Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 13
Missão Impossível


Notas iniciais do capítulo

Olha a festa chegaaaando.... É mentiraaaaa!
Brincadeira, no próximo já ta aí.

https://youtu.be/3LMVJ2xd1g8



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"This is just a journey, drop your worries you are gonna turn out fine"

Na sexta-feira eu estava quase 100% e já estava autorizada a andar sozinha pelas ruas, coisa que eu nunca havia feito desde que me mudei pra cá. Era o último dia que eu teria que usar o compressor no joelho o tempo todo, então eu estava um pouco menos carrancuda. Claro que depois que eu voltasse para as quadras, o que seria em alguns dias, eu teria que usá-lo vez ou outra.

Taiga e Kuroko caminhavam a meu lado lentamente, estávamos todos meio passados depois de algumas aulas de conteúdo extenso. O clima era agradável, frio, algo que eu nunca me cansaria de presenciar.

Chegamos às quadras a tempo de ver o time todo sentado nas arquibancadas com Riko à frente. Eles ainda estavam com roupas do uniforme, demonstrando que não haviam se trocado para jogar.

– Até que enfim vocês chegaram! Tenho um aviso pra fazer – a treinadora falou

– O que...? – olhei em direção ao capitão, mas ele parecia tão perdido quanto o resto de nós.

– Hoje não teremos treino. O motivo na verdade é algo bem importante que temos que resolver o mais rápido possível.

– Qual o problema, treinadora? – um deles perguntou.

– Eu descobri por fontes confiáveis que vocês... – ela suspirou pesadamente, nos deixando preocupados – Pretendiam ir de calça de moletom e camiseta no evento da Kaijo amanhã.

Riko terminou de falar e sua aura negra começou a aparecer aos poucos sobre sua cabeça. Os garotos não sabiam o que fazer e procuravam um rosto traidor entre eles, até que encontraram um sorriso culpado no rosto do mais óbvio.

– Kyoshi... – Hyuga sibilava, lançando um olhar mortífero em sua direção.

– Eu não sabia que era um problema, só fiz um comentário e ela ficou toda estranha... – ele se defendeu

– Silêncio! – Riko gritou, fazendo todos se calarem – Bom, agora eu sei que vocês não passam de uns mulambentos fora das quadras.

A mais pura verdade. Tudo bem que eles não tinham muito pra onde ir fora das atividades da escola, mas eu já havia notado também que nenhum deles tinha muito gosto para boa aparência nas vestimentas.

– Meninos... – neguei com a cabeça, rindo.

– Você também não me escapa, Ina! Acha que eu não sei que você também não tem roupa pra sair? – ela me intimou, apontando.

– Mas Riko...

– É isso! Hoje vocês terão o restante da tarde para arrumar roupas decentes para amanhã. Não me interessa se vão comprar, pegar emprestado ou fabricar com o próprio cabelo, eu quero meu time bem vestido! – as ordens, camufladas de instruções, foram ditas.

– Sim senhora! – responderam, em uníssono.

– Por que essa preocupação tão de repente? – questionei

– Não é óbvio? Todas as escolas vão estar lá e nós somos um time em ascensão! Olhares se voltarão para nós e quero que eles comentem coisas boas a nosso respeito. E isso inclui vocês estarem, ao menos, apresentáveis.

Até que ela tinha um ponto. Riko não era de ligar muito para aparência, mas, realmente, se fossemos chamar alguma atenção amanhã teria que ser no aspecto positivo. Qualquer coisa que saísse sobre nós tinha que ser boa, quem sabe atraindo mais publicidade para a própria escola.

Estava decidido, deixamos as quadras e nos separamos. Uns foram para casa procurar algo para aproveitar em seus armários, outros foram atrás de amigos para pedir roupas emprestadas. O evento não era formal nem nada do tipo, mas pela popularidade da divulgação e considerando que Kise estava promovendo, não seria demais pensar em algo arrumado.

Riko e eu fomos para o centro numa região conhecida por roupas femininas para a ocasião. Várias lojas depois, eu ainda estava sem sacolas consideráveis. Pra não dizer que não comprei nada, eu havia adquirido um sapato e uma meia calça. Só. Riko já tinha quase tudo de seu look pronto, mas era outra história pra ela.

Convenhamos, meus 1,76cm não eram muito acessíveis para a normalidade japonesa feminina. Sendo assim, era muito difícil encontrar roupas que servissem imediatamente sem precisar de uma costureira para consertar, o que estava fora de cogitação pela proximidade da data.

