Heróis de Cristal - Cidade em Chamas escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 15
Abertura




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Molly não sabia bem o que pensar daquela noite. Estava em casa, mas não se sentia segura. Não imaginava que algum dia pudesse se sentir segura novamente, embora soubesse que isso não era verdade. Já tinha passado por coisas assim antes, mas parecia uma eternidade desde aquele tempo e sua vida era mais normal desde então. Pelo menos, deveria ser.


Oliver também estava lá daquela vez. E Mortimer e Kylie. Mas eram apenas os quatro naquele tempo. Inseparáveis como nunca. Aquilo também tinha acabado. Como tudo acabava. Mas ela permanecia. Sempre permanecia. Como permanecia na cama, de onde olhava o telefone que repousava ao seu lado, piscando sem parar. Não se sentia confortável para falar com ninguém, nem mesmo com seus pais. Ou Oliver, que a tinha prendido em um armário (!!).


Ainda assim, ela se perguntava como ele estaria agora. O Pensador (“Eu preciso arranjar um nome melhor para ele”) tinha garantido que ele ficaria bem e, por algum motivo, ela sentia como se pudesse confiar nele. Ele tinha protegido a todos, afinal. E então tinha sumido. Molly imaginava quantos segredos ele guardava além do rosto. Definitivamente era alguém forte. Mais do que isso. Quase sobrenatural. Ou ela teria imaginado o que aconteceu no salão?


Não. As coisas já andavam estranhas em Perth há bastante tempo. Todos sabiam disso, mas ignoravam por algum motivo. Ela se levantou da cama. Era hora de parar de fingir que não via ou se importava. Era hora de abrir os olhos.


Antananarivo – Madagascar
Janeiro de 2014

— Devíamos parar de fazer planos. – Thalia repetiu. – Sério, algum plano já deu certo? Alguma vez?


— Teve aquela vez em Moscou. – Sara recordou, um pouco séria. – Nós derrubamos um urso.


— Isso é muito ótimo, mas – Arno se juntou aos outros. Contra Chaos, não se podia fazer muito à distância. Não que de perto fosse muito melhor. - ele não é um urso.


— Ele cheira como um. – Sandy resmungou, acariciando as mãos que doíam. Chaos era muito pesado, muito resistente. Suas magias físicas a feriam muito mais do que a ele. – Eu tenho um truque na manga. Posso derrubar ele, se vocês me ajudarem.


— Derrubar Chaos? – Arno repetiu, incrédulo. – Sandy, ninguém duvida da sua força, mas estamos falando de Chaos.


— Você pode ir com os perdedores ajudar no resgate se estiver com medinho do papai. – Eddie sugeriu, em tom de provocação e Chaos, que escutava tudo, foi o primeiro a rir.


Eles não eram humanos, mas eram muito próximos disso. Sempre incapazes de agir em situações adversas abrindo mão dos próprios egos. Como poderiam? Cada um deles podia ser um deus, se quisesse, e seus interiores clamavam por isso. Chaos sabia abusar dessa fraqueza. Tinha anos de prática. Mas Arno não se abalava tão facilmente. Ele sabia disso.


Entre todos os filhos que já tivera, nunca tinha gostado de um como gostava Arno. Era uma pena que ele não o entendesse. Era um homem de Pandora da cabeça aos pés. Ou um garoto de Pandora. Não era tão velho. Embora fosse experiente. Oh sim, as batalhas que ele tinha testemunhado. Arno era uma obra-prima que ele quase se envergonhava em quebrar. Quase.


— Sandy… - Arno alertou, fazendo o possível para ignorar Eddie e se manter calmo.


— Confie em mim. – Ela respondeu, com um sorriso. – Eu posso não ser a casta da humanidade mais próxima de Deus, mas ainda sou uma grande maga.


Arno a encarou, refletindo se era uma boa ideia tê-la trazido até ali, onde Helena possivelmente estaria e se ela não estaria se forçando além do que podia fazer. Mas desconfiar dos companheiros era o jeito do seu pai. E ele nunca seria como o pai. Tocou nos projéteis que levava nos bolsos, enchendo-os de energia cinética, como sua habilidade o permitia fazer, enquanto assentia com a cabeça para Sandy, se preparando para o que viria.


— Como podemos ajudar? – Thalia perguntou, também aprovando o que Sandy queria fazer. Arno sabia que ela seria uma grande líder se tivesse mais confiança em situações assim. Ela aprenderia. Se sobrevivessem.


