Fate escrita por anyoneelse


Capítulo 12
Pequenos Detalhes


Notas iniciais do capítulo

A cada título uma nova luta, mas estamos aí.

Sem mais delongas, #partiulerocapítuloporqueocaldovaiferverdaquiapouco

https://youtu.be/nfWlot6h_JM



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"But I keep cruising, can't stop and won't stop moving

It's like I got this music in my mind, saying it's gonna be alright"

No dia seguinte já fui para a escola caminhando com Kuroko. Ele aceitou minha proposta assim que a mencionei, já que sua casa era caminho da minha até Seirin. Lentamente, chegamos até a instituição. Assim que eu e minhas muletas pisamos naquele pátio, consegui sentir os olhares. Revirei os olhos e parei subitamente, atraindo a atenção do azulado.

– Algum problema, Ina?

– Na verdade não, só tinha esquecido de uma coisa... – remexi na minha bolsa a tempo de pegar o que procurava – Você se importa se eu for com fones de ouvido até a sala?

– De jeito nenhum

– Acho que encontrei meu modo de garantir a segurança dos alunos daqui.

Rimos e logo posicionei os pequenos fios em meus ouvidos. Uma música aleatória soava ao máximo enquanto percorríamos o percurso até a sala de aula. Eu até percebia alguns olhares, mas não sentia a raiva de ontem, pra minha surpresa o som agradável realmente me fazia bem.

Rapidamente o dia se passou, dando espaço para o final de semana.

Fiquei em casa durante todos os dias. Vez ou outra recebia visitas dos amigos, mas na maioria era o padrinho que me fazia companhia. Ele me passou uma bateria de exercícios de fisioterapia para que eu fortalecesse minha musculatura e me acostumasse com a nova situação física.

No domingo a noite, ele me autorizou a despedir das malditas pernas de pau, mas me apresentou a um compressor de joelhos, que era bem mais discreto, era algo como uma meia bem grossa e firme, que eu colocaria centralizado no joelho. Em outras palavras, perfeitamente “escondível”, se não fosse o comprimento ínfimo da saia do uniforme.

Segunda de manhã e me encontro novamente com o azulado. Eu estava sorridente demais, então logo ele percebeu que eu estava sem muletas.

– Notou algo de diferente em mim, hein? – perguntei, olhando sugestivamente para minhas pernas.

– Está sem suas muletas. – ele afirmou calmamente.

– Exato! – gritei, extasiada, dando um beijo em sua bochecha e começando a saltitar de leve.

– Você parece bem melhor mesmo, Ina.

Sorri com o comentário dele. Realmente, eu me sentia melhor. Meu mau humor havia sumido um pouco, e até fazia algumas brincadeiras quando convinha. A sensação de voltar a andar era demais para minha cara azeda suportar.

Coloquei tradicionalmente meus fones de ouvido e caminhei tranquilamente com as mãos atrás da cabeça durante todo o percurso.

Chegando à escola, o mesmo corredor de pessoas se formou pra ver a mais nova notícia, ou seja, eu sem muletas e com um trambolho em uma das pernas. A música alta me impedia de ouvir o que a multidão dizia, mas aos poucos a feição de Kuroko mudou drasticamente, e isso me chamou a atenção. Ele parecia irritado, franzindo a testa e apertando inconscientemente os lábios um no outro.

– Ei, o que houve...? – comecei a perguntar, tirando um dos fones, a tempo de ouvir um último burburinho a nossa volta

– A noite foi longa pra esses dois, do jeito que ela é oferecida... Não sabia que esse aí se enfiava em qualquer pedaço de lixo.

Era a voz da piranha. Eu tinha certeza disso, mesmo sem ver.

Se eles me ofendessem tudo bem, mas Kuroko não tinha nada a ver com isso. Ele não era digno de ser colocado nas palavras dessa garota. Se isso foi o que eu ouvi, imagino o que foi dito até ali, quantas calúnias estavam sendo jogadas aos quatro ventos. Eu não permitiria isso calada.

– Escuta aqui, sua... – comecei, virando lentamente meu corpo e já fechando a mão em um punho.

