Heróis de Cristal - Cidade em Chamas escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 7
Caos




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– Parabéns, Oliver. Lamento pelo subterfúgio, mas sempre soube que você descobriria a minha real mensagem. Imagino que não te chamem de “pensador” à toa. Não vamos perder tempo, então. – Seu pai dizia no vídeo que ele assistia sem piscar. “Esteganografia”, Mickey tinha explicado antes de sair da sala. – O nome dele é Chaos. Eu soube que você já o conhece, mas não o subestime. Ele está diferente. Tem grandes planos para Perth.


– Chaos… - Oliver sussurrou para si mesmo. O nome dele era o suficiente para provocar arrepios em sua pele. Moore sabia disso e o enviara mesmo assim.


– Ele tem as grandes famílias, as famílias antigas de Perth, nas suas mãos. Os descendentes dos colonos mineradores de Perth. Os primeiros a encontrar os cristais nesse território. É por isso que os cristais reconhecem apenas alguns de nós, e é por isso que Chaos mostra tanto interesse em nossa cooperação. Do contrário… - Ele fez uma expressão resignada. O vídeo era recente, seu estado de saúde já era terrível. – Enfrentá-lo ou não, é com você. Imagino, é claro, que você esteja se perguntando porque eu e a Jennifer te escolhemos para enfrentar um vigia. Chaos controla o dinheiro, a polícia e o crime em Perth. Precisávamos de alguém bom em bagunçar o status quo das coisas. Esse é você, Oliver.


“Não exatamente um elogio, pai.”, ele pensou, sorrindo. Olhou para cima durante algum tempo. Ok, não esperava viver muito desde que conhecera Jennifer. Toda aquela coisa de responsabilidade com Pandora ia acabar mal. Muito mal. Ele não podia ter ajuda? Algo como… Bem, todo neoser que existia no mundo?


Ali estava ele. Vendo o seu pai, pela primeira vez, lhe pedindo para tumultuar as coisas. Como poderia recusar um último desejo tão tentador?


Oliver se levantou, um pouco trêmulo, antes de apagar os arquivos de Pandora do computador de Mickey. Imaginou que o amigo poderia ter feito cópias de segurança, se quisesse, mas confiava nele e o conhecia bem o suficiente para saber que não.


– Onde você vai? – O amigo o perguntou quando o viu sair. – O que tinha lá?


– Atrás de respostas. De novo. – Respondeu, ignorando a segunda questão.


Guentaí. – Ele se interpôs na frente de Oliver, detendo-o. – Quatro dias, Oliver. Já passou da hora de me contar o que está acontecendo.


O Pensador suspirou: - Tem uma coisa que todos têm dito sem dizer. Sobre Perth. O que tem de errado aqui?


Mickey parou por um momento, surpreso com a pergunta: - Coisas ruins. – Respondeu, de forma desconfortável. – De uns tempos para cá, policiais têm morrido. Políticos também. E – Ele fez uma pausa. – Seu pai… As ruas não estão mais segurar. Eu não sei, as coisas só estão… estranhas.


– Eu sei o motivo. – Ele afirmou. – Eu sei quem está por trás disso. E eu preciso impedi-lo.


– Eu posso te ajudar. – Mickey ofereceu, mas Oliver o interrompeu.


– Pode. – Concordou. – Mas não vai.


– Sério? Você é todo arrogante agora? Você teria morrido dez vezes se não fosse por mim! Eu guardei o seu segredo durante todo esse tempo. Eu te ajudei quando você era criança e não fazia ideia do que fazer com tudo… - Ele gesticulou pelo rosto do amigo. – Isso.


– Dez vezes? Isso soa um pouco exagerado. – Ele estranhou, arriscando um sorriso. – Sim, você me ajudou. E é exatamente por isso que não vou te deixar me ajudar.


– Isso não faz sentido. – Mickey replicou, enfurecido.


– Coisas ruins acontecem com as pessoas que ficam perto de mim. Elas sempre morrem. E eu sempre continuo vivo. Como amigo, eu estou te pedindo para esquecer o que viu aqui. Esse cara que eu preciso bater de frente… ele é perigoso.


– É por isso que você precisa de mim!


– Eu preciso de você aqui. Vivo. Brincando com essas… - Ele esticou o pescoço para olhar a sala. Uma bola azul girava descontroladamente sobre uma mesa. - bolas azuis giratórias?


– As coisas mudaram, você não faz ideia de como Perth é. Vão te pegar lá fora sem mim. – Mickey sentenciou, passando a mão na cabeça. – Droga, Oliver, vão te matar lá fora sem mim!


– Eu não duvido muito. – Concordou, colocando a mão no ombro do amigo. – Mas entre o geek de Perth e o Pensador de Pandora… eu vou apostar nas minhas chances.


E saiu, sem dar a chance dele replicar mais uma vez, deixando o amigo ali. Mickey voltou para a sala, batendo a porta. Sua mão deslizou pelo bolso do casaco, revelando um disco que continha o mesmo vídeo que tinha decodificado para Oliver.