– Sinceramente, eu não sei se vou encontrar algo... – suspirei, desanimada ao sair de mãos abanando depois da décima loja.

– Não fale assim! Vamos encontrar uma roupa pra você arrasar o coração dos meninos – ela disse confiante, mas depois ponderou um pouco – Mas talvez você queira arrasar o coração de um garoto em específico...

– Que? Que história é essa? – fiquei vermelha com a insinuação

– Não adianta disfarçar, você é uma péssima mentirosa, Ina – ela riu

Mudei de assunto rapidamente, a puxando para uma loja. Lá eu achei várias coisas bonitas, mas na hora de provar não me saí muito bem. Pra variar.

Eu estava dentro do provador com a última peça em mãos, pensando se valia a pena experimentar e possivelmente me decepcionar novamente, quando escuto vozes familiares.

– Você viu aquela aberração da Ina aqui? – a piranha de Seirin falou

– Não acredito que ela está tentando se arrumar, até parece que alguma coisa vai dar certo nela! – sua amiga completou

– Né? – a primeira riu – Não importa o que ela vestir, não vai conseguir disfarçar aquele tamanho gigantesco que ela tem.

– Será que ela é afim de alguém?

– Deve ser, mas não faz diferença. Não é como se algum cara olhasse pra ela e a desejasse, fala sério!

As duas riam descaradamente, cada uma em um provador. Respirei fundo, deixei as roupas ali mesmo e saí para a frente da loja. Avistei Riko na fila gigantesca para pagar e murmurei qualquer coisa, indicando que esperaria do lado de fora. Notei um olhar confuso em minha direção, provavelmente ela me faria um questionário depois.

Já do lado de fora, eu estava cabisbaixa, deixando que meu cabelo caísse em meu rosto. Achei um banco qualquer e joguei minhas coisas nele com raiva. Sentei e apoiei o cotovelo em minhas coxas, colocando as mãos entrelaçadas em minha testa tentando esconder minha feição.

Como pode existir pessoas tão más assim? Elas só sabiam criticar e criticar, sempre atirando palavras pra me colocar pra baixo. Depois de ouvir aquilo tudo, a vontade que eu tinha era de nem ir mais ao evento de amanhã.

Elas estavam certas, eu não era atraente o suficiente para chamar a atenção de qualquer garoto mesmo se eu quisesse, ainda mais que eu não tinha nada para vestir. Era um desastre total de feminilidade e não tinha salvação à vista.

Falando em vista, de canto de olho percebi certa gerente da Touo se aproximando, depois de exclamar para meio mundo ouvir como ela estava surpresa em me ver ali também.

– Oi, Ina! – a rosada acenou animadamente, vindo em minha direção.

– Momoi – a cumprimentei, sem levantar os olhos.

– Fazendo compras também? – ela se sentou ao meu lado, ainda não percebendo que meus pensamentos estavam longe.

– Tentando... – murmurei, mas tinha certeza que ela havia escutado.

– Combinei de encontrar o Dai aqui, eu sabia que ele ia matar o treino de qualquer forma então achei melhor ajudá-lo – ela comentou checando o celular, puxando papo comigo.

– Não sabia que ele gostava de comprar. – falei.

– Pelo contrário! Ele só vem até o centro quando tem um objetivo em mente. Por via das dúvidas eu o acompanho, pra não deixar ele comprar nada estúpido.

– Ah sim. – respondi educadamente, mas minha voz soou vazia e ela percebeu.

– Ina, tá tudo bem? – ela perguntou se virando para me fitar de perto, buscando meus olhos.

– Por que tem tantas pessoas ruins no mundo, Momoi? Qual é o objetivo de ficar incansavelmente colocando o outro pra baixo? – depois de um tempo em silêncio, respondi num desabafo.

A rosada pareceu surpresa com minha súbita abertura, mas nada respondeu. Não é como se ela tivesse muito com o que se preocupar, tinha boa aparência, forma e visibilidade, sendo bem sociável com os meninos, pra não dizer que tinha o sexo oposto a seus pés.

Quando ela estava prestes a responder alguma coisa, foi interrompida por quem eu menos queria.

– Ora, ora. Não é que o ogro da Seirin também faz compras? Estávamos falando de você agorinha...

A piranha mor debochou, dando gargalhadas irritantes junto com sua amiga. Na mesma hora meus punhos se fecharam concentrando a raiva que eu sentia daquelas duas, eu já estava ficando de saco cheio.