– Não faça isso, Ina. – senti Kuroko me segurar pelo pulso firmemente enquanto dirigia um olhar suplicante pra mim.

Eu abri a boca pronta pra argumentar, até que pensei nas consequências. Não ligava de pegar uma detenção ou me meter em qualquer outro tipo de problema com a escola, mas com certeza não queria envolver o azulado nessa.

Engoli a raiva e a guardei para mais tarde. As pessoas a nossa volta pareciam esperar que algo bombástico acontecesse, alguns até tinham o celular em mãos, esperando para gravar qualquer coisa.

– Essa foi por você – respirei fundo e assenti ao menino, que me dirigiu um pequeno sorriso.

Entreguei meus fones de ouvido a ele, que aceitou sem entender de primeira.

Não era certo que eu me exilasse da falação daqueles urubus enquanto ele ouvisse tudo o que estava sendo dito, sem nenhum filtro. Assim que percebeu minha intensão ele me dirigiu um último olhar de desculpas, já entrando no mundo agitado da música que estava tocando.

De canto, lancei um olhar mortífero para a piranha e os parasitas que a rodeavam. O sorriso do rosto dela oscilou por um segundo e seus olhos transmitiram a preocupação mínima de receber uma porrada que passou em sua mente.

Do fundo do meu coração, eu torcia para que a vida fosse justa e que ela recebesse o troco por tudo isso. E com juros.

Kuroko não mencionou o ocorrido, mas manteve uma expressão indecifrável durante todas as aulas. Claro que o tapado do Kagami nem percebeu, mas eu sabia que tinha algo o incomodando.

Por fim chegou a hora do treino. Foi totalmente brochante quando descobri que os exercícios de hoje seriam na piscina e não na quadra. Poxa vida, logo hoje que eu estava toda saliente sem muletas, poderia até me arriscar a juntar as bolas que se distanciavam.

Mas não. A megera da Riko já estava até impaciente por eu tanto implorar para que fossemos para a quadra, então resolvi desistir e deitar em um banco dali, quem sabe tirar um cochilo. Notei que a treinadora me encarava indignada com minha falta de entusiasmo para o treino que ela havia preparado.

– Pode participar desse também, madame. – Riko praticamente me ordenou enquanto os meninos iam entrando na piscina

– Que? – perguntei preguiçosamente, abrindo apenas um olho

– Você me ouviu. – ela disse, já demonstrando sua falta de paciência na voz – A água amortece o impacto, não vai ter problemas com seu joelho.

– Quem sabe na próxima – retruquei, dando de ombros.

O silêncio que os garotos fizeram em sequência me confirmaram que eu estava brincando com fogo. Antes que eu pudesse responder qualquer coisa, fui surpreendida pelo tom mais assombroso e medonho que ela tinha.

– Você tem a chance de se trocar e entrar de boa vontade, ou de ser jogada por um mutirão – a treinadora mantinha um sorriso cínico no rosto, mas sua aura negra denunciava tudo.

– Vocês não podem me obrigar, eu não vou entrar... – respondi, apenas para não falar o real motivo de eu não querer ficar na água.

– Eu avisei... Teppei! Hyuga! – a voz autoritária soou e os dois apareceram prontamente como lacaios submissos.

Eles me agarraram, mas não foram páreos. A treinadora escolheu os mais altos justamente achando que iriam me carregar com mais facilidade, o que não aconteceu. Riko grudou nos meus pés e arrancou meus sapatos e minhas meias, mas não conseguiu tirar a blusa por cima do top e muito menos me vestir na bermuda que ela emprestou de um deles.

– Kagami, vá ajudar eles! – Riko mandou, já estava com um olhar furioso por eu ter chutado sua cara num espasmo – Eu quero essa menina respondona dentro dessa piscina, por bem ou por mal!

O ruivo apenas engoliu seco, erguendo os braços de dentro da piscina para que os outros dois pudessem me posicionar nele.

Assim que me colocaram lá à força, Kagami me abaixou, fazendo com que meu corpo encostasse na água gelada. Com um grito, comecei a me debater igual a um gato de encontro com uma banheira cheia.

