado com Aomine. – ele falou, me tirando dos meus pensamentos

– Mas que coisa, vocês todos ficam falando isso como se fossemos ficar juntos pra sempre. Foi só uma noite! – respondi, dando de ombros.

– Eu posso não ter convivido tempo o suficiente com você, Ina, mas eu conheço bem o Aomine. – disse calmamente

– O que quer dizer com isso? – questionei, com a voz um pouco exaltada.

– Sei o que digo quando afirmo que você o fez feliz hoje, por mais que talvez ele nunca admita isso.

– Isso é muito coisa de novela – eu ri, debochada – Minha história não se encaixa nessa categoria, convenhamos.

– Em toda história o protagonista acaba bem, por mais conturbado que seja o desenrolo da trama.

– Estou longe de ser a mocinha e ele muito mais de ser o mocinho.

– Nunca disse que eram. Só pense mais nas coisas positivas, acho que você está se prendendo demais nos infortúnios que te aconteceram. – os olhos azuis claros do menino me fitavam intensamente – Em outras palavras, permita-se algo bom, Ina.

Dito isso, ele passou uma das mãos pelo topo da minha cabeça, por mais que eu fosse um pouco mais alta que ele. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios quando eu processei as palavras que ele havia me dito.

Kuroko tinha razão, em tudo.

– Obrigada, Tetsuya. – sorri, usando seu primeiro nome e mostrando que eu já o considerava o suficiente para aquilo.

– Até mais, Ina – o garoto sorriu, dando um último aceno antes de adentrar em sua casa.

Caminhei lentamente, absorvendo a conversa que eu tive e observando o céu já claro dando seus primeiros sinais de movimento.

Ao chegar em casa me ajeitei rapidamente para dormir. O cansaço de uma noite inteira festando bateu assim que eu deitei na minha cama. Debaixo das cobertas, peguei meu celular com o intuito de regular o despertador do dia seguinte para bem tarde. Antes de bloqueá-lo, notei o símbolo de mensagem no canto superior da tela.

Abri sem olhar quem havia mandado, mas assim que li já tive a certeza do remetente.

“Seu gosto ainda tá na minha boca e se depender de mim ele não sai tão cedo”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

UEPA, que isso minha gente? Eu sempre soube que esse moreno era garanhão...

Agora eu preciso confessar, me segurei muito pra não colocar o título como "saindo da seca" hahahahahahaha

https://youtu.be/HpyZEzrDf4c

Achei essa aqui a cara do momento, Cobra Starship né não, migos?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fate" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.