— Preciso de uma abertura. – Sandy encarou Chaos, que exibia aquele odioso sorriso que tinha lhe tirado tanto no passado. As mãos dela começaram a brilhar em azul. – Um golpe direto nele deve funcionar.


Nos segundos seguintes, a cacofonia dos ataques preencheu o ar quando os quatro neoseres atacaram o titã ao mesmo tempo. A mão maleável de Eddie se dobrou sem quebrar ao atingir o corpo duro de Chaos, embora o mesmo se movesse como se não pesasse nada, quase flutuando entre os ataques.


Arno tocou o braço do vigia, enchendo-o de energia cinética enquanto sua mente tentava, sem sucesso, controlá-lo. Chaos resistia. Mesmo Thalia com toda a sua força mal podia movê-lo usando os poderosos punhos. Sara transformava sua mão em machados afiadíssimos que pareciam ser de brinquedo ao tocar a pele dele. Quando o vigia girou os braços, os quatro foram jogados para longe como bonecos de pano.


— Ops. – Chaos zombou, voltando-se para Sandy enquanto todo o ruído e destruição chamavam a atenção dos transeuntes. – Vocês têm razão. Planos. Nunca dão certo.


Ela mal pôde piscar antes de Chaos alcançá-la, desferindo uma joelhada que seria fatal em diversos aspectos, caso suas mãos não mudassem instintivamente de azul para amarelo, conjurando uma magia de proteção. Nada que a impedisse de se machucar enquanto era arremessada alguns metros atrás de si, na avenida principal, lotada de pessoas.


Sandy tentou se levantar embora seu corpo inteiro estivesse doendo. Ela sentia o Sol forte castigar o seu rosto e ouvia o murmúrio dos civis ao redor, mas não entendia muito além disso sobre o que estava acontecendo ao seu redor. Era como se tudo estivesse girando sem parar em sua mente. Ela sabia que Chaos estava vindo, mas nada podia fazer para detê-lo.


Mas quando Chaos tentou dar mais um passo na direção dela, sentiu dificuldade em se mexer. Os dedos de Sara tinham se transformado em cordas que, controladas mentalmente pela cinética de Arno se amarravam cada vez mais firmemente na perna do vigia e, ao mesmo tempo, eram puxadas na direção contrária a Sandy por Thalia.


— Uma abertura…! – Eddie avisou, investindo contra Chaos pelas costas de sua lateral, brigando-o a repelir seu ataque. Pela primeira vez, o vigia não estava sorrindo. Seus pés estavam imobilizados e seu movimento repentino contra Eddie tinha deixado-o exposto.


Seu olhar raivoso se voltou contra Sandy enquanto ele tentava se recuperar do erro. A mão dela tremia, como o resto do corpo, mas ela ainda a levantou, brilhando em azul, na direção do vigia. Podia acabar com ele bem ali. Podiam vencer. Ela fechou os olhos quando seu poder foi liberado, esperando o desfecho que viria daquilo.


— Esse poder é proibido. – Uma voz a repreendeu, fazendo seus olhos abrirem. Helena estava na sua frente, com as mãos abertas, enquanto fiapos de luz azul evaporavam ao redor delas. – Você deveria saber, já que foi quem me ensinou, quando éramos amigas. – Comentou com frieza, antes de se virar para as pessoas ao redor. – Vocês não viram isso.


A simples sugestão foi o bastante para que todos repentinamente deletassem suas gravações, saíssem das janelas ou continuassem a andar entre o combate como se nada acontecesse, da mesma maneira que tinha feito ao abordar Oliver e Gael. Sandy sabia quão poderosa Helena era e esperava não encontrá-la.


— Obrigado, Helena. – Chaos falou, retomando o sorriso enquanto o resto de seus lacaios se reunia na redoma mágica de Helena que impedia a percepção alheia e ele removia as cordas. – Isso pareceu perigoso.


— E é. – Ela confirmou, olhando para Sandy de cima com uma expressão curiosa. – Mataria vocês dois.


— Helena! – Thalia gritou com raiva, socando o chão que se dividiu em destroços variados onde ela acertou. Os outros ainda tentavam se recuperar dos golpes dele, especialmente Eddie, que tinha sido jogado para longe mais de uma vez. Não fosse sua maleabilidade, ele sabia que não estaria nem consciente naquela altura. Talvez nem mesmo vivo.


— O que devemos fazer, mestre? – Perguntou, ignorando a antiga companheira.


— Matem a todos. – Decretou Chaos e seus servos se prepararam para obedecer. Sem hesitar.


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