Unknow escrita por Lady TMS


Capítulo 2
Capitulo 2




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Ele olha atentamente antes de falar:

– Preciso de uma ajuda. Você pode abrir para mim?

Eu penso um pouco a respeito e decido deixa-lo entrar.

O cara passa por mim e espera que eu tranque a porta antes de me seguir. Vou para trás do balcão e coloco o muffyn de lado.

Caras bonitos tendem a me deixar auto consciente de repente. E por isso, eu percebo que devo estar com dentes sujos de muffyn, o meu cabelo está em um coque bagunçado e molhado, estou sem maquiagem e com as unhas descascadas do último esmalte. Um contraste gritante entre eu e minha vó você pode dizer.

É bem irônico que esse cara bonito apareça logo depois que eu me decidi a não ter mais expectativas com ninguém.

Por alguns segundos eu pisco. Até que ele me chama a atenção colocando o mapa molhado em cima do balcão pingando água pelo chão e tira um papel do bolso.

– Você sabe se eu estou em Santa Mônica?

É constrangedor ser olhada tão de perto mesmo sabendo que ele só quer informações.

Eu aceno a cabeça abaixando os olhos para o mapa. Faz tempo que não vejo alguém usando isso. Geralmente turistas aparecem xingando o GPS ou o sinal do celular. Mas nunca, nunca com um mapa encharcado.

– Onde você está querendo ir? – pergunto.

– Neste endereço – ele tira um papel dobrado do bolso e me entrega. Eu pego rapidamente e tento entender a letra.

Eu sorrio quando finalmente entendo.

– O endereço é nessa rua. Você não vai precisar se molhar muito mais.

Ele suspira e eu vislumbro a cor dos seus olhos. Um marrom escuro. Quase preto.

–Sabe de algum lugar onde possa passar a noite?

Eu me afasto e pego um guardanapo onde desenho um pequeno mapa. Porque sou melhor desenhando do que explicando. E eu não pretendo me arriscar a falar muito mais com ele.

Ele agradece e eu aceno.

Quero que ele vá logo embora. Ele me faz querer devorar um livro de romance cheio de açúcar. E eu não posso mais ler livros assim. Ou assistir filmes... Ou ver séries... Ou ver casais se beijando...

Segundo uma pesquisa que eu li. Garotas viciadas em filmes com finais felizes, tipo todos os filmes da Julia Roberts, nos tornam iludidas! Acredita nisso? Segundo o artigo seríamos totalmente crentes que encontraríamos o príncipe encantado igual a Cinderela, e a verdade é que, ele não existe...

Esse artigo me matou.

Vou até a cafeteria para me servir de um café esperando ouvir a porta se abrir, mas quando eu me viro ele continua lá.

Eu inclino minha cabeça curiosa, quando ele sorri brevemente.

–Você pode me servir um café?

– A – falo bobamente- Tudo bem.

Preparo outro café e coloco em sua frente. Ele se senta no banco e tira a jaqueta de couro. A jaqueta pelo qual eu estava de olho desde o começo. Ele me pega reparando.

– Bonita jaqueta – eu digo para que ele não entenda mal.

– Obrigado. É a minha preferida – ele toma um pouco de café e eu reparo na tatuagem de uma bússola em seu antebraço.

Lembro sobre tudo que sei sobre bússolas. Geralmente usada como tatuagens em pessoas que se sentem perdidas... Que querem encontrar seu caminho.

Mas também, a partir daí, suponho que ele seja um cara que gosta de viajar. Isso explica a moto e o mapa.

Não o que ele faz em Santa Mônica. Desde que essa cidade não é exatamente um ponto turístico.

Na verdade, ela é a cidade mais monótona do mundo. Nada acontece por aqui. Nada mesmo. Zero.

Eu fico tentada a perguntar o motivo da sua visita, mas paro. Não é realmente da minha conta. Acontece, que eu sou uma pessoa muito curiosa.

– Está a passeio pela cidade? – pergunto.

– Estou visitando meu irmão. – ele passa a mão pela barba.

– Relação complicada? – pergunto de novo antes de pensar.

– Pode se dizer que sim. Estou tentando atrasar o reencontro o máximo possível.

– A pousada que eu te passei é meio rústica e pequena, mas você vai gostar de lá. Eu até aposto um muffyn.

–Um muffyn?

Eu aceno.

– Eu sempre aposto um muffin.

– Garotas não preferem ganhar jóias e essas coisas?

Dou de ombros.

–Você nunca comeu esses muffins da minha vó. São os melhores.

– Tudo bem – ele se recosta na cadeira – e se eu não gostar da pousada?

– Ai, eu fico te devendo um muffin.

Ele aperta minha mão e o toque dele me faz corar.

– Estou dentro então. Valendo muffins.

Um silêncio se segue e eu procuro algum assunto desesperadamente em meu cérebro mas ele parece vazio, então volto a me sentar tendo uma conversa séria comigo mesma sobre como eu não me importo mais.

Quer dizer, ele é lindo. Tem a pele morena, tatuagens espalhadas pelo antebraço, cabelo escuro que constantemente fica caindo em seus olhos por estar molhado e cobrindo suas sobrancelhas grossas.

Que chance eu teria?

Termino de beber meu café e estou pronta para pegar mais um.

– Quer outro café? - pergunto

– Sim, por favor.