– Vocês não tem mais pra onde ir não? – respondi ríspida, mas ainda fitando o chão.

– Óbvio que temos! Ao contrário de você, todas as lojas daqui tem coisas que nos servem e ficam bem!

– Ei, por que estão falando assim com ela? – Momoi interferiu, vendo a minha reação, ou falta dela, frente às ofensas.

– Arranjou uma defensora agora? Ou será que as duas são mais do que amiguinhas?

Mais uma vez, elas faziam o que eu mais detestava. Eu não me importava de ser alvo dessas idiotas, mas quando colocavam algum amigo no meio, eu perdia a cabeça facilmente.

As duas gargalhavam se virando para sair, depois de nos insultarem mais algumas vezes, quando pararam subitamente.

– Eu tava te procurando, Satsuki! – uma voz arrastada familiar soou no lado oposto que as meninas estavam indo – Você por aqui, Ina?

O moreno me encarava com um olhar intrigado, provavelmente imaginando o motivo do meu semblante incomum. Momoi o encarou assim que ele se aproximou, tentando demonstrar seu desconforto na situação em que estávamos.

Enquanto isso, a cara das piranhas era impagável. Se elas conheciam Kise provavelmente já haviam ouvido falar no Aomine, afinal de contas ele era bem famosinho com as meninas da nossa idade.

– A-Aomine... Daiki?! – elas olhavam para ele e depois pra mim, tentando estabelecer uma conexão entre nós dois.

O moreno virou seus olhos desinteressados para elas, só aí notando a presença das duas. Me perguntei se ele tratava garotas aleatórias assim o tempo todo ou se ele não dava a mínima mesmo.

– São suas amigas, Ina? – ele perguntou observando o uniforme delas, mas com uma enorme monotonia.

– Sim! Somos de salas diferentes. – a piranha mor me olhou com a maior cara de falsiane do mundo, mas logo se virou para o rapaz.

– Quê? – a rosada falou, não acreditando naquilo tanto quanto eu.

– Você vai à festa na Kaijo? – a piranha ignorou-a, se colocando entre ela e o recém-chegado.

Eu fiquei abismada com a cena ali. Elas estavam me usando pra chegar perto de alguém considerado famoso, bando de babacas! Momoi parecia tão revoltada quanto eu, mas também não conseguiu proferir nada de imediato.

Levantei os olhos visivelmente irritada. Minha vontade de socar a cara delas naquele instante estava para além do meu autocontrole, e comecei a me erguer involuntariamente. Em um ínfimo de segundo, o moreno me lançou um olhar e sua mente parecia ter feito um clique.

Ele encarou Momoi e provavelmente se comunicaram com telepatia instantânea porque no mesmo momento Aomine sentou do meu outro lado e segurou meu punho cerrado, me fazendo ceder a pequena distância que eu já havia levantado e desistir da ideia de cair na porrada publicamente.

– Isso depende – disse, passando a mão envolta de minha cintura, galanteador – Você vai me dar a honra da sua presença, Ina?

– Para de graça. – respondi séria.

Esse garoto realmente tinha o dom de me colocar nos eixos rapidamente. Ele estava ignorando completamente aquelas piranhas, me dando atenção suficiente para voltar à sanidade e, de quebra, deixar elas se mordendo por dentro.

– Você é o meu gabarito, Ina... Depois de você o nível decai – ele encarou as duas dos pés a cabeça – E muito.

Momoi segurou um riso enquanto as outras duas olhavam boquiabertas para tudo aquilo que acontecia. Primeiro Ryouta e agora Daiki, mas a situação era semelhante, para não dizer coincidente, com ambos se mostrando muito próximos de mim.

O moreno não tirava os olhos dos meus, mantinha seu sorriso maroto no rosto e sua mão em minha cintura. Enquanto isso eu continuava séria, mas bem menos nervosa que antes. Eu já estava sob o sedativo natural que o moreno exalava, me deixando mais calma somente com sua presença mesmo que não soubesse disso.

– Mas que inferno, por que saiu da loja sem me esperar? – Riko apareceu irritada e então olhou para as duas garotas – Pera, eu conheço vocês...

– A gente já vai! – a piranha secundária falou, e puxou sua amiga para longe dali, provavelmente assustada com a feição assombrosa da treinadora.

– Até – ela piscou para Daiki maliciosamente, mas ele nem viu, ou disfarçava muito bem.