– Eu não sei nadar, seus cretinos! – admiti

Eu fiquei apavorada, me prendi com pernas e braços no tórax do ruivo, e minha cara de desespero devia ser extremamente engraçada, já que gerou muitas gargalhadas de todos.

– A piscina é rasa, Ina – Kagami comentou, revirando os olhos

– Oi? – perguntei incrédula.

– Até o Kuroko dá pé aqui, sua tansa.

Olhei para o azulado em busca de provas. Realmente, até ele, que era mais baixo que eu, tinha água até seus ombros apenas. Os meninos soltavam risinhos contidos, enquanto eu corava um pouco.

– Que coisa, né... – Sorri amarelo e soltei minhas pernas vagarosamente

– Agora se troca aí mesmo, dona bonita! – Riko, com raiva, arremessou a bermuda emprestada, que voou no rosto do ruivo devido à nossa proximidade.

Ele me entregou com um olhar de fuzilamento, em resposta apenas dei meu melhor sorriso. Embaixo d’água, coloquei a bermuda por baixo e tirei a saia, tentando acertar a treinadora com ela. Depois, tirei a blusa e fiz a mesma tentativa, mas recebi uma gargalhada maléfica em troca após a falha.

– Para com isso, Ina, ou ela pode... – Hyuga começou falando baixo, mas foi interrompido por ela.

Pode, nada. Eu vou! – ela sorriu maliciosamente para o time – Vamos dobrar o treino de hoje. Obrigada pela empolgação, Ina!

Todos me encararam por um segundo, logo em seguida batendo na água e praticamente fazendo chover em mim e em Kagami, que eu usava como barreia para alguns jatos. Quando notei que haviam parado, me afastei do ruivo. Estava me virando quando ele fez uma onda com os braços e a lançou pra cima de mim, terminando de me encharcar de vez.

– Achei que você era meu aliado! – reclamei, passando a mão nos olhos para enxugá-los do súbito ataque.

– Tô mais pra linha de frente, sua aproveitadora – ele bufou voltando a atenção para as ordens que Riko gritava lá da frente.

Dei um peteleco na orelha do rapaz e me afastei dando uma piscadinha, que ele respondeu com um sorriso pequeno e negando com a cabeça. Por mais que as circunstancias indicassem que ele iria me matar no começo, eu sabia que no fundo ele era um coração derretido e não conseguiria ficar bravo comigo por muito tempo.

Depois de mais ou menos 1 hora eu entendi porque eles estavam em tão boa forma. Aquilo ali era um intensivo à nível das Olimpíadas! Como pode uma adolescente ter uma precisão nos treinos a ponto de saber exatamente o que o time precisa para determinado objetivo?

– Chega por hoje, já pro chuveiro e estão liberados!

A treinadora ordenou e os rapazes foram em fila para o vestiário, praticamente rastejando depois de tanto se exercitarem. Kuroko foi o último a sair, me olhando em dúvida logo em seguida.

– Não vai sair, Ina?

– Vou esperar vocês desocuparem lá atrás primeiro, aí não fico passando frio do lado de fora – expliquei – Pode ficar tranquilo que eu não vou me afogar!

O azulado assentiu sorrindo leve e se distanciou, mas foi parado por Riko, que estava no celular até então.

– Kuroko, você pode se responsabilizar por levar Ina em casa hoje? – perguntou – Consegui alguns DVDs do nosso próximo adversário e vou ficar até mais tarde assistindo-os na sala de vídeo do colégio.

– Claro, treinadora, sem problemas – ele assentiu.

– Obrigada, Kuroko. – ela juntou suas coisas apressadamente, dirigindo-se uma última vez ao azulado – Se puder avisar o capitão, diga que estarei esperando ele lá.

Sentindo meu olhar de julgamento sobre si, Riko deu-nos as costas e saiu. Espertinha, se aproveitando do escurinho da sala de filmes e do pretexto de analisar jogos pra ficar a sós com o Hyuga. Tô de olho.

