Unknow escrita por Lady TMS


Capítulo 1
Capítulo 1




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Estou sentada em um banco de parque.

A temperatura foi diminuindo aos poucos, e eu percebo quão frio está quando a rajada de vento seguinte me atravessa.

O céu dá amostras de que uma tempestade vem por ai. Mas eu não ligo, por que finalmente terminei de ler meu livro preferido no Universo.

Fecho a capa dura e antiga e respiro fundo. Sonhando, desejando, que eu pudesse simplesmente ser a personagem de um livro de romance…

Já tive minha cota de beijos ruins e ficadas fáceis de uma noite. Estou cansada de esperar e é por isso que eu não procuro mais Ele. O cara que eu fiquei esperando que me faria suspirar.

Minha vó sempre disse que Ele chegaria, mas eu já estou pronta pra seguir a realidade.

Esse livro nas minhas mãos é especial não por só ser o meu livro favorito, mas por ser meu ponto final.

Eu levanto do banco quando as primeiras gotas de chuva me atingem e vou andando para casa, diferente das pessoas que começaram a correr. Não tenho pressa, eu estou aproveitando o fim do dia hoje.

Guardo o livro na minha estante. Onde algumas dezenas de outros o esperam. Dou um passo para trás para ter certeza que eu o guardei na ordem certa. Eu os organizo em ordem cronológica. Qualquer um pode ver quais foram os meus primeiros livros, e em que época eu comecei a ser uma romântica.

Mas não mais. Essa fase passou.

Suspiro resignada e vou para a cozinha.

Acho que essa hora chega para qualquer um…. Mais cedo ou mais tarde.

No meu caso, chegou aos meus vinte anos. Depois do primeiro beijo foi uma descida rápida a terra das desilusões.

Despejo meu celular em cima da bancada colocando uma música. Na tentativa de me animar a fazer o jantar.

Eu não sou uma garota cozinha, não é realmente meu ponto forte, e me sinto uma aberração por isso.

Minha vó sempre disse que se conquista um homem pelo estômago. Isso, com certeza, deve ser verdade. Na minha atual condição, não penso de nenhuma maneira que a lógica dela não seja razoável.

Talvez você se pergunte porque eu estou sendo tão anti-romântica,tão amargurada…

Bom, eu diria que qualquer um fica assim quando descobre seu namorado te traindo com outra. Eu fui um pé na bunda por um tempo, mas agora eu superei, decidida a não criar expectativas por mais ninguém.

A consciência de que sou mais uma na multidão me assusta.

Me apavora.

Todos queremos ser especiais para alguém.

Queremos nos destacar. Queremos ser o modelo de felicidade, o modelo de beleza, de inteligência...

O que estou fazendo aqui? Me pergunto.

Abro a porta do armário procurando pelo ingrediente principal para o jantar de hoje e me decido- surpresa… surpresa- pelo macarrão.

A verdade meus queridos leitores é que somos todos iguais. E eu não consigo aceitar isso.

Verdade dolorosa número 2:

Ninguém se importa com o que você comeu hoje.

Eu sei que é difícil ler isso. Mas a não ser que você possa mentir completamente que sua vida é perfeita, que você está longe de ser alcançada pelo tempo, pela velhice, por meras coisas que atingem nós, meros mortais, então ninguém, e eu quero dizer a sociedade, se importa com sua próxima publicação no twitter, foto no instagram, compartilhamento no facebook.

Se está chato para você ler isso, imagina para mim que teve que pensar sobre isso.

Prendo o cabelo meio úmido da chuva e começo a batucar quando uma música particularmente que eu amo começa a tocar. O molho do macarrão com certeza já foi esquecido.

Só lembro dele algumas músicas depois, e rezo três vezes antes de olhar o estrago.

Ufa. Sem danos aparente ao molho. Já a panela…

Xingo baixinho só de pensar no trabalho que vou ter em lava-la.

Termino rapidamente o molho e carrego o prato para a dona da loja ao lado, um ser humano aparentemente inofensivo…

Olho-a atendendo os últimos clientes da loja. Um casal que saiu com um par de cafés para a viagem.

Minha avó realmente parece uma criaturinha meiga quando sorri para o casal, com aquele cabelo levemente grisalho e curto. Mas se você olhar de perto vai ver que nenhum fio do cabelo dela está fora do lugar,que suas unhas estão impecavelmente cortadas, e nos seus movimentos rápidos de ninja.

Aquela senhora, devo dizer a vocês, é uma mestre em me derrotar no Aikido. Todo. Domingo. Pelos últimos 5 anos.

Suspiro porque ainda sinto algumas dores se eu pensar nisso. Dores emocionais é claro, ao meu orgulho.

– Seu jantar está na cozinha- eu sussurro enquanto tomo o lugar dela no caixa.

–Você já jantou?- ela faz cara feia.

– Não. Não estou com fome. Depois eu como algo.

– Você sabe o que eu penso de você não comer direito. Pega um muffin. Eles estão quentes. Acabei de fazer.

Droga! Ela sabe o meu ponto fraco. Eu faço exatamente o que ela diz, tentando não me sentir culpada por ser o meu segundo do dia.
Que se dane!Penso

Se a vida fosse igual aos livros um cara me amaria não importando que eu pudesse derrubar ele no chão, sendo gorda ou não. Com acne ou pele de bebê.

Me sentindo um pouco melhor depois dessa conversa comigo mesma, eu mordo um bocado do muffin enquanto atravesso para fechar a porta da loja. O dia está terminado e amanhã cedo começa o meu turno.

Fecho a porta e estou quase ligando o alarme quando a sombra de um cara do outro lado da rua me chama atenção. Ele parece perdido e para piorar pegou a chuva do ano.

Ele estaciona a moto no meio fio e tira um mapa que começa a ficar rapidamente molhado. Eu não posso deixar de sentir pena dele. Eu fico observando o que ele vai fazer até que ele levanta a cabeça e parece me ver.

Os faróis da sua moto desligam e a luz delas param de registrar a chuva caindo.

Eu percebo sua jaqueta de couro marrom escura enquanto ele espera um carro passar para depois atravessar rapidamente a rua. É uma enorme responsabilidade usar uma jaqueta de couro. Eu amo essas jaquetas e fico desejando uma igual a dele.

Ele tira o capacete quando chega a porta. E arruma o cabelo preto que começa a ficar rapidamente molhado.


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