Eu coloco outra xícara quente na frente dele.

– A propósito, eu me chamo Peter– ele fala – e o seu nome?

– Colbie.

Um brilho de reconhecimento atravessa seu rosto mas logo desaparece quando ele esfrega suas mãos pelo rosto. Ele fica me olhando como se estivesse decidindo algo e depois sorri para si mesmo.

– Então… Você e sua avó trabalham aqui? – ele pergunta.

Eu aceno.

– Ela é a dona - reviro os olhos.

– E você é paga com muffins. Não posso imaginar emprego melhor.

– Certo. Muitos morreriam por esse emprego. O que você faz da vida? – pergunto curiosa.

– Sou fotografo, na maior parte do tempo – ele dá de ombros.

– E na outra parte do tempo?

Ele dá de ombros novamente. Reparei que ele faz muito isso quando quer tirar a importância de algo.

– Só fico andando por ai…

Eu me inclino por cima do balcão.

– Eu sabia.

Ele faz uma cara de interrogação e eu coro.

– Eu sou boa em ler as pessoas – quando ele parece meio duvidoso eu cutuco em seu braço indicando a tatuagem da bússola – isso completamente te entregou.

–Sério? Como me entregou?

Dessa vez, eu dou de ombros.

– O mapa, a moto, a tatuagem… Você é o cliché de um aventureiro. Tem suas mãos também.

– Minhas mãos? – ele as abre procurando alguma coisa.

– Elas são ásperas e tem calos. Não me entenda a mal. Não são ruins, mas significa que provavelmente faz trabalhos manuais tanto quanto tira fotos.

– Pode se dizer que sim… O que mais pode dizer de mim?

Eu sorrio. Ele é um cara normal afinal de contas.

–As pessoas gostam de ouvir todo tipo de coisas sobre elas mesmas - digo mais para mim mesmo.

Uma vez eu li que a melhor maneira de chamar a atenção de alguém é repetir o nome dela várias vezes na conversa. Isso fara até com que ela passe a gostar de você.

Todos somos um pouco narcisistas.

Essa é a terceira verdade que ninguém te conta.

É por isso que fazemos testes e testes de personalidade. Mesmo sabendo quem somos. Por isso vamos em cartomantes. Por isso nos olhamos tanto no espelho. Por isso queremos tanto ser alguém.

– Eu quase me sinto como as mulheres que fazem leitura de tarô - digo a ele - A expectativa de acertar, ou de descobrir coisas que nem mesmo você sabia... Se você quiser uma consulta eu cobro um muffyn no final ok?

– Já são quase dois muffyns que eu estou te devendo em dez minutos.

– Eu nunca perco uma oportunidade. Tenho uma dieta exclusiva de muffins, então tento aproveitar ao máximo das pobres almas ingênuas que não me conhecem. Minha vó não deixa eu comer os muffins dela. Eu tenho que fazer por merecer.

–Percebo. Você é uma boa estrategista. Faz os clientes se sentirem a vontade oferecendo café, e logo os envolve em uma conversa onde eles ficam te devendo…

– Isso seria verdade – digo- se você não tivesse pedido o café primeiro. Ou tivesse resistido ao papo de ler as pessoas.

Ele sorri. Dessa vez, parece quase um sorriso verdadeiro.

– Então, o que você fez para conseguir esse mufin? – Ele aponta pro meu muffin mordido.

– Fiz o jantar.

– O que mais consegue dizer sobre mim? – ele volta ao assunto.

– Bom, o comprimento de seu cabelo e barba dizem que ou você é muito ocupado ou faz tempo que não para em um lugar fixo.

A primeira regra sobre contar as pessoas sobre elas mesmas é dizer coisas boas. Ninguém quer ouvir que fede ou que é feio.

– Pode ser que eu seja só desleixado - ele diz.

– Não acho que seja seu caso - eu não minto - Mesmo tendo pegado chuva sua jaqueta está em perfeita condição, assim como seus sapatos. Acho pouco provável que uma pessoa que cuida tão bem das suas roupas não cuidaria da sua aparência. Além disso suas unhas estão muito limpas pra você ser desleixado.

Ele se recosta na cadeira me observando.

– Estou impressionado.

Eu acertei. Isso é bom. Sempre tem a chance de ler mal alguém. Felizmente as pessoas sempre dão dicas se você está no caminho certo. Linguagem Corporal I:

Elas soltam meios sorrisos quando você esta dizendo as coisas certas.

Franzem os cenhos nas erradas.

Passam a mão pela orelha quando querem que você pare. Ou cruzam as pernas quando desconfortáveis.

– Minha vez? – ele pergunta. Eu dou de ombros. Não é que eu seja um livro aberto. Só não tenho nada que me entregaria fácil.

– Você está passando as férias com sua vó?

– É uma pergunta?

– Não?

– Errou. – sorrio.

– Você faz faculdade de artes plásticas?

Sorrio de novo.

– Você tirou essa conclusão por causa de um desenho que fiz? – cutuco o o desenho da localização da pousada rindo – muito errado.

Ele coça a cabeça.

– Parece mais fácil quando você faz.

– Eu disse que era um talento Sr. Sabe tudo.

Algo chama minha atenção do outro lado da rua e eu paro de falar, mas quando procuro por algo, não vejo nada a não ser chuva cobrindo boa parte da rua.


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