– Eu posso perfeitamente voltar pra casa sozinha, não quero atrapalhar seus planos pra depois daqui – falei, sincera para o garoto

– Não se preocupe, Ina. Kagami e Aomine vão jogar depois daqui, se quiser pode vir junto e depois deixamos você em casa. – sugeriu

– Realmente não quero incomodar...

– Não será incomodo. De qualquer forma, se não quiser tudo bem, te levo em casa antes.

– Acho que... – pensei por um momento, lembrando-me da minha vontade de horas atrás – Vou com vocês então.

– Combinado.

Dito isso ele se afastou com um aceno, me deixando sozinha nas piscinas. O único som dali era o da minha respiração, em conjunto com os poucos movimentos que eu fazia na água.

Uma curiosidade era que eu realmente não sabia nadar, era como se meus braços não fossem coordenados o suficiente pra isso. Entretanto, durante umas poucas aulas de natação que tive, eu ficava brincando de mergulhar e plantar bananeira, coisa que eu facilmente ganhava por causa da minha altura que sempre superou as médias da turma.

Sorri e me propus desafios que eu me lembrava da época do Brasil.

Comecei andando de ponta cabeça, apoiando as mãos no fundo da piscina. Depois evoluí para fazer aberturas seguidas enquanto plantava bananeira, competindo comigo mesma em quantas vezes conseguia fazer aquilo antes de ter que voltar para buscar ar.

Vários minutos se passaram e, entre uma brincadeira e outra, um rosto conhecido se sentou em um dos bancos que tinham ali.

– Vai tentar o clube de natação depois de quase eliminar o capitão deles? – o tom de voz largado de Aomine soou, quebrando o barulho de água que eu fazia.

– Se ao menos eu soubesse nadar, quem sabe – respondi, fazendo graça

– Não acredito que não sabe – ele disse dando uma risada

– Para de rir! – exclamei e joguei um pouco de água em sua direção

– Ei, cuidado pra não me molhar! – ele se esquivou de um respingo mínimo que havia chegado nele

– É feito de açúcar, por acaso? – retruquei, fazendo-o rir.

Ficamos ali por um tempo, ele sentado olhando o nada e eu mergulhando vez ou outra, sem a intensidade de antes. Em um dado momento, fiquei boiando e fazendo movimentos sutis para que eu me movimentasse no perímetro da piscina.

– Eles estão no banho? – perguntou me fitando.

– Aham. A propósito, Kuroko foi encarregado de me escoltar hoje e acabou me convidando pra ir com vocês depois daqui. Tudo bem?

Fiquei meio receosa com a resposta. Sei lá, eu sabia que eles eram bem de boa quanto a isso, mas vai que iriam fazer algo específico ou só de meninos? Além do mais, eu estava com um ritmo muito lento ainda e acabaria enrolando eles de alguma forma. Querendo ou não, eu estava me sentindo como um fardo.

– Não precisa perguntar da próxima vez. Só não te convidamos porque não queríamos receber muletas na cara. – respondeu, sem criar caso, e ainda tendo uma brecha pra tirar uma com a cena da semana passada.

– Ficou traumatizado?

– Tive pesadelos todas as noites. Você corria atrás de mim pulando em um pé só e atirando muletas pra tudo quanto é lado. – ironizou com uma péssima atuação

– Engraçadinho – joguei mais água nele, que desviou rapidamente.

– Mas que droga, para com isso ou eu vou até aí te dar um caldo!

– Ué, eu não tô fugindo, estou? – provoquei-o

Daiki me encarou com um sorriso maléfico, me causando um misto de medo e excitação. Aquela cara de quem ia dar castigo quase me fez sumir em meio a meus pensamentos safados e indecentes. Enquanto isso ele parecia ponderar se encararia uma água gelada só pra me dar o troco, mas nem prestei atenção no resultado da sua decisão.

– Ina! Já liberamos os chuveiros, pode tomar seu banho! – ouvi Kagami gritar dos banheiros e fui em direção à borda da piscina imediatamente.

Eu sabia que não poderia utilizar as pernas para sair dali, então contei com a força dos meus braços. Respirei fundo, ignorando o olhar do moreno sobre mim e apoiei as mãos na beirada, levantando todo o meu corpo de uma só vez e girando para que eu sentasse com as pernas ainda submersas.

