Ambrya escrita por Hina


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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PRÓLOGO

O garoto era baixo, mas sua postura passava completa segurança enquanto seus passos o levavam ao local marcado para o encontro. Era acompanhado por dois homens, mais velhos e mais altos, embora fossem eles que precisassem se apressar para acompanhar seus passos decididos.

Pararam em frente a uma porta metálica, como tudo o mais naquele lugar, e um dos homens se adiantou, passando um cartão de abertura para destravar a entrada. A porta de abriu com um click e girou para dentro.

Na sala do outro lado, apenas uma grande mesa atrás da qual sentava-se um homem de cabelos castanhos desgrenhados e postura relaxada. De pé a seu lado, um senhor de meia idade e uniforme militar. Era semelhante àquele que usavam os homens que chegaram, o uniforme da guarnição daquela sede da força nacional, responsável pela coordenação de defesa de reféns.

Antes de entrar na sala, o garoto, também uniformizado embora sua farda fosse preta enquanto a dos demais era azul, prestou continência para o mais velho, que retribuiu e pediu que ele entrasse. Após passar pela porta esta fechou-se novamente, deixando os outros dois homens do lado de fora.

– Fico feliz que tenha atendido nosso chamado tão rapidamente, tenente Dante.

Antes que pudesse responder, um assobio de surpresa cortou o ar, vindo do homem largado na cadeira.

– Então este é o tal Dante que você mencionou? Ele é apenas um garoto.

O rosto já sério do mais novo enrijeceu, tornando-se uma máscara de repreensão fria. Seus olhos escuros avaliaram criticamente o maior: os cabelos castanhos eram desgrenhados, com ondas suaves que cobriam a nuca, e seus olhos verde-folha tinham um quê zombeteiro e até mesmo desdenhoso enquanto também o analisavam.

Tinha um porte grande para um cientista, pensou, embora fosse difícil julgar por baixo das roupas largas e mal arrumadas. Ele aparentava, aliás, não o mínimo cuidado com a própria apresentação. Cabelo grande, roupas largadas, barba por fazer.

Os lábios claros do tenente formaram uma linha fina de desgosto e ele se repreendeu por fazer uma avaliação pessoal daquele cuja segurança passaria a ser sua responsabilidade. Ao mesmo tempo em que pensava que o tal homem lhe daria trabalho.

Os olhos cinzentos do militar mais velho se tornaram duros por um momento antes de suavizarem.

– Tenente Dante é um de nossos combatentes mais capazes, doutor Suez, apesar da pouca idade. Ele obteve os melhores resultados em sua turma.

Julian Suez Delmoro suspirou e fixou seus olhos no garoto loiro a sua frente. Se antes havia ironia e diversão em seu rosto de pele bronzeada, agora ele mirava Dante com uma intensidade intimidante. Ou ao menos seria intimidante para outras pessoas, menos treinadas.

– Sim, você já tinha mencionado, coronel Belmor.- O doutor dirigiu-se ao mais velho, embora ainda observasse seu novo guarda-costas.- Então, deixo minha vida em suas mãos, tenente.

Julian largou-se ainda mais na cadeira, cruzando as mãos atrás da cabeça e esticando as pernas. Dante suprimiu sua vontade de cerrar os punhos e, talvez, socar o rosto arrogante de Suez para tirar aquele sorrisinho dele. Em vez disso, ignorou-o e dirigiu-se ao coronel.

– Estou pronto para assumir minha missão, senhor. Quais são minhas instruções?

O mais velho assentiu, claramente aprovando as atitudes e objetividade do garoto. Pegou um controle sobre a mesa e apertou alguns botões. A sua frente surgiu um holograma, com um mapa mundi em três dimensões, representando as alianças políticas entre os países.