– Ina, quem eram elas? – Riko perguntou pensativa

– Deixa pra lá. – respondi

– E então, matando treino é? – Riko questionou, olhando diretamente para a rosada distraída em seus devaneios depois do ocorrido.

– Daiki sempre falta, mas hoje ele tinha um bom motivo para eu não ficar furiosa e até mesmo acompanhá-lo – ela dizia para a treinadora, ambas engajando uma conversa animadamente.

Olhei para o lado e a feição desleixada havia voltado para seu rosto, mas curiosamente ele não me soltou da cintura. Na verdade ele parecia pensativo, olhava fixamente para o nada e tinha a sobrancelha levemente arqueada, como se provasse que ele estava em outro mundo no momento.

– Veio comprar alguma coisa? – perguntei tentando criar um assunto entre nós, mas estava encucada por ele não ter me largado ainda.

– Oi? – disse, voltando para a realidade e ficando surpreso com sua própria atitude de não ter me soltado até então, já guardando sua mão e cruzando-a com a outra.

– Perguntei se veio comprar. – repeti, desviando de seus olhos azuis.

– É... Vim atrás de umas coisas de última hora. – ele coçou sua cabeça, sem graça – E você? – perguntou olhando para a pequena sacola que eu carregava, contendo meus sapatos e meia calça.

– Igualmente.

– Não parece muito animada com sua aquisição. – comentou

– Uma menina do meu porte tem certa dificuldade em adquirir alguma coisa por aqui... – comentei, baixando meu tom inconscientemente.

Era isso. Por mais que elas sempre acabassem levando o troco, a verdade era uma. O tamanho era um grande problema quando se tratava de me sentir feminina e eu sabia que tinha esse ponto fraco. As meninas que eu via por aí tinham sempre um jeito peculiar de agir, sendo delicadas ou gentis, além de serem tratadas de forma diferente da que eu era tratada.

– Ina, escuta só! – Riko me tirou de meus pensamentos, chamando nossa atenção para a conversa delas

– Conheço uma menina que também é alta como você, e ela uma vez me comentou que só encontrava roupas dignas em um único lugar aqui na cidade. Acho que deveria ir lá!

– Viu, eu disse que você ia conseguir se produzir para amanhã – a treinadora comentou rindo, como se eu fosse uma criança

– Ei, eu não disse que queria isso! – respondi encabulada

– Não se preocupe! – Momoi abanava as mãos em forma de despreocupação – Daiki e eu também vamos procurar algo para ele vestir, as roupas dele não prestam para impressionar uma garota fora das quadras.

– Satsuki! – o moreno a repreendeu

Olhei desconfiada pra ele. Que papinho era esse de impressionar? Se fosse conversa fiada ele não teria se exaltado tanto, então provavelmente era algo que não deveria ter saído das intimidades que ele tem com a rosada.

– Acho já vamos indo, o ritmo desse aqui é meio lento – a menina colocou as mãos na boca, segurando uma risada enquanto ele apenas revirava os olhos.

– Nós também já vamos, não é Ina?

Assenti ainda absorta em meus pensamentos. Quando eles já se viraram para caminhar, levantei o olhar na direção do mais alto e estiquei a mão como se fosse segurar seu braço, mas parei, pigarreando e arrumando a postura.

– Daiki. – o chamei, recebendo seus olhos em minha direção – Obrigada por... Você sabe.

– Sem problemas. Foi até que divertido atuar. – ele deixou uma gargalhada passar, mas desviou o olhar de mim.

– Entendo – suspirei com a ênfase que ele deu na última palavra – Bom, até amanhã.

Dito isso nos despedimos de novo e fomos para direções opostas. A rosada já o arrastava em direção a uma loja de roupas masculinas que ela avistou.

– Dai-chan não estava apenas atuando, né? – Momoi sussurrou para o outro, tão baixo que eu não sabia dizer se ela realmente disse aquilo ou se era minha imaginação.

Mas Aomine não respondeu, apenas sorriu de canto, colocando as mãos atrás da cabeça e voltando à sua feição despreocupada enquanto caminhava em direção ao comércio.

É sério que eu ia puxar ele na maior intimidade e cara de pau? Que impulsividade era essa? Não tive tempo de absorver tudo aquilo, Riko já me carregava para a loja em questão na esperança de finalmente dar um jeito nas minhas vestimentas.