Sorri com o resultado. Depois do procedimento nas pernas eu tive que usar muito a força dos braços, coisa que eu tinha esquecido que possuía há muito tempo. Talvez até seja por isso a minha repentina vontade de socar as pessoas, não que fosse justificativa.

Ainda assim, não tinha como eu me erguer dali sem ajuda. O peso do meu corpo já era grande, mas somado às roupas encharcadas, eu não era favorecida. Me virei para o moreno, mas antes mesmo que eu pedisse ele já esticara a mão em minha direção.

– Não sabia que você tinha tanta força nos braços – ele comentou, rindo logo em seguida quando eu forcei a musculatura no meu melhor muque.

– Vem, vamos até lá falar que você chegou – falei, enxugando meu cabelo com a toalha e juntando a mochila

Ele deu de ombros, indiferente, e me seguiu. Antes de entrar, ele parou por um segundo, franzindo levemente a testa como se estivesse pensativo.

– E se eles estiverem sem roupa ainda? – ele perguntou, um pouco receoso em abrir a porta

Sorri de canto com sua inocência e me posicionei. Empurrei a porta com tudo, fazendo com que os meninos lá dentro se assustassem e agarrassem algo para se cobrirem de imediato.

– Bora tapar os documentos se não quiserem que eu dê minha opinião na mercadoria! – gritei e rapidamente eles se cobriram

– Não dá pra ser mais sutil? – Kagami protestou, corando um pouco.

– Já vi coisas piores, convenhamos – comentei, juntando minhas coisas do armário

– Piores...? – Aomine ficou em dúvida, e só aí repararam que ele estava ali também.

– Bom, vou pro meu banho. – falei, já com minhas coisas empilhadas no colo

– Assim, sem mais nem menos? – o moreno perguntou

– Ué, como assim? – questionei, sem entender.

– Não tem porta pro banheiro, e se alguém aparecer lá pra te espiar?

Para Aomine nada daquilo fazia sentido. Uma garota no meio de um monte de garotos, indo tomar banho tranquilamente sem se preocupar em ser incomodada. Além do mais, a naturalidade com que o assunto era tratado também o surpreendia.

– Eles não vão fazer isso – eu disse rindo, passando o braço por um deles, que ficou tenso no mesmo instante – Não depois da última vez, não é mesmo?

– Última vez? – ele questionou, mas os demais o encheram de sinais para que ele não o fizesse.

– Fiquem aí conversando, eu preciso tomar uma ducha. – acenei e os deixei lá para não causar mais constrangimento.

Numa das primeiras vezes que eu tomei banho depois do treino, um desavisado entrou nos chuveiros enquanto eu ainda estava lá. O grito que eu dei foi tão alto que todos os demais entraram em tempo de me ver envolta, improvisadamente, por uma toalha e um garoto totalmente enrubescido e gago no chão. Depois disso Hyuga fez com que ele treinasse o dobro por uma semana, além de Riko que, ao descobrir, o encheu de golpes que ficaram marcados por quase um mês.

Após tanta convivência, acabou que eu levei o ocorrido na brincadeira, afinal de contas eu sabia que era só um mal entendido. Ou pelo menos eu esperava que fosse, caso contrário teria que resolver isso de uma forma mais... Ousada.

Minutos se passaram e eu já estava enrolada na toalha, voltando para meu armário. Eles ainda estavam ali, terminando de se arrumar, mas enrubesceram logo que apareci.

– I-Ina, avise quando sair assim! – Izuki disse, virando para o lado oposto que eu estava.

– Bom, acho melhor não verem nada, a não ser que queiram que o capitão e Riko respondam à altura.

Rapidamente, os meninos saíram. Por último, um Aomine negando com a cabeça e com um sorriso baixo passou pela porta, mas pude jurar que ele deu uma última observada em mim.

Por que eu estava com vergonha de repente? Parece carma da última vez que isso aconteceu lá em casa, quando ele ficou travado e eu levei tudo na brincadeira. Eu hein.

