Heróis de Cristal - Cidade em Chamas escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 16
Catástrofe




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Oliver se recusou a comer qualquer coisa que Mickey oferecesse, e o amigo não poderia culpá-lo: Suas reservas se limitavam a enlatados e doces. Alguns vencidos. Mickey andava agitado pela casa, movendo caixas de pilhas, procurando por algo:


— Eu obviamente avisei sua mãe. – Ofegou, enquanto movia uma caixa particularmente pesada com seus passos lentos. – Agora sou um mentiroso também.


— Deixe eu pegar… - Oliver se ofereceu, avançando as mãos na caixa, mas Mickey deu as costas para ele, posicionando-a no chão, ao lado da porta.


— Você foi envenenado! Deveria estar morto. – Protestou, se dirigindo ao armário para remover outra caixa. – Metabolizar venenos é algum poder novo?


Oliver olhou para a palma da mão direita. Certa vez, tinha ganhado uma cicatriz por uma queimadura ali. Ela não estava mais ali há muito tempo: - Não… - Explicou, se concentrando na realidade. – Pandora. Temos imunidade a diversos tipos de venenos. Esse, no entanto, foi mais…


— Autoral. – Mickey completo, jogando para o lado uma caixa cheia de troféus de boliche. – O bastante para te deixar mais mole que gelatina boa, mas não para te matar. Alguma outra coisa que eu precise saber? Você não desenvolveu nenhum impulso assassino nesses últimos anos?


— Mickey…


— Sério, Oliver. – Ele se dirigiu até o amigo, dessa vez sem nenhuma caixa em mãos. – Eu conheço… Conhecia o seu pai desde antes de você nascer. Eu te conheci por toda a sua vida e hoje, eu vejo um estranho… Você matou aquelas pessoas.


— Só é difícil na primeira vez. – Ele afirmou, sem olhar diretamente para Mickey. – Essa não foi a minha primeira vez.


Mickey o encarou por alguns segundos, antes de se voltar para as caixas. Oliver não precisava de palavras, sabia como ele se sentia. As batidas de seu coração, seus movimentos, dos menores como o lábio contraído ou os maiores como andar mais pesadamente, ele percebia tudo aquilo. Era melhor em descobrir segredos do que guardá-los.


Após mais alguns minutos de busca, Mickey encontrou a caixa que procurava, repousando-a na mesa de jantar que praticamente não era utilizada. Oliver se aproximou para ver o conteúdo. Mickey enfiou a mão e retirou uma máscara daquelas que cobriam toda a cabeça e o rosto:


— Máscara espelho. – Explicou Mickey, colocando-a no rosto. A cada expressão facial que ele fazia, o tecido se moldava para replicá-la. – Era para assumir rostos diferentes. Protótipo militar rejeitado. Muito caro. Muito trabalhoso. Mas deve servir para você.


— Obrigado. – Agradeceu com sinceridade. Tinha se acostumado com as máscaras comuns ao longo dos anos. Os neoseres de Pandora não costumavam usar. Não tinham uma vida para retornar. E os Wallys se contentavam em esconder apenas o próprio nome. Ele não. Ainda tinha esperança de ser normal novamente.


— E eu tenho isso também. Está desmontado e incompleto, mas… - Ele foi retirando várias peças da caixa. – Esse é o TELOT, que fica para Traje Essencialmente Leve de Operações Táticas.


— Você nomeou isso? – Oliver perguntou, desconfiado, agarrando uma das peças, feita para cobrir uma mão. O toque lhe deu uma sensação até então inédita. – Eu não conheço esse material.


— É experimental. Com estímulo elétrico ou magnético, isso pode passar do líquido para o sólido – Ele estalou os dedos, empolgado. – Em uma fração de segundo. Isso serve para que o traje se regenere de buracos de bala. Também tem sensores, então eu posso monitorar seus batimentos, temperatura, pressão… Fornecer oxigênio, medicamentos. Enfim, cuidar de você.


— Isso não vai limitar meus movimentos? – Oliver perguntou, receoso. – Você sabe, eu preciso me mover bem rápido, se isso for pesado…


— Posso remover algumas partes nas articulações, braços e pernas. Trocar por algum tecido mais leve… - Considerou Mickey, levando a mão ao queixo enquanto pensava nas modificações. – e menos resistente. – Censurou, por fim.


— Deve servir. – Concordou, bocejando. Ainda estava muito cansado e dolorido. – Eu vou para casa. Minha mãe deve estar louca.

Antananarivo – Madagascar
1 de janeiro de 2009


— Então é assim que você morre? Que anticlimático. – Helena se virou para Sandy, segurando uma bola de energia com as mãos. – Saiba que eu não tenho prazer nisso.


— Eu duvido disso. – Sandy sorriu, apesar do que sentia em ver a antiga amiga ali. Do lado de uma das criaturas que ela mais desprezava.


— Pensei que me conhecesse melhor, não sou uma sádica. – Helena respondeu, com um tom ofendido.


— Não estou falando disso. – Sandy respondeu. – É que eu duvido que vá morrer aqui.


— Por que? Pretende apelar para a minha misericórdia? Espera alcançar a antiga Helena no fundo do meu… - Ela foi interrompida quando um punho invisível acertou seu queixo, fazendo-a cair para trás.


— O moleque invisível! – Um dos aliados de Chaos gritou, antes de ser atingido por uma das rajadas de luz de Francisco e jogado no limite do domo de Helena.


Os outros também reagiram. As habilidades dos membros de Pandora se chocaram com os aliados de Chaos trazidos por Helena. Contudo, eles levavam a melhor agora que a mais poderosa deles tinha sido derrubada e Chaos não parecia querer interferir mais naquilo.


O vigia fez uma expressão entediada. Sabia que a batalha não estava indo como nenhum dos dois lados esperava. Se perguntou se deveriam recuar quando David investiu em sua direção, ignorando os avisos que Gael gritava:


— Nosso último confronto não foi bem para você. – Chaos fez questão de lembrá-lo, quando segurou o soco da armadura psíquica que envolvia o neoser. – Este não será diferente.


— Bom trabalho. – Arno falou para Oliver, que o ajudava a levantar após ambos darem conta de mais um dos lacaios de Chaos. Oliver deu um tímido sorriso. Tinha tido sorte em localizá-los com seus sentidos.


— Eu acho que você perdeu. – Sandy falou para Chaos, se levantando com cuidado. – De novo.


Chaos a olhou com curiosidade sem dizer nada enquanto jogava David para trás. Foi quando as explosões estouraram pela cidade. As manifestações antigovernamentais manipuladas por Chaos tinham começado e eles não podiam mais impedir. O vigia, no entanto, não sorriu. Não fazia aquilo por maldade. Sandy sabia, mas aquilo não servia de consolo. Ainda era maldade.


— Nosso desfecho será adiado, pequena bruxa. – Chaos respondeu, carregando a desacordada Helena e dando um salto para fora do domo que se desfez, deixando todos os outros ali. A força das pernas dele ainda a impressionava.


— Não! – Thalia gritou, mas era tarde demais. O vigia já estava longe e a cidade já estava condenada. Contudo, tinham recuperado seus aliados e capturado alguns dos homens de Chaos. Sabia que chamariam aquilo de missão cumprida, apesar da raiva que agora queimava no seu interior.


Oliver olhou para a destruição causada pela luta e para a fumaça que se via do outro lado da cidade. Se se concentrasse bastante, podia ouvir o conflito dos protestantes. Era aquilo que os heróis traziam? Tudo o que ele conseguia ver era catástrofe sem fim. E, antes que notasse, sem aviso algum, percebeu que aquilo o fazia chorar. 


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