Uma hora depois e eu esboçava um pequeno sorriso no rosto. Havia comprado uma saia de couro preta, uma blusa de manga comprida verde com detalhes delicados em preto, além de um batom que me dava vontade de usá-lo o tempo todo.

Já em casa, eu olhava para a geladeira com uma cara de cão sem dono, com preguiça de preparar algo para encher o estômago.

Como que por conexão telepática, o toque do celular indicando uma ligação começou a gritar no meu bolso. Era o Taiga.

– Chora. – atendi com um riso no rosto

– Vem pra cá, vou pedir uma pizza e você me ajuda com a maldita roupa.

– Quem disse que eu tô com fome? – indaguei, fingindo ofendida com a suposição

– Eu te conheço, esqueceu? Enfim, use essas pernas marombadas novas e vem logo, já vou pedir a comida.

– Mas eu nem falei que queria pizza de...

– Pepperoni. – ele completou, confirmando o meu sabor predileto.

– 10 minutos tô aí. – me dei por vencida, desligando.

Juntei somente minha bolsa sem me preocupar com o que vestir na manhã seguinte, prevendo que ia acabar dormindo no apartamento do ruivo. Eu sabia que tinha umas mudas de roupa minhas lá no apartamento dele porque as coloquei pra lavar e não estavam secas antes de eu sair, então deixei por lá mesmo.

Sim, estávamos nesse nível de intimidade. Eu me considerava em casa quando estava lá, e ele fazia o mesmo quando vinha me visitar. Já sabíamos o lugar que cada coisa ficava organizada, muitas vezes ultrapassando o conhecimento do próprio residente.

De todo modo, Taiga tinha se provado um irmão de coração pra mim, nossa relação era muito forte e completa.

Esbanjei meu joelho novinho em folha no trajeto. Como eu ainda usava o compressor pela última vez me arrisquei a caminhar rapidamente, e o resultado foi muito melhor do que o esperado. Não senti dores, incômodos e muito menos fisgadas.

Cheguei no apartamento sorridente e um pouco ofegante pela velocidade que tinha feito o percurso.

– Seu padrinho calibrou bem isso aí, hein.

– Pra você ver. – gargalhei, jogando minha bolsa no sofá – E então? – questionei ao perceber que ele estava entretido com o celular.

– Aomine quer falar por Skype, disse que Momoi o colocou numa roupa ridícula e ele queria a minha opinião. – ele franziu o cenho

– Entendi. E que horas isso?

– Acho que mais tarde

– Bom, vou tomar um banho até a comida chegar. Fique atento à campainha! – apontei para meus olhos e em seguida para os seus, em sinal de observação constante

– Sim senhora. – ele confirmou com uma continência

– A propósito... – comecei, me virando para a lavanderia

– Estão em cima da sua cama. O que não está lá tive que lavar de novo porque você usou sabão demais e estavam cheirando esquisito.

– Mas que eficiente – depositei um beijo em sua cabeça e já me dirigi para o quarto

– Alguém tem que ser né – ele comentou, fazendo graça.

Fui até o quarto e avistei apenas minhas calcinhas e sutiãs que havia lavado a mão. Poxa vida, eu realmente não me entendia muito com afazeres domésticos... Apanhei um conjunto de renda qualquer e fui para o banheiro.

Sim, eu gostava de usar renda, era algo como um padrão em mim, pra não dizer mania. As cores e formatos de modelos com renda eram mil vezes mais bonitas que as normais, além de serem bem mais macias. Sendo assim, basicamente todas as minhas peças eram desse tecido e não tinha uma ocasião especial para usá-las então as vestia diariamente.

No banho não me preocupei com o tempo, aproveitei para relaxar ao máximo. Depois do tanto que eu bati perna naquele centro hoje, eu só queria me desligar fisicamente pelo resto da noite. Quando saí do chuveiro ouvi o barulho do entregador tocando a campainha. Coloquei minhas peças íntimas sem pressa, já que Taiga era o responsável pela porta. Outra vez ela tocou e fiquei desconfiada que o ruivo não estivesse prestando atenção. Enrolei a toalha no meu cabelo apenas para ouvir a terceira, saindo do banheiro correndo a procura do maldito anfitrião.

Óbvio que ele tava dormindo do jeito que entrava em coma quando pegava no sono,ou acelerando sua surdez com suas músicas altíssimas no ouvido. Gritei alguma coisa para o cara da porta, pedindo pra ele esperar, e entrei no quarto do ruivo correndo em busca do dinheiro que guardava em sua gaveta de meias para pagar o entregador.