Comecei a me vestir ali mesmo, os meninos eram traumatizados demais para entrar de novo. Resolvi colocar uma muda de roupas casual reserva que eu tinha guardada ali que por sorte era composta por uma calça folgada de esporte, ou seja, o suficiente para esconder meu compressor.

Passados alguns minutos, abri a porta que levava para o interior da quadra, avistando os três que me aguardavam

– Até que enfim!

– Que exagero, nem demorei.

– Vamos então? – Kagami perguntou, já tomando a frente

Chegamos na quadra em questão e os dois altões já começaram a se provocar com palavras para dar adrenalina ao mano-a-mano. Kuroko e eu nos sentamos num pequeno banco dali, conversando vez ou outra enquanto observávamos o jogo deles.

Era incrível a emoção que eu sentia só de estar na plateia. Meus instintos já haviam decorado o compasso que eles tinham, parecia que eu estava escrevendo um roteiro mentalmente e eles atuavam no mesmo instante.

– Aomine vai driblar pela direita, recuar um passo e depois fingir tentar pela esquerda, quando na verdade vai repetir a direita e girar, passando por Kagami e fazendo uma cesta alta sem enterrar.

Narrei a jogada na medida em que ela acontecia, fazendo Kuroko rir da minha precisão. Eu sorri com a ideia de ter o ritmo deles quase tão automático quanto o meu próprio, revelando a verdadeira proximidade que tínhamos construído ao longo do tempo.

Depois de muitas cestas, o moreno e o ruivo já estavam suados e descansavam um pouco, deitando no chão a nossa frente.

– Na próxima nós vamos empatar nossa pontuação, você vai ver. – o ruivo disse, propondo outro dia de jogo.

– Já tá mandando discurso de perdedor, Kagami? – o moreno provocou

– Só esperem eu ficar boa de novo, aí vocês nunca mais vão pontuar na vida de vocês – sorri confiante.

– Até parece!

– Querem apostar? – provoquei

– Eu aposto em Ina – Kuroko falou primeiro, indiferente por fora mas morrendo de rir com a reação deles por dentro.

– Desde quando você prefere o jeito dela jogar? – Kagami questionou

– Quer ser a sombra dela também, é? – o outro inferiu, arqueando as sobrancelhas com desdém.

– Quanto ciúmes de vocês dois... Já passou pela cabecinha de vocês que eu posso simplesmente ter maior vantagem sobre vocês e Kuroko ser o único a perceber isso? – comentei.

Eles se entreolharam por um tempo, praticamente conversando por olhares e leitura de pensamento, até que viraram pra mim sugestivamente.

– Bem que você podia ensinar a gente, Ina... – Aomine sugeriu, com um sorriso de canto

– Hein? – gargalhei com a proposta

– Partilha seu dom aí, seremos bons aprendizes – Kagami fazia uma espécie de biquinho, mas só me fez rir mais ainda da situação.

– Não prometo nada, mas podemos marcar um dia pra jogarmos juntos – disse, aceitando indiretamente o convite.

Depois disso eles pareceram sossegar e ficamos por um tempo apenas com o barulho do começo da noite urbana. Em questão de minutos, o silêncio foi quebrado por Kuroko e uma seriedade para além de sua habitual.

– Ina, sobre hoje de manhã...

– Eu sabia que você não tinha esquecido as meninas – falei, esperando o restante do assunto chegar

– Que meninas? – Kagami ficou curioso

– Elas provocaram-na lá na escola, por pouco que ela não vai pra cima delas.

– Não me importo que elas façam isso comigo. Eu queria calar a boca daquelas piranhas por falarem de você, só isso.

Fechei a cara, me lembrando da situação que passamos na escola. Eu ainda não tinha bolado um jeito de revidar o que aquelas piranhas haviam feito, nem sabia como fazer ou até mesmo se ia fazer.

– Isso já aconteceu antes? – o ruivo perguntou

Contei a eles sobre os poucos, porém irritantes, eventos que envolviam aquelas duas.

