POV - Kriss Ambers

Mais uma noite difícil. Rolei na cama por horas, e foi inútil tentar dormir. Até chamei uma criada e pedi que me trouxesse chá, mas acho que só serviu para piorar ainda mais a minha insônia. Não, insônia não. Insônia é crônica. Eu nunca tive insônia. Estou perdendo o sono gradativamente por medo. Por amor.
Pelo menos essa noite consegui cochilar por algumas horas. Mas as criadas vieram me chamar umas duas horas depois, e eu não tive escolha senão me levantar. Tinha que descer para o café da manhã. Era uma oportunidade de ver meu marido, afinal. De encará-lo.
Levantei da cama, jogando os edredons para o lado e fui até o banheiro, me olhando no espelho. Não queria usar essa expressão, mas eu me sentia um caco. Olheiras profundas. Pele maltratada. Cabelos e olhos sem brilho. Sem falar das unhas, que eu roia dia e noite. Por essas e outras que eu dispensava as minhas criadas. Tinha sido bem clara ao dar minhas ordens: elas teriam que costurar minhas roupas, me acordar e limpar o quarto quando eu estivesse fora. Explicando assim parecia um pouco rude, mas não as queria por perto para que não vissem o que eu estava passando.
Respirei fundo e liguei o chuveiro. Tomei um banho rápido, lavando os cabelos. Depois vesti um roupão e sequei os cabelos com a toalha. Sequei também com o secador, escovando, e consegui melhorar a aparência um pouquinho. Passei alguns cremes no rosto, para ver se melhorava a pele, depois comecei a maquiagem. Com corretivo, base e pó eu consegui tornar as olheiras um pouco menos visíveis.
Escolhi um vestido simples, modelo tubinho verde. Coloquei um colar e brincos de pérola, e calcei sapatos de salto pretos. Me olhei no espelho.
Bem, era isso. Esse era o meu máximo. Pelo menos não estava tão ruim como quando acordei.
Deixei meu quarto e fui caminhando em passos lentos até a sala de jantar. Amberly e Clarkson já tomavam café. Murmurei um “bom dia” e me sentei, comendo quieta. Poucos minutos depois, Maxon chegou sorridente. Partia meu coração saber que aquele sorriso era por outra. Não por mim, que era sua esposa.
Terminei de comer, largando boa parte no prato e saí, pedindo licença. Fui para o Salão das Mulheres, que nesse horário estava vazio. Até porque apenas eu e Amberly ocupávamos aquele salão agora.
Me sentei perto da janela, gostava da brisa das manhãs em Angeles. Folheei uma revista. Duas. Três.
O palácio estava ficando tedioso.
Meus dias eram assim. Revezava minhas horas entre minha suíte e o Salão das Mulheres. Às vezes, quando não estava bem desanimada, gostava de andar pelo palácio, explorando cômodos que ainda não conhecia e, embora não gostasse muito de ler, acabei gastando muito tempo na biblioteca.
Tentava não procurar Maxon, não vigiar, porque sabia que me machucaria com isso. De que adiantava? Ele não tinha a menor consideração, mesmo.
Voltei para a minha suíte, e tive sorte porque nenhuma das criadas estava lá. Melhor assim. Me joguei na cama e depois de algum tempo pensando, confusa, adormeci.
À tarde, voltei ao Salão das Mulheres, e vi que Amberly estava lá. Sorri para ela e me sentei a uma distância confortável. Não estava com vontade de falar. Mas parece que ela leu meus pensamentos, porque veio até onde eu estava e se sentou ao meu lado.
— Kriss, eu estou notando você triste, chateada... Aconteceu alguma coisa?
— Não, não, Amberly. Eu estou bem. Obrigada pela preocupação, acho que só estou com saudades da minha família. – eu disse, e ela arqueou as sobrancelhas. Ela soube que eu estava mentindo.
— Querida, você pode me contar. Não é bom passar por tudo sozinha, sabe? Desabafar faz bem. – ela disse e eu fiquei indecisa. Não achava certo contar pra ela, afinal ela é a mãe de Maxon. E isso é problema dele, não meu. Espera, é meu problema também, certo? Bem, ainda assim não achava muito certo, mas decidi contar.
— America está aqui. – eu confessei, e ela me olhou confusa.
— Como? – ela perguntou, como se eu estivesse dizendo algo absurdo.
— Maxon a trouxe. Não sei, deve ter um mês. Eu trombei com ela outro dia. Ela está escondida, mas se vêem todos os dias.
— Minha nossa. – ela disse, incapaz de imaginar que seu filho faria algo assim.
— Pois é. – eu disse e abaixei a cabeça. Senti sua mão acariciando meus cabelos.
— Eu vou tentar falar com ele, está bem? – ela disse, como uma mãe fala com um filho. - Não posso prometer nada, você sabe. Mas quero ver qual é o propósito dele e dela nessa loucura toda.
— Ele pediu o divórcio. – eu contei, e já pude sentir as lágrimas em meu rosto. – Ele a ama, Amberly. Não a mim. Não há nada que possa ser feito. – eu disse e já caí em prantos. Ela me puxou para mais perto e me abraçou forte, inclinando meu corpo sobre o dela, como a minha mãe fazia.
— Não chore, querida... Lembre-se de que nada é tão ruim que não possa ser superado. – ela disse, com a voz suave.
Aquela frase ficou na minha cabeça o dia todo. “Nada é tão ruim que não possa ser superado.” Será? Eu não tinha tanta certeza. Não acharia jamais alguém que me fizesse sentir como Maxon faz. Mesmo que na maioria do tempo ele não me dê bola. As sensações que ele me causa, o amor que eu sinto por ele... Eu não acreditava que pudesse amar outra pessoa assim tão intensamente.