Passei apressada por ele que estava de fone de ouvido e sentado de costas para a porta, sem me importar de estar só de roupa de baixo.

– Nem pra escutar a campainha, poxa vida... – reclamei, revirando o cofre improvisado – Se esse cara sair daqui com minha janta eu frito você na panela e te como em fatias!

Com a quantia na mão me virei de volta para a porta, parando antes atrás dele e pegando uma de suas camisetas largas na cômoda, vestindo-a numa espécie de camisola curta.

– I-Ina! – ele gaguejou, mas não dei bola.

– Vai me dizer que essa é outra daquelas camisetas de coleção? Só vou usar pra abrir a porta! – terminei de dizer, passando a cabeça pela gola e o olhando de frente.

Meus olhos encontraram seu rosto enrubescido, mas parecia estar com vergonha de outra coisa não de si. Foquei minha atenção no plano de fundo em suas costas e percebi que ele se movia. Com um pouco menos de distração, consegui visualizar uma pessoa em tela cheia no computador, e aí foi a minha vez de ficar um pimentão.

Aomine me encarava boquiaberto da tela do computador.

Pelo visto ele estava observando desde a hora que eu entrei só de roupa de baixo até agora, já que seus olhos pareciam esbugalhados e suas sobrancelhas relaxadas. Só faltou escorrer uma baba pelo canto dos lábios, mas não esperei o suficiente para ver se isso ia acontecer mesmo.

Resmunguei qualquer coisa sobre buscar a comida e fui pra sala ainda atordoada, sem olhar para trás.

Por que qualquer sinal de que o moreno pudesse me ver como uma garota me deixava boba? É quase como se eu também duvidasse que ele fosse um cara... Será... Não, não pode ser. Mas talvez tivesse uma pequena possibilidade de eu estar fazendo com ele o que ele faz comigo?

Quem sabe em um universo alternativo Aomine estivesse tão frustrado quanto eu por não reconhece-lo como um cara, e sim como um amigo ou ser assexuado. Afinal de contas, por mais que eu tentasse havia momentos que simplesmente meu corpo falava por mim e eu me perdia em pensamentos maliciosos... Será que isso acontecia com ele também?

Atendi a porta e nem dei bola pro que o entregador falava. Em alguns minutos eu já tinha a pizza em mãos e me voltava para a cozinha. Observei Kagami já se sentando à postos, pronto para comer.

– Você não tava numa ligação com ele? – perguntei colocando a nossa janta na mesa anteriormente arrumada por ele.

– Estávamos só testando a conexão, da última vez ficou meio instável. – respondeu, abrindo a caixa da pizza – Depois de comer eu ligo de novo.

O ruivo estava encarando a situação recém ocorrida do jeito que eu gostava, fingindo que nada de anormal tinha acontecido. Provavelmente essa ação foi pra eu não morrer de vergonha ou qualquer outra coisa do tipo, então agradeci mentalmente por ele me conhecer tão bem.

Comemos comentando uma coisa ou outra, palpites sobre o resto da Seirin e até sobre o mistério de Kuroko, que não havia dado notícias nem para sua luz. Ao terminarmos e lavarmos a louça, o ruivo pegou seu notebook e sentou em um sofá, enquanto que eu peguei um esmalte reserva que tinha ali e comecei a fazer minha unha sentada no outro.

Quem diria que até esmalte eu tinha nessa casa. E foi a sorte grande ser de uma cor neutra, assim quebrava um galho já pra amanhã eu não ter que me preocupar com isso.

Alguns minutos depois e reconheci a voz preguiçosa de Daiki do outro lado da linha. Mesmo sem vê-lo conseguia imaginar exatamente sua feição cansada e entediada com toda essa maluquice de correr atrás de roupa. Se bem que, pelo que Momoi tinha falado, ele que havia demonstrado querer se arrumar para o evento então não sei ao certo o que ele estava aprontando.

Coloquei meus amigos no mudo e liguei meus pensamentos no volume máximo. A concentração que eu tinha no momento estava 100% em minhas unhas, assim conseguiria terminá-las logo.

– Cara, você sabe que pra mim dá na mesma, por isso que pedi pra Ina vir aqui me ajudar...

Ergui os olhos assim que o ruivo mencionou meu nome, voltando minha atenção para a conversa deles.