– Elas a ofenderam de todas as maneiras possíveis... – Kuroko ponderou

– Aquelas mocorongas são piores que lixo. Já fizeram comentários de mim pra um monte de gente, incluindo eu mesma. Elas encrencaram comigo e teimam em tentar me colocar pra baixo de qualquer jeito...

– E não vai fazer nada a respeito? – Kagami continuou

– Na verdade não sei. Hoje mesmo, se não fosse Kuroko eu teria fundido a cara delas na parede – o moreno e o ruivo se entreolharam, assustados com minha agressividade – Mas acho que elas não valem tudo isso. Pelo jeitinho delas, é bem capaz de elas gravarem alguma coisa e mostrarem à direção do colégio ou algo assim, podendo prejudicar quem andar comigo ou até mesmo o time de basquete. Isso está fora de questão, então...

– Então as estruturas e objetos da escola estão a salvo – Kagami completou, fazendo graça

– Por enquanto – Kuroko concluiu, dando um pequeno sorriso para amenizar o assunto

– Engraçadinhos... – resmunguei, dando a língua para eles dois.

– Mas Ina... – o ruivo suspirou, procurando as palavras certas – Você sabe que o que elas disseram não é verdade, né?

Olhei pra ele, surpresa pela atitude. Ele queria melhorar meu astral de qualquer jeito. Ponderei por um segundo, mas minha ação teria sido igual se revertessem os papéis.

– Eu posso não ser mais alta que você, mas ainda assim tenho uma estatura acima da média para garotas, principalmente as daqui. – desviei de seu par de orbes flamejantes para encarar o chão – E não é como se eu fosse a miss Universo também, convenhamos...

– Você é linda, Ina, pare de dar ouvidos a essas idiotas – Kagami se levantou e sentou comigo, me abraçando de lado e deitando minha cabeça em seu ombro.

– E ainda tem mais talento do que as duas juntas sequer poderiam sonhar – o azulado adicionou, com um sorriso simpatizante.

– Obrigada pelos elogios – respondi, corando um pouco.

– Agora chega desse assunto e vamos comer alguma coisa logo, antes que fique muito tarde – o ruivo depositou um beijo em minha testa e se levantou, puxando minha mão para que eu o acompanhasse no gesto.

Não era por nada não, mas eu reparei que Aomine não havia comentado nada sobre o que falamos, nem uma palavra. Não sabia o que passava em sua cabeça, então achei melhor apenas relevar sua quietude.

Ao chegar na lanchonete, a dupla prodígio da Seirin se posicionou nos dois caixas livres, deixando eu e o às da Touo na espera. Quando chegou a minha vez, eu não conseguia me controlar de tanta fome. Segurava minha barriga roncando com uma mão enquanto fazia perguntas para a atendente sobre os maiores lanches, ainda que no final das contas eu sempre pegava o mesmo todas as vezes que comia ali.

Na hora de pagar, coloquei a mão dentro de minha bolsa apenas para não achar o que eu procurava. Vasculhei-a por inteiro, mas não tinha nenhum sinal da minha carteira. Um clique se fez em minha mente, me lembrando de que eu a havia deixado dentro do armário da escola.

– Merda... – sibilei, franzindo o cenho – Me desculpe moça, mas terei que deixar pro dia que eu lembrar de pegar meu dinheiro.

A atendente simpática compreendeu e por um segundo parecia que ela até estava comovida com o ocorrido, mas me direcionei às mesas logo depois, sem tempo de me sentir com mais fome ainda, se é que era possível.

– Ué, tá de dieta agora? – Kagami perguntou, desconfiado.

– Apenas eu e minha cabeça oca mostrando do que somos capazes – cruzei os braços na mesa e apoiei meu rosto ao centro, fitando a escuridão que eu havia formado ali.

De jeito nenhum que eu ia pedir dinheiro emprestado pra eles. Eu sabia que comia bastante e que eles não eram responsáveis por me bancar, além de que já tinham seus próprios gastos com comida e que eram bem elevados.

É, pelo visto a cozinha me aguarda quando chegar em casa.

– E você, tá na dieta pra engorda? – Taiga falou para o corpo preguiçoso que se posicionava na nossa mesa

– Realmente Aomine, dessa vez você se superou – o azulado comentou.