– Como informamos no pedido de cooperação enviado à unidade de atuação especial, há alguns dias a princesa de Ambryader solicitou nosso apoio para a proteção de um de seus cientistas, o doutro Suez. Nosso dever como nação amiga é garantir sua segurança e bem-estar.- Belmor apertou mais um botão e a imagem mudou, dessa vez mostrando um prédio amplo de aparência moderna e em seguida suas instalações: laboratórios com diversos equipamentos, dormitórios coletivos e individuais, salas de treinamento incluindo um stand de tiro, academia e uma piscina.- O doutor será transferido para a unidade de desenvolvimento tecnológico do leste, onde poderá prosseguir seu trabalho. Parte do acordo é que todo conhecimento desenvolvido pelo doutor durante sua estadia em Breazinder será de posse de ambas as nações: Ambryader e Breazinder.- Virou-se novamente para o loiro.- Sua missão inclui acompanhar e proteger Julian Suez Delmoro em todos os momentos enquanto ele estiver sob nossa proteção.

“Delmoro” pensou Dante com amargura, mas não comentou. O que disse foi:

– Como membro da unidade de atuação especial, aceito minha missão e me comprometo a guardar a vida do doutor Suez ao custo da minha.

– Palavras fortes para alguém tão jovem, tenente Dante.- O de cabelos castanhos disse em voz baixa.

Os olhos negros de Dante se voltaram para ele, gelados. Os dois se encararam por um instante antes do garoto voltar-se novamente para seu superior.

– Coronel Belmor, podemos conversar sobre os detalhes da missão, em particular?

O mais velho passou rapidamente os olhos pelo moreno antes de assentir.

– Pedirei a um soldado que venha acompanha-lo, doutor Suez. Tenente Dante.- Chamou o loiro que, sem direcionar nem mais um olhar ao cientista, seguiu o coronel para a porta na parede oposta da sala, sentindo os olhos verdes em suas costas enquanto se afastava.

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–Peço que tenha paciência com ele, tenente. Sabe da importância de mantermos as boas relações com Ambryader.” O rosto de Dante era duro e sua boca uma linha rígida com a lembrança da voz de Belmor. Já havia passado por muita coisa em seu curto tempo de vida e não seria um nobre metidinho como aquele que iria afetá-lo. Era um agente de elite, com uma missão a cumprir.

Ou ao menos era o que tentava se forçar a lembrar enquanto seguia ao lado de Julian Suez pelo corredor da nave que os levaria à unidade de desenvolvimento tecnológico do leste.

– Dante é um nome muito sombrio, não combina com sua aparência. Não tem algum outro?

Ignorou-o, sem sequer se dignar a olhá-lo.

– Qual seu nome do meio?

Dante é meu nome do meio.- Respondeu entredentes.

– Então qual seu primeiro nome?

– Não é necessário e nem tem minha permissão para me tratar pelo primeiro nome.

– E qual o último, então?- Julian revirou os olhos.

– Doutor Suez.- Dante parou e encarou-o, os olhos negros frios.- Sou responsável por sua segurança, apenas isso. Não vou ser seu amigo.

Dito isso voltou a andar e o moreno suspirou. Continuaram caminhando em silêncio em direção ao quarto em que foram alojados. A medida que cruzavam os corredores, Julian reparou na comoção discreta que o loiro causava. Os demais militares pareciam prender a respiração ao vê-lo e rapidamente prestava sua continência, alguns o seguindo com os olhos com curiosidade, admiração ou medo.

O cientista não era desprovido de conhecimento acerca da hierarquia militar e sua organização, e entendia o motivo daquilo: o uniforme negro, a unidade de atuação especial. Os agentes de elite de Breazinder, cujas habilidades eram reconhecidas em todo o mundo. E pelo jeito aquele garoto era um dos melhores.

Pelo canto dos olhos analisou discretamente o tenente. Era jovem, talvez sete ou oito anos mais novo que ele próprio. Os cabelos loiro claros, em um tom pálido de amarelo, eram lisos e bem cortados, ligeiramente mais compridos ao redor do rosto. E os olhos eram incrivelmente negros, em contraste com a pele pálida. O conjunto formava uma beleza suave, quase delicada, se não fosse pela rigidez de suas feições e movimentos.

– Pare de me encarar.- Dante resmungou sem se virar para ele.

Julian ergueu as sobrancelhas e abriu um sorriso divertido, expondo dentes muito brancos.

– Desculpe, tenente. Eu não pude evitar.