– Será que... – ouvi a voz do outro lado começar a dizer, e a interrompi

– Você tem que ir se sentindo bem, seja com essa roupa ou qualquer outra. – comentei de onde estava em uma voz mais elevada, de modo que ele ouvisse.

– Por que não falou isso pra mim? – o ruivo reclamou, me encarando por detrás da tela.

– Você queria ir com uma calça de exército e uma camiseta de basquete, Taiga – fuzilei-o

– Peraí, você nem tá vendo o que eu tô usando, Ina! – o moreno respondeu alto, de modo que eu o ouvisse também.

– Não preciso ver pra saber que Momoi tem bom gosto pra moda. – analisava minhas unhas, reparando no resultado final

– Isso não faz sentido. – ele bufou, descontente com minha resposta

– Quer um exemplo? – arqueei as sobrancelhas, como se ele pudesse me ver dali – Me diz como eu devo fazer minha unha pra aparentar bem amanhã? – perguntei

– Unha? Sei lá... Qualquer uma vai ficar boa.

– E se eu fizer cada uma de uma cor, não ficaria ridículo?

– Óbvio, mas você não vai fazer isso.

– Por que...

– Porque tem bom gosto. – o moreno concluiu, provavelmente já entendendo onde eu queria chegar.

– Isso que eu quis dizer. Pra quem está me vendo, pouca diferença faz o que eu tenho nos dedos ou no corpo. Na verdade é uma soma de tudo que vai formar um resultado bom aos olhos de quem quer que seja, desde que não seja algo horrendo.

– E quem disse que eu quero me arrumar pra alguém? – ele questionou, num tom levemente ofendido

– Então deve ser muito exigente com sua própria imagem, não é? – retruquei, me levantando – Taiga, vou dar uma olhada nas suas roupas enquanto isso aqui seca. – apontei para meus dedos e fui em direção ao seu quarto.

Na verdade eu só queria deixar os dois em paz um pouco, mais confortáveis com a conversa deles. Afinal de contas Aomine não havia pedido diretamente minha opinião em nenhum momento, então presumi que ele queria mesmo se entender nesse assunto com o ruivo. Se bem que ele não podia ser referência pra muita coisa no mundo da moda, mas fazer o que.

Abrindo o guarda roupa com cuidado, fui passando os olhos pelas roupas descartando imediatamente quase todas. Das que sobraram, fui fazendo combinações mentais umas com as outras, mas não tinha muito com o que trabalhar.

Por fim, cheguei ao resultado digno de um evento fora do mundo esportivo e já separei a muda na porta dele. Comecei a sorrir sozinha, tentando imaginar qual a dificuldade que ele tanto tinha com isso.

Pra mim era diferente, eu não encontrava roupas por causa do tamanho. Mas ele? Não devia ser tão difícil assim comprar roupas masculinas, ainda mais com a maior quantidade de garotos altos em comparação com garotas.

Aproveitei o tempo para fazer minha higiene pré-cama, mantendo a tal camisa como camisola já que não tive nenhuma contestação do ruivo. Fui para o quarto designado pra mim e me deitei de modo que minhas mãos ficassem estrategicamente localizadas para não borrarem.

Suspirei, analisando tudo que eu havia feito hoje. Sem nem perceber o cansaço me consumiu e adormeci ali mesmo.

No dia seguinte, acordei com uma carícia no meu rosto me fazendo abrir os olhos lentamente.

– Bom dia, dorminhoca – Taiga disse, expondo um sorriso

– Já tá na hora de acordar? – resmunguei, me virando para o lado oposto

– Já, levanta aí que o almoço logo mais fica pronto.

Em meio segundo saltei da cama, provocando um riso do ruivo que me seguiu até a cozinha. Olhei para o celular e li uma mensagem da Riko, me confirmando que horas eu estaria em sua casa para me arrumar. Só aí caiu a ficha do por que eu tinha vindo ali.

– Você viu a roupa que eu separei? – perguntei e ele acenou, positivamente – O que achou?

– Nunca iria pensar naquela combinação. – o ruivo riu, coçando a cabeça – Obrigado.

Fiz um gesto de descaso pra ele que voltou sua atenção para a panela a sua frente, origem de um aroma que me razia água na boca.

Conversa vai e conversa vem, meus pensamentos se fixam em um único assunto. Por estar encucada, minha expressão ficou carrancuda, não passando despercebida por Kagami que me encarava sugestivamente.