O som de duas bandejas sendo colocadas na mesa foi seguido de um pigarro de sua parte, e algo como eu deduzi sendo ele bufando.

– Se não levantar a cabeça não vai poder comer, Ina.

Suspirei, confusa com a fala do moreno, mas fazendo o que foi pedido. Quando levantei a cabeça meus olhos pousaram nos seus, que me indicavam as bandejas. Desci o olhar e avistei que somadas juntas havia o dobro de hambúrgueres que ele geralmente pedia, sendo a metade deles do meu favorito.

– São... – comecei falando, ainda processando.

– Seus. – ele empurrou a bandeja que supostamente me pertencia

– Não precisava fazer isso... – lancei um olhar suplicante a ele, como se quisesse devolvê-los.

– Agora já está feito, então pode ficar com sua parte logo. – ele colocou a pilha mais perto, de modo que eu conseguisse alcançar a comida.

Agradeci em voz baixa e ele apenas deu de ombros. Minha consciência pesava com o gesto dele, mas meu estômago praticamente chorava de tanta alegria já que não teria que encarar eu na cozinha mais tarde.

– Daiki – chamei – Como... Como sabia que era meu favorito?

– É o mesmo de sempre, não é difícil de notar. – respondeu, entre uma mordida e outra.

– Mas é difícil de lembrar – Kagami comentou, segurando um risinho.

– O que quer dizer com isso? – o moreno o questionou, estreitando os olhos em sua direção.

– Eu? Nada não. – desconversou, tomando um gole de seu refrigerante.

Depois disso Kuroko engatou uma conversa sobre os jogos que estavam por vir, já ocupando nosso assunto até terminarmos de comer.

Um por um, fomos carregando nossas bandejas para a lixeira indicada, fazendo uma pequena fila por ordem de chegada. Kuroko e Kagami mantinham o debate sobre seus futuros adversários empolgadamente, andando a frente depois de acabarem ali.

Aomine terminou de limpar sua bandeja calmamente e me fitou enquanto a depositava na bancada e eu começava a esvaziar a minha. Me controlei pra não encará-lo de volta, afinal de contas eu ainda estava em processo de reflexão sobre seu ato de minutos atrás.

– Concordo com Kagami. – ele falou repentinamente.

– Oi? – perguntei, não entendendo sua conexão logica de pensamentos.

– Eu não acho que você seja alguma coisa do que aquelas garotas te disseram. – explicou, como se fosse algo óbvio.

– Então eu não sou alta? – ironizei

– É alta, mas não quer dizer que não seja atraente. – ele respondeu indiferente, voltando-se para acompanhar os outros dois que já estavam na porta.

Era isso mesmo? Esse preguiçoso estava me elogiando na forma de duas negações que somadas levam a uma afirmação? A única lógica que consegui formar foi na matemática, porque no mundo físico a minha ficha ainda não tinha caído.

Muitos acontecimentos em pouco tempo e todos referentes a mesma pessoa.

Matutei durante todo o caminho de volta até minha casa e, como o papo dos meninos fluía bem demais, eu consegui ficar sozinha com meus pensamentos. Tentei várias vezes decifrar o que passava na cabeça de certo Daiki, mas os pontos não se ligavam completamente e os espaços que sobravam eram tortuosos demais para formar uma linha.

Em outras palavras, atitudes estranhas para um Aomine estranho. Sem contar que ainda não tínhamos falado sobre o “incidente” da minha casa, então não fazia ideia em que pé estávamos. Pelo visto era em pé nenhum, já que ele me tratava do mesmo jeito preguiçoso e desleixado e eu me dirigia a ele da mesma maneira brincalhona de sempre. Mas esses pequenos acontecimentos me deixavam um pouco confusa com a situação no geral.

A gente se gostava ou não?


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Notas finais do capítulo

Fica a dúvida... Quem sabe no próximo já não sai a resposta? Hihihi

https://youtu.be/nfWlot6h_JM

E com essa música eu digo: Xô recalque! Mas claro que a Taylor diz isso muito melhor que eu...



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