No capítulo anterior: 

Jack deve ter algum problema com regras, porque ele ama quebrar uma por uma, não é mesmo? Isso ainda vai custar caro. 

Então, quebrando regras, ele decide ir para a piscina às 4 da manhã. E Anna está lá. Não deu nada certo esse encontro, pois cada palavra que sai da boca da Anna para Jack deixa-o ainda mais confuso. 

Ela pergunta se o que Jack sente pela Elsa é amor verdadeiro. Será? 

Hiccup anda devaneando demais. Por que? 

North e Jamie viram o que não deviam e compartilharam a informação com Jack. Aparentemente, Sandy sabe demais. 

E isso foi o que você já leu, aqui em A Seleção de Arendelle!

Pov Lia.

Astrid ri alto, outra vez.

—Você é péssima. – Diz, encarando-me. Eu faço careta.

—Ué, é a mais pura verdade. Eu nunca, nunca, nunquinha, me interessaria por Watt. Aquele beijo foi brincadeira. Não há porque eu gostar dele só por causa daquilo. Além de ser proibido e, digamos, estranho. Você não pode simplesmente sair por aí gostando de quem não é seu.

Ela me lança um olhar reprovador.

—Você sabe que eu não fiz por mal. – Continuo, percebendo o que eu tinha dito.

—Eu sei. – Fecha o rosto. – Não precisa se desculpar. Você está certa. Eu vou deixar tudo isso para lá, esquecer de vez.

—Tudo isso... – Repito, pensativa. – Sabe, A, não é tão difícil. Amar sem ser amada é péssimo, mas não é o fim do mundo.

Ela me olha, parece a ponto de chorar.

—Lia, como eu odeio esses garotos.

Ela mal termina de falar essa frase e uma batida na parede chama-nos a atenção, viro-me e Hiccup está de pé, perto da porta entreaberta.

—Desculpe-me. – Ele pede. – Eu posso voltar outra hora.

—Não. – Astrid diz, encarando-o calmamente. – Não precisa nem voltar.

Ele fica parado, digerindo as palavras duras que acabou de ouvir. Viro-me para Astrid e inclino-me perto de seu ouvido, sussurrando:

—Acho que vocês deviam conversar. Conversar, Astrid. Não outra coisa.

E levanto, sorrindo. Ela reluta, em silêncio, mas não diz nada. Ela quer conversar, claro que quer. Não adianta dar uma de durona para cima de mim, eu sei quando qualquer um está mentindo. É um dom.

Chego perto o suficiente de Hiccup para dar-lhe um tapa na cara, mas não faço isso.

—Se machucá-la, eu te mato. – Ameaço, baixo. E deixo-os sozinhos.  

***

O corredor, normalmente, não é tão agitado quanto hoje. Sigo a gritaria e o barulho de armaduras, em um passo apressado. Tão apressado que assim que viro a esquina quase me esbarro em um pilar gigante, mais conhecido como guarda real.

Logo mais à frente posso ver a princesa Anna. Ando rápido até ela, os gritos ficam mais altos. Algo sobre Elsa. Algo sobre neve.

Não dá para entender muito bem.

—Olá, Lia. – Anna me cumprimenta, parece agitada, apesar da voz calma.

—Alteza. – Reverencio lentamente com a cabeça, apenas. – Aconteceu alguma coisa?

—Temo que sim. – Admite. Vejo Elsa falar com Jamie e North. Eles entram dentro do salão logo depois. – Preciso de você nos aposentos reais às 15:00 em ponto. Você sabe o motivo.

—Claro, Alteza. – Digo. Os gritos do Sandy param, parece paralisado enquanto direcionam ele corredor abaixo. Para onde? Não sei. Sinto pena dele. – O que vai acontecer?

—Ele acusou Elsa. Elsa o mandou embora.

—Ele acusou Elsa de...?

—Exatamente o que você está pensando. E mantenha-se quieta, ninguém mais pode saber.

—Sim, Alteza. – Pisco diversas vezes.

Já estamos virando a esquina quando Anna me para.

—15:00. Não esqueça. – Encara-me. – Encontre Jack. Acalme quem perguntar e minta se necessário.

—Posso falar que ele foi mandado embora?