– Não é nada. – menti rapidamente

– Nada é o que tem no seu estômago, na sua cabeça deve ter um bilhão de coisas. – debochou

– Ó, vou perguntar uma coisa, mas é pra ser sincero ouviu?

– Pra quem não tava pensando em nada...

– E não pode rir!

– Tá bom, tá bom. – ele fez sinal de rendido, me fazendo um gesto para continuar

– Você não acha meio idiota eu aparecer num evento desses toda arrumada? Convenhamos, eu não sou igual às outras garotas e vou parecer uma aberração vestida a caráter... – ri ironicamente, baixando o olhar.

Isso me ocorria diversas vezes durante o dia para eu ignorar. O fato era que eu não me comparava à normalidade dali durante a semana, imagina em um local específico? A diferença era evidente, assim como o fato de eu não em encaixar nos padrões da minha idade.

– Ei, olha pra mim – ele pegou meu queixo e o virou em sua direção.

– Fala – resmunguei,

– Você é única, Ina, e não estou falando da sua aparência. Suas peculiaridades a diferem das outras garotas mas não ouse pensar nisso como um defeito! Além do mais, tenho certeza que vai arrasar o coração de quem você quiser...

– Mas você também com essa história de coração? – revirei os olhos, já deixando de lado o assunto de antes.

Rapidamente o restante do dia passou. Kagami e eu cochilamos por um tempo, mas depois fui pra casa e já tomei meu banho, organizando meus apetrechos de modo que uma hora antes da festa eu rumava meu caminho para Riko.

Ao chegar na casa que eu tanto conhecia, fui logo para o quarto onde uma garota indecisa ponderava qual brinco usar. Na verdade, ela parecia muito preocupada com tudo, o que só aumentou minha desconfiança

– Tá toda emperiquitada por alguma razão específica? – indaguei, fazendo uma cara maliciosa

– Tá insinuando o que? – ela perguntou, e sua aura negra já começou a aparecer

– Não sei, mas garanto que um capitão aí deve saber...

Mal terminei de falar e já ganhei uma imobilização nos braços, junto de um mata leão. Ok, aquele assunto era proibido.

Continuamos com a arrumação por umas duas horas, intercalando com fofocas e até um pequeno lanche. Por fim, nós saímos do quarto e fomos em direção a sala, onde meu padrinho nos aguardava lendo um jornal ao sofá.

– Pronto! – Riko falou, chamando a atenção dele.

– Mas... Mas... Essas roupas são de moças grandes, vocês são minhas bebezinhas e... – ele começou a dizer, com uma voz sentimental.

– Para de falar assim, nós já somos bem crescidas! – sua filha teimou, irritada.

– E muito bonitas, diga-se de passagem! – completei

– Tá bom, vocês venceram... Agora as duas aqui, quero guardar esse momento – o padrinho segurava uma câmera, já nos direcionando para um local bem iluminado

Sorrimos, abraçadas de lado, enquanto o flash saía. Após a foto, olhei para o meu celular e abri o teclado de mensagem, perguntando à Kuroko como estava a situação deles.

“Aomine acabou de chegar. Vou apressar ele e já vamos, nos encontramos lá.”

Revirei os olhos enquanto respondia a mensagem, obviamente eles iriam se enroscar muito ainda.

– Podemos ir, pai? – Riko perguntou, fazendo-o largar a imagem recém-formada em sua câmera.

– Claro, minha filha – respondeu, procurando as chaves do carro – Só me responde uma coisa, vai ter meninos lá?

Depois disso os dois entraram em uma discussão que mais se resumia a Riko dando esporro no pai por ele ameaçar exterminar com toda e qualquer pessoa, desde que se insinuasse para cima de nós duas. O argumento que ele usava era que nós éramos suas princesinhas e mal tínhamos largado as bonecas, sendo muito inocentes para ficar na presença de rapazes.

Parei de prestar atenção quando ele começou a contar da vez que nos maquiamos com lápis aquarela e brigamos pra ver quem era a preferida dele, o que fez Riko acertar um cascudo em sua cabeça.

Esses dois eram um caso nítido de super proteção de pais com filhos, mas o que me surpreendia era que eu estava incluída nisso. Naquele momento um sentimento me preencheu com o fato que me cercava, eu era a caçula da família Aida.


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Notas finais do capítulo

Adultos sendo adultos e adolescentes sendo adolescentes, né?

https://youtu.be/3LMVJ2xd1g8

Keep Your Head Up é animadinha, espero que encaixe de alguma forma ^^



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