O loiro estava a sua frente e Julian não pode ver a expressão em seu rosto, mas notou quando seus ombros enrijeceram. Nenhum dos dois mencionou mais nada até chegarem à porta do quarto. Dante parou, imóvel e inexpressivo enquanto Julian a destrancava.

O quarto era bastante sofisticado para uma nave simples de transporte, como a que utilizavam, embora ainda estivesse longe do nível ao qual Julian estava acostumado. Dirigiu-se para sua cama, ampla e confortável, com lençóis brancos recém-trocados. Separou uma roupa limpa no armário ao lado da cama e foi para o banheiro anexado ao quarto.

Tirou as roupas e entrou no chuveiro, deixando a água aquecida relaxar a tensão de seus músculos. Seria ainda melhor se fosse uma banheira com alguma loção calmante, mas não iria reclamar. Era um convidado ali, afinal.

Após vários minutos embaixo da água esticou o braço pela cortina escura para pegar o shampoo sobre a pia. Quando o fez, pode ver o espelho na parede e o reflexo de um rosto de olhos escuros emoldurado por fios claros.

Dante estava parado ao lado da porta, olhando para a frente, para nenhum ponto em particular. Parecia uma estátua.

Julian deu um passo para trás com o susto e tropeçou no piso molhado do box. Perdeu o equilíbrio e teria caído de bunda no chão, se não fosse rapidamente amparado, uma mão em seu braço e outra em suas costas. O tenente agora estava do seu lado, o rosto uma máscara de controle inexpressivo.

Julian ergueu as sobrancelhas um tanto desconfortável e agradecendo mentalmente por a tolha não ter desenrolado da cintura.

– Obrigado. Você por acaso estava me espionando?

– Estou fazendo meu trabalho.- Respondeu seco.

Julian suspirou. Estava cansado demais para implicar com o menor naquele momento. Precisava de um pouco de paz.

– Olha, eu não vou sair daqui, pode me esperar no quarto está bem? Ninguém vai aparecer para me assassinar dentro do banheiro.

O loiro não se mexeu. Não parecia levar o outro muito a sério.

– Eu não estou brincando, Dante.- Julian repetiu, dessa vez com a voz mais firme.- Não quero ter que te dar uma ordem.

Com um último olhar atravessado, Dante se virou e deixou o banheiro, seus movimentos precisos e econômicos.

Julian deu um pequeno sorriso quando a porta se fechou. O garoto era bem treinado, sabia a hora de engolir o orgulho para fazer seu trabalho. Terminou sua ducha com toda a calma do mundo. Ainda levariam várias horas para chegar a unidade leste e ele teria bastante tempo para conhecer a nave ou dormir se quisesse.

Quando enfim saiu do banheiro, de barba feita e secando os cabelos rebeldes com uma toalha felpuda, parou pouco depois de abrir a porta, ainda segurando a maçaneta. Seus olhos estavam fixos na cena a sua frente.

Dante estava de costas para o banheiro, virado para o próprio armário. Havia tirado a farda e agora vestia apenas uma calça folgada, os pés descalços. E por mais que a silhueta esguia, de musculatura torneada e flexível, fosse bastante atraente, o que atraíra os olhos verdes foram as diversas cicatrizes na pele leitosa, nas costas e nos braços.

– Quem fez isso com você?

O loiro se virou para ele e não pareceu surpreso por estar sendo observado. Julian não esperava diferente, era um soldado de elite afinal.

– Os treinamentos da unidade. E talvez uma ou outra missão de que participei.- Respondeu, a voz entre o desprezo e a indiferença, e vestiu uma blusa branca de mangas curtas.- Me chame se quiser sair do quarto. E não tente escapar sem que eu perceba, não vai conseguir.

Dito isso, deitou-se na cama, de costas para Julian. O moreno ficou observando-o por alguns instantes e por fim deu de ombros, indo para a própria cama. Talvez realmente fosse uma boa ideia dormir um pouco.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal, fico feliz que tenham chegado até aqui! Comentários, elogios, críticas, dúvidas e sugestões serão MUITO bem-vindos!



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