– Eu avisei que as coisas mudaram, cabeça-dura idiota. – Mickey comentou para si mesmo, antes de iniciar o vídeo.


Sobre o Oceano Índico
1 de janeiro de 2009


– Arno. – Oliver cumprimentou brevemente, a bordo do avião, ignorando os outros que não conhecia. Eram cinco, contando com o conhecido.


– Oliver. – Ele sorriu, por baixo do chapéu de caubói, sentado ao lado de um rapaz de cabelos acinzentados que acenou um pouco.


– Que pesadelo. – Um homem comentou, logo após Oliver se sentar no lugar mais distante possível dos outros. Infelizmente, quando se tinha sentidos apurados, nenhuma distância era realmente grande. – Desde quando estamos aqui para limpar a bagunça da sua equipe?


Oliver notou que ele apontava para alguém, mas não conseguia ver quem. Contudo, conhecia batimentos cardíacos bem o suficiente para dizer que os outros esperavam por uma confusão entre os dois.


– Porque você tem andado muito ocupado, é claro. – Uma voz do outro lado ironizou, e algumas risadinhas nervosas surgiram. Oliver sabia de onde aquela voz tinha vindo, e como não pertencia a Arno, ele só pôde supor que era do rapaz de cabelo cinza.


– O engraçadinho. – O homem desdenhou com tanta ferocidade, que Oliver se afundou na poltrona, tentando não ouvir mais nada. “Não tenho nada a ver com isso, não tenho nada a ver com isso”, ele sussurrava para si mesmo, tapando ineficazmente os ouvidos. – Acha que não consigo bater em um idiota invisível?


– Na verdade… - Oliver viu o chapéu de Arno e percebeu que ele tinha se levantado. – Ele acha que você vai se sentar se não quiser ver como é quando alguém usa telecine tátil em um lugar pressurizado.


A porta da cabine abriu, revelando a garota loira, que levou menos de meio segundo para entender o que estava acontecendo: - Senta, caubói. – Ela falou para Arno, que, surpreendentemente, obedeceu. – Você também, Eddie.


– Por que eu iria…


– Eddie. Senta. Agora. – Ela deu o ultimato. Os dois se encararam por alguns segundos pesados, até ele finalmente se sentar. Oliver só ouvia a situação, tentando a todo custo não ser notado, mas os passos dela se aproximavam dele, até ela se sentar o seu lado. – Oliver, né? Eu sou Thalia.


Ela estendeu a mão, e ele apertou assustado. Tinha visto aquelas mãos quebrando uma parede inteira. No entanto, presumiu que ter a mão amassada era menos pior do que o rosto, então decidiu ser cortês. O aperto foi simples, diferente dele, ela sabia se controlar.


– Eu te assusto? – Ela perguntou diretamente, embora não parecesse tão preocupada.


– Você quebrou uma parede maciça. – Desabafou. – Uma parede. Com as mãos.


Ela riu: - Pelo que me contaram, você também faz coisas incríveis. Olha. – Ela mostrou os nós das mãos. Pequenas feridas e cicatrizes eram bem visíveis ali. – Todo poder tem o seu preço. Eu sei que você não tá muito na nossa onda, seja lá qual for a nossa onda, mas não precisa ter medo de nós. Todos temos fraquezas.


– Uma parede. Com as mãos. – Ele insistiu, fazendo-a rir novamente. Embora gostasse daquilo, sabia que não podia confiar em nenhum deles. Não podia se deixar levar por aquilo. Cumpriria a tarefa e iria para casa. – Então, para onde estamos indo?


– Madagascar. – Ela respondeu, esticando o pescoço para olhar pela janela, de onde se via apenas a imensidão do oceano. – E não vamos gravar um episódio do Zoboomafoo, se for o que está pensando. Temos pessoas para resgatar.


– Pessoas como… vocês?


– Como nós. E você. Sim. – Thalia concordou. – É só andar com a gente e tudo vai dar certo, sabemos o que fazer.


– Ah, tá. Eu tava mesmo sentido a união por aqui. – Resmungou, apontando com a cabeça para os assentos da frente, onde o homem chamado Eddie deveria estar sentado.


Thalia suspirou: - Todos estão nervosos. Estamos entrando nos domínios de um vigia. Chaos é o nome dele.


– Um vigia? O que é um vigia? – Perguntou. Ninguém tinha lhe dito nada sobre vigia. Na verdade, ninguém tinha lhe dito nada sobre nenhuma coisa.


– Quer saber? Eu vou lá na cabine ver como estão as coisas. Tente descansar. – Ela notou a expressão suplicante dele, e tentou encorajá-lo com um sorriso. – Feliz 2009, Oliver.


Ele estremeceu e se afundou na poltrona. “Eu vou morrer”, lamentou, se perguntando onde tinha errado.


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