—Não. Isso será anunciado mais tarde. Diga apenas que ele está bem e não mencione as acusações. – Seu rosto agora assume um tom extremamente sério, que não combina com ela. Não combina de jeito nenhum. – Jamais mencione as acusações para ninguém, Lia. Está entendendo?

***

Olho para o relógio de pulso pelo menos cinco vezes antes de entrar nos aposentos reais às 15:00 em ponto.

Ela me esperava, lendo algumas folhas aleatórias.

Para minha surpresa, Elsa e o pai também estavam nos aposentos e o rei parecia extremamente bravo.

—Pode se retirar. – Ele aponta para mim. Anna levanta da cadeira, um pouco afobada.

—Eu a chamei aqui, pai. Ela pode ajudar.

Meu coração acelera, mais e mais e mais. Ele pode me matar com um estalar de dedos, no que diabos Anna está pensando? Não era disso que iriamos tratar, era sobre o Jack.

—Claro que não! – Ele praticamente grita, acalmando a voz ao ver a expressão da filha mais nova. – Claro que não, filha.  

Exatamente, Rei Agdar, exatamente. Alguém me tira daqui, por favor?

—Ela ouviu as acusações. – A voz de Anna é doce, e ela sabe acalmar o pai. Mas ele está me encarando muito, não acho que esteja calmo.

Tenho vontade de me esconder. Tenho vontade de me transformar em um avestruz e enterrar minha cabeça no chão.

Ele me encara desconfiado.

—Você sabe que é tudo mentira, certo? – O rei semicerra os olhos, desconfiado.

—Claro, Majestade.

Mentir para o Rei é o primeiro passo para a forca. Mas engulo em seco, e ele acredita.

—Lia, você teria alguma sugestão para... abafar o acontecido? – É Elsa quem fala, surgindo de trás do pai. Sua expressão parece implorar por ajuda.

Eu preciso pensar. O que poderia trazer dispersão nesse quesito? Algo divertido? Talvez. Coisas tristes não vão adiantar.

—Bom, não podemos trazer uma tragédia para cobrir as acusações, ninguém gosta de tragédias. Mas seria possível e até encorajador algo divertido.

—Algo divertido. – O rei fica pensativo.

—É, um jogo, uma dança, até mesmo patinar. – Digo.

—Não, nada de gelo. – Anna corta. Fazendo Elsa se encolher nos próprios braços.

O rei está olhando para um canto aleatório do quarto, e começa a mexer o dedo indicador, como que tendo uma ideia.

Ele encara nós três com um meio sorriso no rosto. Seu cabelo castanho-loiro cai um pouco em sua testa e por um momento consigo até lembrar de quando ele era mais novo. Antes da rainha morrer. Antes de tudo ir por água abaixo. Literalmente.

—Já sei o que posso fazer.

***

Anna me puxa de lado, antes do rei anunciar o que tem que anunciar. Há pessoas demais nesse salão, mas ela não se importa em sussurrar:

—Descobriu algo?

—Não. Na verdade, Jack mal fala sobre isso. Astrid descobriria mais que eu. Ele confia mais nela. – Sussurro de volta.

—Mas eu não confio. – Anna finaliza. 

Com essas palavras, volto para a minha posição, longe da realeza. Anna parece distante, olhando diversas vezes para a irmã. O rei agradece a presença dos selecionados.

Visualizo Jack, prestando atenção no que o rei tem para dizer.

Eu já sei o que ele vai dizer, e eu sei qual será a reação deles.

Eu sei qual será a reação de cada um daqui.

Tento não olhar para Watt, não entendo porque minha visão me trai tanto.

Ele não está me olhando, na verdade, nem parece lembrar que existo. Não que isso me aborreça nem nada. Tudo que falei hoje de manhã para Astrid era verdade.

Para de pensar, Lia.

Jack e Elsa estão se encarando, parecem querer morar um no outro. Anna, então, encara Jack. Jack olha de relance para Anna.

E para de olhar para Elsa. 

Anna é um gênio, sinceramente.

O rei faz um pequeno suspense antes de dizer, sorrindo pela primeira vez na frente dos selecionados:

—Que esteja aberto o primeiro Baile da Seleção!

***